TERRENOS TÊM DE SER LIMPOS APÓS SECAREM DAS CHUVAS PARA NÃO FUNCIONAREM COMO “UMA ESPÉCIE DE PÓLVORA”, COM RISCO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS, AVISA, AO LITORALGARVE, O COMANDANTE VAZ PINTO

“Quanto mais limpos estiverem os terrenos, quanto mais intervenção houver nos espaços agrários e florestais do ponto de vista da prevenção, mais fácil será a nossa missão”, apela aquele responsável. Chuvas deixaram marcas, com formação de matos, que serão um “acelerador da combustão.” Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais no Algarve terá 833 operacionais e 206 viaturas, de 01 de Julho até 30 de Setembro, o período mais crítico.

As chuvas durante o mês de Abril e na primeira quinzena de Maio contribuíram para a formação de matos, os quais depois de secos funcionarão como um “acelerador da combustão”, sendo “uma espécie de pólvora”, pelo que os terrenos têm de ser devidamente limpos para evitar incêndios florestais, alerta, em entrevista ao Litoralgarve, o Comandante Operacional Distrital de Faro da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Vítor Vaz Pinto.

(…) “estes matos, estes herbáceos que se veem por aí estão agora muito verdes, mas quando secarem aquilo funciona como um acelerador da combustão. É uma espécie de pólvora. Esta chuva veio agravar a situação em terrenos que já estavam limpos. Agora, têm de ser novamente limpos”

“Toda a região a Sul do Tejo estava em situação de seca meteorológica. Com as chuvas de Abril e do início da primeira quinzena de Maio, há mais humidade no solo. Para mim, foi muito importante essa chuva para repor os níveis freáticos e para ultrapassarmos a questão da seca. Mas no ponto de vista do combate aos incêndios florestais, há muitos combustíveis finos que, depois, se não forem tratados, assim que secarem funcionarão como um acelerador da combustão. Ou seja, estes matos, estes herbáceos que se veem por aí estão agora muito verdes, mas quando secarem aquilo funciona como um acelerador da combustão. É uma espécie de pólvora. Esta chuva veio agravar a situação em terrenos que já estavam limpos. Agora, têm de ser novamente limpos”, explica aquele responsável.

Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais conta com 833 operacionais e 206 veículos para o período mais crítico, de 01 de Julho a 30 de Setembro

Sobre o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR), que contará com 833 operacionais, 206 veículos, nomeadamente dos Bombeiros, da Guarda Nacional Republicana (GNR), da Polícia de Segurança Pública (PSP), do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e de equipas municipais de intervenção florestal, além de sete meios aéreos, durante o período mais crítico, de 01 de Julho até 30 de Setembro, a denominada ‘Fase Charlie’, Vítor Vaz Pinto lembras que o integram.”

Permite enfrentar “com confiança” incêndios florestais, “num Verão normal, em que as condições meteorológicas não sejam muito gravosas”

“É aquele que é possível instalar com os meios e os recursos disponíveis e aquele que nos oferece confiança para enfrentarmos uma campanha em condições normais, com um Verão normal, em que as condições meteorológicas não sejam muito gravosas, muito severas” – prossegue, acrescentando tratar-se de “um dispositivo que tem respondido com muita eficiência.” “Naturalmente sob situações de exceção, temos de responder com medidas de exceção. Agora, este dispositivo que está instalado, está consensualizado entre todos os fatores do sistema. É um dispositivo que nos permite enfrentar com confiança os incêndios florestais”, observa Vítor Vaz Pinto.

“Como está consensualizado há vários anos, sofre apenas pequenas alterações de ano para ano”

O Comandante Operacional Distrital da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil refere que “como está consensualizado há vários anos, sofre apenas pequenas alterações de ano para ano”, com “um reforço para a capacidade já instalada.” “Em cada concelho existe já uma força mínima de intervenção para acorrer a todas as situações, incluindo os fogos florestais. Agora, este é um dispositivo que está dedicado apenas  a incêndios florestais. Naturalmente se houver outro tipo de ocorrências de exceção, como aconteceu, por exemplo, há anos, com um acidente de um autocarro que provocou vítimas, estará mais do que pronto a responder logo em benefício do socorro eficiente. Mas está vocacionado, acima de tudo, para combate a incêndios florestais”, sublinha.

Quatro helicópteros no Algarve, um em Ourique e dois aviões em Beja de prevenção

No Algarve, o dispositivo conta com quatro helicópteros bombardeiros ligeiros em permanência, três dos quais se destinam ao ataque inicial ao fogo, e um de ataque ampliado. Os helicópteros de ataque inicial estão instalados nos centros de meios aéreos de Monchique, Loulé e Cachopo, no concelho de Tavira. O de ataque ampliado tem a sua base em Loulé. “Também há um helicóptero em Ourique, já no distrito de Beja (no Baixo Alentejo – n.d.r. ), mas que tem um raio de ação que abrange o Algarve. E estão dois aviões (bombardeiros médios – n. d. r.), que operam a partir da Base Aérea de Beja e que têm influência também direta aqui no Algarve para o ataque ampliado, o interface entre o ataque inicial e o ataque ampliado”, especifica o comandante Vítor Vaz Pinto.

