126 Kgs. e 700 gramas. É este o peso do Maior ‘Dom Rodrigo’ do Mundo, doce regional do Algarve, que conquistou, agora, o direito de figurar no ‘Guiness World Records’, tendo para o efeito recebido o respetivo galardão na passada sexta-feira, 26 de Julho, ao final da tarde, durante a inauguração da 32ª. edição da Feira Concurso Arte, no Complexo Desportivo de Lagos. O evento, que termina neste domingo, dia 28, numa organização da Câmara Municipal e que teve o Alentejo como região convidada, contou com um total de 72 stands repartidos entre o interior e o exterior daquele edifício, com muita animação à mistura.
Equipa coesa com oito elementos
confecionou o bolo em apenas dois dias
O famoso bolo, dado a provar aos visitantes da Feira Arte Doce, onde foi a grande atração e que é candidato às ‘7 Maravilhas Doces de Portugal’, concurso organizado pela RTP, foi confecionado com mais de 60 kgs. de fios de ovos, cerca de 60 kgs. de ovos com amêndoa, 250 kgs. de açúcar, 70 kgs. de amêndoa (miolo), canela em pó, água e cerca de oito litros de calda queimada. Uma equipa constituída por oito elementos necessitou, apenas, de “dois dias” para a produção do maior Dom Rodrigo do Mundo, como refere ao ‘Litoralgarve’ a responsável, Maria Eugênia Militão, de 62 anos, funcionária da Câmara Municipal de Lagos e conhecida doceira. “Não foi complicado porque, juntamente com as minhas alunas doceiras de anos, formamos uma equipa bem preparada coesa e que se conhece bem. Quando isso é torna-se fácil”, salienta. A cozinha da Escola Tecnopolis, em Lagos, foi o local que serviu para confecionar este gigantesco Dom Rodrigo.

“Já era bastante bom” ir à final
do concurso ‘7 Maravilhas Doces de Portugal’
Eugénia Militão considera a entrada no ‘Guiness World Records’ “muito importante para nós, que confecionamos o produto, e para Lagos.” “Colocámos Lagos no mundo ao nível da doçaria. Por outro lado, o Dom Rodrigo também é candidato ao concurso ‘7 Maravilhas Doces de Portugal’, organizado pela RTP, pelo que o facto de termos agora entrado para o ‘Guiness’, representa, também, um passo para pedirmos às pessoas que votem no Dom Rodrigo de Lagos”, destaca Eugénia Militão. À partida, não fala em ganhar, “mas pelo menos ir à final já era bastante bom”, vaticina. “São muitos doces, são 140 a concurso. É claro que vencer seria, para nós, fabuloso”, observa.
Doceira Eugénia Militão até já pensa noutro lugar no ‘Guiness’ com um peixe gigante
No seu stand, com muitos clientes e curiosos, conta: “Aqui, vende-se, vende-se, como sempre. Quem nos procura gosta de tudo, mas principalmente do doce fino, do Dom Rodrigo e dos morgados. Porquê? Porque são fabrico artesanal, fresquíssimos e as pessoas não têm muitas oportunidades de ter um produto assim. É que, às vezes, o que se compra nas pastelarias não é tão artesanal.”
Nota “muito mais movimento” do que no ano passado e aponta o facto de a Câmara Municipal de Lagos também ter feito “uma boa aposta ao nível de artistas, o que atrai muito público.” “A Arte Doce, neste ano, está muito melhor, mais agradável, com uma roupagem nova, muito mais apelativa, as pessoas podem andar mais à-vontade. É essa, de resto, a opinião de muita gente”, frisa a a conceituada Eugénia Militão.
Enquanto vai recebendo felicitações, admite ao ‘Litoralgarve’ que até já pensa num “doce gigantesco” na Arte Doce, em 2020 à conquista, quem sabe, de outro lugar no ‘Guiness’. “Talvez um peixe, porque estamos numa zona marítima. Seria giro e importante”, sugere.
Câmara de Lagos prepara certificação do Dom Rodrigo em 2020 para benefícios económicos
Por sua vez, a Câmara Municipal de Lagos está envolvida no processo de certificação do Dom Rodrigo, processo que deverá ficar concluído em 2020. A vereadora Sara Coelho explica as vantagens: “Em primeiro lugar, vai permitir estabelecer um método de confeção e produção estabilizado entre as várias pessoas que fazem o doce, de forma a poder ser mais facilmente conhecido porque terá uma qualidade constante. E, portanto, quem o adquirir sabe que tem algo devidamente certificado. À semelhança daquilo que já se passa noutras regiões de Portugal, desde Trás-os-Montes ao centro do país, que têm uma série de produtos certificados e que com isso tiram vantagens, nós esperamos também conseguir o mesmo, nomeadamente em termos económicos e turísticos, não só divulgando o Dom Rodrigo como um produto típico da região do Algarve e, em particular, do concelho de Lagos, mas também levando a que todos aqueles que estão envolvidos na produção do doce possam crescer com isso e beneficiar em termos financeiros.”

