Festa em honra da Senhora da Piedade, organizada pela Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos, com o apoio, nomeadamente das paróquias, reuniu, inicialmente, mais de 150 fiéis. Mas acabou com pouco mais de uma centena, em tarde de calor no dia 15 de Setembro.
José Manuel Oliveira
“Há sofrimentos bem pesados. Porém, Jesus ensina-nos a transformar esses sofrimentos em Cruz de Cristo, isto é, em sacrifício de amor, que é capaz de redimir e salvar. O nosso sofrimento também pode salvar”. Foi esta uma das mensagens que o padre Vasco Figueirinha transmitiu aos fiéis durante a Missa Campal realizada na tarde do dia 15 de Setembro (um domingo), a poucos metros do Farol da Ponta da Piedade, em Lagos.
Dois agentes da PSP de Lagos colocaram uma pequena barreira para impedir a passagem de viaturas. Numa zona proibida a veículos (excepto os devidamente autorizados), não faltaram automobilistas e condutores de bicicletas (estes até fora da faixa obrigatória para velocípedes) a circular no local. Por indicação dos elementos policiais, os carros tiveram de voltar para trás

A organização desta tradicional festividade religiosa, dedicada a Nossa Senhora da Piedade, padroeira dos pescadores de Lagos, esteve a cargo da Junta de Freguesia de São Gonçalo, cujo pessoal transportou para o local cadeiras, numa carrinha, para as pessoas se sentarem. Além disso, em mais um dia de calor foram oferecidas garrafas de água a quem as solicitou.
Inicialmente, a partir das 18.00 horas, a cerimónia reuniu mais de uma centena e meia de participantes, incluindo escuteiros do Agrupamento 173 de Lagos e elementos do coral das paróquias da cidade, como anotou o repórter do ‘Litoralgarve’, presente no local. Porém, terminou com pouco mais de 120 pessoas. Dois agentes da Esquadra de Lagos da Polícia de Segurança Pública (PSP) colocaram uma pequena barreira para impedir a passagem de viaturas na zona. Apesar de a área ser proibida a veículos (excepto os devidamente autorizados), não faltaram automobilistas e condutores de bicicletas (estes até fora da faixa obrigatória para velocípedes) a circular no local. Por indicação dos elementos policiais, os carros tiveram de voltar para trás, como constatou a nossa reportagem. Já na esplanada de um café vários turistas aproveitavam para conviver, de forma ordeira, aproveitando o sol. O estabelecimento acabou por encerrar algum tempo depois.

Apesar de a ermida dedicada a Nossa Senhora da Piedade já não existir por ter sido edificado, nesse espaço, o Farol, “como é bom ver que a igreja das pedras vivas ainda se reúne neste lugar para a venerar”, sublinhou o sacerdote de Lagos
“Sabemos bem o que representa a evocação a Nossa Senhora da Piedade. Por muito que estejamos atentos, é necessário ressuscitar para robustecer a nossa fé”
Após lembrar o facto de ermida, construída no século XVI e dedicada a Nossa Senhora da Piedade, “já não existir”, por ter sido edificado, no mesmo espaço, o Farol, em 1913, o padre Vasco Figueirinha fez questão de realçar, a propósito, no início da homilia: “Como é bom ver que a Igreja das pedras vivas ainda se reúne neste lugar para a venerar. Isto recorda-nos que a verdadeira igreja [é] são as pedras vivas, os filhos que Deus chama pelo baptismo a constituir uma comunidade viva e testemunha com vida a sua fé em Jesus Cristo, filho de Deus. Sabemos bem o que representa a evocação a Nossa Senhora da Piedade. Por muito que estejamos atentos, é necessário ressuscitar para robustecer a nossa fé.”
“O nosso sofrimento também pode salvar. Temos vivido esse sofrimento com revolta? Como temos tratado os outros que estão à nossa volta, que tantas vezes não têm culpa de nada e apenas nos tentam ajudar? Às vezes, perdemos demasiado tempo a maldizer a nossa sorte, a vitimizarmo-nos, constantemente, a amaldiçoar tudo e todos ao nosso redor, e, bem vistas as coisas, nem o sofrimento se vai embora, nem nos sentimos melhores e por causa disso ainda somos capazes de afastar de ao pé de nós aqueles que nos querem bem”

