“Com as ruas agora desertas em Lagos, existe o risco assaltos a estabelecimentos para toxicodependentes conseguirem dinheiro para a droga”
“Quem é que controla os sem-abrigo sem condições higiénicas, os traficantes e toxicodependentes que vagueiam pela cidade? – questiona João Evangelista
Empresária teve de fechar ‘snack bar’ na Praia da Luz e vai pedir apoio ao Governo e à banca para pagar salários e outros encargos
Turista alemã pergunta numa loja se há alguma festa, ou feriado, em Lagos para estar tudo fechado. “Há pessoas mesmo ignorantes!” – desabafa empregada comercial
Frascos de álcool, que custam 80 cêntimos, vendidos por dez euros no ‘mercado negro’. E luvas por sete euros.
Indivíduos andam de bicicleta em zonas interditas ao trânsito, áreas pedonais e por cima de passeio, com risco para quem ali passa
Numa altura em que estão impostas restrições à circulação de pessoas na via pública e os estabelecimentos da restauração só podem funcionar para fornecer refeições para fora – «take away» – de forma a evitar aglomeração de pessoas, entre outras medidas já tomadas pelo governo, na sequência do estado de emergência anunciado, na quarta-feira, dia 18 de Março, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, devido à expansão do coronavírus (Covid-19), muitos empresários deste sector mostram-se bastante apreensivos com a situação e até já fecharam as portas.

Snack-bar no supermercado da Spar na Praia da Luz, teve de encerrar. “Como os clientes não podem vir aqui e nós é que teríamos de ir à casa deles para lhes levar as refeições, também não estamos para arriscar a ter problemas de saúde. De resto, já estava à espera disto”, diz Teresa Oliveira

Na localidade da Luz, no concelho de Lagos, por exemplo, Teresa Oliveira, de 56 anos, responsável pelo ‘snack-bar’ instalado no edifício onde funciona o supermercado Spar – que passou a funcionar das 08h00 às 18h00 (encerra, pois, duas horas mais cedo), de segunda a sábado, enquanto ao domingo fecha pelas 14h00 – não esconde o seu desânimo em declarações ao «Litoralgarve»: “Com encargos mensais de mais de 8.000 euros, entre a renda do estabelecimento, salários, pagamento da Segurança Social, impostos, fornecedores, água, gás e eletricidade, encaro esta situação com muita apreensão. Já tinha tudo preparado para começar a trabalhar só com «take-away» e nesta sexta-feira tive de encerrar o estabelecimento após ter falado com a contabilidade e com um gerente da empresa da Spar. Como os clientes não podem vir aqui e nós é que teríamos de ir à casa deles para lhes levar as refeições, também não estamos para arriscar a ter problemas de saúde. De resto, já estava à espera disto. Estamos a cumprir as medidas impostas pelo Governo”.
“Não tenho dinheiro para pagar os salários e outros encargos”
E, desolada, adianta: “Tive de mandar as empregadas para casa, a aguardar o desenvolvimento desta situação imposta pela situação do estado de emergência. Estou pior eu do que elas. E a partir de segunda-feira, vou ter de recorrer a apoios parte do Estado e da banca. Não tenho dinheiro para pagar os salários e outros encargos.”
Desde a expansão do coronavírus (Covid-19) em Portugal e no Algarve, em particular, “já estávamos a faturar menos, com as receitas a não cobrir as despesas”, queixa-se Teresa Oliveira, que conta com nove funcionárias ao serviço daquele estabelecimento da restauração na Luz e de um outro, também, no supermercado Spar, situado perto do Rossio da Trindade, na Estrada da Ponta da Piedade, em Lagos, entretanto encerrado para obras de remodelação, que estão atrasadas, só devendo reabrir durante o mês de Abril.
