Eleições Autárquicas 2021 – Maria João Sacadura, candidata do partido PAN – Pessoas – Animais – Natureza, à presidência da Câmara Municipal de Lagos: “O curso da Ribeira de Bensafrim tem diversas zonas que se prevê virem a ser inundadas até 2050 se nada for feito”

A  primeira   medida   a   tomar   como   presidente    será    “inteirar-me   de   todos   os   procedimentos camarários  vigentes,   todos   os    processos   em   curso  e   auditar   as   contas   camarárias”

“Queremos   melhorar   os    transportes intermunicipais,    as    acessibilidades   para   pessoas com   dificuldades   diversas   e    fazer   circuitos pedonais  e   cicláveis,   que   incluirão   todo   o Concelho   e   especificamente   uma    nova   ponte   (…)   com   o   objetivo de   tirar   trânsito   da    zona   da   Meia Praia.

“Consideramos   prioritária   a   criação   de   um   novo    hospital   público,   com consultas   externas   e    exames   de diagnóstico,   e   de    uma   rede   municipal   de   apoio   ao    doente   crónico   e   aos idosos   isolados”

“Prevemos   alargar   a   oferta   formativa   nas   áreas culturais   e    artísticas,   na    formação   de   base tecnológica   (…)    bem   como   trazer   um   polo universitário   para   Lagos”

Nesta sua corrida eleitoral a presidente da Câmara de Lagos, a  candidata do PAN  –  Pessoas  –  Animais  – Natureza, Maria João Sacadura, diz, ao Litoralgarve, que o seu partido quer “envolver   mais   os    cidadãos   nas tomadas   de    decisão,   através   da   criação   de Assembleias   de    Cidadãos,   e   a   representação   das associações   nas    Assembleias   Municipais”; aposta num Programa Específico de Habitação Jovem  e  casas com rendas acessíveis;  e garante “elaborar um censo animal  e incluir todos os animais no Plano Municipal de Proteção Civil”. Entre muitas medidas apresentadas e alertas em termos ambientais que lança, Maria João Sacadura deixa também recados aos outros candidatos e ao governo. 

Litoralgarve  –  O que a leva a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Lagos?

Maria João Sacadura – Sendo o PAN um partido de causas, e dado que essas causas me são muito queridas e especiais, decidi abraçar este convite do PAN de dedicação mais institucional às causas por que sempre lutei, que são as que se prendem com as camadas mais frágeis e desfavorecidas da população, a proteção da nossa casa comum que é o planeta Terra e a proteção dos animais  de companhia, de quinta ou selvagens. Penso que o Município de Lagos está preparado para ter uma maior influência do PAN na gestão municipal e consegui reunir uma equipa multidisciplinar, com as necessárias competências para esse efeito.

Se   não   for    eleita   presidente   da   Câmara,   reagirá    “muito   bem. Na  vida,  umas   vezes   perde-se,   outras    ganha-se,  e   daqui   por   quatro   anos   há   mais. Aprenderei   muito,   certamente,   e   para  a   próxima farei   melhor.”

Litoralgarve  – Como reagirá se não for eleita presidente da Câmara? Deixará a política?

Maria João Sacadura – Muito bem. Na vida, umas vezes perde-se, outras ganha-se, e daqui por quatro anos há mais. Aprenderei muito, certamente, e para a próxima farei melhor.

Litoralgarve  – Será possível exercer a presidência sem maioria absoluta? Com que partidos / forças políticas estabelecerá acordos?

Maria João Sacadura – Claro que sim, desde que um ou mais partidos comunguem de algumas das nossas causas e não prevejam medidas que vão contra elas.

Litoralgarve  – Qual a primeira medida que tomará se for eleita  presidente da Câmara Municipal de Lagos e porquê?

Maria João Sacadura – Inteirar-me de todos os procedimentos camarários vigentes, todos os processos em curso e auditar as contas camarárias. Será também fundamental dialogar com os recursos humanos municipais para melhorar condições de trabalho e agilizar procedimentos internos e externos.

“Queremos   construir     um   Centro   de Bem-Estar  Animal,  com   dimensão suficiente   para   albergar   todos   os animais   agora   dispersos   por   instalações provisórias,   disponível   24h/365  dias   e com  as   valências   veterinárias  necessárias”

Litoralgarve – E o que pensa levar a efeito durante o próximo mandato autárquico até 2025?

