Numa polémica intervenção durante oito minutos, que teve lugar no período destinado ao público na última reunião da Câmara Municipal de Lagos, realizada na tarde do dia 03 de Maio de 2023, António Santos, referindo-se às recentes notícias, divulgadas, nomeadamente, no ‘Litoralgarve’, apontou para o “clima de terror e alarme social”, numa “situação descontrolada”, com a vaga de assaltos neste concelho. E apelou para a instalação de câmaras de videovigilância em várias zonas, como sucede em Lisboa, Oeiras, Viseu e Portimão.
José Manuel Oliveira
A falta de segurança em Lagos, na sequência da vaga de assaltos durante as madrugadas, com vidros partidos à pedrada, nomeadamente em restaurantes, bares, pastelarias, cafés, ‘snacks-bares’ e estabelecimentos comerciais, entre outros, e sempre pelo mesmo suspeito, como de resto reconhecem as autoridades policiais, além do tráfico de droga a qualquer hora do dia, importunando residentes e turistas, foi o principal tema abordado durante o período destinado ao público na reunião de câmara realizada no dia 03 de Maio de 2023 (quarta-feira), à tarde, no auditório do Edifício dos Paços do Concelho Século XXI, nesta cidade.
“TRISTEZA E REVOLTA” POR “CLIMA DE TERROR E ALARME SOCIAL, COM ROUBOS E VIOLÊNCIA, NUMA SITUAÇÃO QUE ESTÁ DESCONTROLADA”

Eram 15h.24m. quando, ao lhe ser dada a palavra, António Santos, de 75 anos de idade, conhecido cidadão de Lagos, que esteve durante décadas ligado à atividade turística no Algarve, iniciou a leitura de apontamentos escritos num papel, numa altura em que ainda não se encontrava presente na mesa o presidente da Câmara Municipal, Hugo Pereira. Estavam ali o vice-presidente socialista, Paulo Jorge Reis, as vereadoras Sandra Oliveira e Sara Correia, o vereador Luís Bandarra, e os vereadores da oposição, Pedro Palma (do PSD) e Alexandre Nunes, da CDU, a coligação liderada pelo Partido Comunista Português.
“É com tristeza e revolta que venho alertar para o clima de terror e alarme social, com roubos e violência, numa situação que está descontrolada. Lagos é a capital do roubo, da droga e da violência no Algarve”, começou por destacar António Santos, insistindo que “isto está descontrolado” e “o principal responsável ( …) por esta situação sois vós – Câmara Municipal de Lagos, autoridades
policiais e a justiça.”
“DEZENAS DE ASSALTOS” E “JUSTIÇA À PORTUGUESA”
Pouco depois, António Santos recordou “dezenas” de assaltos recentemente ocorridas, apresentando como exemplos alguns destacados pelo ‘Litoralgarve’, designadamente “a Casa do Benfica, o Restaurante Sete Mares, Restaurante António [na Praia do Porto Mós], Restaurante Repolho, Moleiro (três vezes), Garrafeira do Infante e uma moradia [de cidadãos irlandeses], à mão armada e de onde foram roubados dinheiro e joias”. Isto, além de outros furtos até em quintais, num dos quais o assaltante foi “detido em flagrante delito [por agentes da Polícia de Segurança Pública], depois de ter levado sapatilhas”, acabando, horas mais tarde, por ser libertado por ordem do Ministério Público. “É a justiça à portuguesa”, lamentou, indignado, António Santos.

Tal sucedeu, recorde-se, como o nosso Jornal descreveu, na semana da Páscoa, numa altura em que funcionários dos tribunais estavam em greve, existiam processos acumulados nos tribunais e o autor dos furtos no concelho de Lagos já era, há muito tempo, referenciado pelas autoridades, pelo que, foi, apenas, constituído arguido.