Encomendas canceladas
Este ‘snack-bar’ na Luz, junto a uma papelaria, já tinha a entrada condicionada a apenas um cliente de cada vez, o balcão e as mesas eram desinfetados após utiização, o mesmo sucedendo com as casas de banho e os puxadores das portas, com o pessoal a usar máscaras e luvas. E as esplanadas já tinham sido desmontadas, na sequência deste período de crise com o estado de emergência decretado também no nosso país. “Os clientes estavam a reagir bem, com calma, sem problemas, pois compreendem a situação”, enaltece Teresa Oliveira, lamentando o facto de agora ver-se “pouca gente, já que a maioria das pessoas recolhe-se em casa”, seguindo as indicações das autoridades nacionais.
“Tive de cancelar encomendas de bolos e as sandes são estavam a ser feitas à medida das necessidades. De manhã, o movimento era, sobretudo, com cafés, bolos e chás, enquanto por telefone íamos garantindo refeições para fora”, acrescenta aquela empresária, que agora acabou por encerrar o estabelecimento.
Entretanto, de acordo com informações apuradas pelo «Litoralgarve», um outro ‘snack-bar’ na Luz, encontra-se a funcionar como se tudo estivesse normal, ignorando as normas agora em vigor, apenas com fitas a separar os clientes do balcão de atendimento.
“Fui a única pessoa a colocar luvas e a ter álcool no balcão. Todos os outros comerciantes olhavam-me e riam-se de mim e até da máscara que usava” (empregada de uma loja)

Na cidade de Lagos, na quinta-feira, dia 19 de Março, à tarde, o «Litoralgarve» foi encontrar uma cidadã de nacionalidade italiana, empregada de uma loja há mais de três anos, que só aceitou falar à nossa reportagem, sem fotos e ocultando o nome do estabelecimento comercial, bem como o local onde trabalha, tendo indicado apenas como iniciais do seu nome S.C.
“Viajei para Itália, onde tenho os meus filhos, a minha mãe, que irá completar, em Junho, 89 anos, e outros familiares, no dia 25 de Fevereiro e regressei a 01 de Março. Quanto lá fui, era ainda mais ou menos o começo da situação, como aqui em Portugal, igual. Quando cá cheguei, comecei a ver as notícias sobre a situação em Itália. Inicialmente, quando lá estive, achava que era tudo um exagero, que não era verdade. Ao regressar, comecei a ver a situação e a ficar preocupada. E quando houve o primeiro caso (de coronavírus Covid-19, em Portugal), fui a única pessoa a colocar luvas e a ter álcool no balcão. Todos os outros comerciantes nesta zona, olhavam-me e riam-se de mim e até da máscara que eu usava. Agora, não! Agora, estão me entendendo. E fecharam os seus estabelecimentos” – começa por recordar a senhora.
E acrescenta: “Aquilo que pensei, já no começo da outra semana, é que o governo aqui em Portugal estava a cometer o mesmo erro da Itália, quando houve o primeiro caso. Era logo a cortar, a tomar medidas, porque é a única solução.”
“Conhecendo a situação na Itália, porque eu falo pela experiência e não apenas por dizer, para mim já devia ter fechado tudo na semana passada”

Acha que Portugal foi lento ao tomar só agora medidas? – perguntámos. “Eu acho que sim. E não estou dizendo só Portugal, porque a mesma coisa fizeram a Espanha, a França e outros países”, responde. “Só que o problema de todos os estados é o problema da economia também. Tentaram ajudar todos os comerciantes e todos os empresários, em geral, para a economia continuar a funcionar. Fizeram o mesmo erro da minha terra. Igualzinho. Conhecendo a situação na Itália, porque eu falo pela experiência e não apenas por dizer, para mim já devia ter fechado tudo na semana passada”, observa.
O estabelecimento comercial em que trabalha, mantém-se, por enquanto, aberto ao público, com a garantia dos salários, embora “ninguém saiba o que vai acontecer.” “Só irá fechar quando o governo mandar. Continuo aqui, a trabalhar, porque tenho de manter o meu salário”, diz S.C., apreensiva, para quem “parece surreal”o facto de trabalhar numa rua com a esmagadora maioria dos estabelecimentos fechados e praticamente sem pessoas a passar. “Lagos tem todo o mundo que passa aqui. Sinto muito por todo o comerciante e por mim também esta situação. Espero voltar a trabalhar em força no Verão se possível”, sublinha.
