«A REGIÃO DE TURISMO DO ALGARVE TEM SERVIDO, SOBRETUDO, PARA ENTRETER POLÍTICOS EM FINAL DE CARREIRA, OU DESEMPREGADOS EM FILA DE ESPERA PARA OCUPAR LUGARES MAIS APETECÍVEIS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA»

Presidente da Direcção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) em entrevista ao «Litoralgarve»

 No mês de Agosto, o preço médio de um quarto duplo numa unidade hoteleira da região algarvia deverá rondar os 120 euros por dia. Já em hotel de cinco estrelas ascenderá a 240 euros, enquanto que num de quatro estrelas não irá além dos 140 euros. “Os preços subiram, em média, 5,6 por cento em comparação com o ano de 2017”, revela, em entrevista ao «Litoralgarve», o presidente da Direcção da AHETA –  Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, Elidérico Viegas, destacando a melhoria do volume de negócios das empresas do sector, apesar da quebra do mercado inglês, numa altura em que muitas deixaram de ter estar na dependência dos operadores turísticos.

LITORALGARVE – Que balanço faz da ocupação turística no Algarve durante os primeiros seis meses do ano de 2018?

ELIDÉRICO VIEGAS – No contexto da actual conjuntura económica e social internacional, o balanço só pode ser considerado bastante positivo. E isto porque, apesar de tudo, foi possível manter as ocupações médias quase ao nível do ano anterior (-2,1%) e, muito principalmente, melhorar o volume de negócios das empresas hoteleiras e turísticas no mesmo período (+3,7%).

LITORALGARVE – A que se deve a quebra registada em comparação com o mesmo período de 2017, como têm referido empresários do sector? O problema deve-se sobretudo ao regresso de turistas a países como o Egipto, a Tunísia, Turquia e Grécia, além do Norte de África, onde agora se verifica maior estabilidade social depois da ocorrência de atentados terroristas, ou existem mais factores?

ELIDÉRICO VIEGAS – A maior quebra teve origem no Reino Unido, (-9,5%), nosso principal fornecedor de turistas, enquanto os restantes mercados, de uma maneira geral, registaram pequenas subidas, nomeadamente os chamados mercados emergentes, ainda com expressão muito diminuta no cômputo global das dormidas, mas que, todos juntos, vêm compensando as descidas verificadas no mercado britânico.

As razões que justificaram os aumentos da procura ao longo dos anos anteriores, explicam também as descidas que agora se verificam. Ou seja, ultrapassadas ou esbatidas que estão as situações de instabilidade que afectaram gravemente estes destinos, assistimos novamente a um regresso massivo dos fluxos turísticos às origens, uma consequência directa das ofertas de preços muito baixos destes concorrentes e à desvalorização das moedas nativas face ao euro, (Turquia -62%, Egipto -50%, Tunísia -20%).

A necessidade premente em recuperar os negócios perdidos no passado devido aos conflitos prolongados e outras instabilidades, com efeitos nefastos e terríveis nas procuras turísticas, esmagamento de preços e outras condições contratuais, deixou estes países à mercê dos grandes grupos de operadores turísticos internacionais, donos dos mercados emissores e fornecedores em regime de quase exclusividade dos turistas que demandam estes destinos.

Por outro lado, e no que ao mercado britânico diz respeito, há que acrescentar ainda o «brexit» (saída da União Europeia) e as suas consequências, designadamente no que se refere à desvalorização da libra e aos seus reflexos negativos no poder de compra dos turistas ingleses.

QUEBRA DO MERCADO BRITÂNICO TEM SIDO COMPENSADA POR SUBIDAS DE OUTROS MERCADOS EM CONJUNTO

LITORALGARVE – Quais os mercados que se mantêm fiéis ao Algarve?

ELIDÉRICO VIEGAS – Assinala-se as subidas verificadas nos mercados alemão, holandês e irlandês, assim como dos franceses, belgas, dinamarqueses, suecos, canadianos, italianos e suíços, para referir apenas os mais importantes.

O Algarve é um destino turístico tradicional, perfeitamente consolidado, mantendo intactos os seus pergaminhos junto dos mercados fornecedores, apesar das oscilações conjunturais que ocorrem em cada momento, cujo exemplo é, precisamente, a descida dos ingleses.

