ENTREVISTA AO PRESIDENTE DA REGIÃO DE TURISMO DO ALGARVE, JOÃO FERNANDES: “GRANDE PRÉMIO DE FÓRMULA 1 PODE REPRESENTAR UMA SEMANA DE AGOSTO, EM OUTUBRO, PARA O TURISMO, ALÉM DE UM DESTAQUE MUNDIAL DO ALGARVE”

Em entrevista ao Litoralgarve, na cidade de  Faro, o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), João Fernandes, reconhece um “cenário em que a incerteza predomina”, mas, mesmo assim, aponta  para  uma  “boa  época turística”  no  último  trimestre  de  2020, “sobretudo,  muito,  também,  pelo  facto  de  sermos  o melhor destino de  golfe do  mundo”.  Defende  um  passaporte  sanitário na  Europa para “reduzir  o  risco  de  quem  recebe os  visitantes”,  diz que  o  turismo “foi  o  sector  mais afetado  por  esta  pandemia”  da  Covid-19  e  antevê  que o  Mundial  da  Fórmula 1 no Algarve poderá  “atenuar  um ano que  não  vai  ser  como  aqueles  a  que  temos  assistido  nos   últimos  anos.”

Litoralgarve – Quais as suas perspetivas para esta época turística no Algarve?

João Fernandes – Estamos num cenário em que a incerteza predomina e tudo o que possamos perspetivar para o futuro é exatamente imbuído deste grau de desconhecimento de como vai ser o comportamento dos mercados, como vai ser a realidade das fronteiras, como será a retoma da confiança das pessoas para viajar. Tivemos um primeiro sinal muito positivo do mercado interno durante o período dos recentes feriados e das mini-férias, em que superámos as expectativas em termos de ocupação hoteleira e até com uma presença mais expressiva em tipologias mais isoladas, que penso que é uma tendência que se manterá.

Estamos a ter, com a reativação das rotas aéreas, boas taxas de ocupação dos aviões, sobretudo na chegada ao aeroporto de Faro.

Litoralgarve – De onde vêm esses turistas?

João Fernandes – Nessas ligações aéreas, começámos com Zurique, depois tivemos Luxemburgo, Amesterdão. Agora, já temos Bruxelas, Londres, Manchester, Belfast, Dublin. Estamos  a retomar Frankfurt e, portanto, as ligações aos nossos principais mercados emissores, obviamente com uma expressão muito mais reduzida do que aquela que era habitual no período de Junho.

“É  TENTAR    PROLONGAR    O    VERÃO    AO  MÁXIMO   E   ESPERAR   QUE,   NO   ÚLTIMO  TRIMESTRE,   QUADRIMESTRE   DESTE  ANO,    TENHAMOS    MELHORES  RESULTADOS”

Litoralgarve – E como vai ser nos meses de Julho e Agosto?

João Fernandes – Em Julho e Agosto, o número de rotas vai aumentar substancialmente. Mas, obviamente, não tenhamos ilusões, pois este não será um ano com taxas de ocupação como aquelas a que temos vindo a assistir nos últimos anos. Esperemos que a atividade que se venha a realizar em Julho e em Agosto, permita a sustentabilidade das empresas num futuro mais longínquo, que é o da época baixa. E é isso que nos está, sobretudo, a preocupar. É tentar prolongar o Verão ao máximo, ter uma boa época turística no último trimestre, mais consentânea com a procura do período homólogo, sobretudo muito, também, pelo facto de sermos o melhor destino de golfe do mundo. Estavamos a ter muito crescimento ao nível do turismo da natureza, do turismo náutico, do turismo no interior. É esperar que no último trimestre, no último quadrimestre deste ano, tenhamos melhores resultados. Também estamos na linha da frente, como é público, para conseguir ter um Grande Prémio da Fórmula 1, o que seria uma grande ajuda. Vamos esperar pelos próximos dias. Estamos esperançados.

“GRANDE    PRÉMIO    DA   FÓRMULA  1  PODE   AJUDAR   A    ATENUAR    UM   ANO  QUE   NÃO    VAI    SER    COMO   AQUELES  A QUE  TEMOS  ASSISTIDO  NOS  ÚLTIMOS  ANOS”

Litoralgarve – O que pode proporcionar ao Algarve o Mundial da Fórmula 1, com o Grande Prémio de Portugal no Autódromo Internacional de Portimão?

João Fernandes – Pode proporcionar, praticamente, uma semana de  Agosto, em Outubro, para o turismo, além de um destaque mundial do destino Algarve, o que acaba, como é óbvio, por ter um resultado promocional muito importante para a região.

Litoralgarve – O Grande Prémio da Fórmula 1 poderá salvar o Algarve de uma eventual quebra ao nível dos turistas britânicos?