Italiana receia assaltos a estabelecimentos por toxicodependentes à procura de dinheiro e pede mais polícia nas ruas
Apesar de trabalhar numa rua, agora praticamente deserta, “não sinto medo, não sinto nada, me parece é uma coisa surreal, como já disse, que nunca iria pensar de poder ver na minha vida”, diz S.C. . Enquanto estão em curso medidas de controlo impostas pelo Governo para evitar a propagação do coronavírus (Covid-19), esta cidadã italiano pergunta: “Quem controla, por exemplo, um grupo de indivíduos todos sujos, com cães, que anda pela cidade de Lagos e até se instala junto à porta de um supermercado?” Por outro lado, alerta, “também há toxicodependentes a pedir esmola para comprar heroína e outras drogas. Com as ruas agora desertas, existe o risco de fazerem assaltos a estabelecimentos para conseguirem dinheiro para comprar droga. Ainda há dias, vi um ou dois desses indivíduos já transmitindo uma imagem de carência e de estarem doentes, a tentarem arranjar dinheiro para os seus problemas de toxicodependência. É necessário mais polícia nas ruas para garantir a segurança das pessoas.”
“Uma alemã entrou neste estabelecimento e me perguntou se era por causa de alguma festa, ou feriado, que está tudo fechado em Lagos. Expliquei-lhe o que se passava, que era devido ao coronavírus. E ela respondeu: «Na Alemanha andam a morrer 20 mil pessoas com gripe por ano. Isto aqui é um exagero!…”

Já em relação aos clientes que entram no estabelecimento onde trabalha, S.C. mostra-se incrédula com algumas situações com que tem deparado. “Há pessoas mesmo ignorantes! Hoje, entraram aqui dois clientes, um deles canadiano e o outro não me recordo a nacionalidade (falava inglês) e olharam, indiferentes, e me perguntaram se está tudo fechado porque era uma festa ou porquê. Expliquei-lhes que era por causa do coronavírus. Ontem, por exemplo, foi uma alemã que entrou neste estabelecimento e me perguntou também se era por causa de alguma festa, ou feriado, que está tudo fechado em Lagos. Expliquei-lhe o que se passava, que era devido ao coronavírus. E ela me disse: «Ah, que exagero!… Na Alemanha, andam a morrer 20 mil pessoas com gripe por ano. Isto aqui é um exagero! Vocês têm sorte porque o vírus tem medo do calor.» Eu olhei para ela e respondi: “Se assim fosse, nem teriam um caso em África.” E a senhora afirmou: «Ah, mas foi por causa de alguém que chegou a África.» E eu respondi: «Sim, aí a pessoa que chegou a África, ficava só ela doente e não transmitia o vírus a outra pessoa. Aí, não é verdade que o vírus tem medo do calor.» E ela olhou e ficou calada. O governo alemão é quem manda e mete estas coisas na cabeça dos alemães” – cririca esta italiana, residente em Lagos. E insiste que “há muita ignorância” da parte de turistas estrangeiros. Já os portugueses revelam “medo”, mas reconhece que, há dois ou três dias, também se mostravam “bastante ignorantes.”
E após uma olhadela ao telemóvel, descreve: “Na minha terra, onde já morreram muitas pessoas com o novo coronavírus, não há condições para cerimónias fúnebres religiosas, há caixões em fila nos cemitérios, os quais já não têm espaço para enterrar os corpos e muitos são incinerados. E quando isto acabar, vão realizar-se funerais sem os mortos.”
