REPORTAGEM – “Uma viagem de comboio demora quase uma hora a percorrer Tunes / Portimão”, lamenta o líder do PSD, Luís Montenegro, que permaneceu sempre de pé, no mesmo espaço, durante o trajecto de 25 quilómetros e distante de outros passageiros

No segundo dos quatro dias do programa ‘Sentir Portugal no Algarve’, o ‘Litoralgarve’ acompanhou a comitiva do Partido Social Democrata, com o ‘Movimento + Ferrovia’, constituído por cidadãos para a defesa e valorização do Caminho-de-Ferro no Algarve, desde a estação de Tunes, no concelho de Silves, até Portimão, e entre solavancos, ouviu queixas. Na chegada à cidade do Rio Arade, Luís Montenegro, candidato a primeiro-ministro, foi recebido por mais de duas dezenas de militantes ‘laranjas’, com bandeiras, cumprimentos, beijos e abraços. Após um encontro com os jornalistas e à saída da estação, veio a ser abordado por um popular, “há cinquenta anos militante” do partido, que não lhe poupou críticas: “Numa cidade destas, a sua presença aqui é muito pouco”.

 

 

José Manuel Oliveira

Imagens de Luís Silva, da SIC

 

O relógio marcava 10h.50m., terça-feira, 14 de Novembro de 2023, quando o presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, saiu de uma viatura preta, que parou junto à esplanada de um café, situado em frente à estação da CP – Comboios de Portugal, na aldeia de Tunes, no concelho de Silves, onde o aguardavam vários elementos ‘laranja’, entre eles, o líder da Comissão Política Distrital de Faro, Cristóvão Norte, e os deputados algarvios Rui Cristina e Ofélia Ramos. Dois militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) também marcaram presença no local, como constatou o ‘Litoralgarve’, muitos antes das movimentações partidárias e da chegada de jornalistas.

O objectivo desta concentração, promovida pelo PSD e integrada no segundo dia do programa ‘Sentir Portugal no Algarve’, a quatro meses das eleições legislativas antecipadas, as quais terão lugar a 10 de Março de 2024, foi viajar num comboio inter-regional, desde Tunes a Portimão, com o ‘Movimento + Ferrovia’, constituído por cidadãos para a defesa e valorização do Caminho-de-Ferro no Algarve, e liderado pelo professor universitário Manuel Tão, especialista em transportes.

 

“Vivem à custa dos impostos de quem trabalha…”, desabafou uma senhora, quando Luís Montenegro e a sua comitiva atravessaram a estação de Tunes para apanhar o comboio para Portimão

 

Ao atravessar a estação de Tunes, em direcção a um elevador que transportou a comitiva para o cimo de uma estrutura, de onde desceu, depois, as escadas até junto da linha número 2, Luís Montenegro ainda terá ouvido uma senhora desabafar: “vivem à custa dos impostos de quem trabalha…” Mas ninguém reagiu.

Já num espaço entre as linhas números 2 e 3, que marca o entroncamento da Linha do Sul e a Linha do Algarve, na qual estão instalados vários bancos e uma vitrina com um mapa sobre as ligações ferroviárias, Cristóvão Norte explicou ao líder nacional do PSD como se processam as viagens regionais no Algarve e entre esta e outras regiões do país, nomeadamente através do ‘Intercidades’, enquanto a comitiva aguardava a chegada do comboio a Tunes para seguir até Portimão. Luís Montenegro foi vendo horários e outras informações sobre trajectos de norte a sul de Portugal e alguém comentou, com ironia: “Sevilha está mais perto…”

Pelas 11h.07m., o comboio chegou à linha nº. 2, na estação de Tunes, onde a comitiva embarcou, perante alguma curiosidade de outros passageiros, que entravam e saíam, sobretudo devido à presença de jornalistas e operadores de imagem das televisões em serviço de reportagem.

