“O ALGARVE ESTÁ A SER PENALIZADO COM A SITUAÇÃO QUE SE VIVE EM LISBOA”

Quem o diz, em declarações ao Litoralgarve, é Elidérico Viegas, presidente da Direção da Associação dos Hotéis e Empreedimentos Turísticos do Algarve, reagindo ao facto de Portugal Continental ter sido excluído dos destinos seguros para viajar e passar férias, devido à Covid-19. Na Praia da Rocha, José Viegas, concessionário de um apoio balnear, avisa que “há muita desinformação a nível internacional” e “interesses em jogo ao nível do turismo”, enquanto que Walter  Gomes, proprietário de dois bares, já admite que este “é um ano perdido” para as empresas do sector.

“Uma decisão injusta, assente em dados que não correspondem à realidade e que terá um impacto enorme para o Algarve”. É desta forma que o presidente da Direção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, em declarações ao Litoralgarve, reage ao facto de o governo do Reino Unido ter excluído Portugal Continental dos destinos seguros para viajar e passar férias, devido à pandemia da Covid-19. Quem o fizer, a partir do dia 10 de Julho, será obrigado a cumprir um período de quarentena de 14 dias quando regressar ao Reino Unido. A Madeira e os  Açores, as únicas regiões portuguesas onde se têm registados menos casos relacionados com o novo coronavírus, estão excluídos da lista negra do ‘corredor aéreo’ britânico.

“Muitos  países  são  considerados  seguros  porque  não  realizam  testes,  como  a  Grécia,  e  não  divulgam  a  realidade  das  estatísticas.  Espanha  é  exemplo  disso”   

“O Reino Unido é o nosso principal fornecedor de turistas, representa um terço dos nossos empreendimentos turísticos classificados, atualmente, correspondendo a 6 milhões e 400 mil dormidas por ano”, lembra aquele responsável da AHETA, para quem, a concretizar-se a decisão do Reino Unido, “o Algarve está a ser penalizado com a situação que se vive em Lisboa.”

Por outro lado, sublinha Elidérico Viegas, “o Algarve praticamente ficou de fora da pandemia, enquanto que outros destinos muito mais afetados estão a ser considerados como seguros, por exemplo a Espanha e a Itália. Além de injusto, não reflete a realidade das coisas. É que muitos países são considerados seguros porque não realizam testes, como a Grécia, e não divulgam a realidade das estatísticas. Espanha é exemplo disso.”

“Mesmo  com  essas  restrições, muitos  turistas britânicos  acabarão  por  vir  de  qualquer maneira”

De qualquer modo, Elidérico Viegas não tem dúvidas de que, mesmo assim, os britânicos optarão por passar férias nesta região do sul de Portugal. “É óbvio que mesmo com essas restrições, muitos turistas britânicos acabarão por vir de qualquer maneira, uns até através de Sevilha. Mas não é a mesma coisa. Isso funciona como uma desmotivação muito grande para que as pessoas não venham para cá”, considera o presidente da Direção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve.

“Há  muita  desinformação  a  nível  internacional” e   “muitos  interesses  ao  nível  do  turismo”, alerta José Viegas, concessionário de um  apoio  balnear  na  Praia  da  Rocha, em  Portimão

Na Praia da Rocha, em Portimão, José Viegas, nadador-salvador e concessionário de um apoio balnear, não se mostra surpreendido com a posição do governo britânico. “Não fico surpreendido, pois tal reflete a situação em Lisboa e, entre outros, o caso ocorrido em Odiáxere, perto de Lagos, com todo o impacto negativo para Portugal. Há muita desinformação a nível internacional e quando sucede qualquer problema no nosso país, não se especifica o que, de facto, aconteceu e lança-se logo o nome de Portugal. Há muitos interesses em jogo ao nível do turismo”, afirma José Viegas, ao Litoralgarve.

