COVID-19 – PRESIDENTE DA ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO ALGARVE, PAULO MORGADO, AO LITORALGARVE: “JÁ SE PERCEBEU QUE ESTA QUESTÃO DO APELO ÀS PESSOAS PARA QUE FAÇAM DISTANCIAMENTO, USEM MÁSCARA, NÃO ESTÁ A RESULTAR COMPLETAMENTE”

“DO    PONTO   DE   VISTA    NACIONAL,   JÁ   VACINÁMOS    [CONTRA     A     GRIPE]      PERTO    DE     UM     MILHÃO     DE     PESSOAS.   OU   SEJA,   EM   POUCAS   SEMANAS   ESTAMOS   QUASE   A    CINQUENTA   POR    CENTO    DAQUILO    QUE    É   O     NÚMERO    DE   VACINAS     ADQUIRIDO    PELO     SERVIÇO     NACIONAL     DE    SAÚDE   –   DOIS    MILHÕES     E   SETENTA    MIL”

                     

NO     ALGARVE    “ANDARÁ     VINTE    A    TRINTA     POR    CENTO    ACIMA     DAQUILO      QUE    FOI    A   VACINAÇÃO     NO     ANO    PASSADO”

                      

“SEM    MEDIDAS     DE    CONFINAMENTO,     SEM     MEDIDAS     DE    ISOLAMENTO,    É    MUITO     DIFÍCIL     CONTROLAR    ESTA    INFEÇÃO”

“A    CONSEQUÊNCIA    DO    AUMENTO    DE    CASOS      NO     ALGARVE     TEM    A   VER    COM    ESTA     QUESTÃO     DA    INTERAÇÃO     ENTRE    AS    PESSOAS.    NA    MAIOR    PARTE    DOS    CASOS      SURGEM      EM     FESTAS,    EM    REUNIÕES      SOCIAIS,     EM    OUTRO    TIPO    DE    SITUAÇÕES     FEITAS    PELOS    PRÓPRIOS     ALGARVIOS”

“PESSOALMENTE,    CONCORDO      COM     O    RECOLHER     OBRIGATÓRIO”

FÓRMULA    1 ?   “NÓS    TIVEMOS    MUITÍSSIMOS    MAIS    TURISTAS      NO   VERÃO    E    DAÍ     NÃO   VEIO,   DIGAMOS,   UMA    CONSEQUÊNCIA    DIRETA     DO    PONTO     DE   VISTA    DO    NÚMERO  DE    CASOS   [DE    COVID-19]    NO    ALGARVE”  

         

‘CERCAS     SANITÁRIAS’ ?  “É    SEMPRE    UMA    SOLUÇÃO    DE     ÚLTIMO     RECURSO.    NALGUMAS     COMUNIDADES,    PODE    SER    A   SOLUÇÃO”

                  

Paulo Morgado, presidente do Conselho Diretivo da Administração Regional  de Saúde (ARS) do Algarve, não tem dúvidas de que “vai ser um Natal diferente” em Portugal, devido à pandemia da Covid-19, admitindo como “natural restrições à mobilidade das pessoas, se calhar de recolhimento obrigatório”. Em declarações ao Litoralgarve, antes de o primeiro-ministro, António Costa, ter anunciado um conjunto de medidas para travar a propagação do novo coronavírus em 121 concelhos do país, entre os quais São Brás de Alportel, o principal responsável da ARS Algarve defende mesmo o recolher obrigatório,  diz que “sem medidas de confinamento, sem medidas de isolamento, é muito difícil controlar esta infeção” e lamenta o comportamento de risco, nesta região, por parte de pessoas, nomeadamente em “festas, em reuniões sociais, em outro tipo de situações”. “Se as regras fossem cumpridas à risca e na totalidade, obviamente não estaríamos neste aumento do número de casos”,  garantiu Paulo Morgado. Isto, na última semana do mês de Outubro de 2020, em que o Algarve já registava  879  casos ativos. 

Litoralgarve – Como está a decorrer a vacina contra a gripe do Inverno?

Paulo Morgado – Está a correr muito bem. Estamos a vacinar muito mais do que vacinámos no ano passado. Do ponto de vista nacional, já vacinámos muito perto de um milhão de pessoas. Ou seja, em poucas semanas, estamos quase a cinquenta por cento daquilo que foi o número de vacinas adquirido pelo SNS – Serviço Nacional de Saúde – dois milhões e setenta mil.

Litoralgarve – Quantas pessoas já foram vacinadas no Algarve?

Paulo Morgado – Não tenho presente o número. Mas estamos a acompanhar aquilo que são os números nacionais. São muitos mais do que foram no ano passado.

Litoralgarve – E no ano passado, quantas foram?

Paulo Morgado – Nós contabilizamos isso à semana. O que sei é que comparativamente com o ano passado, estamos a vacinar bastante mais numa proporção que andará variável de concelho para concelho, de unidade para unidade. Mas andará vinte a trinta por cento acima daquilo que foi a vacinação no ano passado.

Litoralgarve – Qual é o objetivo?

Paulo Morgado – Queremos esgotar todas as vacinas que adquirimos. O SNS adquiriu dois milhões de vacinas, como disse. Nas próximas semanas, queremos esgotar estas vacinas. É esse o objetivo.