LITORALGARVE – De que forma já está o Algarve a sentir o efeito da anunciada saída de Inglaterra da União Europeia, o chamado ‘Brexit’, e a desvalorização da libra?

ELIDÉRICO VIEGAS – É difícil dizer se a redução da procura do mercado britânico fica a dever-se apenas à recuperação encetada por outros destinos concorrentes e/ou à desvalorização da libra na sequência do brexit.

Em princípio, ao que tudo indica, as duas situações encontram-se interligadas, sendo ambas responsáveis pela quebra verificada no mercado inglês.

Acresce que as descidas só não são maiores porque a nossa dependência dos Operadores Turísticos Tradicionais é, actualmente, inferior aos 40%, sendo a maioria das vendas das unidades hoteleiras e dos empreendimentos turísticos assegurada por vendas directas ‘online’, operadores de internet, etc.

Esta mais valia competitiva do Algarve tem evitado descidas mais acentuadas na procura externa da região nos mercados turísticos internacionais.

O facto de o Aeroporto de Faro ser servido por voos directos ‘low cost’ oriundos dos países de origem, permite aos turistas organizarem directamente as suas férias sem recorrer ao serviço de intermediários (agentes de viagens ou operadores turísticos), enquanto os destinos concorrentes mais distantes (Turquia, Egipto, Tunísia, etc.) dependem, em grande medida, de um único canal de comercialização e distribuição, as operações tradicionais, controladas pelos grande Operadores Internacionais.

A dependência quase total de um único canal de comercialização e distribuição de férias, deixa os destinos turísticos ao sabor das conjunturas internacionais, sem capacidade efectiva para as influenciar a seu favor – uma realidade que os hoteleiros do Algarve conhecem bem.

Depender de um único canal de comercialização e distribuição é sempre limitativo, face ao leque diminuto de opções e alternativas comerciais, uma situação que caracterizou o Algarve até ao final do século passado.

A liberalização do transporte aéreo e o surgimento das companhias aéreas ‘low cost’ no virar do milénio, revolucionaram a comercialização de férias nos designados destinos ‘short haul’ (2/3 horas de distância), melhorando os seus níveis competitivos, cujo exemplo mais marcante é, precisamente, o Algarve.

LITORALGARVE – Que outros mercados o Algarve tem de atrair e como?

ELIDÉRICO VIEGAS – Mais do que diversificar mercados, o Algarve precisa atrair, sobretudo, nichos com mais elevado poder de compra.

É nossa convicção que isso pode e deve ser feito junto dos mercados tradicionais já existentes e onde já temos notoriedade, através da implementação de um conjunto de acções promocionais e de ‘marketing’ inteligentes, direccionadas e desenvolvidas em parceria com a iniciativa privada.

É preciso dotar a nossa promoção turística de uma vertente mais comercial e, portanto, mais orientada para as vendas, o que, reconhecidamente, não tem nem nunca teve.

«JÁ NÃO É PREVISÍVEL QUE AS SITUAÇÕES DE INSTABILIDADE REGRESSEM AOS DESTINOS NOSSOS CONCORRENTES (COMO A TUNÍSIA, O EGIPTO E A TURQUIA) NOVAMENTE NOS TEMPOS MAIS PRÓXIMOS»

LITORALGARVE – Como perspectiva a época alta do turismo, de Julho a Setembro? Quais os mercados que garantem a ocupação hoteleira e clientes com maior poder de compra? Quanto pode custar nesta altura do ano (e sobretudo em Agosto) um quarto? E quando poderá gastar, em média por dia, por exemplo um casal com dois filhos no Algarve?

ELIDÉRICO VIEGAS – A época alta do turismo algarvio vai continuar igual a si própria. O desafio dos hotéis e empreendimentos turísticos já não é vender Julho e Agosto, os meses por excelência do turismo do Algarve desde sempre, mas antes os chamados meses laterais, (os ‘shoulders’), onde ainda temos bastante margem de crescimento.

As nossas preocupações vão para os anos vindouros, tanto mais que não é previsível que as situações de instabilidade regressem aos destinos concorrentes novamente nos tempos mais próximos.

