“O maior impacto é para os restaurantes”, alerta o presidente da Junta de Freguesia de Sagres, Luís Paixão. Já o empresário Assildo Duarte critica falta de informação no município de Vila do Bispo, que regista nove casos ativos. Oito concelhos do Algarve foram incluídos, pelo governo, no grupo de alto risco de contágio de infeção do novo coronavírus, estando sujeitos a apertadas medidas de controlo por parte das autoridades.
Vila do Bispo, Lagos, Portimão, Albufeira, Faro, Tavira e Vila Real de Santo António são os concelhos do Algarve agora considerados de alto risco de infeção da Covid-19 e que, assim, se juntam ao de São Brás de Alportel, no âmbito do estado de emergência, com recolher obrigatório das 23:00 horas às 05:00 horas durante a semana e entre as 13:00 e as 05:00 horas aos sábados e domingos. As novas medidas, deliberadas na reunião do Conselho de Ministros na quinta-feira, 12 de Novembro de 2020 e que passam a abranger um total de 191 concelhos do país (mais 77 em relação à anterior lista) entrarão em vigor às 00:00 horas, meia-noite, da próxima segunda-feira, dia 16, e prolongar-se-ão até 23 deste mês, altura em que será feita uma reavaliação sobre o Estado de Emergência em Portugal.
Segundo apurou o Litoralgarve, no concelho de Vila do Bispo estavam registados, na quarta-feira, dia 11/11/2020, nove casos ativos e 39 já tinham sido dados como recuperados da Covid-19, na sua maioria envolvendo cidadãos estrangeiros, não existindo até à data qualquer óbito em consequência do novo coronavírus. Isto, numa altura em que, de acordo com informações entretanto recolhidas pelo nosso Jornal, haverá suspeitas de, pelo menos, duas dezenas de possíveis novos casos de infeção em várias zonas deste concelho do barlavento algarvio.
“É UMA INJUSTIÇA” , DESABAFOU, AO LITORALGARVE, O EDIL DE VILA DO BISPO, ADELINO SOARES, ENTRE VÁRIAS REUNIÕES DE URGÊNCIA. AUTARQUIA PREPARA COMUNICADO
Contactado pelo Litoralgarve, o presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, Adelino Soares, que durante quinta-feira participou em várias reuniões de emergência e que, hoje, dia 13 de Novembro, terá uma reunião extraordinária do executivo, remeteu-nos para o comunicado que a autarquia emitirá nesta sexta-feira sobre o processo da Covid-19. “É uma injustiça”, desabafou Adelino Soares, comungando o sentimento de revolta da população, apanhada de surpresa pela decisão do governo. Já um popular neste concelho da Costa Vicentina, que nos últimos censos contava com pouco mais de 5.000 habitantes, apontou para um “alarmismo social, não se justificando este confinamento que população passará a estar sujeita, sobretudo aos fins-de-semana”. E acrescentou: “Toda a gente se conhece num concelho pequeno como Vila do Bispo e numa situação destas, em que não existe informação oficial, é natural que agora haja receio e se desconfie uns dos outros, sem se saber onde estão os casos de infeção”.
“A CÂMARA MUNICIPAL DE VILA DO BISPO DEVIA MANTER A POPULAÇÃO DEVIDAMENTE INFORMADA, COMO É SUA OBRIGAÇÃO, E NÃO O FEZ. O QUE E É QUE ESTÁ A ESCONDER ? ISTO É UMA VERGONHA!”, LAMENTA O EMPRESÁRIO ASSILDO DUARTE
Na Salema, o empresário Assildo Duarte confessou ao Litoralgarve sentir-se “muito surpreendido” com a inclusão de Vila do Bispo nos concelhos de alto risco de contágio, no âmbito da pandemia da Covid-19. “O pior é que não se sabe quantos casos de infeção existem, nem onde estão, o que aumenta ainda mais a insegurança entre as pessoas. Fala-se em mais de 20, 30, 40. Há muita desinformação, especulação por aí. A Câmara Municipal de Vila do Bispo devia manter a população devidamente informada, como é sua obrigação, e não o fez. O que é que está a esconder? Isto é uma vergonha!” – lamentou, indignado, Assildo Duarte, proprietário do restaurante ‘Atlântico’, situado junto à praia, e de uma unidade hoteleira, encerrada, mesmo antes de antes do estado de emergência. “Estamos todos em risco de contágio”, observou o empresário, que tem “completamente parada desde o dia 26 de Outubro a atividade no restaurante”. “O recolher obrigatório aos sábados e domingos, com o consequente encerramento dos estabelecimentos, vai contribuir parar rebentar com os postos de trabalho na restauração e no comércio. Vamos fechar e nem haverá passagem-de-ano. O pessoal vai para o Fundo de Desemprego e eu tenho de pagar 15.000 euros de despesas até final de Novembro, entre vários encargos, nomeadamente pagamento de eletricidade, água, Segurança Social e impostos”, contou o empresário.
“AINDA HÁ MUITA GENTE EM SAGRES E AGORA, COM ESTAS RESTRIÇÕES IMPOSTAS PELO GOVERNO, É NATURAL QUE MUITOS TURISTAS SE VÃO EMBORA” – PERSPETIVA O PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA, LUÍS PAIXÃO

Também o presidente da Junta de Freguesia de Sagres, Luís Paixão, numa altura em que “os casos ativos são poucos” no município de Vila do Bispo, como assinalou, não escondeu a sua “surpresa” pelo facto de este passar a fazer parte da lista dos concelhos de alto risco no país, devido à pandemia da Covid-19, com recolher obrigatório durante a semana e alargado aos sábados e domingos.
“O maior impacto é para os restaurantes e as pessoas estão a encarar tudo isto com um sentimento de grande injustiça. O Verão não foi mau, como o tempo continua bom ainda há muita gente em Sagres e, agora, com estas restrições impostas pelo governo, é natural que os turistas se vão embora. É um prejuízo para a nossa economia, estamos todos apreensivos com tudo a ficar parado aos fins-de-semana durante o estado de emergência”, sublinhou, em declarações ao Litoralgarve, Luís Paixão. Revoltado com o sucedido, o autarca até notou que “para toda a gente ter direito a médico de família”, a freguesia de Sagres não conta, ao nível das estatísticas oficiais, “com o número de utentes considerado necessário” pelos organismos responsáveis. Já para o processo da Covid-19, a situação é considerada “diferente”, num concelho onde “estrangeiros”, de passagem, acabam por ter casos de contaminação, observou.
“CENTENAS DE AUTOCARAVANAS JUNTO ÀS PRAIAS DA MARETA E DO BELICHE”, EM SAGRES. “QUEM CONTROLA ISTO ?”

Depois de voltar a referir que, ainda, há muitos visitantes em Sagres, nesta altura do ano, Luís Paixão contou ao Litoralgarve ter visto, na quarta-feira, “centenas de auto-caravanas junto às praias da Mareta e do Beliche”. “Quem controla isto? As autoridades, GNR e Polícia Marítima, não têm meios suficientes e estão numa missão ingrata”, alertou o presidente da Junta de Freguesia de Sagres, agora bastante “apreensivo” com as consequências do estado de emergência no concelho de Vila do Bispo, recolhimento obrigatório e encerramento do comércio e restauração ao fim-de-semana.
Paulo Silva
José Manuel Oliveira