HELENA CANDEIAS, FADISTA, EM ENTREVISTA AO LITORALGARVE: “JÁ TIVE DE PARAR DE CANTAR PORQUE HAVIA MUITO BARULHO ENTRE O PÚBLICO”

Acima de tudo, quero continuar no fado. Não sou pessoa para desistir”. Quem o diz é a fadista Helena Candeias, residente em Lagos e que nesta quarta-feira, dia 05 de Agosto de 2020, a partir das 21.30 horas, no Luz Bay Hotel, situado na localidade da Luz, apresenta o seu primeiro CD, intitulado ‘O Silêncio da Alma’.

Nesta entrevista ao Litoralgarve, conta como se iniciou na carreira, recorda a influência da sua mãe, da avó materna e de Amália Rodrigues, e lamenta as repercussões provocadas pela pandemia da Covid-19, com “grande perda de trabalho e de rendimentos”. E aproveita para deixar um recado ao público: “O fado tem de ser ouvido em silêncio. É a melhor prenda para quem canta fado”.

Litoralgarve – Como despertou para o fado, quando começou a cantar e que idade tinha?

Helena Candeias – Comecei a cantar fado aos 16 anos, em Lagos, pois sempre ouvia fado através da minha avó materna e da minha mãe e isso despertou-me esse gosto.

A INFLUÊNCIA DA AVÓ MATERNA, QUE “CRIOU EM MIM UM GRANDE SENTIMENTO DE PRAZER PELO FADO”, E DA MÃE, QUE “INCENTIVOU-ME A NUNCA DESISTIR”

Litoralgarve – O que lhe diziam?

Helena Candeias – A minha mãe, que sempre me acompanha, incentivou-me a nunca desistir. A minha avó materna, de origem espanhola, cantava fado por gosto e também criou em mim um grande sentimento de prazer pelo fado.

Litoralgarve – E qual a influência dos seus amigos?

Helena Candeias – Tal como a minha família, também acham que tenho uma voz bonita. Estive parada durante uma certa altura da minha vida e todos me incentivaram a voltar, acompanhando-me nos espetáculos em que participo.

Litoralgarve – Com que objetivos se iniciou nesta carreira?

Helena Candeias – Com o objetivo de mostrar ao mundo aquilo que mais amo fazer que é cantar.

AMÁLIA RODRIGUES SERVIU DE INSPIRAÇÃO, “SEM DUVIDA, UMA MULHER BATALHADORA, SEM IGUAL, UMA VOZ ÚNICA”

Litoralgarve – Que figura serviu de inspiração?

Helena Candeias – Amália Rodrigues. Nunca a conheci pessoalmente, mas as letras dos seus fados sempre despertaram em mim um sentimento de emoção, de memórias e uma forma intensa de encarar e viver a própria vida. Algumas vezes chorei a ouvir a Amália. E também já chorei a cantar fado.

Litoralgarve – Porquê?

Helena Candeias – Por me fazer recordar questões pessoais.

Litoralgarve – E que memória ainda hoje guarda de Amália Rodrigues, numa altura em que se assinala cem anos da data do seu nascimento?

Helena Candeias – Sem dúvida, uma mulher batalhadora, sem igual. Uma voz única.

Litoralgarve – Qual a rentabilidade económica que o fado tem na sua vida?

Helena Candeias – Tem alguma rentabilidade, embora não ainda como eu gostaria, mas tudo a seu tempo.

Litoralgarve – Em que é que aplicou o dinheiro que recebeu com o primeiro espetáculo e onde se realizou?

Helena Candeias – Não fiz nada de especial. Na altura, participei num concurso de fado, em Lagos.

NO ALGARVE, TEMOS SEMPRE DE TER UM SEGUNDO TRABALHO. FALO DE QUEM CANTA”

Litoralgarve – É possível viver do fado?

Helena Candeias – No Algarve, temos sempre de ter um segundo trabalho. Falo de quem canta.

Litoralgarve – Quem são os seus guitarristas?

Helena Candeias – Trabalho com vários guitarristas, depende das disponibilidades, em especial Vítor do Carmo, residente em Portimão, e Paulo Feiteira, de Lisboa.