João Fernandes – Pode ajudar a atenuar um ano que, obviamente, não vai ser como aqueles a que temos assistidos nos últimos anos.

“ESTAMOS   PREPARADOS   PARA   UMA  MAIOR   PRESENÇA   DE   PESSOAS   NO  TERRITÓRIO,   QUE   ENVOLVE   UM   MAIOR   RISCO”   DE   CONTÁGIO   DA  COVIS-19

Litoralgarve – A vinda de turistas para o Algarve está a ser encarada por responsáveis nesta região, como propícia a mais surtos da pandemia Covid-19 durante o Verão. Receia essa situação?

João Fernandes – Tivemos já um primeiro teste com as mini-férias e não se registaram casos resultantes dessa procura. Mas, obviamente, temos de ter muito presente, e estamos preparados para isso, que uma maior presença de pessoas no território envolve um maior risco. Houve um reforço de uma capacidade instalada, que não foi esgotada nem sequer ao nível dos cuidados de saúde primários, nem ao nível dos hospitais, nem sequer foi utilizada em relação a planos de contingência, como hospitais de campanha. Portanto, estamos preparados, no caso de haver uma ocorrência, como também o demonstrou o caso do surto ocorrido em Odiáxere, no concelho de Lagos, com uma resolução em pouco mais de duas semanas de uma situação que ameaçava ser mais robusta, mas que, pelas autarquias envolventes e pelas autoridades de saúde, foi possível ter aqui uma resposta muito musculada, com a realização  de mais de 2.500 testes. Portanto, há que reconhecer a capacidade destas instituições que estão articuladas e a dar bons resultados.

“PASSAPORTE   SANITÁRIO   FARIA   TODO  O    SENTIDO   E   PERMITIRIA     REDUZIR   O  RISCO   PARA   QUEM   RECEBE   OS  VISITANTES”

Litoralgarve – Há profissionais de saúde e autarcas no Algarve, que dizem que os turistas estrangeiros que pretendem passar férias   nesta região, devem ser submetidos a testes para despistagem da Covid-19, nos países de origem, ficando, como é óbvio, impedida a sua vinda no caso de os resultados acusarem problemas ao nível do novo coronavírus. Concorda com essa estratégia?

João Fernandes – Essa é uma realidade que tem de ser definida ao nível do espaço europeu e não apenas bilateralmente entre países. Mas obviamente que a ideia de um passaporte sanitário faria todo o sentido e permitiria reduzir o risco na viagem. Permitiria reduzir o risco para quem recebe os visitantes, permitiria aos próprios mercados emissores terem uma monotorização da sua condição de saúde em relação aos viajantes.

“MONTÁMOS   UM    GABINETE   DE   APOIO  AO   EMPRESÁRIO,   COM   O   FOCO   NO   ATENDIMENTO   ÀS   QUESTÕES   QUE   SÃO  NECESSIDADES   PREMENTES”

Litoralgarve – Como estão a reagir os hoteleiros do Algarve e as empresas, em geral, com ligação à área do turismo? Que problemas sente neste sector?

João Fernandes – Há, obviamente, um exercício muito difícil para as diferentes atividades turísticas, em geral, e até mais duro no caso das empresas de animação turística, como as empresas que estiveram fechadas até há pouco tempo, nomeadamente os parques aquáticos e temáticos, zoológicos, assim como os bares e as discotecas, além do alojamento turístico, as empresas de ‘rent-a-car’, o golfe, ou seja, para toda a área de trabalho do turismo. Foi o sector mais afetado por esta pandemia e, como é óbvio, o exercício é duro. Por isso, montámos um gabinete de apoio ao empresário, com o foco no atendimento às questões que são necessidades prementes das empresas e que nos preocupam muito.

“É  ESTRANHO”  O   COMUNICADO   DO  PSD,   COM   CRÍTICAS    À    FALTA    DE  PROMOÇÃO    TURÍSTICA   NO    MERCADO   NACIONAL,  “NO   DIA    ANTES   DE    LANÇARMOS   A  CAMPANHA”

Litoralgarve – Houve críticas do PSD sobre a atuação da Região de Turismo do Algarve, alegando falta de promoção turística ao nível do mercado nacional. O que se passou em concreto?

João Fernandes – Olhe, por acaso é estranho que o faça no dia antes de lançarmos a campanha («O Algarve fica-te bem» – n.d.r-), até é um pouco anacrónico. E estas campanhas não são montadas de um dia para o outro, como toda a gente sabe. Carecem de autorizações de várias instâncias ao nível nacional, têm de observar as regras da contratação pública, são condicionadas por uma região que está em ‘phasing out’ e não tem o mesmo acesso a fundos comunitários como outras regiões. É estranho, até, que, se por um lado, se coloque a tónica na promoção e, por outro, no receio na vinda de turistas. Mas cada um sabe o que diz.

Autor: José Manuel Oliveira