Populares contaram, ao ‘Litoralgarve, que “terá acontecido tudo de forma muito rápida, as raparigas não terão conseguido controlar a situação e quando os bombeiros chegaram ao local também já não conseguiram dominar as chamas”. Inspectores da Polícia Judiciária continuam a proceder a investigações para tentar perceber se houve crime de negligência ou dolo. No concelho de Odemira, há queixas sobre falta de apoio logístico, provocando “alimentação deficiente e tardia a bombeiros, que só jantaram por volta da 01h00 da madrugada.”
José Manuel Oliveira
Duas “jovens turísticas estrangeiras”, apurou o ‘Litoralgarve’, poderão, eventualmente, estar na origem do violento incêndio que atingiu, na passada semana, o concelho de Odemira, no Baixo Alentejo, na sequência de um churrasco efectuado num parque de merendas, situado próximo da povoação de São Miguel. Na altura, havia imenso calor, com temperaturas superiores a trinta graus centígrados e o vento a mudar frequentemente de direcção.

“Terá acontecido tudo de forma muito rápida, as raparigas não terão conseguido controlar a situação e quando os bombeiros chegaram ao local também já não conseguiram dominar as chamas”, contaram populares ao nosso Jornal. Entretanto, inspectores do Departamento de Investigação Criminal (DIC) de Portimão da Polícia Judiciária (PJ) procuram perceber se houve comportamento negligente ou doloso, através da recolha de testemunhos e de elementos sobre o fogo.
Dolo é punido até oito anos de prisão, enquanto crime por negligência em fogo rural poderá ser penalizado com três, ou pena de multa
De acordo com o Código Penal, a prática de um crime por negligência, dando origem a um fogo rural, com prejuízos para terceiros, como foi o caso, poderá ser punida até três anos de prisão, ou pena de multa a determinar pelo tribunal. Já o dolo prevê de um a oito anos de cadeia.
Recorde-se que, como o ‘Litoralgarve’ descreveu na altura, a negligência, o alcoolismo e a saúde mental têm contribuído para a maioria dos fogos rurais em Portugal, segundo foi revelado durante o ‘workshop’, via ‘online’, na manhã de 26 de Maio de 2023, subordinado ao tema «Incêndios Rurais – Como comunicar» e que contou com jornalistas de várias zonas do país. Tratou-se de uma iniciativa conjunta da Polícia Judiciária, da Guarda Nacional Republicana, Autoridade Nacional de Proteção Civil, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Florestais e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
Cabo eléctrico de alta tensão terá provocado fogo rural na zona da Bordeira, no concelho de Aljezur
Por outro lado, como contaram ao ‘Litoralgarve’, terá tido origem num cabo eléctrico de alta tensão o recente incêndio rural que atingiu a zona da Bordeira, no concelho de Aljezur, na mesma altura em que os meios do Algarve e centenas de bombeiros do país combatiam as chamas no município de Odemira, enfrentando mudanças de vento a agravar a situação. Já neste concelho alentejano, devido à falta de apoio logístico, “a alimentação foi deficiente e tardia, com bombeiros a jantar só por volta das 01.00 horas da madrugada”, garantiram ao nosso Jornal fontes conhecedoras do processo.

Ex-jornalista Paulo Camacho e a ex-mulher sofreram mais de duzentos mil euros de prejuízo na sua unidade de turismo rural, situada na zona de Juncal, no concelho de Odemira. “Não houve um único bombeiro a defender-nos”, apesar dos insistentes pedidos de ajuda, acusou a senhora
O fogo, que deflagrou numa área de mato e pinhal, na zona de Baiona, freguesia de São Teotónio, perto de Odemira, no passado sábado, dia 05/08/2023, acabou por afectar, também, áreas dos municípios de Aljezur e Monchique, num total de cerca de 8.400 hectares, tendo destruído, pelo menos, duas casas e uma unidade de turismo rural, além de vários anexos no sítio de Juncal, naquele concelho do Baixo Alentejo. Essa unidade de turismo, Teima, pertencente ao ex-jornalista Paulo Camacho e à sua ex-esposa, Luísa Botelho, terá sofrido um prejuízo superior a duzentos mil euros, apurou o ‘Litoralgarve’, desconhecendo-se, ainda, qual a cobertura do seguro.
Em declarações públicas, a proprietária lamentou a falta de apoio dos bombeiros que se encontravam com três viaturas numa estrada e se terão limitado a dizer não terem ordens para sair do local. “Não houve um único bombeiro a defender-nos”, acusou, lembrando os insistentes pedidos de ajuda dirigidos a operacionais no terreno e a militares da Guarda Nacional Republicana.

“O problema não é dos operacionais, nem dos comandos locais, pois estes limitam-se a cumprir ordens superiores, para se posicionarem em determinados sítios”
Confrontado com o sucedido (de resto, comum, há vários anos, noutros incêndios florestais, nomeadamente no Algarve, segundo nos contaram populares), várias fontes que acompanham este tipo de situações garantiram, ao ‘Litoralgarve’, que “o problema não é dos operacionais, nem dos comandos locais, pois estes limitam-se a cumprir ordens superiores para se posicionarem em determinados sítios.”
Recorde-se que o incêndio que deflagrou no concelho alentejano de Odemira, estendendo-se até aos municípios vizinhos de Monchique e Aljezur, já no barlavento algarvio, como referimos, chegou a mobilizar 1.115 operacionais, 368 viaturas e 14 meios aéreos. Mais de quarenta pessoas foram assistidas no local e cerca de mil e quinhentas tiveram de ser deslocadas pelas autoridades. Pelo menos nove indivíduos acabaram por receber assistência médica em unidades hospitalares.