Arlindo Fernandes afastou-se da concelhia do Chega, em ruptura contra o candidato à presidência da Câmara Municipal de Lagos, o guarda-noturno e advogado estagiário Carlos Tendeiro, alegando que ele é militante do Partido Socialista. E já apresentou o caso ao Conselho de Jurisdição da Distrital de Faro e à direção nacional do partido, liderado por André Ventura. Carlos Tendeiro garante que não está filiado no PS, nunca pagou quotas e pergunta “qual o interesse no Partido Socialista em fornecer um documento interno, caso o tenha feito”, admitindo recorrer à justiça.
A cerca de seis meses das eleições autárquicas, o Partido Chega está em pé de guerra em Lagos. O conhecido empresário Arlindo Fernandes que, em Março de 2021, anunciou ao Litoralgarve ter sido indigitado e assumido a presidência da concelhia local deste novo partido, decidiu, agora, afastar-se em ruptura com Carlos Tendeiro, que encabeçará a lista à Câmara Municipal de Lagos, sendo guarda-noturno e advogado estagiário nesta cidade. Mas há outros visados nas críticas de Arlindo Fernandes, que são João Barroso, comerciante, ex-militante do CDS-PP e que deverá surgir como nº. 1 para a Freguesia de São Gonçalo de Lagos, e António Santos, guia turístico e que integrará a lista para a Assembleia Municipal, sendo conhecido pelas suas posições polémicas a vários níveis neste concelho.
“Afastei-me da concelhia, pois não quero ser envolvido em ilegalidades”
“Estou afastado da concelhia do Chega, enquanto não for clarificada a situação do senhor Carlos Tendeiro, que continua filiado no PS, desde 2017, e não pediu a demissão, como devia ter feito. Ele mantém a filiação ativa, nunca pagou quotas e não há nenhuma carta a desvincular-se do partido”, contou, ao Litoralgarve, Arlindo Fernandes, militante nº. 8.937 do Chega.
Perante esta situação, que denunciou existir no partido, em Lagos, Arlindo Fernandes disse que até já comunicou o caso ao Conselho de Jurisdição Distrital do Chega e à Direção nacional, tendo, inclusivamente, enviado “a ficha de militante do PS de Carlos Tendeiro”, para que o assunto “seja averiguado”, por considerar tratar-se de uma “situação ilegal, de acordo com os estatutos”, argumentou. “Afastei-me da concelhia, pois não quero ser envolvido em ilegalidades”, sublinhou Arlindo Fernandes, acrescentando que o Conselho de Jurisdição Distrital de Faro do Chega “ainda não respondeu” à denúncia sobre a situação de Carlos Tendeiro, pois “está a verificar” o que se passa.
Carlos Tendeiro garante que nunca foi militante do PS e acusa os responsáveis locais deste partido de “ilícito criminal nos termos do Regulamento Geral de Proteção de Dados”. Concelhia socialista pede desculpa.
Reagindo às acusações de Arlindo Fernandes, Carlos Tendeiro garantiu, ao Litoralgarve, que não é militante do PS. E a propósito, enviou-nos o ‘email’ que remeteu, no dia 07/04/2021, à concelhia de Lagos dos socialistas, com o seguinte teor: “Exmos. Srs., Agradecia que me retirassem da Vossa lista de contactos, uma vez que não sou Vosso militante. Efetivamente em 2017 enviei um pedido de militância ao qual nunca recebi resposta, pelo que nunca paguei quotas. Nos termos do Vosso regulamento, ao fim de 2 anos teria de ser suspenso e ao fim de 4 anos a inscrição caduca por falta de pagamento. Já passou mais de 4 anos desde a data de envio da proposta. Grave é o facto de ter sido cedido informação interna, a que nem eu tive acesso, com um suposto número de militante associado ao meu nome, estando nas mãos de pessoas que nem são do Partido, sendo que tal constitui um ilícito criminal nos termos do Regulamento Geral de Proteção de Dados. Melhores cumprimentos, Carlos Tendeiro”. No dia seguinte, 08/04/2021, a Concelhia do Partido Socialista de Lagos respondeu a Carlos Tendeiro, com este ‘email’: “Boa noite, O endereço em questão foi retirado da nossa lista de contactos. Se causamos algum incómodo, pedimos desde já as nossas desculpas”.