 

Queixas sobre problemas na ferrovia do Algarve, atrasos, necessidade de ligação ao aeroporto de Faro e o receio de perder verbas da União Europeia, provenientes do Plano de Recuperação e Resilência

 

 

Ao longo da viagem, que demorou quase uma hora, em vinte e cinco quilómetros, como indica a CP, com o comboio inter-regional a parar em todas as estações dos concelhos de Silves, Albufeira, Lagoa e Portimão (de onde seguiu até Lagos), o presidente do PSD, sempre de pé, no mesmo lugar e a resistir a alguns solavancos, escutou informações transmitidas por Cristóvão Norte, bem como pelos deputados do seu partido eleitos pelo círculo eleitoral de Faro, concretamente Rui Cristina e Ofélia Ramos, e do dirigente do ‘Movimento + Ferrovia’, professor Manuel Tão, sobre problemas relacionados com este sector no Algarve, no Plano Rodoviário Nacional, nomeadamente “atrasos” a vários níveis, electrificação, “desconforto” sentido nas carruagens, além da necessidade da ligação de Faro ao aeroporto. Foi, ainda, admitido o problema de, nesse sentido, se poderem perder verbas da União da Europeia, provenientes do Plano de Recuperação e Resilência (PRR).

Por outro lado, um dos intervenientes observou que o metro de superfície para o Algarve é um autocarro eléctrico.

Quando o comboio já se aproximava da estação de Portimão, o dirigente do ‘Movimento + Ferrovia’ apontou um dedo na direcção do amplo espaço onde estão estacionados autocarros (perto do Pavilhão Arena), sugerindo que, naquele local, “poderia ser criado um Interface para estabelecer a ligação dos passageiros a outros meios de transporte”, ao saírem na cidade do Rio Arade.

 

Nunca saiu do espaço, onde permaneceu de pé desde o início da viagem, junto a uma porta de entrada e saída dos passageiros, e o revisor de serviço no comboio nem sequer pediu bilhetes à comitiva

 

Luís Montenegro nunca saiu do espaço, onde se instalou desde o início da viagem, tendo, recorde-se, permanecido de pé (tal como quem o acompanhava mais de perto, como o ‘Litoralgarve’), junto de uma porta de entrada e saída dos passageiros. O revisor de serviço no comboio passou, mas nem pediu os bilhetes, provavelmente já avisado sobre a presença da comitiva social-democrata, nesta fase da pré-campanha para as eleições legislativas a 10 de Março de 2024. Isto, apesar de os jornalistas que acompanharam a comitiva terem adquirido o respectivo título de transporte na bilheteira da estação de Tunes, pelo preço de três euros para Portimão.

 

Não falou com outros passageiros, nem se deslocou a carruagens

 

O que mais surpreendeu os jornalistas foi Luís Montenegro não ter conversado, interagido, com outros passageiros, que seguiam no comboio, o tal povo que o PSD procura cativar nestas eleições para conseguir chegar ao poder. Apesar de viajar de pé, como já referimos, junto a uma porta, nem sequer se deslocou a uma das carruagens, na qual alguns repórteres até acabaram por se sentar durante alguns minutos.

 

Rui André, vereador na Câmara Municipal de Portimão, e mais de duas dezenas de militantes do PSD, com bandeiras, cumprimentos, abraços e beijos, na estação da CP nesta cidade

 

 

Ao chegar à estação de Portimão, cerca das 11h.47m., presidente do PSD tinha à sua espera mais de duas dezenas de militantes do partido, entre eles, Rui André, vereador na Câmara Municipal de Portimão, após ter presidido à de Monchique durante três mandatos, num total de doze anos consecutivos. Entre bandeiras, cumprimentos abraços e beijos, Luís Montenegro sentiu algum calor e ânimo por parte de sociais-democratas de Portimão, num município presidido, há décadas, pelos socialistas. “Muito obrigado”, foi-se ouvindo da boca do líder ‘laranja’. Junto a uma parede de acesso a uma das saídas, estavam dois agentes da Polícia de Segurança Pública.

 

Desvalorizou sondagem que indicava empate técnico entre PSD e PS, perante o crescimento do Chega como terceira força política. “O mais essencial é concentrarmo-nos nos portugueses e no Orçamento do Estado para 2024. É essa a maior prioridade”

 

Pouco depois, num encontro com os jornalistas perto de uma das linhas ferroviárias e rodeado por deputados do Algarve e militantes do PSD, Luís Montenegro, ao ser questionado sobre uma sondagem divulgada nesse dia (14/11/2023),que indicava um empate técnico entre o seu partido e o PS, perante o crescimento do Chega como terceira fora política, desvalorizou esse estudo de opinião. “O mais essencial é concentrarmo-nos nos portugueses e no Orçamento do Estado para 2024. É essa a maior prioridade”, começou por dizer Luís Montenegro. Em seguida, passou ao ataque sobre alguns dos problemas que considera existirem no Algarve, onde, por exemplo, e tendo em conta a experiência durante uma parte da manhã, “uma viagem de comboio demora quase uma hora a percorrer Tunes / Portimão”, a que se juntam “questões de acessibilidades, mobilidade, problemas na saúde, no ensino, com a falta de mais de mil professores, e de mão-de-obra [a vários níveis] por dificuldades de habitação.”

