Por Carlos Tendeiro
Presidente da Direção da Associação Sócio Profissional dos Guardas-Nocturnos
Guarda Nocturno em Lagos
Lagos, 11 de dezembro de 2025 — Duas décadas se completam hoje sobre a madrugada que enlutou a Polícia de Segurança Pública e, sobretudo, toda a comunidade de Lagos. O chefe Sérgio Martins, um polícia exemplar com 24 anos de serviço, foi baleado mortalmente numa barreira policial na sequência de uma tentativa frustrada de assalto a uma caixa multibanco em Budens, no concelho de Vila do Bispo, local onde se encontrava com mais 3 elementos policiais e dois Guardas-Noturnos. Este é um momento de reflexão sobre o sacrifício dos que servem a segurança pública e a importância de preservar a memória daqueles que perderam a vida no cumprimento do dever.
Uma Vida de Serviço e Dedicação
Nascido em Lourinhã a 25 de agosto de 1956, Sérgio Manuel Patrício Martins ingressou na Polícia de Segurança Pública em 5 de janeiro de 1981, aos 24 anos. Ao longo de mais de duas décadas de carreira, foi-se consolidando como um elemento exemplar da instituição, alcançando sucessivas promoções que refletem o seu desempenho excecional.
A trajetória profissional do chefe Martins foi marcada por diversas responsabilidades. Exerceu funções como chefe no Comando Metropolitano de Lisboa, bem como nos comandos policiais de Leiria, Ponta Delgada e Faro. Entre março de 1982 e novembro de 1992, integrou o prestigiado Grupo de Operações Especiais, especialidade que o preparava para as situações mais complexas do policiamento operacional.
Para além da sua dedicação profissional em território nacional, o chefe Martins respondeu também ao chamamento do serviço internacional. Foi elemento da força de paz das Nações Unidas destacada na Jugoslávia, onde permaneceu durante doze meses, entre abril de 1993 e março de 1994. Este período revelava um polícia comprometido não apenas com a segurança nacional, mas também com a paz internacional.
No contexto de Lagos, onde se encontrava como chefe da PSP local, o chefe Martins era figura conhecida e respeitada, um profissional que se demarcava pelo seu empenho e integridade.
Deixou uma família, estava casado com Maria da Conceição da Cruz Tomás Martins e era pai de dois filhos com 12 e 20 anos à data da sua morte.
A Madrugada Trágica de 11 de Dezembro de 2005
Na madrugada de 11 de dezembro de 2005, um grupo criminoso conhecido como ‘o gang do Pecas’, liderado por Augusto Suarez, decidiu cometer um assalto à caixa multibanco do Hipermercado Ecomarché, em Budens, no concelho de Vila do Bispo. Contudo, a ousadia criminosa encontrou a resistência planeada das forças policiais.
O chefe Sérgio Martins integrava uma barreira policial estrategicamente posicionada à entrada de Lagos para deter os suspeitos de assalto. Porém, no confronto com os criminosos, um dos membros do gang efetuou disparos contra os agentes policiais. Um desses disparos atingiu mortalmente o chefe Martins na cabeça, causando morte imediata.
De acordo com as investigações levadas a cabo pela Polícia Judiciária, os membros do grupo foram posteriormente identificados através de imagens captadas por câmaras de filmar instaladas num posto de abastecimento de combustível.
A Justiça no Caminho da Verdade
A Polícia Judiciária demonstrou eficácia operacional. Em dezembro de 2005, apenas poucos dias após o crime, foi efetuada a detenção de quatro membros do gang em Sevilha, Espanha, incluindo Florentino Ramirez, o presumível autor dos disparos fatais. Os mandados de detenção europeus foram cumpridos com a colaboração das autoridades policiais espanholas.
O processo judicial foi complexo e moroso, como é frequente nos casos de maior gravidade.
Em abril de 2007, a decisão instrutória foi conhecida no Tribunal de Portimão, mantendo a acusação apenas de dois dos sete membros do gang pelo crime de homicídio qualificado — Augusto Suarez (Pecas) e Florentino Ramirez — enquanto os restantes cinco eram acusados de tentativa de homicídio na troca de tiros ocorrida durante a tentativa de assalto.
A família do chefe Martins havia requerido a abertura de instrução, pretendendo que todos os sete elementos fossem acusados pelo crime de homicídio qualificado. Contudo, o entendimento da juíza de instrução foi diferente, mantendo apenas os dois arguidos como acusados do homicídio qualificado.
O Desfecho das Condenações
Em outubro de 2007, o Tribunal de Portimão proferiu sentença condenando os sete membros do gang a penas que variaram entre seis anos e seis meses e vinte e dois anos de prisão, sendo as penas mais elevadas aplicadas aos homicidas.
Os restantes cinco elementos do grupo, acusados de crimes relacionados com a tentativa de homicídio e assalto, receberam penas inferiores, dentro do intervalo estipulado entre seis anos e seis meses e vinte e dois anos. Dentre estes figurava Mário Soares dos Anjos, que enfrentava acusações de tentativa de homicídio, assalto e posse ilegal de armas.
Uma Memória Que Permanece
Vinte anos após aquela madrugada trágica, a memória do chefe Sérgio Martins continua presente em Lagos e na PSP. A Câmara Municipal de Lagos colocou o seu nome numa rua da antiga freguesia de São Sebastião, em fevereiro de 2007. Mais significativamente, as comemorações do 79.º aniversário do Comando da PSP de Faro realizaram-se em Lagos, em 2007, em sua homenagem.
Nesta data de reflexão, é justo reconhecer que o chefe Martins não era apenas um número nas estatísticas da criminalidade. Era um pai, um marido, um profissional dedicado que enfrentava diariamente os perigos inerentes à segurança pública. A sua morte no cumprimento do dever serve como recordação solene da responsabilidade que repousa sobre os ombros daqueles que escolhem servir.
A Polícia de Segurança Pública perdeu um dos seus, mas a instituição continua o seu trabalho de proteger e servir a comunidade. É essa dedicação contínua que honra a memória daqueles que caíram.
Homenagem aos Caídos em Serviço
O sacrifício do chefe Sérgio Martins não é isolado. Entre 1985 e 2008, quinze polícias morreram em serviço em Portugal, de acordo com dados do Sindicato dos Profissionais de Polícia. Cada um deles deixou uma família, uma comunidade, um legado de serviço.
Nesta data de aniversário, as autoridades, a família e a instituição policial prestam homenagem àquele que deu a sua vida pela segurança de todos. Que a sua memória nos inspire a valorizar aqueles que, dia após dia, colocam a sua vida em risco pelo bem comum.