Maria João Sacadura – Não podendo naturalmente verter aqui todo um programa eleitoral, demasiado extenso para o efeito, vou elencar várias das medidas que me parecem mais urgentes e importantes.

O PAN preconiza uma visão holística, progressista e ambientalista da gestão municipal, e um novo paradigma, menos baseado em indicadores financeiros, que se prende com o recurso a indicadores de bem-estar e felicidade das populações, a valorização dos ativos ambientais que protejam o planeta e promovam esse bem-estar, e a coexistência respeitadora com as outras espécies animais que connosco partilham a Terra. Queremos envolver mais os cidadãos nas tomadas de decisão, através da criação de Assembleias de Cidadãos, e a representação das associações nas Assembleias Municipais. Consideramos prioritária a criação de um novo hospital público, com consultas externas e exames de diagnóstico, e de uma rede municipal de apoio ao doente crónico e aos idosos isolados.

Preconizamos um Programa de Arrendamento de Baixo Custo mais abrangente que o agora previsto e um Programa Específico de Habitação Jovem, bem como mais apoios a micro e pequenas empresas. Prevemos alargar a oferta formativa nas áreas culturais e artísticas, na formação de base tecnológica e na formação profissional para setores de maior empregabilidade, bem como trazer um polo universitário para Lagos.

Queremos melhorar os transportes intermunicipais, as acessibilidades para pessoas com dificuldades diversas e fazer circuitos pedonais e cicláveis, que incluirão todo o Concelho e especificamente uma nova ponte pedonal e ciclável em S. Roque, com o objetivo de tirar trânsito da zona da Meia Praia. Vamos elaborar um censo animal e incluir todos os animais no Plano Municipal de Proteção Civil. Queremos construir um Centro de Bem-Estar Animal, com dimensão suficiente para albergar todos os animais agora dispersos por instalações provisórias, disponível 24h/365 dias e com as valências veterinárias necessárias. Prevemos um Plano para Produção de Energia Própria Combinada, para edifícios públicos e munícipes, e o apoio à aquisição de alternativas elétricas e solares aos motores de combustão.

Iremos pugnar para que as alterações previstas para a ETAR  [Estação de Tratamento de Águas Residuais] de Lagos incluam a reutilização das águas tratadas. Finalmente, iremos claramente dar o nosso apoio e preferência a projetos de agricultura regenerativa, de turismo de natureza, de experiências e científico, de florestação sustentável e resistente a fogos, de atividades náuticas sustentáveis e literacia do mar, e de mais e melhores zonas verdes na cidade.

Litoralgarve – Qual é o maior desafio que este concelho enfrenta nos próximos anos?

Maria João Sacadura – Não há um desafio maior, mas vários que, na minha opinião, terão importância muito idêntica. No entanto, quero destacar a adaptação às alterações climáticas, visto que o curso da Ribeira de Bensafrim, em Lagos, tem diversas zonas que se prevê virem a ser inundadas até 2050, se nada for feito entretanto, sendo provável o agravamento da incidência de eventos climáticos extremos, que já se fazem sentir, o que terá implicações também extremas, tanto no turismo, como na agricultura.

Outros desafios muito importantes para o concelho são: 1) a capacidade de retenção dos nossos jovens por cá e particularmente os que tendo maior nível de habilitações académicas, não conseguem por cá trabalho condizente; 2) a habitação para os locais, tanto anual como sazonal, que na maioria das situações não conseguem pagar as rendas excessivas; 3) a adequação dos cuidados de saúde prestados diretamente pelo SNS (Serviço Nacional de Saúde); 4) o Bem Estar Animal em instalações suficientes.

“O   facto   de   o    PS    em   Lagos   ir    já    em   20   anos   na   autarquia   é   só    por   si   um   aspeto negativo”

Litoralgarve – Que avaliação faz deste mandato autárquico no concelho? Quais os aspetos positivos e negativos que destaca?

