“BREXIT ? OS BRITÂNICOS ATÉ CRESCERAM NA HOTELARIA NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2019”

Entrevista com João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve   (PRIMEIRA  PARTE)

Recebe-nos, numa manhã de sol radioso, no seu gabinete instalado no último piso do edifício da Região de Turismo do Algarve, em Faro, donde se avista uma magnífica paisagem sobre a Ria Formosa. Com a secretária repleta de gráficos e outros documentos, João Fernandes, presidente da Comissão Executiva deste organismo, explica ao ‘Litoralgarve’ a estratégia do Algarve face à saída do Reino Unido da União Europeia, e diz que “há uma mudança de perfil e também uma nova procura” dos turistas britânicos. “O Algarve passou, de 2o17 para 2018, de 69.000 residentes estrangeiros para 77 mil. Há aqui praticamente 8.000 novos residentes que atraem familiares e amigos, os quais podiam ficar  em hotéis”, sublinha

“Desidério Silva ? Temos perspetivas muito diferentes para a organização da RTA”

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“Não há milagres para as necessidades de mão-de-obra, sobretudo no pico do Verão”

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“Luso-venezuelanos descendentes que estão na Madeira poderão vir a trabalhar no Algarve”

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“O mês de Agosto ainda está a ser um período de reservas”

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Litoralgarve – É presidente da Comissão Executiva da Região de Turismo do Algarve (RTA) desde Agosto de 2018, além de ser também o principal responsável pela Associação de Turismo do Algarve (ATA). Que balanço faz deste primeiro ano? O que tem feito em concreto?

João Fernandes – Um dos balanços que faço em relação à nossa atividade e tendo em conta que as coisas colocam-se sempre na perspetiva de uma pessoa, o seu presidente, na realidade acho que uma das principais conquistas é exatamente a de mobilização de uma equipa ou duas que queremos que funcionem – a da RTA e a da ATA, que aliás têm muitos elementos em comum nos seus órgãos sociais. E esse é, para mim, um dos nossos principais resultados deste balanço de quase um ano, em que foi possível juntar equipas da ATA e da RTA num propósito comum que é o destino Algarve. Recordo que assumi o cargo de presidente da Região de Turismo do Algarve no final de Julho do ano passado e depois não deixei de concorrer à liderança da Associação de Turismo do Algarve quando já tinha o conforto de ter ganho uma eleição. As duas entidades são complementares e quanto melhor for a sua relação e quanto maior simbiose existir mais o destino beneficia. Essa foi, talvez, uma das grandes conquistas deste primeiro ano, com uma liderança comum e é uma solução que devemos prosseguir.

Por outro lado, posso dizer que em relação à RTA há conquistas, também, a nível interno. Estamos a desenvolver durante este primeiro ano de atividade um conjunto de reestruturações, no sentido de definir concretamente o que cada núcleo deve assumir como o seu desígnio. E vamos até ao ponto de definir também melhor aquilo que é a tarefa de cada funcionário, sem desprimor para a necessidade de articular diferentes áreas de atuação. Apostámos na criação de uma cultura organizacional de maior exigência e também num reforço da capacidade instalada. Por exemplo, ao nível das redes sociais, estamos a criar uma equipa que versará sobretudo a nossa comunicação ‘online’, seja na perspetiva institucional, seja na perspetiva de promoção do destino, e a sua articulação cada vez maior não só com os colegas da ATA, que fazem a promoção internacional, mas também com as delegações externas do Turismo de Portugal e com as agências de comunicação no nosso país e no estrangeiro. Portanto, há uma capacidade instalada que pode ser mais eficaz.

Ao nível daquilo que é o entendimento desta organização e da sua ação, a Região de Turismo do Algarve deve ser um parceiro das empresas do sector. E por isso deve abraçar desafios que não estando diretamente consignados na sua lei-orgânica, devem ser desafios para si também.

“O ALGARVE TEM DIFICULDADE EM RECRUTAR RECURSOS HUMANOS, JÁ NÃO DIGO APENAS QUALIFICADOS. TEM FALTA DE MÃO-DE-OBRA”

Litoralgarve – Que exemplos concretos aponta nesse sentido?

