André Ventura, líder do Partido Chega!: Nas autárquicas, “em cada Distrital estão os meus generais da batalha, com quem irei à guerra. Mas se o resultado for mau, eu estarei a assumir a responsabilidade na noite das eleições”

O   Chega!  terminou  o   VII   Conselho   Nacional,  que   decorreu    no   Pavilhão    Multiusos   de    Sagres,  nos   dias   02   e   03    de   Julho   de   2021,  em   ambiente   festivo,     próprio    de   uma    discoteca,    com    os    participantes,  alguns   deles    sem     máscara,     a     dançarem    ao    som   da      música    da    célebre    canção   ‘YMCA’,    do      grupo    norte-americano   ‘Village   People’.    No   palco,    André   Ventura   distribuiu    beijos    a    senhoras   (com máscara),   mas    ninguém    pareceu   preocupado    em     manter    o    distanciamento   físico   imposto    pela    Direção-Geral   da    Saúde    para    controlar a    Covid-19,  nesta   quarta    fase   da     pandemia    em    que  os   casos    de    infeção    não     param    de    aumentar,   nomeadamente  no    Algarve  e,   em   particular,    no    concelho    de   Vila   do   Bispo,   onde    se   realizou   o    encontro    partidário.

O presidente da Direção Nacional do Chega! e deputado do partido na Assembleia da República,  André Ventura, insistiu em lançar avisos a Rui Rio, líder do PSD, e ao primeiro-ministro, o socialista António Costa, no VII Conselho Nacional, que teve lugar nos dias 02 e 03 de Julho de 2021, no Pavilhão Multiusos de Sagres, com cerca de uma centena de elementos. “Nós não somos a Direita fofinha que Portugal estava habituado a ter. Nós não dizemos uma coisa à sexta, ao sábado outra e ao domingo outra. Nós não andamos na cama com António Costa, nem andamos no Parlamento a fingir que fazemos oposição”, afirmou. “Nós não somos a Iniciativa Liberal, nem o PSD nem o CDS!” – gritou André Ventura, em pleno palco, na sessão de encerramento, no sábado, 03 de Julho, entre fortes aplausos dos conselheiros do Chega!, de pé, na sala, ao mesmo tempo que desfraldavam bandeiras do partido e de Portugal, e a música agitava ainda mais o ambiente.

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“Aqueles que pensavam que este Conselho Nacional viesse a clarificar as ‘linhas vermelhas’ para uma força de governo, afinal enganaram-se. E se acharam que nos cederemos por força da História ou da conveniência política, nós neste Conselho Nacional deixámos muito claro aquilo de que não abdicamos. Não abdicamos de uma reforma na justiça, a reforma que há muitos anos nos foi tirada”,  realçou.

Dois    dias    de    Conselho    Nacional    permitiram       um      programa     “firme    e    inovador,     sem   receio   do    futuro”

Numa intervenção que começou pelas 20h17m e se entendeu por 25 minutos, tendo sido interrompida várias vezes com aplausos e gritos de apoio ao líder do Chega!, André Ventura destacou o programa “firme e inovador” do partido, “sem receio do futuro”, resultante deste Conselho Nacional. E até o classificou como “o melhor programa dos partidos na Assembleia da República”. “Os outros não têm programa”, notou, com alguma ironia à mistura. Perante isso, admitiu, também em jeito irónico, que “agora que foi aprovado um programa sólido e coerente”, já “não vai interessar falar do Chega”, partido que, como disse, acusavam de viver do “show-off” e da “gritaria” parlamentar.

“Quando não tínhamos, ou tínhamos aquilo que eles achavam que não era um programa, passavam horas nas televisões”, a acusar: ‘não têm programa, não têm programa, querem destruir a saúde e a educação’. Agora que o tem, vai ser bola, zero, aquilo que vão falar do programa porque este é um programa para o futuro de Portugal”, insistiu André Ventura.

“E se Coimbra [o congresso], marcou uma reviravolta no nosso partido, Sagres [com o VII Conselho Nacional] vai ser o pontapé de História para o nosso futuro (ouviram-se palmas). Há lugares que ficam enraizados na nossa memória (…) A história de homens e mulheres que se dedicam a trabalhar para conseguir para os portugueses um programa sem medo e sem receio do futuro”, reforçou o presidente do Chega, sendo, novamente, interrompido por fortes aplausos dos participantes neste encontro e aos gritos «André! André! André!»