Maria João Sacadura – O facto de o PS em Lagos ir já em 20 anos na autarquia é só por si um aspeto negativo, pois uma hegemonia partidária de tão longa duração é sempre nefasta, e as hipotéticas vantagens obtidas pela continuidade de alguns projetos são largamente ultrapassadas pela queda na apatia, devida à habituação. Uma região sem oposição tende a tornar-se mais autoritária e a deixar de ouvir os pares, e é isso mesmo que se tem vindo a verificar. As IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) queixam-se de falta de apoios, as associações e grupos de cidadãos da causa animal queixam-se de que a autarquia sabe muito pouco do que andam a fazer e consequentemente sabe muito pouco do que precisam; os cidadãos em geral queixam-se que não são ouvidos quando se tomam decisões que importam a todos, como a simples decisão de arrancar um conjunto de árvores adultas que, pelos vistos, serviam de barreira contra o ruído e a poluição atmosférica aos residentes na Avenida do Cabo Bojador, ou tentam aprovar-se de projetos como o da Ponta da Piedade, recorrendo a artifícios legais como o Reconhecimento de Relevante Interesse Público.

Este projeto aprovou na última reunião da Assembleia Municipal, antes das eleições, esse reconhecimento, através de um conjunto de medidas que preveem: a instalação em Reserva Ecológica Nacional de um mega parque de estacionamento para 150 automóveis ligeiros e 10 autocarros, um Centro de Interpretação que não passa de um restaurante panorâmico encapotado, e de um Centro de Atividades Económicas, para além da construção de passadiços em cima das falésias, sem que tenham previamente sido feitos estudos de risco de derrocada das mesmas, que são naturalmente sujeitas a erosão constante pelas vagas, ou do impacto provável sobre as espécies de avifauna aí nidificantes, invernantes, ou residentes.

Para além de tudo isto, soube também, através da Águas do Algarve, que a ETAR de Lagos vai sofrer obras de remodelação completa, sem que no entanto esteja prevista a reutilização das águas tratadas, embora a mesma esteja prevista para 5 locais no Algarve, por falta de manifestação de interesse dos potenciais utilizadores desta água, sendo que o principal é o próprio município.

Foi também com surpresa que li que no programa do PS está prevista para Lagos a melhoria e requalificação da zona ribeirinha da Ribeira de Bensafrim, quando é do conhecimento geral que essa zona estará muito provavelmente debaixo de água em 2050, se não mesmo antes, de acordo com as previsões do IPCC. O que tem de se fazer, e com urgência, é tomar medidas para que essa inundação não venha a ocorrer, combatendo um por todos e todos por um o aquecimento global e consequente subida do Nível Médio do Mar.

Finalmente, achei também interessante que a construção de um novo hospital público apareça agora prevista, imediatamente antes das eleições, quando este executivo vai em 20 anos na autarquia e nunca o fez. O mesmo se pode dizer da súbita preocupação com os animais e o ambiente. Será o Efeito PAN? Acreditamos que sim e que este efeito poderá ser ainda maior com a eleição do nosso partido.

“A   minha   primeira   observação   relativamente   aos outros   candidatos   prende-se   também   com  o   Efeito  PAN.  São   todos   ambientalistas   e animalistas   agora   de   súbito,   quando  até   há   bem pouco   tempo   não   queriam   saber   disso   para nada.”

Litoralgarve  – Qual é a sua opinião sobre os restantes candidatos? Que aspetos positivos e negativos aponta a cada um deles?

Maria João Sacadura  – A minha primeira observação relativamente aos outros candidatos prende-se também com o Efeito PAN. São todos ambientalistas e animalistas agora de súbito, quando até há bem pouco tempo não queriam saber disso para nada. Esperemos que esse efeito não se esgote na boca das urnas.

Achei particularmente irónico o facto de o candidato do PSD querer promover a sustentabilidade ambiental, quando ao mesmo tempo promete um matadouro itinerante, e todos sabemos que a produção pecuária e o metano nela produzido têm um efeito de estufa superior ao dióxido de carbono. Também achei interessante que numa lista, em que há tantos candidatos ligados à hotelaria, não se tenham lembrado da necessidade de fomentar o turismo rural, científico, de experiências, e apontem como principal preocupação relacionada com a pandemia o facto de não terem considerado a população flutuante com Covid, no cálculo do número de casos por 100.000 habitantes, e com isso se tenha arriscado a criação de uma cerca sanitária. Nem uma palavra para os doentes e seus familiares, para os médicos e enfermeiros sobrecarregados.

Finalmente, considero também estranho e desajustado da realidade que prevejam para o Parque Júdice Cabral a criação de um jardim com espécies típicas dos locais por onde passaram os Portugueses nos Descobrimentos, ou seja, espécies exóticas, quando se sabe que devemos privilegiar as espécies autóctones, porque são as melhor adaptadas ao clima, solos e pragas da região.