“A minha família diz-me que há ainda muito italiano estúpido, muitas pessoas na rua e não aceitam a obrigação de ficar em casa”
Vai voltar para Itália? “Não!” – responde, de imediato, S.C. . “Estou bem em Portugal, há sete anos e meio que vivo aqui, tenho um contrato de trabalho. Tenho cá tudo. Porquê voltar a Itália? Não. não” – reforça. “Estou em contacto com a minha família todos os dias. A minha família diz-me que há ainda muito italiano estúpido. Os meus filhos só dizem que o meu povo é muito estúpido porque há ainda muitas pessoas na rua, muitas delas não aceitam a obrigação de ficar em casa. É preciso ficar em casa e sair só para necessidades básicas. Tenho uma cadela, que tenho de levar a passear, além disso tenho de ir ao supermercado e à farmácia, por exemplo”, sublinha esta cidadã italiana.
Quando vai às compras, tem tido dificuldade em adquirir produtos? “Olha, comprei, adiantado, uma máscara numa farmácia. Mas já não encontrei mais luvas. Tenho álcool.” Só não usa a máscara de proteção, porque tem de atender clientes, mas “mantenho-me à distância.” “Depois, quando o cliente vai embora, desinfeto o balcão com álcool (exibe o frasco) e as minhas luvas”, refere. “E só espero não ter problemas. Se o destino, tiver de me pegar (o vírus), não sei…” – desabafa. Quando, no passado domingo, dia 15 de Março, se deslocou a um dos supermercados em Lagos, ainda havia “praticamente tudo o que eu precisava. E sabendo que isto iria acontecer, comprei álcool na semana passada” – lembra. “O que mais receio é o impacto económico e sobretudo no Algarve acho será um desastre, porque não tem indústrias, nada, a não o ser só o turismo”, nota esta empregada comercial.
“O movimento é fraco e embora a rua esteja deserta, não sinto medo”(Paulo Simões, proprietário de um ‘snack-bar’)

Noutra zona de Lagos, na Rua Cândido dos Reis, onde o comércio está fechado, Paulo Simões, proprietário do «Easy Bar», um dos poucos estabelecimentos do sector da restauração ainda a funcionar nesta cidade, afirma ao «Litoralgarve»: “Estou a trabalhar porque preciso de ganhar dinheiro para garantir o sustento da minha família e pagar as despesas. Com a renda do estabelecimento, água, luz, gás e impostos, tenho encargos mensais de mais de 2.000 euros” – afirma.
Apesar do pouco movimento turístico nesta altura do ano, situação agora agravada pelo estado de emergência decretado em Portugal devido ao coronavirus (Covid-19), aquele empresário tem trabalhado “com clientes ingleses e irlandeses, alguns deles residentes em Lagos, ao nível de refeições, sobretudo peixe, e comida para levar, além de portugueses, especialmente com cafés e de manhã.” “O movimento é fraco e embora a rua esteja deserta, não sinto medo”, sublinha Jorge Simões, que só teme que “a situação não melhore.” E aproveita para lamentar a “falta de informação por parte da Câmara Municipal de Lagos” diretamente, no terreno, junto da população, em geral, e dos empresários, em particular. “A informação que temos é só através da televisão”, observa.
“Não permitem esplanadas, o que não concordo. Então, tira-se as pessoas de um espaço ao ar livre, na rua, para as meter fechadas no interior dos estabelecimentos? Isso é um disparate!” – critica Jorge Simões, insistindo que “falta informação”, numa altura em que ainda não eram conhecidas medidas do governo com a imposição de restrições nos estabelecimentos da restauração.
“Tenho os meus filhos em casa, um deles de cinco anos e outro de quatro anos, com a minha mulher. Os miúdos até sentem medo de ir à rua, embora não saiam por precaução. Passam os dias a ver televisão, em atividades escolares e em jogos”, acrescenta o dono do ‘Easy Bar’.
“Tenho trabalhado bem”(Zaida Gomes, dona de um mini-mercado)

Já na Rua da Laranjeira, perto da Padaria Central, Zaida Gomes, proprietária de um mini-mercado (onde agora só é permitida a entrada de um cliente), também discorda do estado de emergência no nosso país. “Acho mal. Muitas pessoas não saem de casa. De manhã, tenho trabalhado bem. À tarde é para esquecer. Compreendo a situação, as pessoas estão assustadas”, afirma a empresária à reportagem do «Litoralgarve». Arroz e massa são alguns dos produtos mais procurados pelos clientes, enquanto o álcool e o sabão azul estão esgotados há muitos dias. Se a situação se mantiver, “a Páscoa e o Verão vão ser difíceis em Lagos” para os empresários, antevê Zaida Gomes, que, por enquanto, não usa máscara, apenas luvas, além de desinfetante no balcão de atendimento.