“Tropeçamos   em   cargos   políticos”

Na opinião de Ventura, outros partidos teriam “recuado” perante “a pressão mediática a dizer chega” sobre a prisão perpétua, a subsídio-dependência, a educação e a saúde. “Nós não abdicamos da reforma política em Portugal”, sublinhou, considerando que há “maus e bons políticos”. “Mas o que temos é o excesso de políticos que nunca se viu em nenhum outro país, desde os lugares mais baixos aos mais elevados. Tropeçamos em cargos políticos” nas mais variadas instituições, lamentou o presidente do Chega!, uma vez mais com um tom de voz elevado.

“Este     partido      não     pode    exigir      aos    portugueses      e      a       Portugal,     à   Assembleia      da      República,      todos      os    dias      disciplina     e       sermos     o    partido   mais      indisciplinado”    do      país   (…)  O   Chega    não     olha    a     lugares,    a cargos,   a começar  por   mim    próprio.   A   disciplina  será para    todos!”

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Num recado, desta vez a nível interno para o seu partido, André Ventura apelou “à disciplina de que precisamos”. “E este Conselho Nacional foi muito importante”, disse, referindo-se ao papel do Conselho de Jurisdição. “Nós não estamos aqui para expulsar ninguém. Temos o dever cívico de união e de unidade. Meus amigos: este partido não pode exigir aos portugueses e a Portugal, à Assembleia da República, todos os dias disciplina e sermos o partido mais indisciplinado” do país. Na sala, ouviram-se, de novo, mais aplausos. “Ninguém tem o direito de destruir o nome do partido”, avisou André Ventura, frisando que não existe “nenhum privilégio” para quem quer seja, “a começar por mim próprio”. E acrescentou: “Isto não é uma empresa familiar, é um partido. E os portugueses são os militantes. O Chega não olha a lugares, a cargos, a começar por mim próprio. A disciplina será para todos!”. A plateia voltou a aplaudir o líder e alguns mesmo de pé.

Conselho      Nacional    extraordinário    do   Chega!   irá    analisar    os    resultados    das    eleições    autárquicas,   que   terão    lugar   no   dia    26   de   Setembro   de    2021  

Na parte final do seu discurso, André Ventura debruçou-se sobre as eleições autárquicas que terão lugar no dia 26 de Setembro de 2021. Após assumir que quer ser o terceiro partido mais votado, como de resto têm indicado várias sondagens, lembrou que em cada Distrital do Chega estão os seus “generais da batalha, com quem irei à guerra”. Mas “se o resultado for mau, a responsabilidade será sempre do seu presidente e eu estarei a assumi-la na noite das eleições”, garantiu, entre palmas dos participantes neste encontro. E desde já, André Ventura prometeu que irá propor a realização de um Conselho Nacional extraordinário para analisar os resultados deste ato eleitoral.

Há   partidos   como  o   CDS  e  a   Iniciativa Liberal,   que  “por   vergonha    do    resultado   que    terão    nas    eleições    autárquicas,   se   andam    a    deitar    com    o     PSD    em    todas   as   listas    do    país    (…)  Eu    não    sei    se    vamos    cantar    vitória,    ou    não,     mas    o    que     sei    é    que    os     votos    que     tivermos     serão     nossos,    do     nosso      trabalho     e      não     de   coligações   fictícias”

Dirigindo-se aos adversários à Direita que, “por vergonha do resultado que terão nas eleições autárquicas, se andam a deitar com o PSD em todas as listas do país”, o líder do Chega disse não saber, naturalmente, se irá cantar vitória na noite de 26 de Setembro, mas se o fizer, será pelo trabalho exclusivo do seu partido.

“E por isso, quer ao CDS, quer à Iniciativa Liberal, quer a todos os que acham que é por irem embrulhados com o PSD, que vão cantar vitória na noite eleitoral, há uma coisa que eu vos garanto: eu não sei se vamos cantar vitória, ou não, mas o que sei é que os votos que tivermos serão nossos, do nosso trabalho e não serão de coligações fictícias”, salientou.