Não pude deixar de reparar que o candidato do PS à União de Freguesias de Bensafrim e Barão de S. João, Duarte Nuno Rio, quer apostar na criação de um Parque Industrial na freguesia, ao invés de promover, numa zona que é claramente a de características rurais mais naturais, os percursos pedestres e cicláveis, acompanhados de painéis interpretativos da geologia e biologia da região, e o turismo de natureza, de experiências e científico, numa clara aposta num tipo de turista mais respeitador do ambiente, independentemente da sua capacidade económica.

A CDU apresentou um programa ao qual não tenho objeções, embora me pareça que o transporte público que preconiza deveria recorrer a alternativas energéticas sustentáveis e ser complementado com um sistema de bicicletas partilhadas. Gostei e partilho da opinião que não devemos confundir cultura com programação cultural, visto que a primeira é uma característica interna das gentes do concelho, promovida ou não pela atuação do município, e a segunda é muitas vezes apenas a importação de artistas por falta de matéria prima local, se a cultura não for de facto promovida.

Quanto ao candidato do Chega, Delano Chiattone, este começou o seu anúncio de candidatura publicado no Litoral Algarve, dizendo: “Não sou fascista, não sou homofobo, não sou racista, não sou xenófobo e não sou machista.” Eu pergunto: Então, porque se filiou no Chega? Para além disso, fartei-me de procurar, mas não encontrei uma única proposta ou medida, portanto, não tenho o que comentar.

Finalmente, nem uma palavra acerca da floresta, dos incêndios e dos animais que neles morrem, para além dos bens que são perdidos, nestas candidaturas todas, excepto na do PAN. Sinceramente não consigo perceber como numa região onde houve 3 incêndios bastante próximos muito recentemente, e um incêndio gravíssimo no Verão passado, ninguém tem nada a dizer sobre o assunto. Não chegaram ao concelho de Lagos, ou estiveram apenas em pequenas áreas do mesmo, sem efeitos de monta? Pura sorte, que teve a ver mais com o vento que outra coisa. Bastaria o vento soprar na direção errada, para ser no nosso concelho. Ninguém referiu a alteração do ordenamento florestal no sentido de promover as espécies autóctones, mais resilientes ao fogo e mais promotoras da retenção de água, ninguém falou do perigo que representam as monoculturas de eucaliptos e acácias, ninguém falou em promover as paisagens de retenção de água, ninguém falou em proteger as nossas reservas de água nas albufeiras e aquíferos.

“Projetos   megalómanos,   como   as   centrais   de   dessalinização  de   água,   ou  os   transvases   entre albufeiras,   em   vez   de    atacar   o cerne   do   problema,    por exemplo,   as   autorizações   de    projetos com   centenas  de    hectares   em   regime    intensivo   de regadio,  não   só   em   Lagos,    como   no   resto   do Algarve    e    Alentejo,   à    revelia   do    constante   déficit   de   água   da  região.”

Litoralgarve – Como avalia a atuação deste Governo? Quais os pontos positivos e negativos?

Maria João Sacadura – É difícil não deixar de apontar a enorme diferença que se verificou quando o atual governo tomou posse pela primeira vez, visto que o termo de comparação era um governo do PSD, liderado por Pedro Passos Coelho, em que a tónica se focou na subserviência a Bruxelas e na tentativa de resolver a crise económica através da total asfixia da economia do país, chegando ao ponto de incentivar a emigração para resolver a falta de empregos. O resultado ficou à vista, entrámos em processo de quase bancarrota nacional e os nossos cidadãos mais jovens ou menos jovens, mas garantidamente os mais competentes, emigraram em busca de um futuro que o nosso país não lhes proporcionava. Por comparação com isto, qualquer governo seria melhor e a geringonça foi uma lufada de ar fresco, que permitiu ao país recuperar economicamente para um patamar bastante mais seguro. Entretanto, veio a pandemia e deixou de se fazer oposição, face a uma ameaça global, perante a qual era absolutamente necessária a maior união entre todos os elementos do Governo e Assembleia da República. Passados já quase 2 anos, desde o início da pandemia, e tendo o país retornado ao seu quase normal no que toca à interação partidária, começam agora a notar-se algumas falhas gritantes. Uma delas tem a ver com a falta de capacidade deste governo, desde o início da pandemia, de criar um grupo de trabalho de cientistas, cuja única função seria dar apoio às tomadas de decisão relacionadas com a pandemia, em vez de ter alguns consultores avulso, cada um trabalhando lá nos seus projetos científicos, mas sem qualquer tipo de coesão entre si, ou trabalho científico conjunto, dando cada um a sua opinião, provavelmente todas certas e todas erradas, na medida em que cada um se foca num aspeto particular do problema e não no seu todo.

