“A política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha”, escreveu João Rosado, evocando o antigo líder social-democrata. Ao Litoralgarve, explicou que o nome de Luís Carito, que foi vice-presidente socialista da Câmara Municipal de Portimão, viria a ser rejeitado pela Comissão Política Nacional do PSD, liderada por Rui Rio, e como tal nem chegou a ser votado na reunião da Distrital do partido, em Faro. Isto, depois de ter sido aprovado pela Concelhia de Portimão.
João Rosado demitiu-se da Comissão Política do PSD de Portimão, de que era vice-presidente, depois de a direção nacional do partido, liderada por Rui Rio, ter decidido não apoiar a candidatura do antigo autarca socialista Luís Carito, como independente, à presidência da câmara local, nas próximas eleições autárquicas que terão lugar em Setembro ou Outubro de 2021.
“Sei onde e com quem estou, tal como sei onde não quero estar e com quem não quero estar. Com a liberdade que me assiste, demiti-me da Comissão Política do PSD de Portimão, regressando à minha condição de militante de base”. Foi desta forma que João Rosado concluiu uma mensagem na sua página na rede social ‘Facebook’, juntando uma foto e uma frase de Francisco Sá Carneiro, antigo líder do partido: “A política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha”.
No texto publicado, João Rosado começou por explicar: “Entrei na vida política quando estas palavras ainda ressoavam na minha memória e permiti que acompanhassem todo o meu percurso político e a minha vida pessoal.
“O que não esperava nesta altura da vida era ser confrontado com a incapacidade dos outros para correrem riscos políticos e, muito menos, com a falta de ética por parte de companheiros de partido.”
“Ao longo de quase 40 anos, cresci politicamente correndo riscos e assumindo os riscos, os meus e os das equipas a que pertencia. Conheci vitórias e derrotas, tive alegrias e dissabores, mas eram nossos, de riscos próprios, de decisões próprias. O que não esperava nesta altura da vida era ser confrontado com a incapacidade dos outros para correrem riscos políticos e, muito menos, com a falta de ética por parte de companheiros de partido”. Ao deixar críticas a nível interno, João Rosado foi, ainda, mais longe: “Vivemos tempos em que a política se converteu em profissão e em plataforma de negócios e, para os que assim norteiam a sua intervenção, é preferível que a segurança se sobreponha ao risco”.
“Há quem não se importe de voltar atrás com a palavra dada e aceite que lhe sejam impostas decisões que melhor sirvam os interesses de terceiros.”
Em seguida, deixou mais recados para o interior do próprio partido: “Há quem não se importe de voltar atrás com a palavra dada e aceite que lhe sejam impostas decisões que melhor sirvam os interesses de terceiros. Quem não se importe de esperar pacientemente que um dia chegue a sua vez e tenha o seu lugar seguro, sem riscos, sem ânimo e sem éticas, mas causando vergonha”.
“Sei onde estou e com quem estou, tal como sei onde não quero estar e com quem não quero estar. Com a liberdade que me assiste, demiti-me da Comissão Política do PSD de Portimão, regressando à minha condição de militante de base”, finalizou João Rosado, nesta sua mensagem no ‘Facebook’.
PSD de Portimão “tinha aprovado, com uma abstenção” o apoio ao ex-autarca socialista Luís Carito, mas Rui Rio “informou, previamente, a Distrital que não iria ter o seu aval”
Já em declarações ao Litoralgarve, João Rosado lembrou que a Concelhia de Portimão “tinha aprovado,com uma abstenção”, o apoio ao nome de Luís Carito para ser candidato, como independente, à presidência da Câmara Municipal de Portimão. O assunto não foi votado na reunião da Distrital de Faro do PSD, realizada no passado sábado, dia 03/04/2021, porque, entretanto, a direção nacional do partido, presidida por Rui Rio, “informou, previamente, a Distrital que o doutor Luís Carito não iria ter o seu aval”, revelou, ao nosso Jornal, o ex-dirigente do PSD de Portimão.
João Rosado classificou a aposta inicial do partido em Luís Carito como um “risco calculado”, destacando a “estratégia, o rumo para a cidade e para o concelho de Portimão, que demonstrou durante os anos em que foi vice-presidente da Câmara Municipal”.
“Tive o cuidado de ler o acórdão do Tribunal de Portimão e até o papel, que se dizia que [Luís Carito] tinha engolido a quando das buscas da Polícia Judiciária à sua moradia, afinal existe e está no processo”
Por outro lado, fez questão de frisar que Luís Carito acabou por ser “ilibado, em tribunal, de todos os crimes de que foi acusado, no processo judicial, pelo Ministério Público, que, depois, pediu a sua absolvição”. “Tive o cuidado de ler o acórdão do Tribunal de Portimão e até o papel, que se dizia que tinha engolido aquando das buscas da Polícia Judiciária à sua moradia, afinal existe e está no processo. O conteúdo é conhecido das autoridades e, repito, o doutor Luís Carito foi absolvido de todos os crimes de que era acusado, incluindo o da questão do papel. A propósito, ele esclareceu que tomou uma atitude irrefletida, tendo agido sob ‘stress’, quando a Polícia Judiciária entrou na sua casa às 07h00 para realizar buscas”, observou João Rosado, que agora se demitiu da Comissão Política do PSD de Portimão, em discordância com o partido no processo das eleições autárquicas.
José Manuel Oliveira