João Fernandes – O Algarve tem no sector turístico (e também noutras atividades) dificuldade em recrutar recursos humanos, já não digo apenas qualificados. Tem falta de mão-de-obra. Se olharmos para os números da população ativa e para os muitos desempregados, percebemos que essa resposta dificilmente será suprida apenas com recursos humanos sobretudo da própria região. Temos trabalhado com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e com outros parceiros de complemento social, a Organização Internacional para as Migrações, entre outras entidades, nesta necessidade de as nossas empresas terem acesso a recursos humanos e de preferência qualificados.

“JOVENS EM IDADE ESTUDANTIL PODEM TRABALHAR APÓS O ANO LETIVO E GANHAR EXPERIENCIA”

Litoralgarve – A falta de mão-de-obra na restauração apontava, recentemente, para cerca de 40.000 pessoas. Como é possível esta situação, quais os reflexos e de que forma irá o Algarve resolver o problema?

João Fernandes – Não há milagres para as necessidades de mão-de-obra sobretudo no pico do Verão. Em época alta, temos diferentes realidades. Temos necessidades de mão-de-obra permanentes e outras mais pontuais no período do pico da procura no Algarve. E temos vindo a desenvolver um apelo aos jovens em idade estudantil, mas que podem trabalhar após o ano letivo. Desse modo, para já podem ter uma primeira experiência de trabalho no sector e mais tarde conseguir, assim, com mais facilidade ingressar no mesmo. Por outro lado, são jovens da região, que já têm alojamento e como tal não se debatem com a mesma dificuldade a esse nível para quem vem de fora. São jovens que já estão situados em proximidade com as ofertas de trabalho, já conhecem não só a realidade da região, como têm muitas vezes familiares e amigos que lhes podem ajudar nessa deslocação casa/trabalho.

Por outro lado, é uma forma de rejuvenescer a mão-de-obra no Algarve, muitos destes jovens são universitários e, portanto também, poderiam qualificar de algum modo os nossos recursos no futuro. Agora, esta resposta obviamente não é a solução para todos os males porque não tem escala suficiente para esse efeito de forma a suprir os picos da procura. Se compararmos a população ativa com a população empregada, existe um défice de pessoas nesta região para suprir as necessidades de trabalho. Temos vindo a desenvolver, e os próprios agentes privados também, várias diligências no sentido de atrair, no fundo, população de outros países para trabalhar no Algarve. Por exemplo, fizemos ‘demarches’ com o IEFP para perceber qual a situação dos venezuelanos que estão na Madeira, os quais são, na sua grande maioria, luso-descendentes e portanto têm desde logo uma facilidade maior de poder ingressar no mercado de trabalho, cumprindo obviamente os aspetos legais.

“A IDEIA DE QUE HÁ MUITAS PESSOAS QUE NÃO QUEREM TRABALHAR, PARA MIM, E´TOTALMENTE  ERRADA”

Litoralgarve – Comenta-se que muita gente não quer trabalhar, além de existir o problema de baixos salários…

João Fernandes – A ideia de que há muitas pessoas que não querem trabalhar, para mim, está totalmente errada. Há que fazer justiça também aos trabalhadores. Até porque analisando em concreto e trabalhando com o IEFP na região, vemos que existe um ‘stock’ mínimo de desempregados, cerca de oito mil, que são desempregados de longa duração. São, portanto, pessoas muitas vezes com problemas incapacitantes do ponto de vista da sua saúde física e mental, ou pessoas que não têm qualificações e condições mínimas para ingressarem, ainda, no mercado de trabalho.

Já em relação aos baixos salários, temos vindo a assistir gradualmente, também com melhor desempenho do sector turístico nos últimos anos, a um acréscimo significativo das remunerações aos trabalhadores, o que, como é natural, agrada a todos. Os trabalhadores devem ser remunerados condignamente e os negócios devem permitir a rentabilidade, também, que viabilize esse ordenado mais adequado àquilo que são as exigências que o sector tem pela frente. 

Outra questão que se tem colocado é a falta de alojamento, por exemplo, para trabalhadores, outra área em que também temos atuado.

Litoralgarve – E de que forma?

João Fernandes – Temos estado a estudar legislação e a trabalhar, por exemplo, com a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, para perceber quais são os futuros desenvolvimentos em termos de construção a custos controlados. Por outro lado, temos trabalhado também com outras organizações, nomeadamente com a senhora Secretária de Estado do Turismo, para perceber qual o estímulo necessário para uma eventual proposta mais robusta a esta necessidade, ou mesmo a mobilidade desses trabalhadores alojados na região.