Outra é o Plano de Recuperação e Resiliência, centrado em projetos megalómanos, como as centrais de dessalinização de água, ou os transvases entre albufeiras, em vez de atacar o cerne do problema, que são, por exemplo, as autorizações de projetos com centenas de hectares em regime intensivo de regadio, não só em Lagos, como no resto do Algarve e Alentejo, à revelia do constante déficit de água da região.

São necessárias diversas ações como por exemplo a alteração de paradigma turístico, para um turismo ambientalmente mais sustentável, ligado à fruição da natureza em vez da sua sobre-exploração, o fomento de explorações agrícolas baseadas na economia biológica, circular e mercados locais, reduzindo a pegada de carbono e ensinando a comer de forma mais saudável para nós e para o planeta, entre outras.

Litoralgarve  – É a favor ou contra a regionalização e porquê? O que poderá mudar no Algarve com a regionalização?

Maria João Sacadura – Não sou nem contra nem a favor, pois, de facto, não sabemos ainda o essencial sobre a regionalização, que é o nível de autonomia que será dado às regiões, em que aspetos haverá autonomia e como se irá resolver o problema de assimetrias que possam surgir.

Se para uma zona mais rica, a regionalização poderá querer dizer que toda a riqueza que a região produz nela ficará, contribuindo para o seu enriquecimento ainda maior, para zonas mais pobres pode significar um empobrecimento também maior, podendo perder-se mecanismos de solidariedade e coesão territorial.

Por outro lado, há questões transversais a todo o território continental nacional, que por isso não devem ser incluídas na regionalização, sob pena de passar a haver dois pesos e duas medidas para um mesmo problema. Para o PAN, deverá também ser acautelada a questão da eleição direta dos presidentes das CCDR  (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional) que deverão ser eleitos diretamente pela população, em vez de indiretamente pelos deputados municipais, visto tratar-se de um cargo com inúmeros poderes e preponderância naquilo que são as políticas locais estruturantes. O mesmo se aplica à AMAL (Comunidade Intermunicipal do Algarve).

QUEM É QUEM

“Na   infância   queria   ser cabeleireira   e   destruía   a cabeleira   das   bonecas”

Nasceu em Moçambique, vive em Barão de São Miguel (onde vota), no concelho de Vila do Bispo, é professora do ensino secundário e coordenadora de projetos, na Escola Internacional de Aljezur, desde Janeiro de 2019, e apresenta-se como candidata do PAN a presidente da Câmara Municipal de Lagos, nestas eleições autárquicas. Com 57 anos, dois filhos e netos, Maria João Sacadura e Serrano, licenciada em Geologia Aplicada e do Ambiente, na Universidade de Lisboa, gosta de ler, ouvir música, dançar e praticar remo e canoagem; a nível gastronómico é “tendencialmente vegana” por “opção ética e não de gosto”. E aponta que “tentar parecer o que não são” é aquilo que mais detesta nas pessoas.

– Nome completo: Maria João Sacadura e Serrano

– Data do nascimento: 8-2-1964 

   Tem 57 anos

– Signo: Aquário

– Altura: 1,72 m

– Peso: não sei, nem quero saber

– Naturalidade: Moçambique

– Residência: Barão de São Miguel

– Estado Civil: divorciada

– Filhos (nomes e idades): Ricardo e Ricardo, com 34 e 32 anos

– Habilitações literárias (escolas / universidades que frequentou, onde e em que anos)

Licenciatura em Geologia Aplicada e do Ambiente, na Universidade de Lisboa, em 1996; Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais, na Universidade de Évora, em 2006; doutoramento iniciado, em Sedimentologia Ambiental, na Universidade do Algarve.

– Profissão: Professora do ensino secundário e coordenadora de projetos na Escola Internacional de Aljezur, desde Janeiro de 2019.