“O Chega! quer chegar ao governo de Portugal”, voltou a insistir, a certa altura, André Ventura, garantindo que “este partido nunca se vergará perante ninguém”, num país, onde “o nosso povo está cansado de ser traído e roubado!”

Música   da    canção    ‘YMCA’   em   ambiente     festivo       fazia      lembrar      uma     discoteca,    sem     preocupações    com   a   Covid-19

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O discurso de André Ventura terminou pelas 20h40m, tendo-se ouvido, em seguida, o Hino Nacional. Pouco depois, num ambiente que mais fazia lembrar uma discoteca, com os participantes, alguns deles sem máscara, do VII Conselho Nacional do Chega! a dançarem ao som da música da canção ‘YMCA’, lançada em 1978 pelo grupo norte-americano ‘Village People’. No palco, André Ventura distribuiu beijos a senhoras (com máscara), mas ninguém pareceu preocupado em manter o distanciamento físico imposto pela Direção-Geral da Saúde para tentar a controlar a Covid-19, nesta quarta fase da pandemia em que os casos de infeção não param de aumentar, nomeadamente no Algarve, e em particular no concelho de Vila do Bispo, onde se realizou este encontro partidário.

Prisão   perpétua   e    cadastro   étnico-racial no    programa    aprovado    pelo    Chega!

No dia 03 de Julho, sábado, o Conselho Nacional do Chega aprovou, por maioria, propostas de aditamento e substituição, ou alteração da redação original de artigos contidos no seu novo programa. O documento inclui menos propostas concretas e deixa de fora algumas ideias, como a referência a uma “profunda revisão da Constituição”, e as medidas que queria implementar nesse âmbito, como a presidencialização do regime, ou a redução do número de deputados e de ministérios.

Ventura já tinha anunciado, no início dos trabalhos, que iria ter mão de ferro no partido e foi isso que verificou durante a reunião deste Conselho Nacional. As propostas da Direção foram aprovadas. Duas delas não se encontravam no programa inicial, mas o presidente do Chega! já as tinha incluído no seu discurso inaugural. E no sábado, propôs que fossem incluídas no documento. No ponto 50, o partido defende, “intransigentemente”, a aplicação de pena de prisão perpétua para a criminalidade mais grave e violenta, como homicídios e violações, recusando a participação numa coligação parlamentar, ou de governo que inviabilize a consideração jurídico-legal desta solução. Depois de o presidente da Mesa, Luís Graça, ter explicado aos conselheiros nacionais o que estavam a votar, a medida ‘prisão perpétua’ foi aprovada por unanimidade e aclamação.

Por outro lado, acabou também por ser aprovada, apenas com uma abstenção, a criação de um cadastro étnico-racial, depois de  André Ventura ter subido ao palco, a fim de elucidar os militantes acerca do que pretende. “É uma base de dados étnico-racial para avaliar os níveis de subsídio-dependência em Portugal, para finalmente conseguirmos dar um passo num problema”, esclareceu.

O presidente do Chega! pretende que aquilo a que chama “comunidade de subsídio-dependentes” seja identificada, se saiba onde vivem, quanto recebem e se têm criminalidade associada. Contudo,  recusou a ideia de que está a ser racista.

Um dos conselheiros, Nuno Afonso, coordenador autárquico, queria afastar a ideia da existência de quotas para a imigração, propondo um sistema de pontos. No entanto, Ventura  deu o exemplo da comunidade islâmica que não considera ser igual a outras. “A única hipótese é regular a imigração islâmica, senão teremos um problema muito grave em território português”, advertiu. E até deu o exemplo de Bruxelas, capital da Bélgica, onde, na sua perspetiva, quando se sai do centro da cidade “parece que estamos na Arábia Saudita”.

Só   poderá    ser   readmitido   cinco   anos   depois     um    militante    que    agora    opte   por    se    desfiliar      do    partido        

Sobre alterações ao regulamento disciplinar, um dirigente do Conselho de Jurisdição do Chega!, depois de dizer que este órgão atua de “olhos nos olhos e não temos medo de tomar decisões”  (na sala, os participantes aplaudiram de pé), assegurou ser “célere, mas não rápido”. “Não há super-homens. Não sou super-homem”, observou, referindo-se, em especial, “a processos de excecional complexidade, tal como nos tribunais”  (mais aplausos). Entre outras medidas, a desfiliação de um militante impede que o mesmo possa ser readmitido no partido no prazo de cinco anos.

