Loulé: inauguração da exposição “Com os Pés na Terra e as Mãos no Mar – 6000 anos de História de Quarteira”

No dia em que assinalou 22 anos com o estatuto de cidade, Quarteira conheceu ontem um dos episódios mais marcantes da sua identidade cultural e vida comunitária com a inauguração da exposição “Com os Pés na Terra e as Mãos no Mar – 6000 anos de História de Quarteira”. Um momento que ganhou uma dimensão ainda maior com o anúncio feito pelo presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo, da intenção de criar um Museu dedicado ao património histórico e cultural de Quarteira, no espaço onde atualmente funciona o Mercado da Fruta e do Peixe, no Largo das Cortes Reais.

Assim, a exposição que estará patente ao público na antiga lota, nos próximos dois anos, será um ponto de partida para algo ainda maior como adiantou o autarca: “Todo o trabalho realizado não foi apenas para uma exposição temporária, mas sim para oferecer à cidade de Quarteira um polo museológico que permita a quem nos visita conhecer a nossa História e valorizar a nossa Terra”, assumiu.

Mas até lá, os quarteirenses e os turistas que aqui vêm ao longo do ano terão a oportunidade de desvendar um pouco mais sobre “a Quarteira de hoje e de ontem, mergulhando nas origens deste território e das gentes que o habitaram, acompanhadas pelas memórias das comunidades que dele fazem parte na atualidade”, através desta mostra que nasce de uma parceria entre o Município de Loulé, Junta de Freguesia de Quarteira, Direção-Geral do Património Cultural, Museu Nacional de Arqueologia e Direção Regional de Cultura do Algarve. Um trabalho que contou com a participação fundamental dos guardiões do património, os quarteirenses, que doaram peças e conhecimento e ajudaram a construir esta exposição.

Como explicou o comissário Rui Parreira, esta exposição é feita numa abordagem que se divide em quatro temáticas: o Território (apresentação cartográfica com a evolução do território), a Ocupação e Vivências desse Território, a Atividade na Terra (objetos do quotidiana ligados à exploração da terra) e a Atividade no Mar (testemunhos do comércio marítimo, mas também questões como os seus perigos e os naufrágios que assolaram Quarteira). Estes temas estão distribuídos em quatro mesas multimédia, onde o visitante poderá não só observar objetos, mas também obter, de uma forma interativa, informações mais aprofundadas. No fundo “é contada uma história em imagens animadas”.

Esta abordagem é acompanhada por um “mural de emoções” com uma evocação dos últimos 100 anos de Quarteira – “A história entre o tempo dos nossos avós e a elevação a cidade – 1916-1999”, explicou o comissário da exposição.

Mas dada a elevada “espessura histórica” existente, uma vasta documentação que permitiu criar este momento expositivo, a mostra conta ainda com a possibilidade de o visitante poder consultar um Arquivo Digital, não só com todos os elementos presentes neste espaço, mas, por exemplo, fac-similes de originais que se encontram na Torre do Tombo.

O espólio integra não só elementos do Museu Municipal de Loulé, mas também de empréstimos de outras instituições como o Museu Nacional de Arqueologia, o Museu Municipal de Albufeira ou a Estação Arqueológica do Cerro da Vila, esta última fundamental no que toca ao riquíssimo período romano que continua a ser o período histórico com o maior legado material neste território.

Dos mais antigos testemunhos da História de Quarteira, como o vaso encontrado na Retorta datado do período Neolítico (5º milénio A.C.) até a dois fatos de banho da década de 40 do século XX, um testemunho vivo dos alvores da explosão do turismo, atividade que é também retratada nesta mostra, a exposição integra “todo um repositório de conhecimento que nos permite dialogar com esta longa trajetória histórica de 6 mil anos e explorar e questionar este passado com vista ao futuro”, como explicou Rui Parreira. Nesse sentido, a exposição termina com um módulo “pensado para aquilo que queremos que seja o futuro de Quarteira”. Alguns depoimentos pré-gravados, numa espécie de cabine de um provador de roupa, trazem novas ideias de alguns dos atores desta comunidade, e os visitantes também poderão deixar aqui o seu testemunho sobre aquilo que querem para Quarteira em 2050.

Enaltecendo o trabalho de todos os que contribuíram para este projeto “que irá aumentar o conhecimento pela História e reforçar a autoestima coletiva e o orgulho comunitário”, o autarca Vítor Aleixo frisou a importância desta exposição na componente educativa. “Esta é uma exposição que tem de ser vista por todos os quarteirenses e servir de ferramenta pedagógica para todos os graus de ensino; conto com os nossos professores para trazer meninos e meninas à exposição e para levar a exposição a cada família”, deixou o repto.

Numa cidade virada para o turismo, o Presidente da Câmara de Loulé acredita que este trabalho poderá dar um contributo no sentido de “transformar a imagem de Quarteira e aumentar a sua atratividade ao longo do ano”. Mas será também “palco de construção da cidade atual, de debate das questões que nos preocupam como comunidade”, referindo matérias que preocupam os quarteirenses como a erosão costeira, a pesca sustentável, as alterações climáticas ou os hábitos de vida mais saudável.

Presente nesta cerimónia inaugural, Ângela Ferreira, secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, disse ser esta exposição um “exemplo paradigmático dos resultados que se conseguem quando Governo, municípios e sociedade civil se unem em redor da preservação e da divulgação do património cultural”.

“São iniciativas como esta que tão bem demonstram a densidade heterogénea do território nacional. Como aqui se vê, o património cultural tem o imenso potencial de criar diálogos entre tempos e espaços, de fazer novo a partir do antigo e de dar sentidos inovadores aos hábitos de sempre, promovendo uma leitura constantemente renovada dos lugares, da sua História, da sua população e das suas tradições”, adiantou esta representante governamental.

Já a responsável da Cultura no Algarve, Adriana Nogueira, acredita que esta iniciativa “vai surpreender os quarteirenses” e trará muitas respostas aos jovens sobre o valor e identidade cultural da sua terra.

Telmo Pinto, presidente da Junta, falou de um “projeto inédito” que constitui também “um grande desafio e um grande motivo de orgulho” para Quarteira.  “Esta exposição não é apenas um caminho em direção ao passado. É muito mais do que isso, é um importante instrumento de preservação de memória cultural e História da nossa cidade, das nossas gentes, e terá como missão principal a de oferecer a todos os que nos visitam uma memória coletiva por meio de imagens, testemunhos e objetos de uma Quarteira com História, construída por um povo com identidade, tradição e costumes”, observou ainda o responsável da freguesia de Quarteira.