“A SEGUNDA ONDA DE COVID PODE VIR A COINCIDIR COM A PRÓXIMA GRIPE NO INVERNO. ESTA SERÁ UMA DAS NOSSAS PREOCUPAÇÕES E JÁ ESTAMOS A TRABALHAR PARA NOS PREPARARMOS” – AVISA O MÉDICO PAULO MORGADO, PRESIDENTE DA ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO ALGARVE

“Até estamos muito longe de atingir o grau de saturação e caos que vemos noutras regiões do mundo por causa da Covid”, afirma o principal responsável da ARS, garantindo a situação “controlada, em fase descendente” no Algarve. Delegada de Saúde Regional preocupada sobretudo com o Lar da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime, no concelho de Loulé.

“Temos 15 doentes internados, três dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos, temos 141 recuperados neste momento, 261 em vigilância ativa, mantemos 13 óbitos e temos 13.493 casos infirmados (cumulativo), ou seja testes com resultados negativo. E  temos 331 casos confirmados”. Foi deste modo que a Delegada de Saúde Regional do Algarve, Ana Cristina Guerreiro, iniciou a habitual conferência de imprensa semanal, no dia 01/05/2020, na sede do Comando Regional de Emergência e Proteção Civil do Algarve, em Loulé, para apresentar o estado da evolução do novo coronavírus, Covid-19, nesta região do Sul do país.

  Em comparação com o documento distribuído aos jornalistas há uma semana sobre a situação epidemiológica no Algarve, atualizada às 00:00 horas, de 24 de Abril de 2020, de acordo com os dados fornecidos pela Autoridade de Saúde Regional, registam-se mais 11 casos confirmados (cumulativo), um acréscimo de 3.808 casos infirmados (cumulativo), isto é, testes com resultado negativo, menos seis internados, menos um doente internado em Unidade de Cuidados Intensivos, mais 61 recuperados e mais duas vítimas mortais.

Da “maior preocupação” no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime, no concelho de Loulé,    até à “situação bastante positiva” entre os migrantes no Algarve, destaca a Delegada de Saúde Regional, Ana Cristina Guerreiro

Segundo a Delegada de Saúde Regional, a situação com “maior preocupação” continua a ser o Lar da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime, no concelho de Loulé, onde “ainda estão 12 residentes positivos”, e “dois no Hospital de Faro”, além de “11 funcionários positivos, que estão em casa a fazer a sua recuperação.”

Já em relação aos migrantes, a “situação é bastante positiva”, garantiu Ana Cristina Guerreiro, sublinhando que “têm vindo a recuperar, vão ter alta e regressam para os seus domicílios. Têm a situação controlada.” No concelho de Tavira, dos 19 trabalhadores estrangeiros alojados na Zona de Apoio à População, em Santo Estevão, ainda existem “16 positivos, mas só um sintomático”, enquanto que os restantes estão a “fazer os seus percursos”. Melhor é a situação no concelho de Albufeira, onde já não se registam casos positivos entre trabalhadores migrantes. E apenas “três pessoas” continuam realojadas numa unidade hoteleira, em recuperação. “Já não são focos de preocupação muito grandes”, observou aquela responsável. No concelho de Silves, “houve também várias altas ao longo da semana” em Armação de Pera.“No Algarve, neste momento, estamos muito mais tranquilos”, congratulou-se a Delegada de Saúde Regional.

Apoio psicológico a doentes e a profissionais de saúde

De resto, esse sentimento foi reforçado pelo presidente do Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, Paulo Morgado, ao destacar que, desde o dia 12 de Abril, “a situação está controlada, em fase descendente.” Existem “20 profissionais de saúde infetados, mas nenhum inspira cuidados e alguns deles irão passar a recuperados nos próximos dias”, salientou. Por outro lado, o serviço de apoio psicológico a utentes e profissionais de saúde já recebeu 48 pedidos, tendo aquele responsável reconhecido o “medo, pânico” associados a esta nova doença provocados pelo impacto emocional nas pessoas.

“Estamos mais preparados para uma segunda onda, no Serviço Nacional de Saúde, de modo a poder dar uma resposta tão boa ou melhor”, garante o presidente da ARS/Algarve, Paulo Morgado

O que passa, a partir de agora, a preocupar mais o presidente da ARS/Algarve, é o “risco de uma segunda vaga desta pandemia”. “Apesar de não sabermos quando será, a segunda onda de Covid muito provavelmente vai acontecer”, advertiu, lembrando que “não estamos isolados, ou seja, Portugal, o Algarve não é uma ilha.” “A segunda onda pode vir a coincidir com a próxima gripe no Inverno. Esta será uma das nossas preocupações e já estamos a trabalhar para nos preparamos” para tal, avisou Paulo Morgado, para quem é preciso “vacinar mais pessoas contra a gripe normal.”