Associação de doceiros e empresários ainda em 2019
E acrescenta: “É uma forma, até, de diversificar a oferta existente neste concelho, caracterizado tipicamente pelo turismo, mas que pode também ser caracterizado e certificado em torno de um elemento da sua gastronomia, neste caso de um doce que é o Dom Rodrigo. É um questão de ‘marketing’”.
Para já, será criada, provavelmente ainda em 2019, uma associação composta pelos doceiros e empresários desta atividade. “Vamos ter de estabilizar o método de produção, que tem pequenas variações entre as várias pessoas que confecionam o Dom Rodrigo, e ir buscar a receita original e o estudo de toda a história do doce, que apesar de já estar feito tem de ser incluído neste processo de certificação. Tudo isto implica uma série de passo”, afirma a vereadora Sara Coelho. No concelho de Lagos, são conhecidos pelo menos 30 produtores do Dom Rodrigo.
A terramoto de 1755 e o Dom Rodrigo
Segundo os estudos, o Dom Rodrigo, com origem no século XVIII, é um doce que caracteriza Lagos, onde foi criado pelas freiras Carmelitas do antigo convento de Nossa Senhora do Carmo, como uma oferta ao D. Rodrigo de Menezes, na altura Governador-Capitão General da Praça de Guerra de Lagos. Foi uma forma de agradecimento por aquilo que ele fez depois do terramoto de 1755.
Com características muito específicas, tendo na sua composição fios de ovos, ovos-moles, miolo de amêndoa do Algarve e canela, é um produto que passou a estar presente nas festas dos nobres e abastados comerciantes e industriais dos séculos XVIII e XIX, servido em taças de vidro ou em porcelana, sendo degustado à colher.

“A apresentação deste doce remonta à introdução do papel de alumínio em Portugal, na primeira metade do século XX. Uma casa de doces regionais de Lagos, introduziu a embalagem em papel de cor prata, a que se juntaram, mais tarde, várias cores, como modo de diferenciar-se e melhor poder atrair os consumidores”, referem os estudos. O Dom Rodrigo pesa habitualmente 60 gramas e está presente nas pastelarias, nos restaurantes e na mesa sempre que há festividades.
Vinho, tema obrigatório do concurso
O interior do Complexo Desportivo de Lagos destina-se a stands com doçaria e amostra de vinhos deste concelho, uma vez que a temática da 32ª. Feira da Arte Doce é precisamente o vinho. Já o exterior está reservado às comidas, com tasquinhas a apresentarem petiscos tradicionais de Lagos e do Algarve, além de bebidas e artesanato. Há sessões de degustação do famoso doce Dom Rodrigo, de Cataplana Algarvia e vinhos, numa altura em que Lagos aderiu à Associação de Municípios Portugueses de Vinho.

No tema obrigatório da Arte Doce, o primeiro prémio foi atribuído a Lucílio Norte Batista, que apresentou um conjunto de doces retratando um prato com um presunto, várias fatias deste produto, um ovo, uma garrafa de vinho, dois copos, cachos de uvas e um pão.
O segundo prémio, conquistado pela empresa ‘Bolodoce – Doçaria Regional, Lda.’, simbolizou o Zé Povinho com um manguito, junto ao qual se podia ler, é claro também em doce: «Oiça lá/Senhor do Vinho/Vossa mercê/Tem razão/Falar mal do vinho/E a prova/O que digo/Vamos, meu amigo/A mais um copinho (Fado de Amália)». Já o terceiro prémio foi para Baco Deus do Vinho, da autoria de ‘Doces da Filipa’.
No tema livre, o vencedor exibiu uma praia, com rochas e muito lixo na água. «O que não acaba no lixo acaba no mar», podia ler-se numa mensagem, da autoria de ‘Cantinho Doce da Fernanda’.
Esperados mais de 40 mil visitantes nos três dias
Concertos com David Fonseca (dia 26), Raquel Tavares (dia 27) e Agir (dia 28), bem como espetáculos musicais a cargo de As Moçoilas, do Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento e de ‘The Protons’, Bafos de Baco, fado com Helena Candeias e os guitarristas Vítor do Carmo (guitarra portuguesa) e Aníbal Vinhas (viola de fado) preenchem o cartaz de animação desta 32º. Feira Concurso Arte Doce, em Lagos, onde a organização esperava mais de 40 mil visitantes nestes três dias.
