CÉLULAS ESTAMINAIS DO TECIDO DO CORDÃO UMBILICAL PROMOVEM A RECUPERAÇÃO DA FUNÇÃO OVÁRICA EM MULHERES COM INSUFICIÊNCIA OVÁRICA PREMATURA

Foi realizado um ensaio clínico na China que avaliou a segurança e a eficácia do tratamento de insuficiência ovárica prematura, recorrendo à injeção de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical diretamente nos ovários. Este ensaio demonstrou resultados promissores na estimulação da função ovárica e no desenvolvimento folicular em mulheres com insuficiência ovárica prematura.

Neste estudo, participaram 61 mulheres com idade média de 31 anos e, em média, não menstruadas há três anos. Entre as participantes, 11 receberam apenas um tratamento, 20 foram sujeitas a dois tratamentos e 30 receberam três tratamentos com células estaminais do cordão umbilical, tendo sido seguidas durante os 6 meses seguintes. Não foram observados eventos adversos graves decorrentes do tratamento e apenas cinco participantes apresentaram efeitos adversos ligeiros e de fácil resolução.

Após a terapia com células estaminais, verificou-se uma tendência de melhoria no desenvolvimento folicular.  Em duas das 61 participantes, verificou-se o retomar da menstruação normal, sendo que numa delas se contaram mais de dez folículos em desenvolvimento numa das consultas de seguimento, sugerindo a recuperação completa da função ovárica. Em várias participantes foi, ainda, possível detetar a presença de folículos maduros durante o período de seguimento, indicando um potencial impacto positivo deste tratamento na fertilidade. Três destas participantes engravidaram por fertilização in vitro, realizada com ovócitos maduros recolhidos após o tratamento experimental, e uma engravidou naturalmente.

Os autores referem que, embora na maioria dos casos o tratamento tenha tido um efeito positivo, noutros casos os resultados foram insatisfatórios, nomeadamente nas participantes não menstruadas há mais de três anos. Foi possível observar que as mulheres com melhores contagens de folículos em fase inicial de desenvolvimento antes do tratamento apresentaram maior probabilidade de beneficiar deste tipo de terapia.

Os resultados deste ensaio clínico indicam que a aplicação de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical é capaz de estimular a função ovárica em mulheres com insuficiência ovárica prematura, resultando em melhorias no desenvolvimento folicular e com impacto na sua fertilidade, o que é muito positivo”, conclui Bruna Moreira, Investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal.

A terapêutica com células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical pode ser considerada promissora para tratar insuficiência ovárica prematura, sendo necessário realizar mais estudos que clarifiquem aspetos como a dose ideal de células estaminais a administrar e a duração da eficácia do tratamento.

A insuficiência ovárica prematura afeta cerca de 1-3% da população feminina com menos de 40 anos e representa uma causa de infertilidade. É caracterizada pela perda de atividade dos ovários, ausência de menstruação e baixos níveis de estrogénio no sangue. Adicionalmente, as mulheres com insuficiência ovárica prematura apresentam risco acrescido de osteoporose e doença cardiovascular, devido à exposição a baixos níveis de estrogénio, questão habitualmente contornada através de terapia hormonal de substituição. Contudo, esta terapêutica não permite recuperar a fertilidade, pelo que é fundamental desenvolver estratégias nesse sentido.

Autor: Marta Ribeiro