Dominar o fogo em 90 minutos

Por outro lado, no Algarve estão disponíveis 12 máquinas de rasto nos terrenos para apoio aos operacionais no combate às chamas, e um total de 18 autocarros para transportar materiais. Ao mesmo tempo, existem 12 postos de vigia estrategicamente instalados na região.

A estratégia de ataque inicial às chamas passa pela chegada do primeiro veículo de uma corporação dos bombeiros ao local do sinistro até vinte minutos após o alerta, sendo ativado igualmente  um helicóptero. O fogo terá de estar dominado em 90 minutos, segundo os cálculos dos responsáveis.

“Não receio nada. Nós temos de estar preparados para todas as situações”

Sobre o problema da falta de limpeza, há anos, de muitos terrenos abandonados na Serra de Monchique, com risco de incêndios no Verão, conforme alerta ao Litoralgarve de um agricultor e produtor florestal, Vítor Vaz Pinto foi perentório ao reagir, deixando uma mensagem aos bombeiros: “Temos de estar preparados para qualquer situação e temos de responder à situação tal e qual como se apresente.” “Só que, naturalmente, quanto mais limpos estiverem os terrenos, quanto mais intervenção houver nos espaços agrários e florestais do ponto de vista da prevenção, mais fácil será a nossa missão”, salienta, em jeito de recado aos donos das propriedades.

E o que mais receia nesta época de combate a incêndios florestais, à medida que sobem as temperaturas? “Não receio nada. Nós temos de estarmos preparados para todas as situações”, insiste Vítor Vaz Pinto.

“Só com uma população responsável é que nós vamos resolver o número de ignições, que ainda se encontra acima daquilo que era desejável”

Por outro lado, nesta entrevista ao Litoralgarve, aquele responsável, entre elogios e avisos à população, considera que esta já percebeu que também faz parte da solução. “Só com uma população responsável é que nós vamos resolver o número de ignições, que ainda se encontra acima daquilo que era desejável. Mas acho que temos, hoje, uma população muito mais esclarecida, que comete menos práticas que não deve cometer. A população está mais sensível a esta problemática, também porque aquilo que aconteceu nos últimos anos, em particular no ano de 2017, que foi de facto um ano com dois acidentes graves muito complicados e que também de alguma maneira despertou na população a necessidade de ter uma cultura de segurança”, salienta.

“Não podemos ter um bombeiro atrás de cada árvore, não podemos ter um militar, um elemento da GNR em cada casa, nem podemos ter um helicóptero em cada freguesia”

E os piqueniques, agora nesta fase desconfinamento, após o estado de emergência nacional devido à Covid-19, poderão constituir riscos para incêndios florestais? – questionámos. “Desde que as pessoas os façam nos espaços em que são permitidos para os fazer, não há qualquer problema”, garante Vaz Pinto. E aproveita para deixar mais recados: “Não podemos ter um bombeiro atrás de cada árvore, não podemos ter um militar, um elemento da GNR em cada casa, nem podemos ter um helicóptero em cada freguesia. Como já disse, temos um dispositivo em que é confiável, que já tem dado provas disso mesmo, mas o objetivo é gastar menos no combate e transferir esse investimento para a prevenção. Porque tudo o que se gasta na prevenção, tem retorno; tudo o que se gasta no combate, não tem retorno.

“Falsos alarmes naturalmente envolvem recursos, mas é preferível isso do que chegar tardiamente aos incêndios”

Porque é que existem tantos falsos alarmes? São brincadeiras de mau gosto, ou as pessoas assim que veem fumo ficam preocupadas e telefonam para os bombeiros? “É um bocadinho de tudo. As pessoas também se sentem muito preocupadas e qualquer situação reportam. No que diz respeito aos falsos alarmes, naturalmente que envolvem recursos, mas é preferível isso do que chegar tardiamente aos incêndios”, frisa Vítor Vaz Pinto.

Cada bombeiro que integrar voluntariamente o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais no Algarve receberá 74 euros por 24 horas de serviço

Já em relação aos incentivos a atribuir aos operacionais das corporações dos bombeiros, afirma: “O Ministério da Administração Interna, através da Autoridade Nacional da Proteção Civil, atualizou a sua diretiva financeira e prevê um aumento de quatro euros para bombeiro por dia, além de ter aumentado as refeições e o reforço alimentar.”

Ou seja, haverá um reforço em 20,00 euros por bombeiro, sendo o investimento suportado equitativamente pelas 16 câmaras municipais do Algarve, num valor total de 513 mil euros. Cada bombeiro que integrar voluntariamente o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais no Algarve, receberá um prémio de participação no valor de 74 euros por 24 horas de serviço, isento de tributações, o que representa um aumento de nove por cento em comparação a 2019.

Autor: José Manuel Oliveira