O principal mercado do Algarve durante a estação mais alta do nosso turismo continua a ser o nacional, seguido do britânico, alemão, holandês e irlandês.

Os preços variam segundo a categoria do estabelecimento, havendo preços para todos os gostos e carteiras.

O Algarve gera, anualmente, cerca de 7,5 mil milhões de euros em bens transaccionáveis, qualquer coisa como 50% do total nacional. Em termos médios, um quarto duplo em Agosto deverá rondar cerca de 120 € por dia. A título de exemplo, o preço médio por quarto num hotel de 5 estrelas é de 240 €, enquanto num de 4 estrelas não vai além dos 140 €.

Considera-se que os turistas gastam cerca de 6 vezes o valor do alojamento durante as férias.

LITORALGARVE – Os preços de alojamento subiram? Quanto?

ELIDÉRICO VIEGAS – Os preços subiram, em média, 5,6% comparativamente ao ano anterior.

LITORALGARVE – Que reflexos têm para a hotelaria tradicional as unidades de Alojamento Local, os hosteis?

ELIDÉRICO VIEGAS – Os Hosteis, tal como o restante alojamento local, são concorrentes da hotelaria tradicional e dos empreendimentos turísticos registados oficialmente. Esta realidade não só não tem nada de mal como é bem-vinda. O que não pode continuar a verificar-se é a oferta paralela continuar a concorrer de forma desleal com a oferta oficial registada. Ou seja, oferta que tendo aproveitamento turístico não se encontra registada e, por conseguinte, não paga impostos.

Os hostéis em particular e o alojamento local em geral vieram, ao integrar a oferta oficial registada, esbater um problema crónico existente no Algarve desde o surgimento do fenómeno do turismo contemporâneo em meados da década de sessenta do século passado. A oferta turística oficial não só não está contra o processo de registo do alojamento local, como o apoia veementemente.

«NÃO É ADMISSÍVEL QUE A REQUALIFICAÇÃO DA ESTRADA NACIONAL 125 DURE MAIS DE NOVE ANOS E MESMO ASSIM QUASE METADE DA SUA EXTENSÃO ENCONTRA-SE NUM ESTADO DEPLORÁVEL, QUAL PAÍS DO TERCEIRO MUNDO»

LITORALGARVE – O que mais o preocupa no Algarve nesta altura do ano? A Estrada Nacional 125 pode mesmo afastar turistas? E a falta de médicos e de enfermeiros nos hospitais públicos?

ELIDÉRICO VIEGAS – A envolvente é, certamente, um dos aspectos que importa melhorar, tanto mais que, nesta matéria, infelizmente, nos últimos anos, a generalidade dos serviços de apoio piorou na região, o que está confirmado por quase todos os indicadores disponíveis.

Estão neste caso as vias de comunicação como a EN 125, mas também todas as estradas municipais, assim como serviços de saúde insuficientes. Não é admissível que a requalificação da EN 125 dure há mais de 9 anos e, mesmo assim, quase metade da sua extensão encontra-se num estado deplorável, qual país do terceiro mundo.

Por outro lado, é preciso não descuidar a higiene e limpeza, manutenção e conservação de espaços verdes, segurança, serviços de saúde, abastecimento de água e luz, telecomunicações, etc. etc.

Para além destes, faltam alguns equipamentos e infra-estruturas que ainda não temos, como um novo Hospital Central, Espaço Multiusos / Centro de Congressos, Policlínica Desportiva para Atletas de Alta Competição, ligação ferroviária ao Aeroporto de Faro, modernização da linha férrea e material circulante regional, etc., para referir apenas os mais importantes.

FALTAM 3.000 TRABALHADORES NA HOTELARIA DO ALGARVE, ESPECIALMENTE NAS LIMPEZAS, NA ARRUMAÇÃO DE QUARTOS, NOS JARDINS E MANUTENÇÃO, COZINHA E MESAS

LITORALGARVE – Há meses, em entrevista ao «Litoralgarve», o senhor referia-se ao problema da carência de mão-de-obra na hoteleira e nos empreendimentos turísticos do Algarve. Quantos trabalhadores faltam agora, em que a actividades e em que concelhos? E qual o motivo?