Na Padaria Central, situada na Rua 1º. de Maio, depois de tirarem a senha, apenas podem entrar duas pessoas de cada vez, tendo sido colocadas fitas entre os dois balcões onde estão as empregadas e a zona onde ficam os clientes, de forma a garantir a distância necessária de dois metros. De segunda a sexta-feira, a padaria funciona das 07h00 às 18h00 (fecha, assim, uma hora mais cedo) e ao sábado encerra pelas 15h00.
“Há frascos de álcool, que custam 80 cêntimos, a serem vendidos por dez euros” no «mercado negro»
Numa loja situada na Rua Soeiro da Costa, álcool e luvas foram alguns dos produtos mais procurados, tendo-se esgotado rapidamente. “Agora, há frascos de álcool, que custam 80 cêntimos, a serem vendidos aí fora por dez euros” – denuncia, ao «Litoralgarve», Lurdes, proprietária do estabelecimento, numa alusão a situações de ‘mercado negro’, com pessoas que não são comerciantes a comprarem produtos em quantidade em vários locais, para os vender pelo “preço que entenderem, de forma clandestina”, como nos contaram. O mesmo se passa, por exemplo, com luvas que chegam, agora, a custar sete euros
“Agora, com as ruas desertas, há casos em que toxicodependentes chegam junto de quem passa, dizem que estão com o coronavírus e chantageiam as pessoas, ameaçando contaminá-las se não lhes derem dinheiro para comprar droga”
Sexta-feira, dia 20/03/2020 – Enquanto no supermercado Intermaché, situado na Avenida dos Descobrimentos, em Lagos, agora com a porta fechada e a entrada limitada a 12 clientes em simultâneo, além de outras medidas para tentar evitar o contágio do coronavírus (Covid-19), como mandam as regras das autoridades de saúde, cá fora, a poucos metros, seis homens com notória falta de higiene estão, alguns deles como habitualmente, sentados e encostados a uma parede, parecendo indiferentes à situação provocada pela pandemia. Desta vez, não se veem cães, que normalmente acompanham estes indivíduos.
No centro da cidade, mais concretamente na Praça Gil Eannes, em frente ao edifício da Caixa Geral de Depósitos, pouco antes das 15h00, um toxicodependente, conhecido de muita gente, caminha em passo apressado de um lado para o outro. “Eu f. aquela p.” – grita o homem, desesperado, apontando o dedo na direção de uma cidadã estrangeira, que habitualmente toca viola, poucos metros mais à frente – junto ao posto de turismo (agora encerrado) no antigo edifício da Câmara Municipal de Lagos (também fechado) – depois de não ter conseguido, da parte dela, dinheiro para droga. Irritado, o homem continua de um lado para o outro, mas ninguém lhe dá dinheiro, e vai gritando ao telemóvel.
“Este e outros indivíduos vagueiam pela cidade à procura de dinheiro para comprar ‘erva’. Agora, com as ruas desertas, há casos em que toxicodependentes chegam junto de quem passa, dizem que estão com o coronavírus e chantageiam as pessoas, ameaçando contaminá-las se não lhes derem dinheiro para comprar droga. É do estilo, «ou dá dinheiro, ou toco-lhe»” – conta ao «Litoralgarve» João Evangelista, de 66 anos, autor de um livro com acusações ao antigo presidente da União Europeia, Durão Barroso. Neste período de crise instalada no país e com a esmagadora maioria dos estabelecimento fechados em Lagos, “tomo café em casa, vou ao supermercado quando é necessário e estou a aproveitar para escrever sobre matérias como a água, a energia e os negociatas que se fazem, além de Parcerias Público-Privadas, em que ninguém sabe para onde vai o dinheiro.” Sobre o coronavírus, desabafa: “Parece que os velhos estão a mais neste mundo.”