Litoralgarve – Quais os encargos que tem em cada espetáculo? Como se prepara?

Helena Candeias – A preparação é testar o som, dependendo do espetáculo, visto uma roupa apropriada, trabalho a maquilhagem, faço o alinhamento dos fados que vou cantar e estou pronta. É um trabalho que demora cerca de 30 minutos antes do início do espetáculo.

Litoralgarve – Quantos espetáculos realiza por ano?

Helena Candeias – Canto praticamente todos os meses, em três, quatro vezes por semana.

Litoralgarve – E quem a contrata?

Helena Candeias – São várias entidades, músicos, manager, colegas de fado e outros.

ACEITO TODAS AS CRÍTICAS CONSTRUTIVAS”

Litoralgarve – Quais os melhores locais para atuar? Em espaços fechados ou ao ar livre?

Helena Candeias – Pessoalmente prefiro ao ar livre, mas também gosto dos espaços fechados por estar mais em contacto com o público.

Litoralgarve – Como reage o público? O que dizem as pessoas antes e após a ouvirem cantar? Que conselhos ouve?

Helena Candeias – Até à data de hoje, ainda não houve nenhuma crítica a não ser construtiva. Ninguém é perfeito e eu só faço o que gosto. E aceito todas as críticas construtivas.

Litoralgarve – E o que lhe dizem?

Helena Candeias – As pessoas gostam sempre de me ouvir cantar. Entre colegas e guitarristas é que, por vezes, trocamos opiniões, analisando, por exemplo, alguns aspetos em podia ter feito assim, noutros, de outra forma. São observações para melhorar os espetáculos.

JÁ TIVE DE PARAR DE CANTAR PORQUE HAVIA MUITO BARULHO ENTRE O PÚBLICO”

Litoralgarve – E para que tipo de público costuma atuar? Jovens, menos jovens, homens, senhoras, cidadãos estrangeiros?

Helena Candeias – O público é variado.

Litoralgarve – Que sensação tem quando está a cantar fado e ouve um telemóvel tocar e pessoas a falar?

Helena Candeias – É uma grande falta de respeito. O fado tem de ser ouvido em silêncio. É a melhor prenda para quem canta fado.

Litoralgarve – E como reage quando há barulho?

Helena Candeias – Já tive de parar de cantar porque havia muito barulho entre o público. Cheguei ao ponto de parar a música, sentar-me e pedir às pessoas para desligarem os telemóveis. Isso aconteceu há anos em Lagos.

OS PORTUGUESES SÃO PIORES A ESSE NÍVEL. MUITAS VEZES NÃO RESPEITAM O FADO”

Litoralgarve – Com que tipo de público sente esse problema? Portugueses ou estrangeiros?

Helena Candeias – Os portugueses são piores a esse nível. Muitas vezes não respeitam o fado. O barulho entre o público por vezes leva-me a fazer um intervalo. Depois, volto a cantar. Em cada espetáculo, tento animar as pessoas, com fado misto e outras situações.

Litoralgarve – E o que dizem as pessoas, quando pede silêncio durante um espetáculo?

Helena Candeias – Há pessoas que levam a mal e outras riem-se. Independentemente do que acontecer, levo sempre o espetáculo até ao final. Simplesmente, quando não há condições, paro de cantar até que a situação normalize.

Litoralgarve – Que condições existem em Lagos para a realização de espetáculos?

Helena Candeias – Lagos tem muito boas condições, desde espaços ao ar livre, como fechados.

CD «O SILÊNCIO DA ALMA” FOI GRAVADO NO CHINICATO E TEM O PREÇO DE 10 EUROS POR CADA CÓPIA

Litoralgarve – No dia 5 de Agosto de 2020 (quarta-feira), apresenta, no Luz Bay Hotel, na localidade da Luz, no concelho de Lagos, o seu primeiro CD, intitulado «O Silêncio da Alma». Porquê esta designação e como surgiu a ideia?

Helena Candeias – O “Silêncio da Alma” é o que ‘ouço’ e ‘sinto’ quando canto.

Litoralgarve – Quanto tempo demorou a gravar e onde decorreu esse trabalho? Como foi essa experiência, como se preparou?