“Estamos mais preparados para uma segunda onda, no Serviço Nacional de Saúde, de modo a poder dar uma resposta tão boa ou melhor”, insistiu o presidente da ARS/Algarve, reforçando a ideia de que “já estamos a preparar o próximo Inverno.” “Não vamos desativar nenhum dos serviços que temos neste momento preparados, quer nos Centros de Saúde, quer nos hospitais. Cuidados de saúde primários, centros de saúde, hospitais devem manter-se todos em pleno funcionamento no Verão e para além do Verão. Portanto, estamos em alerta para uma eventual segunda onda. Se uma segunda onda Covid se juntar à onda da gripe, será um problema acrescido dos serviços de saúde. Estamos já a trabalhar nesse sentido”, sublinhou Paulo Morgado.

“Lutamos pelo reforço de mais profissionais dentro do possível. E temos de contar sobretudo com os recursos que já temos”

Questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de haver reforços de profissionais de saúde no próximo Verão, o presidente da ARS lembrou que o Algarve conta com “menos meios do que gostaríamos e seriam desejáveis.” Contudo, notou, “até estamos muito longe de atingir o grau de saturação e caos que vemos noutras regiões do mundo por causa da Covid.” Quanto a reforços de meios humanos, a situação encontra-se em análise, “o modelo final ainda não está completamente definido”, disse Paulo Morgado, admitindo que “não está excluída a mobilidade como noutros anos, para além da contratação direta, tal como fizemos neste período de Covid.” “Lutamos pelo reforço de mais profissionais dentro do possível. E temos de contar sobretudo com os recursos que já temos”, frisou.

Sobre o regresso ao trabalho, em Portugal, para muita gente nos próximos dias, com a reabertura gradual da economia e o consequente risco de novos casos do novo coronavírus, Paulo Morgado apelou para que se tente “controlar ao máximo a cadeia de contágio”, de forma a “evitar que a situação se torne incontornável”. “Os nossos serviços de saúde têm feito um excelente trabalho contra uma doença não conhecida” e a evitar, assim, que muitas pessoas adoeçam.

A imagem pode conter: 1 pessoa, interiores

“Até agora, não esgotámos nem metade da capacidade de resposta instalada” na saúde

Apesar da expectativa de poder haver menos turistas no próximo Verão no Algarve, Paulo Morgado assegurou que os serviços de saúde manter-se-ão todos em funcionamento “e se for preciso abrir mais, abriremos.” “Até aqui, nesta onda de pandemia, o Algarve tem dado resposta”, destacou aquele responsável da ARS, observando que “até agora, não esgotámos nem metade da capacidade de resposta instalada.”

Destacou, no serviço de saúde pública a nível nacional, “o grande trabalho que tem sido feito, no sentido de controlar ao máximo aquilo que é as cadeias de contágio, isolando as pessoas, evitando contactos. Evita que a situação se torne incontrolável. Os serviços estão cada vez mais preparados para dar uma resposta diferente”.

“É preciso mais forças de segurança nas ruas para garantir que as normas são cumpridas”, defende o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve/AMAL, António Pina

Por seu turno, o autarca António Pina, presidente da Comissão Distrital da Proteção Civil e da Comunidade Intermunicipal do Algarve / AMAL, dirigiu um apelo à população para uma “consciência cívica com o aumento de liberdade” a partir de domingo perante o fim do estado de emergência nacional e na segunda-feira a livre circulação em Portugal. “É preciso mais polícia nas ruas, mais forças de segurança nas ruas, para garantir que as normas são cumpridas”, afirmou António Pina, mostrando-se, no entanto, convicto de que “os cidadãos manterão a mesma atitude e consciência cívica em respeito das regras”, numa alusão, nomeadamente, ao uso obrigatório das máscaras em espaços fechados e ao distanciamento social. Já em relação à abertura das praias no Algarve, António Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão, referiu que “o mês de Maio será para organizar, ver tudo”, para a criação, designadamente, de um manual de regras destinado à época balnear.

Polícia Municipal e fiscais das câmaras poderão apoiar Autoridade Marítima nas praias

Em declarações ao ‘Litoralgarve’, questionado sobre o reforço de meios humanos por parte dos municípios para fiscalizar, nomeadamente esplanadas e outros locais públicos, de modo a garantir o distanciamento de dois metros entre as pessoas, António Pina recordou que “alguns têm polícia municipal, outros têm fiscais. Mas essa é uma preocupação de todos.” E quanto a férias do pessoal camarário no Verão, respondeu: “Não, necessariamente.” “Teremos de nos envolver nessa fiscalização para que a mesma tenha sucesso. A gente nunca sabe qual é a necessidade do pessoal, mas teremos de contribuir para esse esforço”, avisou o autarca.