ELIDÉRICO VIEGAS – Também nesta área não há progressos a assinalar. A falta de mão-de-obra é generalizada e afecta o Algarve como um todo.

Estimamos em cerca de 3 mil os trabalhadores em falta na hotelaria do Algarve, especialmente nas limpezas, arrumação de quartos, jardins e manutenção, cozinha e mesas.

LITORALGARVE – Em que zonas do país é necessário recrutar pessoal nesta altura do ano e quais os incentivos dos empresários? Há muitos imigrantes a trabalhar no turismo algarvio? O que fazem?

ELIDÉRICO VIEGAS – Os trabalhadores imigrantes, sejam eles nacionais ou estrangeiros, são oriundos de diversas zonas do nosso país e de outros países, com especial destaque para o vizinho Alentejo, PALOP´s e leste europeu, distribuindo-se por todos os departamentos dos hotéis.

Para além de alimentação, as empresas vêm, na medida do possível, facilitando alojamento e transporte.

ALÉM DA ALIMENTAÇÃO, EMPRESAS FACILITAM ALOJAMENTO E TRANSPORTE PARA QUEM VEM TRABALHAR PARA O ALGARVE NO VERÃO

LITORALGARVE – Como encara a falta de trabalhadores em restaurantes, cafés, supermercados e noutros estabelecimentos comerciais? É só o problema da sazonalidade ou também de salários reduzidos?

ELIDÉRICO VIEGAS – A falta de mão-de-obra em quantidade e qualidade constitui uma das maiores fragilidades do sector na actualidade e da economia regional e nacional.

Naturalmente que temos um problema de sazonalidade, mas a questão é muito mais vasta e exige soluções integradas e parcerias entre o sector público e o sector privado, quer em matéria de programas de formação contínua durante a época baixa, tendo em vista fidelizar os trabalhadores ao turismo e às empresas, quer para melhorar os níveis de produtividade que ainda são muito baixos, assim como a melhoria da qualidade dos serviços prestados, através da criação de equipas estáveis e duradouras.

Por outro lado, e uma que vez que se encontra em curso a alteração dos PDM´s (Planos Directores Municipais),  as Câmaras Municipais, particularmente as que congregam a maioria da oferta turística regional, devem considerar políticas activas de habitação, quer para renda quer para venda, tendo em vista atrair e fixar pessoas/trabalhadores na região ao longo de todo o ano.

Por outro lado ainda, é preciso não esquecer a falta de mobilidade na região, traduzida no facto de as zonas urbanas onde temos mais mão-de-obra disponível não coincidirem com as maiores zonas turísticas do Algarve e onde a mão-de-obra é necessária.

LITORALGARVE – Perante essa falta de pessoal, como perspectiva sobretudo os meses de Julho e Agosto no Algarve ao nível do atendimento perante o aumento da procura turística?

ELIDÉRICO VIEGAS – As empresas e os trabalhadores, conjuntamente, têm sabido colmatar esta lacuna, através de acordos individuais de trabalho, consubstanciados em trabalhar mais horas quando é preciso e recuperar nos períodos de menor procura. Trata-se, naturalmente, de uma solução provisória que não poderá eternizar-se no futuro. Esta situação, contudo, tem contribuído para evitar que os números do desemprego no período de Inverno sejam mais elevados, na medida em que, apesar de os trabalhadores não se encontrarem a trabalhar, mantêm o vínculo laboral com as empresas, auferindo vencimentos como se estivessem a trabalhar.

AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL PARA MAIS DE 600 EUROS EM 2019? «O PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO EMPRESARIAL PORTUGUESA, ANTÓNIO SARAIVA, AINDA NÃO É O DONO DOS PATRÕES PORTUGUESES»

LITORALGARVE – E como vê a possibilidade de o salário mínimo nacional poder ultrapassar os 600 euros mensais em 2019, como defendem o presidente da Confederação Empresarial Portuguesa, António Saraiva, e o Governo?

ELIDÉRICO VIEGAS – O Presidente da CIP ainda não é o único parceiro social existente em Portugal e, por isso mesmo, o dono dos patrões portugueses. Recordo que o turismo, através da CTP-Confederação do Turismo de Portugal, é outro dos parceiros sociais com assento no Conselho Permanente de Concertação Social e Conselho Económico e Social.