Lembro, por exemplo, que uma das iniciativas que desenvolvemos com o Instituto do Emprego e Formação Profissional foi a divulgação, na Semana Académica, em parceria com a Associação de Estudantes da Universidade do Algarve, para uma iniciativa que está inscrita no Orçamento de Estado, destinada a estudantes poderem trabalhar em períodos de pausas letivas sem perderem a Bolsa de Estudo e o abono de família. Trabalhámos com o IEFP a possibilidade de haver  uma discriminação positiva para trabalhadores que migrem de outras regiões portuguesas para o Algarve, aliás um instrumento já existente.

 Por outro lado, temos trabalhado com a CCDRA – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, tendo em vista o Plano Estratégico para o Turismo nesta região para criar uma matriz que permita, no próximo Quadro Comunitário, alocar os recursos de forma estratégica para o sector, seja do ponto de vista dos mercados, seja do ponto de vista dos produtos, seja do ponto de vista daqueles que são os nossos grandes desígnios de diversificar a oferta.

 São todos estes exercícios a nível interno, regional e externo, em que temos feito um trabalho já bastante robusto neste primeiro ano, mas que obviamente nos próximos anos terão de ter resultados.

Estamos numa fase em que, é claro, temos vindo a dar continuidade a um conjunto de medidas que vinham de trás, bastante boas e que não tinham de ser negligenciadas, antes pelo contrário. Mas estamos, sobretudo, a este nível também a reforçar uma capacidade que dará frutos nos próximos anos.

“NA PRÁTICA, A RTA FICA COM CERCA DE CINCO MILHÕES E TREZENTOS MIL EUROS NO SEU ORÇAMENTO”

Meia Praia – areal e verneantes

Litoralgarve – Qual é o orçamento de que dispõe?

João Fernandes – Nenhum gestor de uma organização diz que o orçamento que tem é suficiente, na medida em que todos ambicionam fazer mais. Mas, obviamente, também temos de considerar que o país atravessa um exercício exigente do ponto de vista orçamental, da sua competitividade face a outros países, e o mesmo acontece também com o Algarve e com a RTA em concreto. Este organismo dispõe de um orçamento de cerca de 7,750 milhões de euros. Desse valor, cerca de um milhão e duzentos e cinco mil euros são o contributo direto para o ‘Programa 365 Algarve’, o qual abracei desde o início. O orçamento da RTA também transfere para a Associação de Turismo do Algarve cerca de um 1,2 milhões de euros. Ou seja, na prática para a RTA fica um valor de cerca de cinco milhões e trezentos mil euros. Obviamente não é o que desejaríamos, mas não nos demove de abraçarmos os desafios que temos pela frente. Muitas das questões que se colocam não têm a ver muitas vezes apenas com a dotação orçamental; têm a ver com a própria dificuldade em executá-la, nomeadamente pelos constrangimentos que acrescem em termos de carga burocrática e tramitação pela lei do Orçamento de Estado, pela lei da execução orçamental, pelas portarias aplicadas especificamente a várias matérias. É necessário sempre maior transparência, mas também temos de ter agilidade.

Litoralgarve – E como tem sido acumular funções entre a presidência do Conselho Executivo da RTA e da ATA?

João Fernandes – Tem sido muito exigente, como já sabia que iria ser. Mas tem sido também muito profícuo por aquilo que até já lhe referi, ou seja, a vantagem de partilhar recursos e ganhar uma capacidade adicional. Além disso, aquilo que acho que conseguimos, numa primeira fase, ultrapassar é que essa exigência não se centrasse apenas numa pessoa. Quero com isto dizer que tenho tido, felizmente, o apoio dos membros da Direção da ATA para abraçarem desafios concretos da organização, seja na área do golfe, seja na área do desafio do ‘Brexit’, seja no estudo sobre como estão a evoluir os canais de distribuição, seja noutras funções. No fundo, vou avançando desafios aos vários elementos da Direção da ATA, que felizmente têm correspondido com as suas capacidades. Quando temos numa Direção pessoas altamente qualificadas e altamente envolvidas com matérias especializadas, penso que é mais inteligente do que centralizar todas os desafios apenas numa pessoa.

A ESTRATÉGIA DA REGIÃO DE TURISMO DO ALGARVE FACE AO ‘BREXIT’

Litoralgarve – Que resultados em concreto têm sido alcançados nesse sentido?