“Existe, há muito tempo, um notório mal-estar em Lagos, agora agravado por esta situação provocada por esta situação, com tudo fechado para evitar contaminações”, reconhece João Evangelista, interrogando-se: “Mas quem é que controla os sem-abrigo sem condições higiénicas, os traficantes e toxicodependentes que vagueiam pela cidade?” Fonte policial diz ao nosso jornal que “sem espaços para acolher os sem-abrigo, de nada serve as autoridades andarem em cima destas pessoas.”
Ciclistas em zonas pedonais e por cima dos passeios, colocando pessoas em risco
Enquanto isso, como o «Litoralalgarve» constatou, em Lagos continuam a ver-se indivíduos a andar de bicicleta em ruas interditas ao trânsito, por cima dos passeios, em zonas pedonais e a dobrar esquinas dos prédios, sem qualquer controlo policial e colocando em perigo quem ali passa. Na quarta-feira, dia 19, à tarde, um casal alemão, numa motorizada, desceu a Rua Cândido dos Reis em direção à Rua Garrett e por aí fora. Só por mero acaso, não têm ocorrido, agora, acidentes com as pessoas que circulam nestas zonas pedonais.
Farmácias com filas à porta e sem álcool nem máscaras
Nas farmácias, com o acesso restrito, avisos colocados à entrada indicam que não há álcool, nem desinfetante, nem máscaras. “Até parece uma bicha para a sopa dos pobres” – ironiza um popular ao ver, na rua, uma fila com 13 pessoas, em pleno dia, em direção à Farmácia Lacobrigense, na zona de Santo Amaro, numa altura em que o atendimento era feito apenas através de um dispositivo próprio próprio para as farmácias de serviço à noite.
“Onde é que vou, agora, pagar a fatura da água e recarregar o telemóvel?”
Na Rua 25 de Abril, junto à Tabacaria Natal, José Encarnação Costa, de 75 anos, mostra-se surpreendido com o fecho deste estabelecimento comercial. “Onde é que vou, agora, pagar a fatura da água e recarregar o telemóvel?” – interroga-se, este cidadão, acrescentando: “Só espero que não cortem a água lá em casa”. E ao ver as ruas desertas, José Encarnação Costa reage : “Até tenho de medo de sair de casa, não se vê ninguém na rua, a não ser alguns indivíduos problemáticos, e evito o centro da cidade. Vou às compras e meto-me em casa. Como passo o tempo? A ver as desgraças na televisão.”

Já na Praça do Infante, a Igreja de Santa Maria mantém as portas abertas, embora estejam suspensas as missas. Noutra zona da cidade, no Hospital Privado São Gonçalo de Lagos, o acesso à receção só é permitido após os utentes informarem o que pretendem, desinfetarem as mãos e uma das funcionárias, com máscara e luvas, ver se os utentes têm febre, além de serem necessárias outras informações, nomeadamente se vieram recentemente de algum país e se tiveram contacto com grupos de pessoas em risco. Prevenção é o que não falta aqui.
Em Portugal já morreram 12 pessoas contaminadas com Covid-19 e existem 1.280 de casos, de acordo com a Direcção Geral de Saúde.
No Algarve foi conhecido, na sexta-feira, dia 20 de Março, o primeira vítima mortal. Trata-se de um idoso, de 77 anos, residente no concelho de Albufeira e que tinha outros problemas de saúde. Acabou por falecer no Hospital de Faro.
De acordo com a Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, neste momento é o seguinte o quadro de pessoas infectadas em vários concelhos:
– Portimão – 8 pessoas
– Lagoa – 2 pessoas
– Silves – 2 pessoas
– Albufeira – 4 pessoas (uma vítima mortal)
– Loulé – 2 pessoas
– Faro – 10 pessoas
– Tavira – 1

Reportagem de José Manuel Oliveira