Helena Candeias – Foram quatro horas de gravação no estúdio InforArte, no Chinicato. Não fiz nenhuma preparação especial.

Litoralgarve – Quantas cópias tem este CD e qual o preço de cada uma? Onde foram feitas?

Helena Candeias – Este CD tem as cópias que eu quiser. E cada uma tem o valor de 10 euros. Foram feitas no mesmo local de gravação.

Litoralgarve – Que outros projetos tem a este nível?

Helena Candeias – Gravar outro CD. Quando? Não sei o que será o dia de amanhã…

Litoralgarve – O que pensa fazer durante este Verão no fado? E até ao final do ano?

Helena Candeias – O que a situação da Covid-19 me permitir. De qualquer modo, já tenho espetáculos programados, nomeadamente no dia 5 de Setembro, no Centro Cultural de Lagos.

COVID-19 TEM PROVOCADO “GRANDE PERDA DE TRABALHO E DE RENDIMENTOS”

Litoralgarve – Quais as repercussões que a pandemia da Covid-19 tem provocado no fado?

Helena Candeias – Grande perda de trabalho e de rendimentos.

Litoralgarve – Evitar ajuntamentos de pessoas condiciona a realização de espetáculos?

Helena Candeias – Limita, porque tenho menos público.

Litoralgarve – O que pensa das regras de segurança?

Helena Candeias – São necessárias e têm de ser respeitadas.

Litoralgarve – E que reflexos tem a Covid-19 na cultura em geral?

Helena Candeias – A cultura derivado ao confinamento tem sofrido uma grande quebra financeira.

Litoralgarve – E na sua vida particular, o que deixou de fazer?

Helena Candeias – Fiquei desempregada (trabalhava no Clube Recreativo e Cultural Luzense) e fiquei sem cantar, mas agora estamos a voltar ao canto aos poucos.

Litoralgarve – Que apoios tem o fado?

Helena Candeias – Nós vivemos do público em geral. Restaurantes, hotéis, juntas de freguesia, câmaras municipais, associações, por exemplo.

ACIMA DE TUDO, QUERO CONTINUAR NO FADO. NÃO SOU PESSOA PARA DESISTIR”

Litoralgarve – Quais são os seus projetos profissionais e pessoais?

Helena Candeias – Subir na carreira profissional do fado. Quanto a projeto pessoal, estou numa fase transitória na qual estudo opções de vida. Mas acima de tudo, quero continuar no fado. Não sou pessoa para desistir.

Litoralgarve – O que pensa da violência doméstica e como evitar situações deste tipo?

Helena Candeias – Sou completamente contra a violência doméstica. Acho que deviam ser tomadas medidas mais drásticas em relação a essa situação na defesa da vítima.

O MAIOR DEFEITO É “DIZER SEMPRE O QUE PENSO”

Com 30 anos, natural de Portimão e residente no Bairro 25 de Abril, na Meia-Praia, em Lagos, Helena Filipa da Rosa Candeias fala inglês e espanhol, é adepta do Benfica e elege bacalhau com natas entre as especialidades gastronómicas preferidas.

Nome completo

Helena Filipa da Rosa Candeias

Data e local de nascimento

01 de Dezembro de 1989, em Portimão. Tem 30 anos.

Signo

Sagitário

Estado civil

Solteira. Tem uma filha de 12 anos

Residência

Bairro 25 de Abril, nº. 39, Meia-Praia, em Lagos

Habilitações literárias

9º. ano de escolaridade

Profissão

Fadista

Idiomas que domina

Inglês e Espanhol

Religião

“Cristã. Sou católica e fui batizada numa igreja evangélica”.

Filiação partidária

“Não Tenho”

Clube desportivo da sua preferência

Benfica

Qual a figura nacional que destaca?

“Não tenho”

E a nível internacional?

“Não tenho”

Gastronomia

“Por norma, aprecio todo o tipo de comidas. Algum prato especial? Bacalhau com natas.”

Onde costuma passar férias?

“Raramente vou de férias. Sou mais de passear. Levo a família no carro e vou passar um dia fora.”

Qual a sua principal virtude?

“Rápida aprendizagem musical”

E o seu maior defeito?

“Dizer sempre o que penso”

Entrevista de José Manuel Oliveira