É verdade que as restantes confederações patronais, incluindo a CTP, têm revelado alguma fraqueza, designadamente no que se refere à capacidade em fazer valer os pontos de vista das estruturas empresariais suas associadas, mas isso não confere o direito ao Presidente da CIP de decidir sozinho e em nome dos restantes parceiros.

Existe a sensação que estes Conselhos são, cada vez mais, correias de transmissão do Governo, vá-se lá saber em nome de que interesses, do que verdadeiros representantes das entidades empregadoras.

Não é por nada, aliás, que nos últimos tempos vimos assistindo à tendência do Governo e dos Sindicatos para centralizar as questões de ordem laboral neste órgão, em prejuízo da negociação e concertação entre entidades empregadoras e sindicatos, quer a nível regional quer a nível nacional.

Posto isto, e para responder directamente à questão, o problema não são os 600 euros, mas antes os índices de produtividade. A fraca produtividade no sector do turismo em particular e da economia portuguesa em geral é sobejamente conhecida, fazendo com que, também nesta matéria, estejamos na cauda da Europa.

«POR MUITO QUE ISTO CONTRARIE O DISCURSO OFICIAL, A VERDADE É QUE CERCA DE 50 POR CENTO DA OFERTA TURÍSTICA DO ALGARVE CONTINUA A ENCERRAR DURANTE  A ÉPOCA BAIXA»

LITORALGARVE – Faltam hotéis e empreendimentos turísticos de qualidade no Algarve?

ELIDÉRICO VIEGAS – O Algarve é uma zona turística e económica dinâmica. O seu desenvolvimento decorre das chamadas forças de mercado. Assim foi, tem sido e vai continuar a ser. O princípio é válido para a região como um todo, bem como para cada uma das diferentes áreas geográficas regionais de barlavento a sotavento. Numa economia de mercado, a oferta suscita a procura, mas é a procura que determina a oferta. A construção de novos hotéis e empreendimentos turísticos no Algarve não foge a esta regra imutável dos mercados económicos mundiais.

LITORALGARVE – Que tipo de turista necessita e como tem o Algarve de o atrair durante a chamada época baixa?

ELIDÉRICO VIEGAS – Não há um tipo de turista dito preferencial, até porque a diversidade da oferta turística é enorme. Há turistas consumidores de férias que importa atrair para a região todo o ano. Para isso torna-se necessário desenvolver correctas acções promocionais, ‘marketing’ e vendas em parceria com o sector privado.

A sazonalidade é a nossa maior fraqueza. A sazonalidade resulta de vários factores, como as condições climatéricas, ritmos sociais, etc. e não se resolve com palavras, apelos e boas intenções dos nossos responsáveis, mas antes com acções concretas.

Existem técnicas conhecidas que podem ajudar a esbater o problema, como a implementação de uma estratégia promocional direccionada e vocacionada para esta fragilidade do nosso produto turístico, aliada a um conjunto de programas de animação de índole cultural e desportiva, por exemplo, para além da construção das infra-estruturas e equipamentos que ainda não temos.

LITORALGARVE – Quantos hotéis e empreendimentos turísticos vão encerrar a partir de Outubro no Algarve e onde? Serão mais ou menos do que em 2017?

ELIDÉRICO VIEGAS – Por muito que isto contrarie o discurso oficial, a verdade é que cerca de 50 por cento da oferta turística do Algarve continua a encerrar durante a estação baixa. Uns por opção de gestão e outros para renovações e remodelações das suas unidades. Assim tem sido e assim vai continuar a ser.

«ENQUANTO O TURISMO DO ALGARVE GERA, ANUALMENTE, DIRECTA E INDIRECTAMENTE, CERCA DE 7,5 MILHÕES DE EUROS EM BENS TRANSACCIONÁVEIS, OS NÚMEROS AVANÇADOS PELOS PROMOTORES DA EXPLORAÇÃO PETROLÍFERA, NA MELHOR DAS HIPÓTESES, NÃO VÃO ALÉM DE 1.OOO A 1.500 MILHÕES DE EUROS POR ANO DE CONTRAPARTIDAS PARA O ERÁRIO PÚBLICO»

LITORALGARVE – O que pode acontecer ao turismo se houver problemas na prospecção de petróleo na costa algarvia, em Aljezur? Será o fim de muitas praias?