“Português,  Inglês,  Francês  e  Espanhol” são os  idiomas  que  domina

– Idiomas que domina: Português, Inglês, Francês e Espanhol.

– Filiação partidária (desde quando e número): PAN desde 2016, filiada número 1430

– Experiência política / cargos e há quantos anos:

nenhum cargo; sou suplente da atual Comissão Política Distrital de Faro, e embora não possa votar as deliberações, participo em todas as reuniões, ajudo na tomada de decisões e produzo trabalho, que por vezes é aproveitado pelo nosso grupo parlamentar, nomeadamente quando surgiu a audição de entidades diversas por causa das plantações de abacates, em regime intensivo de regadio, em centenas de hectares, em Barão de São João.

– Onde vota:  Voto na Freguesia de Barão de São Miguel [no concelho de Vila do Bispo – n.d.r. ]

No  primeiro   emprego  recebeu  “penso  que  foram   17   contos  como   telefonista  num  laboratório  de  análises  clínicas,  em Lisboa,  quando   entrei  para  a  Faculdade, aí  pelos  anos  80”

– Na infância e juventude, o que ambicionava ser um dia em termos profissionais?

Na infância queria ser cabeleireira e destruía a cabeleira das bonecas. Depois, fixei-me em ser investigadora científica, o que tentei, e tive de largar, devido à enorme instabilidade que os investigadores enfrentam diariamente no nosso país.

– Qual era o seu brinquedo preferido em criança?

 Bicicleta

– Qual o valor e o que fez com o primeiro salário que recebeu quando começou a trabalhar? Em que ano?

Penso que foram 17 contos como telefonista num laboratório de analises clínicas, em Lisboa, quando entrei para a faculdade, aí pelos anos 80.

“Leio,  ouço  música,  danço,   remo,   faço   canoagem”   nos  tempos  livres

– Clube desportivo de que é adepto / associado: não tenho paciência nenhuma para futebol

– Como ocupa os tempos livres? Leio, ouço música, danço, remo, faço canoagem

– Modalidade (s) desportiva (s) que pratica, ou já praticou: Dança clássica, dança contemporânea, danças de salão, salsa, tango argentino, remo, ‘fitness’, ‘step’, aeróbica, pilates para bailarinos, natação, bicicleta.

“Prefiro   praticar   desporto   ao    ar   livre sempre   que   possível”

– Frequenta o ginásio? Quantos dias por semana?

Prefiro praticar desporto ao ar livre sempre que possível. Neste momento, danço duas a três vezes por semana, e dou uma aula de dança na minha escola.

– Gastronomia / qual é o seu prato preferido?

 Não sou esquisita e gosto de quase tudo. Sou tendencialmente vegana, mas é uma opção ética e não de gosto.

– Qual a bebida que não dispensa? Água

– Quantos cigarros fuma por dia? Não fumo

 “Já  nem   sei   há   quanto   tempo   não tenho   férias”

– Onde costuma passar férias e porquê?

Já nem sei há quanto tempo não tenho férias.

– Qual é a praia de que mais gosta / porquê?

Todas, especialmente se puder levar os meus cães. Aqui em Lagos não é fácil e gostaria muito que houvesse pelo menos uma praia ‘pet friendly’.

“Já   tive   multas   de   estacionamento, porque,  por   um   lado   sou   distraída, e   por outro  ando   sempre   a   correr   de   um   lado para   o   outro   e   nem   sempre   consigo estacionar   onde   devo”

– Costuma fazer caminhadas? Em que dias, onde e quantos quilómetros?

Sim, por vezes, mas não é nada estruturado, ou com obrigatoriedade

– Carro (marca): Renault Kangoo

– Já foi multada na condução? Que infrações cometeu e qual o valor da multa?

Já tive multas de estacionamento, porque, por um lado sou distraída, e por outro ando sempre a correr de um lado para o outro e nem sempre consigo estacionar onde devo.

“Tenho   4  cães  meus e  2  da  minha  mãe   quando  ela   está   na   minha  casa”

– Tem bicicleta? Sim

– Animais que tem em casa: 4 cães meus e 2 da minha mãe quando ela está na minha casa

O  filme   “A  Vida  é   Bela’  deixou-me   a   chorar convulsivamente   no   primeiro  intervalo,   assim   como ‘O Pianista’ e ‘O Carteiro’, de Pablo   Neruda”

– Filmes que mais aprecia? E porquê?