Em seguida, e quando o presidente da Câmara Municipal de Lagos, Hugo Pereira, entrou no auditório do edifício dos Paços do Concelho Século XXI, situação até assinalada pelo cidadão que estava a expor problemas relativos à segurança local, António Santos sublinhou o facto de esta onda de assaltos, “divulgada pela comunicação social e TV”, transmitir uma “terrível imagem, prejudicando o turismo de Lagos.” Ao mesmo tempo, considerou que aquele autarca “faz com estas [denúncias] ouvidos de mercador.”
“É muito grave o que a Câmara Municipal de Lagos tem estado a fazer e as autoridades continuam a demonstrar passividade perante a criminalidade”, acusou António Santos, aproveitando para apelar à instalação de “câmaras de vídeovigilância” em vários locais da via pública, como sucede noutras cidades do país.
“Lagos não é menos do que outras cidades, como Lisboa, Oeiras, Viseu e Portimão”, onde existe sistema de videovigilância espalhado por diversos locais desses concelhos, observou António Santos.
“A POPULAÇÃO ESTÁ MUITO DESCONTENTE COM A POSTURA DA POLÍCIA MUNICIPAL, PELA ARROGÂNCIA E PREPOTÊNCIA”, SOBRETUDO QUANDO QUALQUER CONDUTOR TEM DE PARAR UMA VIATURA NA VIA PÚBLICA PARA IR A ALGUM LADO, “OU HÁ CARROS MAL ESTACIONADOS”. “AÍ APARECEM LOGO CARROS DA POLÍCIA PARA MULTAR”
A dada altura desta sua polémica intervenção, aquele munícipe notou que “não há um único polícia” nas ruas, em Lagos, nomeadamente à noite, apesar da “violência” existente. “Lagos tem muitos polícias e a segurança cada vez mais é pior, com a GNR, a PSP e a Polícia Municipal”, acusou, de forma veemente, António Santos. Nesse sentido, aproveitou para tecer fortes críticas à atuação dos agentes da Polícia Municipal de Lagos, garantindo que “a população está muito descontente com a postura da Polícia Municipal, pela arrogância e prepotência”, sobretudo quando qualquer condutor tem de parar uma viatura na via pública para ir a algum lado, ou “os carros estão mal estacionados.” “Aí aparecem logo carros da polícia para multar”, observou, voltando a lamentar a “arrogância perante o cidadão comum” por parte da Polícia Municipal de Lagos.
MUNÍCIPE CONTA QUE “HÁ GENTE QUE QUANDO ME VÊ NA RUA, ME ALERTA PARA MUITAS SITUAÇÕES NESTA CIDADE, COMO, POR EXEMPLO, O TRÁFICO DE DROGA (QUE, PELOS VISTOS, NEM SEQUER E DROGA…), COM A ABORDAGEM A RESIDENTES E VISITANTES, PARA ADQUIRIREM O PRODUTO, O QUE NATURALMENTE INCOMODA AS PESSOAS. E A POLÍCIA LIMITA-SE A DIZER QUE TAL NÃO DÁ PARA PRENDER…”
“Há gente que quando me vê na rua, me alerta para muitas situações nesta cidade, como, por exemplo, o tráfico de droga (que, pelos vistos, nem sequer é droga…), com a abordagem a residentes e visitantes para adquirirem o produto, o que naturalmente incomoda as pessoas. E a polícia limita-se a dizer que tal não dá para prender…” – recordou António Santos.
Já na parte final da intervenção, que se prolongou por cerca de oito minutos, em jeito de ironia, disse esperar, desta vez, não ir preso, como aconteceu há anos, em Lagos, quando “um jovem (Catulo) foi assassinado à porta de um bar e eu, numa entrevista, afirmei que a PSP em vez de prevenir estas situações, anda a beber copos nos bares.”
“Fiquei detido nas [antigas] instalações da PSP de Lagos [em frente do museu], e recusei comer as refeições, feijoadas, que me foram servidas. ‘Coma você!’ – disse ao agente policial, quando ele me foi entregar um prato com feijoada à cela. Após “pressão popular” junto à esquadra, António Santos acabou por ser libertado pela própria PSP de Lagos, na altura sob a responsabilidade do comandante Joviano Crispim. E apesar de ter sido dito que a PSP, em Lisboa, iria acionar um processo contra António Santos, tal não aconteceu.