“Qual o interesse no Partido Socialista em fornecer um documento interno, caso o tenha feito?”
Ao Litoralgarve, Carlos Tendeiro voltou à carga, questionando: “Qual o interesse no Partido Socialista em fornecer um documento interno, caso o tenha feito? Como é que esse senhor [Arlindo Fernandes] tem acesso a um documento do Partido Socialista? Que ligações obscuras existem?” E admitiu recorrer à justiça.
Arlindo Fernandes considera que “como presidente indigitado”, em Março de 2021, da concelhia do Chega, teria a missão de escolher o candidato a presidente da Câmara Municipal de Lagos, que não seria Carlos Tendeiro
Nas declarações prestadas ao nosso Jornal, Arlindo Fernandes, noutra crítica implícita a Carlos Tendeiro, lamentou o facto de os nomes que ele [Arlindo Fernandes] indicou para a lista candidata do Chega à Câmara Municipal de Lagos, terem sido reprovados.”Todos têm defeito”, observou Arlindo Fernandes, que, para já, não tenciona dar apoio na campanha eleitoral com vista às eleições autárquicas a realizar em Setembro ou Outubro de 2021, perante a situação que se vive no Chega, em Lagos. E recordou que, inicialmente, como “presidente indigitado da Concelhia”, em Março de 2021, teria a missão de escolher o candidato do Chega à presidência da Câmara Municipal de Lagos, o que não passaria por Carlos Tendeiro.

Também não poupou críticas a João Barroso, que encabeçará a lista à Freguesia de São Gonçalo de Lagos, lembrando que “perdeu o mandato por faltas na Assembleia Municipal de Lagos, pelo CDS”. Já João Barroso garantiu-nos que não era membro daquele órgão concelhio, tendo apenas “substituído” numa sessão o deputado eleito na altura, Artur Rego. Sobre António Santos, conhecido por polémicas junto da Câmara e da Assembleia Municipal de Lagos, e que dever-se-á apresentar como candidato a este órgão autárquico pelo Chega, Arlindo Fernandes apontou-lhe o dedo, devido às suas posições “marxistas”.
Por outro lado, questionou o facto de Carlos Tendeiro, que é presidente da Assembleia Distrital de Faro do Chega, ter dado posse, no dia 13/03/2021, aos elementos da Comissão Política Distrital do partido, eleitos uma semana antes: “Ele estava sozinho na Mesa e nessa situação não podia ser o representante do órgão a dar posse à Comissão Política Distrital. Como licenciado em Direito, como jurista, ele não sabe disso?…” Por sua vez, Carlos Tendeiro assegurou que “nada houve de ilegal” nessa sessão do partido, realizada numa unidade hoteleira na zona do Carvoeiro, no concelho de Lagoa.
Presidente da Comissão Política Distrital de Faro não comenta “assunto do fórum interno do partido”
Já o presidente da Comissão Política Distrital de Faro do Chega, João Graça, não quis comentar as declarações de Arlindo Fernandes e o seu auto-afastamento da concelhia de Lagos, com toda a polémica em redor contra Carlos Tendeiro. “Uma vez que esse assunto é exclusivamente do fórum interno do partido, não iremos fazer qualquer tipo de comentário”, limitou-se a responder, ao Litoralgarve, aquele dirigente, através de ‘email’, no dia 01/04/2021, após lhe termos enviado várias questões relacionadas com o caso que está a abalar o Chega, em Lagos.
Reunião da Concelhia do Chega na Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos poderá ajudar a clarificar a situação
Entretanto, na próxima semana a Concelhia do Chega deverá reunir-se no salão da Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos. O encontro, para o qual Arlindo Fernandes foi informado por telefone, poderá ajudar a clarificar a situação do partido a nível local, numa altura em que não existe coordenador da estrutura. “Vou estar presente como mero espetador”, afirmou-nos Arlindo Fernandes, admitindo que o queiram “sensibilizar”. Isto, numa altura em que, como notou, “Carlos Tendeiro não consegue formar listas com 120 nomes”, no total, para concorrer às eleições autárquicas, no concelho de Lagos, pois “não tem conhecimentos” nesse sentido. “Não vou com eles”, frisou Arlindo Fernandes, que, há um mês, tinha manifestado a sua disponibilidade para encabeçar a lista para a Assembleia Municipal de Lagos.
(em desenvolvimento)
José Manuel Oliveira