Acerca do plano de boas práticas nas praias e noutros locais públicos, António Pina limitou-se a dizer: “estamos a trabalhar em conjunto. Ainda na quinta-feira, numa reunião coordenada pela Agência Portuguesa do Ambiente, com a equipa da Bandeira Azul e todas as Comunidades Intermunicipais que têm praias (também há praias do interior e praias fluviais), estivemos a conversar, a pôr ideias em cima da mesa, porque especialmente no Algarve a utilização das praias é determinante para a recuperação do turismo. Mas também é preciso garantir que a segurança e a fiscalização existem.”

O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve / AMAL admitiu que o pessoal das câmaras poderá vir a ser mobilizado para as praias, tendo em vista ajudar a Polícia Marítima a controlar as pessoas, de forma a manterem as distâncias de dois metros entre elas, além de outras regras. “É um dos temas que estamos a estudar com a Autoridade Marítima. Desde logo, as policiais municipais podem fazê-lo naqueles municípios em que a competência das praias já foi assumida. As câmaras também têm os seus fiscais. Aqui, a questão é saber se já assumiram as competências das praias, ou não”, notou António Pina.

Fatacil em Lagoa, Festival do Marisco de Olhão e outros eventos de Verão? “A situação não é fácil”

Já em relação a eventos de Verão, como por exemplo a FATACIL, em Lagoa, que junta milhares de pessoas de várias zonas do Algarve e do país todos os anos durante mais de uma semana em Agosto, e o Festival do Marisco de Olhão, entre muitos outros, António Pina considerou prematuro tomar decisões, mas reconheceu dificuldades na sua realização devido às consequências impostas pela Covid-19. “Vamos esperar mais uns dias. Mas a situação não é fácil. Neste momento, é prematuro dizer alguma coisa sobre o assunto. Agora, que está a ser pensado e conversado entre todos, com certeza que sim. Faz parte das preocupações”, afirmou.

“Não me parece que vá haver uma invasão exagerada no Algarve”

E como encara o próximo Verão? “O Verão será tanto melhor quanto mais responsáveis as pessoas sejam durante o mês de Maio e o de Junho”, defendeu António Pina. Já sobre a possibilidade de se verificar uma ‘invasão’ no Algarve, depois do desconfinamento e durante o período do Verão, o autarca mostrou-se cauteloso: “não me parece que vá haver uma invasão exagerada no Algarve. Bom… mas o Algarve já é invadido por norma no Verão. Neste ano, se calhar poderemos ter metade dessa invasão.” E após uma breve pausa, concluiu: “considerar que isso é uma invasão, não me parece. Em Agosto, quintuplicamos a população. Portanto, já estamos habituados a ser invadidos. Se calhar neste Verão, vamos ser invadidos de uma forma muito reduzida.”

Zonas de Apoio à População nos 16 concelhos do Algarve, com um total de 3.440 camas para isolamento profilático, quarentena e reserva social em auxílio a lares de idosos

Existem 70 Estruturas com capacidade de 3.440 camas de três tipologias (Isolamento profilático, Quarentena e Reserva social (apoio a lares) nas Zonas de Apoio à População validadas pelas autoridades de saúde e instaladas nos 16 municípios do Algarve. No total, são menos 69 camas em relação ao número de há uma semana. E estão acionadas três Zonas de Apoio à População nos municípios de Albufeira e de Tavira, para quarentena / isolamento profilático.

Por outro lado, ao nível de unidades hoteleiras e militares de reserva, igualmente validadas pelas autoridades de saúde em todos concelhos desta região, há 103 Estruturas (mais uma), com capacidade de 1.276 camas, o que corresponde a um aumento de 109.

Testes a todos os funcionários das creches antes da sua abertura no dia 18 de Maio

 Na apresentação do dispositivo disponível, o Comandante Operacional Distrital da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Vítor Vaz Pinto, destacou, também, os testes efetuados aos utentes e funcionários dos lares de idosos no Algarve, na sequência do protocolo celebrado entre o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e o laboratório ‘Algarve Biomedical Center’ (ABC), instalado em Faro. Assim, de 31 de Março até às 20h00 do dia 30 de Abril, foram realizados 5.852 testes, ou seja 97,4 por cento dos que estavam inicialmente previstos, em 69 estabelecimentos nos 16 concelhos desta região, e 154 re-testes.

Com a abertura das creches, previstas para o dia 18 de Maio, serão levados a efeito testes para rastreio SARS-CoV-2, a todos os funcionários antes da abertura destes equipamentos. A Comissão Distrital de Proteção Civil de Faro aponta para um total de 116 creches no Algarve, a que correspondem 1.675 funcionários.

Reportagem de José Manuel Oliveira