João Fernandes – Por exemplo, fomos a primeira região do país a definir o plano de atuação face ao ‘Brexit’. Em boa hora, a Região de Turismo do Algarve reuniu logo com associações de estrangeiros residentes para ouvir, na primeira pessoa, quais seriam as suas necessidades. Portanto, muitas das medidas que hoje estão no plano de contingência português para o ‘Brexit’, foram emanadas dessas reuniões, como por exemplo as necessidades de estar muito atento para que não haja dupla tributação uma vez que o Reino Unido saia da União Europeia. Refiro-me aos impostos, que se tenham acordos no âmbito da Segurança Social, que haja uma diligência específica para a entrada de britânicos nas fronteiras, nomeadamente corredores, por exemplo, no aeroporto, que não seja agravada a taxa da Anacre aeroportuária no caso de o Reino Unido sair da condição em que atualmente se encontra. Mas, também, matérias mais terra-a-terra, como por exemplo que haja uma discriminação positiva para quem viaja com animais de companhia, para que haja reconhecimento mútuo da carta de condução, no fundo para um conjunto de valências bastante vastas.

Litoralgarve – Foi vice-presidente da RTA quando Desidério Silva era o presidente. Porquê decidiu, depois, candidatar-se contra ele à liderança deste organismo e como é  atualmente a vossa relação?

João Fernandes –  A nossa relação é normal, cordial, como não poderia deixar de ser. Trabalhámos juntos, temos obviamente perspetivas muito diferentes para aquilo que é a atuação da organização e isso ditou que cada um apresentasse a sua proposta à Assembleia-Geral da Região de Turismo do Algarve. Não tem de causar diferendos insanáveis. Somos, penso eu, dois democratas. A assembleia da RTA ditou um resultado e isso não tem de me permitir ser desrespeitoso por quem cá esteve, deu o seu contributo e deve ser reconhecido.  

“TEMOS MERCADOS EM FRANCO CRESCIMENTO COMO BRASIL, CANADÁ E ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA”

Litoralgarve – Como e onde têm sido realizadas campanhas de promoção turística? Foram suficientes?

Paulo Silva – Nunca são suficientes até pela razão que aludi anteriormente. Nunca temos os recursos ilimitados. Nem o CEO da maior organização privada do mundo tem os recursos ilimitados. Desenvolvemos campanhas pela RTA em Portugal e Espanha, porque é esse o nosso espaço de atuação. Depois, pela ATA, no fundo dividimos a nossa atuação em quatro tipologias de mercados: mercados consolidados, ou seja, aqueles que são os tradicionais do Algarve – o Reino Unido, a Alemanha, a Holanda, a Irlanda. E diria que, pela expressão que já tem na procura, a França começa a ser um mercado consolidado, mas ainda o consideramos como um mercado estratégico; A Itália e os nórdicos, o centro da Europa, como a Áustria e Suíça; Temos os mercados em franco crescimento como o Brasil, Canadá e os Estados Unidos da América; e depois outros mercados onde vamos pontualmente a feiras para medir o pulso, como por exemplo a China, com primeiras abordagens para colher sensibilidades.

No fundo, temos uma atuação na ATA em 21 países e na RTA, em Portugal e Espanha, porque é esse o nosso desígnio. Estas campanhas vão desde o reforço da propriedade do destino da marca ‘Algarve’, até outras mais dedicadas, no fundo, à promoção em determinados mercados, produtos específicos, e que fazemos conjuntamente com o Turismo de Portugal, com as companhias aéreas, com ‘tours’  operadores, ou seja, também nossos parceiros na região através dos planos de comercialização e venda. Aí alavancamos, no fundo, a capacidade de cada empresa associada da ATA de executar o seu plano de ‘marketing’ tal como tinha previsto desde que esteja alinhado com a estratégia do Algarve.

“O VERÃO TEM-SE PROLONGADO PARA OUTUBRO / NOVEMBRO”

Litoralgarve – Como evolui esta época turística? Qual o nível de ocupação de taxas hoteleiras?

João Fernandes – De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos a Maio, e da Associação dos Hotéis e Estabelecimentos Turísticos do Algarve (AHETA), acumulados a Junho, podemos dizer que o primeiro semestre esteve em linha com o que aconteceu no ano anterior em termos de taxas de ocupação. Isto, apesar de no aeroporto estarmos a crescer de forma mais robusta do que no alojamento hoteleiro, o que significa que também há resultados que se traduzem no alojamento local, bem como na casa de familiares e amigos. Devo lembrar que o Algarve passou, de 2017 para 2018, de 69.000 residentes estrangeiros para 77 mil. Ou seja, há aqui praticamente 8.000 novos residentes que atraem familiares e amigos, os quais outrora podiam ficar em hotéis. Há uma mudança de perfil de consumo e também de uma nova procura. Temos crescimentos em termos de proveitos superiores aos que tivemos em termos de dormidas. Portanto, estamos na região como um todo a ser capazes de crescer. O Verão tem-se prolongado para Outubro/Novembro.