Para o presidente do PSD é necessário “encontrar espírito de união no país”, tendo em vista uma “alternativa” governamental. Isto, com o objectivo de conseguir “um país mais justo”, acrescentou.

 

“Captar e atrair eleitores que estão à nossa direita e, também, à nossa esquerda”

 

Numa altura em que o partido Chega continua a subir no Algarve, com base em sondagens, Luís Montenegro, confrontado por jornalistas sobre essa situação, foi peremptório ao defender a necessidade de “captar e atrair eleitores que estão à nossa direita e, também, à nossa esquerda”, num “projecto moderado.”

 

O recado de Luís Montenegro aos militantes do PSD no Algarve, onde o partido só tem a presidência em três câmaras municipais: “Estou aqui, também, a preparar e a programar as eleições autárquicas. É preciso superarmo-nos, termos mais mandatos, [o que] depende da nossa capacidade para falar a linguagem que os algarvios percebam” e saber quais as suas “preocupações”

 

Por outro lado, o líder nacional do PSD aproveitou o momento para lançar um recado aos militantes do seu partido no Algarve, onde tem perdido eleitores, deputados e a presidência de câmaras municipais, ao ponto de, apenas, possuir maioria em Faro, Albufeira e Castro Marim. “Estou aqui, também, a preparar e a programar as eleições autárquicas [as quais terão lugar em Setembro ou Outubro de 2025 – n.d.r.]. É preciso superarmo-nos, termos mais mandatos [o que] depende da nossa capacidade para falar a linguagem que os algarvios percebam” e saber quais as suas “preocupações”, avisou Luís Montenegro.

 

A resposta do presidente social-democrata a Passos Coelho e a Miguel Relvas sobre a necessidade de um acordo com o Chega: “Eu estou sufragado na minha estratégia, na forma de gerir o partido, pela esmagadora maioria dos militantes do PSD. O PSD é um partido verdadeiramente democrático. Mas não é democrático só nas palavras e nas bandeirinhas no ar. Aqui pensa cada um pela sua cabeça e temos liberdade de pensamento.”

 

A dada altura, quando questionado sobre o facto de o ex-presidente social-democrata e na altura primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ter dito que o Chega não é um partido antidemocrático, e o antigo ministro Miguel Relvas afirmar que gostaria de ver o seu partido a não afastar a possibilidade de uma coligação com o de André Ventura, Luís Montenegro, que tem alertado para a necessidade de o país “não” poder “ficar refém de extremismos”, respondeu também sobre o cenário de até estar um pouco contra a corrente dentro do próprio PSD: “Eu estou sufragado na minha estratégia, na forma de gerir o partido, pela esmagadora maioria dos militantes do PSD. O PSD é um partido verdadeiramente democrático. Mas não é democrático só nas palavras e nas bandeirinhas no ar. É democrático. Aqui pensa cada um pela sua cabeça e temos liberdade de pensamento.”

 

“Há órgãos eleitos, há estratégias sufragadas e nós estamos a cumprir de forma íntegra e honesta a estratégia que delineámos. Eu não enganei. Eu digo, hoje, aquilo que dizia há um ano e meio atrás.”

 

E prosseguiu: “há órgãos eleitos, há estratégias sufragadas e nós estamos a cumprir de forma íntegra e honesta a estratégia que delineámos. Eu não enganei. Eu digo, hoje, aquilo que dizia há um ano e meio atrás. E, portanto, vou colocar ao eleitorado um projecto que acho que é mobilizador, que, sinceramente, corresponde ao sentimento maioritário dos nossos eleitores e daqueles que não tendo sido nossos eleitores, estão frustados, decepcionados com este terceiro pântano político que o Partido Socialista trouxe ao país, e que encontram no PSD a resposta que ambicionam para ver os vários problemas do seu dia-a-dia resolvidos.”