“Prefiro   estar    40   anos   na  oposição    do    que   quatro   anos   num    governo   corrupto!”  O  Chega!   não    aceitará    “ser   encostado   à    parede”   nem   integrar   um    governo    contra    a   prisão    perpétua

Uma das frases de André Ventura, que mais aplausos arrancou no discurso de abertura do VII Conselho Nacional do Chega!, na sexta-feira, dia 02 de Julho de 2021, no Pavilhão Multiusos de Sagres, foi a seguinte: “Prefiro estar 40 anos na oposição do que quatro anos num governo corrupto!”

“Queremos ser governo, não muleta, nem partido do sistema”, sublinhou André Ventura, para quem foi esse o “erro do CDS”. E aproveitou, então, para deixar vários recados ao PSD, ao garantir que não aceitará “ser encostado à parede” nem integrar um governo que seja contra a prisão perpétua. Referindo-se a crimes como homicídio, terrorismo, violações ou crimes sexuais “quando ocorridos em contexto especialmente censurável ou repetido”, o presidente do Chega! garantiu que este partido não fará “parte de nenhum governo que não promova, na Assembleia da República, a prisão perpétua contra esse tipo de crimes”. “E o PSD se pensa que nos encosta à parede a dizer «ou isto, ou a parede», nós devemos dizer-lhes: «a parede, a parede», porque é isso que terão da nossa parte”. Palmas na sala.

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“Se   um   hospital    público    não    tiver condições”   para     tratar  os    doentes,   “o   privado,    ou    outro,    poderá    assegurar     os    serviços    necessários,    pois    o    importante    é    o   cidadão”

Nessa altura, durante uma intervenção com a duração de cerca de uma hora, André Ventura destacou áreas como a saúde e a educação, em que defendeu “modelos de convivência, modelos de cooperação e de convívio entre o sector público e o privado”. E apontou o exemplo alguém que recebe 600 euros de salário mensal só poder, naturalmente, ter filhos a estudar numa escola do sector público. Já quem tiver outras possibilidades, poderá colocar os filhos em escolas privadas. “O Estado deve apoiar o público e o privado”, frisou André Ventura, que quer “mais autoridade dos professores nas escolas”.

No tocante à saúde, o deputado e presidente do Chega! insistiu que deve haver “congregação” e “concorrência” entre os sectores público e privado, notando que “quem ganha com isso é o utente e o emprego” dos profissionais nessa área. Apontou o caso de Braga, onde existia uma parceria público privada, “e agora não há”, acrescentando que “em Cascais pode vir a acontecer o mesmo”.  

“Se um hospital público não tiver condições” para tratar os doentes, “o privado, ou outro, poderá assegurar os serviços necessários, pois o importante é o cidadão”, salientou André Ventura. “A obrigação social na saúde é a assistência” às pessoas.

Já a nível internacional, disse que o Chega! “não quer a saída de Portugal da União Europeia, nem do euro”, interrogando-se se “devemos, ou não, controlar fronteiras”. E observou que “na Europa tem de estar tudo alinhado, nenhum país pode caminhar sozinho”. Na sala ouvirem aplausos.

“Presidente   da   República   não   pode   ser   um   prémio   de   fim   de   carreira”

Por outro lado, no que respeita à Presidência da República, André Ventura preconiza o modelo presidencialista, “um modelo com mais transparência e mais eficácia”. “O Presidente da República não pode ser permanentemente desautorizado”, frisou o líder do do Chega!, para quem o cargo de “Presidente da República não pode ser um prémio de fim de carreira”, nem um corta-fitas.

Um dos maiores problemas que existe, hoje, na sociedade portuguesa, segundo André Ventura, é o “medo de falar, medo de usar a palavra”. Ouviram-se, de novo, fortes aplausos na sala. Sobre a subsídio-dependência, defendeu a necessidade de “identificar os problemas”, em que situação vivem essas pessoas, referindo-se à comunidade de etnia cigana. “É preciso identificar dados, não para punição, mas para tratar esses dados”, observou André Ventura. É preciso dizer “não ao politicamente correto”, reforçou.

José Manuel Oliveira

Fotos: Partido CHEGA