PRESIDENTE HUGO PEREIRA DISCORDA DA IDEIA DE QUE LAGOS É UM CONCELHO INSEGURO

Pelas 15h.34m., foi a vez de o presidente da Câmara Municipal de Lagos, Hugo Pereira, usar da palavra para responder ao público. No tocante à exposição apresentada, verbalmente, pelo cidadão António Santos, sobre a “insegurança” neste concelho, com dezenas de estabelecimentos arrombados à pedrada, durante as madrugadas, o autarca começou por afirmar que “não concordo” com essa expressão. “O que tem acontecido é uma pessoa (…), um assaltante que está a fazer isto tudo”, reconheceu Hugo Pereira, lembrando que o indivíduo “há dois, três anos esteve preso” e “foi agora julgado, estando a aguardar a sentença” do tribunal.
“A VIDA DELE É ESTA. LAGOS TEM DE ACEITAR ISTO”
“QUAL SERÁ NESTA NOITE ?” O ESTABELECIMENTO ASSALTADO NO CONCELHO DE LAGOS, É O QUE ATÉ JÁ SE QUESTIONA “EM CONVERSAS DE CAFÉ”
“A vida dele é esta. Lagos tem de aceitar isto”, admitiu o principal responsável do executivo camarário, considerando “revoltante” para a população a situação de que resulta a libertação do homem pela justiça, após ser detido várias vezes pelos “mesmos ilícitos.”
A propósito, Hugo Pereira lembrou que os assaltos cometidos pelo mesmo indivíduo até têm sido “ultimamente conversa de café”, ao ponto de algumas pessoas questionarem: “qual será nesta noite?”
AGENTES DA PSP DE LAGOS IGNORARAM HOMEM “ALCOOLIZADO E COM O RABO À MOSTRA”, NA RUA 25 DE ABRIL DE 1974, SEGUNDO O AUTARCA HUGO PEREIRA, QUE ENALTECEU A POLÍCIA MUNICIPAL AO CONSEGUIR LEVAR O INDIVÍDUO PARA CASA
Relativamente à Polícia Municipal de Lagos, o presidente da Câmara recordou que a esta não lhe compete “andar atrás de ladrões”, podendo, no entanto, “reter” um suspeito até à chegada, intervenção da Polícia de Segurança Pública, ou da Guarda Nacional Republicana, forças de segurança essas que podem proceder à detenção de assaltantes.
Já em relação às críticas por parte de muitas pessoas que acusam os agentes da Polícia Municipal de Lagos de “prepotência e arrogância”, o edil Hugo Pereira respondeu que tem sido transmitida a esses elementos a indicação para terem uma postura de “educação” para com a população, na abordagem das situações, o que “pontualmente não” acontece, como reconheceu. “Estão a aprender”, observou aquele responsável, acrescentando que a Polícia Municipal de Lagos ajuda, nomeadamente, no controlo à “venda ilegal sem licença” na via pública.
Por outro lado, o presidente da Câmara Municipal de Lagos lembrou um recente episódio ocorrido no dia feriado de 01 de Maio de 2023, quando, nesta cidade, viu um indivíduo “alcoolizado na Rua 25 de Abril [de 1974], com as calças [em baixo] e o rabo à mostra, a PSP olhou e deixou passar, e a Polícia Municipal agarrou [no indivíduo] e pô-lo à porta de casa”.
NOVA MOLDURA PENAL PODERIA RESOLVER PROBLEMA DA VENDA DE DROGA FALSA E EM PLENA CIDADE, ENGANANDO, SOBRETUDO, TURISTAS
A terminar, Hugo Pereira também reconheceu a “má imagem” transmitida em pleno centro da cidade de Lagos, onde indivíduos tentam “enganar pessoas, com venda de droga, que não é droga.” “Onde há turismo, eles atacam”, lamentou o autarca, para quem a solução para este problema passará por uma “moldura penal” que vise penalizar “a venda de droga” mesmo na situação em que o produto é falso.