 “Underground”  e “Gato Preto, Gato Branco”, do Kusturica, são história apresentada com sentido de humor; os filmes dos Monty Pyton são todos absolutamente deliciosos. “A Vida é Bela” deixou-me a chorar convulsivamente no primeiro intervalo, assim como “O Pianista”, e “O Carteiro”, de Pablo Neruda.

– E livros / porquê? “Cem anos de solidão” e todos os de Gabriel Garcia Marquez, porque me explicam um povo, com recurso ao realismo mágico que me encanta. “As Vinhas da Ira” e outros do Steinbeck por que me tocam. “O Velho e o Mar”, de Hemingway, obrigou-me a lê-lo numa noite. “1984” e o “Triunfo dos Porcos”, de Orwell, abriram-me os olhos. A lista é enorme. Eu adoro ler.

– Religião / e porquê?

Nenhuma. Completamente ateia. As religiões chocam-se com o meu pragmatismo cientifico.

– Como reage quando alguém a aborda na rua a pedir dinheiro para comer?

Normalmente em vez do dinheiro, dou a comida.

– Qual foi a situação mais difícil / susto que já passou na vida? E como enfrentou?

Quando o meu filho mais novo foi atropelado e a minha amiga que me deu a noticia, me disse “depois vês” quando perguntei como ele estava. Depois, percebi que ela tinha ficado impressionada pela quantidade de sangue, porque ele tinha um golpe na cabeça, onde levou 3 ou 4 pontos, mas as feridas na cabeça sangram imenso. Mas até chegar ao hospital e conseguir vê-lo tive uma valente crise de asma provocada pela tensão nervosa.

– E a situação mais divertida?

Nem sei, há tantas… Nós tendemos a recordar mais facilmente as situações más, do que as boas. É um processo necessário de aprendizagem automática.

– Internet, telemóveis, redes sociais – aspetos positivos e negativos que destaca?

Permitem trabalhar a partir de qualquer lado, ajudam a disseminar as boas e as más informações e mensagens, é preciso saber distinguir o trigo do joio, e não permitir que esse tipo de interação substitua a verdadeira interação pessoal e humana, que é insubstituível.

Ser  “muito  franca”  é  a sua  principal   virtude  e  defeito

Paços do Concelho

– Qual a sua principal virtude?

Sou muito franca

– E qual o seu principal defeito?

 Sou muito franca

– Que conselhos costuma dar aos seus filhos e a outros familiares?

Faço os possíveis por não dar conselhos, a menos que mos peçam. Toda a minha família é adulta, à excepção dos netos que são ainda muito pequenos para conselhos, e todos têm cabeça para pensar.

– O que mais aprecia nas pessoas?

A honestidade nos relacionamentos interpessoais.

– E o que mais detesta?

 Tentar parecer o que não são.

A  figura internacional que  mais aprecia “é talvez  Malhala, a rapariga paquistanesa que levou um tiro na cara, por pedir escola para todos e todas, e advogar o direito à educação para todas as crianças”

– Qual a figura nacional que mais aprecia e porquê? Confesso que nunca me detive a pensar nisso. Não sou muito de reverenciar figuras de pessoas, das quais só sei o que é passado pela comunicação social.

– E a nível mundial? E porquê?

 Talvez Malhala, a rapariga paquistanesa que levou um tiro na cara, por pedir escola para todos e todas, e advogar o direito à educação para todas as crianças.

Com   a   Covid-19   aprendeu   “que   nada   é    certo,   nem   seguro,   e   que   temos   de   repensar  a   nossa   relação   com   a   natureza”

– O que aprendeu com a Covid- 19?

  Que nada é certo nem seguro, e que temos de repensar a nossa relação com a natureza.

– De que forma a pandemia tem condicionado a sua vida? Tive de dar aulas online durante parte dos últimos dois anos letivos, e estive em quarentena duas vezes por ter contactado com alunos infetados. Mas como vivo no campo, tudo isso acabou por ser relativamente fácil, visto que não estava propriamente fechada num apartamento. Considero, no entanto, que as pessoas que vivem em apartamentos nas cidades, devem ter sofrido imenso com o isolamento. O pior mesmo é não poder ver os meus filhos e netos com a frequência que gostaria.

Paulo Silva

José Manuel Oliveira