“É    MUITO     NATURAL     QUE    OS     PRÓXIMOS      TEMPOS      SEJAM     DE     MAIORES      RESTRIÇÕES,    QUER      À      MOBILIDADE,     QUER ,     DIGAMOS,     AO    FUNCIONAMENTO     DAS     NOSSAS        VIDAS”  

Litoralgarve – Que expectativa tem em relação aos próximos tempos, nomeadamente o Natal, com restrições em face da pandemia da Covid-19?

Paulo Morgado – Vai ser um Natal diferente. Foi a própria Presidente da Comissão Europeia que o disse. Acreditamos que sim. É natural que existam restrições à mobilidade das pessoas, é natural que existam restrições do ponto de vista até, se calhar, do recolher obrigatório a nível nacional, eventualmente com uma modelação a nível regional, ou local. Isto ainda não acabou, vamos ver a evolução, como é que vai decorrer nos meses de Novembro e de Dezembro. Agora, é muito natural que os próximos tempos sejam de maiores restrições, quer à mobilidade, quer, digamos, ao funcionamento das nossas vidas.

Litoralgarve – Concorda com o recolher obrigatório e medidas mais restritivas?

Paulo Morgado – Pessoalmente, concordo com o recolher obrigatório.

Litoralgarve – De que forma? A partir da meia-noite até às 06:00 horas da manhã?

Paulo Morgado – Será uma decisão nacional. Vamos ver se há possibilidade de modelar essa medida do ponto de vista local, ou regional. Essa é uma decisão sempre do Governo.

NO    ALGARVE,   “INEVITAVELMENTE    PARA     NÃO     PIORARMOS,    VAMOS    TER,    TAMBÉM,     DE     TOMAR     MEDIDAS.  NÃO    SE    PENSE    QUE     SE     FICARMOS     QUIETINHOS     E    NÃO    FIZERMOS     NADA,    QUE    ISTO     DESAPARECE    ESPONTANEAMENTE”   

Litoralgarve – O Algarve é a região de Portugal Continental menos afetada pelo novo coronavírus…

Paulo Morgado – Pois é. É a menos afetada, mas nós não queremos piorar. Portanto, inevitavelmente para não piorarmos, vamos ter, também, de tomar medidas. Não se pense que se ficarmos quietinhos e não fizermos nada, que isto desaparece espontaneamente. Não, não vai desaparecer se não tomarmos medidas e medidas mais restritivas, porque já se percebeu que esta questão que estamos sempre a fazer do apelo às pessoas para que façam distanciamento, para que usem máscara, para tudo isso, resulta, mas não está a resultar completamente. Sem medidas de confinamento, sem medidas de isolamento, é muito difícil controlar esta infeção. Portanto, essas medidas têm de ser sempre graduadas em função da situação de cada caso concreto, de cada comunidade. Mas sem essas medidas, não conseguimos chegar lá.

Litoralgarve – E ‘cercas sanitárias’ no Algarve?

Paulo Morgado – Já existiram no país  [em Ovar e nos seis concelhos da Ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores, em Março, Abril e Maio – n.d.r.]. É sempre uma solução de último recurso. Portanto, nalgumas comunidades pode ser a solução. Vamos ver.

FÓRMULA   1,  COM    27.500   LUGARES,  “DO     PONTO    DE    VISTA   DAQUILO    FOI     O    TURISMO     NO    ALGARVE   NO    VERÃO,    É     UMA    GOTA    DE   ÁGUA”

Litoralgarve – Como avalia eventos no Algarve, como a Fórmula 1, e agora o Moto GP. São riscos acrescidos?

Paulo Morgado – São riscos acrescidos. Mas repare, o Algarve teve durante o Verão muitíssimas mais pessoas do que qualquer destes eventos. Estamos a falar no caso da Fórmula 1, de 27.500 lugares. Isso do ponto de vista daquilo que foi o turismo no Algarve no Verão, é uma gota de água. Nós tivemos muitíssimos mais turistas no Verão e daí não veio, digamos, uma consequência direta do ponto de vista do número de casos [de Covid-19] no Algarve. A consequência do aumento do número de casos no Algarve tem a ver com esta questão da interação entre as pessoas. Na maior parte dos casos surgem em festas, em reuniões sociais, em outro tipo de situações feitas pelos próprios algarvios.

Litoralgarve – Há muitos excessos?

Paulo Morgado – Existem algumas situações de menos cuidado nalgumas comunidades, nalguns eventos de vário cariz. Há situações em que não são cumpridas as regras. Porque se fossem cumpridas as regras à risca e na totalidade, obviamente não estaríamos neste aumento do número de casos.

SERVIÇOS    DE    SAÚDE      NO     ALGARVE       ESTÃO    “PREPARADOS      E    AJUSTAMOS      AQUILO    QUE      É     A     NOSSA     CAPACIDADE      EM    FUNÇÃO     DAS     NECESSIDADES”

Litoralgarve – Os serviços de saúde no Algarve estão preparados para enfrentar o Inverno, os próximos meses?

Paulo Morgado – Sim, estamos preparados e ajustamos aquilo que é a nossa capacidade em função das necessidades. Se precisamos de recorrer aos privados, também recorremos aos privados. Essa é uma hipótese que está sempre em cima da mesa, não nesta fase, mas numa fase em que estejamos, digamos, numa situação de grande stresse.

José Manuel Oliveira