Ao insistir na ideia de que “o nosso sofrimento também pode salvar”, o sacerdote convidou cada um dos fiéis a trazer ao seu pensamento como tem vivido essa situação. “Temos vivido esse sofrimento com revolta? Como temos tratado os outros que estão à nossa volta, que tantas vezes não têm culpa de nada e apenas nos tentam ajudar?” – questionou. “Às vezes, perdemos demasiado tempo a maldizer a nossa sorte, a vitimizarmo-nos, constantemente, a amaldiçoar tudo e todos ao nosso redor, e, bem vistas as coisas, nem o sofrimento se vai embora, nem nos sentimos melhores e por causa disso ainda somos capazes de afastar de ao pé de nós aqueles que nos querem bem”, alertou Vasco Figueirinha, Vigário Paroquial da Fábrica da Igreja da Freguesia de Santa Maria, em Lagos. E aproveitou para deixar uma mensagem de esperança: “Façamos como Maria, que soube esperar pacientemente. Ela, que é a Senhora das Dores, entende-nos perfeitamente. E Nossa Senhora da Piedade pode abraçar-nos a nós pelo pecado e também pela cruz da vida.”
“Se calhar temos tanta gente que está prestes a cair na condenação eterna, gente conhecida, até, e por quem a gente, às vezes, se esquece”
Contudo, ressalvou, “não confundamos. Às vezes, a graça de que precisamos não é aquela que estamos a pedir.” “Se confiarmos em Nossa Senhora da Piedade, Ela pode interceder por nós e alcançarmos a graça de que precisamos. Mas podemos fazer mais: oferecer esse sofrimento a Jesus como um sacrifício agradável” por quem sofre, exortou o padre Vasco Figueirinha. E apresentou como exemplo “pegar no nosso sofrimento, oferecê-lo a Deus e dizer-Lhe: «Salve esta pessoa. Eu aceito o que estou a passar.»
“Se calhar temos tanta gente que está prestes a cair na condenação eterna, gente conhecida, até, e por quem a gente, às vezes, se esquece”, observou o sacerdote, apelando aos fiéis “a aprender a olhar para nossa cruz, não como uma desgraça, mas como uma oportunidade” de salvação.
“Os grandes santos não fugiram da cruz!” e os exemplos do Espírito Santo, São Pedro, São Tiago, Santa Mónica, Senhora da Piedade e Santa Rita de Cássia
Já na parte final da homilia, ao reforçar a necessidade de cada um saber aceitar o seu sofrimento, o sacerdote de Lagos destacou: “os grandes santos não fugiram da cruz!” Nesse sentido, apontou como “exemplos”, nomeadamente o Espírito Santo, São Pedro, São Tiago, Santa Mónica (devido à ação desenvolvida junto do seu filho Agostinho, que andava “por maus caminhos” e que após a morte foi convertido a santo), Nossa Senhora da Piedade e Santa Rita de Cássia, que sofreu “com um matrimónio atribulado, conseguindo, com a oração e paciência, converter o seu marido.”
“Depois da turbulência, os grandes homens e mulheres saíam fortalecidos, mais humildes e mais realizados, no começo do Cristianismo”, sublinhou o padre Vasco Figueirinha. E recordou, ainda, que “os apóstolos alegravam-se (por terem sido alvo) de prisões e açoites” e até “cantavam hinos a favor do martírio, quando eram levados para as arenas para morrer perante as feras.”

“Os santos veneradores conseguiram, com a força da oração, do jejum e da humildade, que uma paróquia inteira se convertesse à fé e, inclusivamente, se convertesse a Deus”
“Os santos veneradores conseguiram, com a força da oração, do jejum e da humildade, que uma paróquia inteira se convertesse à fé e, inclusivamente, se convertesse a Deus”, concluiu o pároco, insistindo que “os grandes santos não fugiram da cruz!”
A celebração em honra de Nossa Senhora da Piedade terminou pelas 19h.15m., após o que muitos fiéis aproveitaram para conviver, enquanto outros seguiram em direcção aos passadiços, junto às arribas, para desfrutar da paisagem sobre o mar e gravar imagens através de telemóveis. Pouco depois, caminharam até ao novo parque de estacionamento, situado na zona da Ponta da Piedade, a vários metros de distância do Farol, para regressar a casa nas suas viaturas, em final de tarde convidativa a passear.