Luís Montenegro reforçou a ideia de que, no país, “temos realidades, temos dramas, temos sofrimento, temos a necessidade de dar resposta àquilo que é os problemas dos portugueses.”

 

PSD só governará o país “se ganhar as eleições”, mas, sem maioria absoluta, admite “acordos com outras forças políticas” no parlamento, “excluindo o Chega”

 

Sobre o futuro político, o presidente do PSD voltou a insistir na necessidade de o partido vencer “sozinho” as próximas eleições legislativas. Contudo, não afastou a possibilidade de estabelecer “acordos” pós-eleitorais “com outras forças políticas, excluindo o Chega”, rejeitando “extremismos.”

Garantiu que só governará o país “se ganhar as eleições”. Mas se não obtiver a maioria dos votos dos eleitores, no dia 10 de Março de 2024, admitiu que “terá de desafiar todos os partidos a respeitarem a vontade popular e a encontrarem instrumentos no parlamento que os faça, ou que o governo possa executar o seu programa.” Porém, de fora ficará o Chega.

 

“Em Lisboa, ninguém pensava na vitória do PSD para a Câmara Municipal e Carlos Moedas foi eleito presidente”

 

Ainda no tocante a sondagens que, recorde-se, colocam o partido liderado por André Ventura como o terceiro a nível nacional e o PDS num empate técnico com o PS, Luís Montenegro reagiu: “em Lisboa, ninguém pensava na vitória do PSD para a Câmara Municipal e Carlos Moedas foi eleito presidente.” Ouviram-se, então, aplausos entre militantes sociais-democratas que escutavam o seu líder a falar aos jornalistas.

 

 

 

 

“Numa cidade destas, a sua presença aqui é muito pouco. Ainda por cima, soube agora, vai a caminho de Monchique [para uma reunião com produtores de aguardente de medronho – n.d.r.] e em Monchique os militantes do PSD não podem ir porque não é um encontro para nós”, protestou um indivíduo, à saída da estação de Portimão, contra Luís Montenegro, apresentando-se como “militante há cinquenta anos” do partido

 

 

Já à saída da estação da CP, em Portimão, quando se encaminhava para o carro, Luís Montenegro foi confrontado por um militante do PSD, que não escondeu a sua insatisfação pela curta passagem do presidente do partido neste concelho. “O Algarve não é só uma zona. Numa cidade destas, a sua presença aqui é muito pouco. Ainda por cima, soube agora, vai a caminho de Monchique [para uma reunião com produtores de aguardente de medronho – n.d.r.] e em Monchique os militantes do PSD não podem ir porque não é um encontro para nós”, protestou esse indivíduo, apresentando-se como “militante há cinquenta anos” do partido, e que, de imediato, até pretendia afastar-se de Luís Montenegro.

 

A reacção do presidente do PSD à contestação: “Nós temos dezasseis zonas [concelhos], numa semana e temos de escolher. Não vamos falar das mesmas coisas em todo o lado. Há opções (…) Há-de haver outras alturas em que havemos de vir aqui [Portimão] para falar da saúde, da educação e de outros temas.”

 

 

Por sua vez, o presidente social-democrata tentou acalmar o homem, explicando haver um plano para cumprir neste programa ‘Sentir Portugal no Algarve’, em apenas quatro dias nos 16 concelhos, e prometendo visitar Portimão noutras alturas. “Nós temos dezasseis zonas [concelhos], numa semana e temos de escolher. Não vamos falar das mesmas coisas em todo o lado. Há opções. Hoje [nesta viagem de Tunes a Portimão], falámos da ferrovia e da mobilidade. Há-de haver outras alturas em que havemos de vir aqui para falar da saúde, da educação e de outros temas”, disse Luís Montenegro.

 

 

 

“O senhor devia ir ao mercado!”

 

Enquanto isso, Cristóvão Norte levou presidente do PSD para o automóvel, quando já eram 12h.20m. Um outro militante, ao apelar ao contacto com a população de Portimão, ainda reagiu: “o senhor devia ir ao mercado!” Mas Luís Montenegro seguiu para outros concelhos, como estava previsto no programa ‘Sentir Portugal no Algarve’, que decorreu de 13 a 16 de Novembro.