“HÁ UM REFORÇO DA PROCURA DE ÚLTIMA HORA”

Litoralgarve – Mas, para já, como perspetiva o mês de Agosto? O Algarve vai encher como habitualmente?

João Fernandes – Espero que Agosto seja em linha com o ano anterior, mas ainda está a ser um período de reservas. Os hoteleiros, as companhias aéreas e os ‘tour-operadores’ estão a responder a esta realidade com campanhas promocionais e, portanto, vamos esperar pelo resultado. 

Por outro lado, assistimos, sobretudo a partir de Junho / Julho, a uma redução face ao período homólogo ao nível das reservas. E assistimos a um fenómeno mais recente de um reforço da procura de última hora. Esta situação também tem a ver, obviamente, com o ressurgimento da Turquia,Tunísia e do Egipto, que estiveram, há alguns anos, muito condicionados pelas ocorrências de insegurança. E, portanto, houve desvios de fluxos para países como Espanha e Portugal, nomeadamente para o Algarve. Agora, é natural que em parte retomem para a Tunísia e o Egipto, até pelas propostas que têm do ponto de vista do preço. Estamos a falar de destinos diferentes, de qualidades e seguranças diferentes. Queremos acreditar que temos um destino que se destaca por qualidades que não conseguimos encontrar noutros destinos concorrentes. Mas o facto é que esta procura anormal nos últimos anos teria mais tarde ou mais cedo a tendência para parte dela regressar.

A grande constatação que podemos tirar é que, apesar de termos beneficiado nos últimos anos de fluxos normalmente elevados, que não tinham à partida como destino o Algarve, hoje grande parte dessa procura consolidou-se nesta região. Fidelizou-se a um destino que não conhecia. E isso é mérito do destino, da capacidade de acolhimento da nossa oferta, da capacidade que o destino teve de surpreender essa procura e de, hoje, estar com um nível de procura superior àquilo que tinha em 2013, 2014, 2015.

“TEMOS TUDO PARA CONTINUARMOS A SER O DESTINO PREFERIDO DOS BRITÂNICOS”

Litoralgarve – Que efeitos vai ter a saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado ‘Brexit’, e como a RTA e a ATA enfrentam esta situação?

João Fernandes – Para já, ao contrário do que era o vaticínio de muitos, o número de dormidas de turistas do Reino Unido está a crescer até Maio, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística, 3.4 por cento. Ou seja, cerca de 64 mil dormidas a mais do que no ano anterior. Os dados do Aeroporto de Faro e da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve apontam no mesmo sentido. O ‘feedback’ que recebemos da hotelaria é que no primeiro semestre de 2019 os britânicos até cresceram na região. E porquê? Para já, porque nós tínhamos um conjunto de instrumentos direcionados para esse efeito. Hoje, estamos ligados a 25 aeroportos no Reino Unido, temos uma diversidade substancial de companhias aéreas, cerca de uma dezena, do Reino Unido para Faro, e temos também reforçado as rotas e até a abrangência durante o ano. Isso deu resultados que estão à vista.

Agora, estamos seguros que, de futuro, ficaremos totalmente garantidos? A partir de Outubro deste ano haverá uma decisão no Reino Unido quanto ao ‘Brexit’? Não sabemos nós, nem sabem os próprios britânicos. Qual será o impacto? Tudo depende da forma como saírem os britânicos da União Europeia. Será sem acordo, será com acordo? Qual será o impacto que terá o ‘Brexit’ na economia britânica? São tudo incógnitas. Aquilo que sabemos é que estamos a fazer tudo para que haja todas condições para os britânicos continuarem a vir para um destino que sentem como seu – o Algarve. Temos cerca de 14 mil residentes britânicos na região, temos uma procura de cerca de seis milhões de dormidas por ano do ponto de vista turístico, e cerca de 50 por cento do nosso fluxo aeroportuário é de origem do Reino Unido. Portanto, temos tudo para continuarmos a ser o destino preferido dos britânicos.