E, a propósito, conta um episódio recente: “Recebi um telefonema de um amigo meu, em Itália, que me perguntou se Portugal vai voltar ao início da quarentena, a fechar restaurantes, bares e outros estabelecimentos e serviços, por causa da Covid-19, porque é essa a informação que circula naquele país”.

“Ou seja, há muita desinformação e cada país tenta provocar exageros em qualquer situação, de forma a evitar que os seus habitantes viajem de férias para outros destinos turísticos, como o nosso, e fiquem onde estão”,  lamenta José Viegas. E aproveita para deixar um aviso aos responsáveis das várias entidades responsáveis pelo sector do turismo: “O Algarve tem de se impor a nível internacional, com mais campanhas de promoção.”

“Com o turismo nacional é que o prejuízo poderá não ser tão grande”

A esperança de José Viegas continua a ser o turismo português para salvar, ou pelo menos, atenuar os prejuízos no Algarve nesta altura do ano. “Nos meses de Julho e Agosto, aqui na praia trabalhamos mais com o mercado nacional, chegando mesmo a atingir os cem por cento”, afirma aquele concessionário de um apoio balnear no areal da Praia da Rocha, onde tem contado, “em média, por dia, com cinco, seis, sete clientes no aluguer de chapéus-de-sol.”

“A situação continua muito, muito aquém do que é normal nesta época do ano”, nota José Viegas. E acrescenta: “Vamos ver como será a partir do dia 15 de Julho. Se nas duas semanas seguintes a situação se mantiver assim, então restar-nos-á o mês de Agosto para tentar salvar a nossa atividade com o turismo português, que é o mais habitual nesta altura. Se assim não for, este será um ano perdido. Com o turismo nacional é que o prejuízo poderá não ser tão grande”.

“Não esperava esta decisão do governo britânico”, diz Walter Gomes, proprietário de dois bares na Praia da Rocha, em Portimão, para quem “vamos todos sofrer com isso”

Já Walter Gomes, proprietário dos bares ‘Irlands eye’ e ‘On the Rocks’, na Praia da Rocha, já aponta 2020 como “um ano perdido” para as empresas ligadas ao turismo nesta zona do Algarve. “Não esperava esta decisão do governo britânico de excluir Portugal (Continental) dos destinos turísticos seguros devido à pandemia. Fico, obviamente, surpreendido. Vamos sofrer com isso. Não sei se tal posição se deve ao que se está a passar, por exemplo, em Lisboa, Loures e na Amadora, pois os turistas podem  sentir medo. Mas, em termos gerais, continuamos a ser um país seguro a este nível”, observa aquele empresário.

“Os britânicos não vêm, não há movimento, não há negócio. Um casal britânico, que viaja desde Londres, não está para ficar de quarentena no regresso ao seu país. Para isso, não vem. É mau para todos”

Numa altura em que mantém encerrado um dos seus bares, o ‘On the Rock’s’, situado na Avenida Tomás Cabreira, pois “não vale a pena estar aberto e só ter despesas”, Walter Gomes queixa-se de que o outro estabelecimento, o ‘Irlands eye’, localizado a poucos metros de distância, também “não tem trabalhado bem.” “Faltam os britânicos. Os britânicos não vêm, não há movimento, não há negócio. Um casal britânico, que viaja desde Londres, não está para ficar, depois, de quarentena ao regresso ao seu país. Para isso, não vem. É mau para todos” – sublinha o empresário, para quem não será o mês de Agosto, com portugueses, que poderá salvar o Algarve. “Ajuda, é certo, os portugueses consomem, comem, bebem, mas não é o mesmo. Falta-nos os turistas britânicos. Vamos todos sofrer com a situação e não sei se há muitas empresas que se vão aguentar. Tenho quatro trabalhadores efetivos e não despeço pessoal. Mas não contrato quem quer que seja neste período sazonal, como era habitual todos os anos”, frisa Walter Gomes.

Autor: José Manuel Oliveira