ELIDÉRICO VIEGAS – A prospecção e eventual exploração de hidrocarbonetos na costa algarvia coloca em risco uma actividade económica perfeitamente consolidada, o turismo, em nome de uma estratégia e em defesa de uma agenda política de contornos pouco transparentes.

Enquanto o turismo do Algarve gera, anualmente, directa e indirectamente, cerca de 7,5 mil milhões de euros em bens transaccionáveis, os números avançados pelos promotores da exploração petrolífera, na melhor das hipóteses, não vão além de 1.000 a 1.500 milhões de euros por ano de contrapartidas para o erário público.

Petróleo e turismo são actividades conflituantes. Colocar em causa este equilíbrio é atentar contra o interesse público regional e nacional.

Sem uma razão económica válida, já que em termos ambientais a medida é totalmente despropositada, não se compreende a insistência e persistência em manter uma decisão em contraciclo com as posições assumidas internacionalmente pelo nosso País nesta matéria, como o acordo de Paris para as alterações climáticas, por exemplo.

LITORALGARVE – Como avalia a acção de Desidério Silva na presidência da Região de Turismo do Algarve, que termina em Agosto de 2018?

ELIDÉRICO VIEGAS – A AHETA considera, desde sempre, que a RTA deve ser um órgão cada vez mais profissionalizado e menos partidarizado, razão pela qual nos opusemos à recandidatura de Desidério Silva e, já agora, com sucesso, uma vez que este, felizmente, perdeu as eleições.

A partidarização da Região de Turismo ao longo de quase toda a sua história tem contribuído, decisivamente, para acomodar no seu seio interesses pessoais, particulares e políticos em prejuízo dos interesses da actividade turística regional.

A acção do Desidério Silva não pode nem deve ser entendida de forma diferente. Para a AHETA, à política o que é da política e ao turismo o que é do turismo.

A RTA tem servido, sobretudo, para entreter políticos em final de carreira, ou desempregados em fila de espera para ocupar lugares mais apetecíveis em outros patamares da administração pública e da política regional e nacional.

O maior e mais importante sector económico nacional tem que ser capaz de inverter o ciclo de muita política no turismo e pouca política de turismo.

O QUE ESPERAM OS HOTELEIROS DO NOVO PRESIDENTE DA REGIÃO DE TURISMO DO ALGARVE, JOÃO FERNANDES

LITORALGARVE – E o que pensa do futuro presidente da Direcção da RTA, João Fernandes (até agora vice-presidente)? O que lhe exige a AHETA, nomeadamente para garantir turismo durante todo o ano? Que novos mercados terá de atrair e como?

ELIDÉRICO VIEGAS – A candidatura do João Fernandes mereceu o nosso apoio, na justa medida em que contraria o atrás exposto, atendendo à sua experiência acumulada no sector do turismo.

Neste sentido, esperamos uma reaproximação entre o sector empresarial e a RTA, inexistente na gestão anterior, capaz de gerar consensos e estratégias de colaboração conjuntas em prol do turismo do Algarve.

As competências da RTA, infelizmente, são bastante reduzidas e, por conseguinte, sem qualquer capacidade de intervenção nas áreas referidas.

Para que conste, as atribuições e competências da Região de Turismo resumem-se, quase exclusivamente, à animação, promoção no mercado interno alargado, (Portugal e Espanha), gestão dos Postos de Turismo, estruturação do produto e pouco mais. Tudo questões da maior relevância, é verdade, mas muito ignoradas pelos responsáveis anteriores.

Os interesses políticos, pessoais e político-partidários dos sucessivos responsáveis da RTA, traduzidos em uma enorme apetência de protagonismo público, tendem a afastar estes gestores das questões que, apesar de serem da maior relevância turística, são pouco potenciadoras de exposição pública, centrando-se mais em aspectos que, embora não sejam do seu foro e conhecimento, geram protagonismo pessoal nos media, muito ao gosto da nossa classe política politiqueira.

«A TAXA TURÍSTICA, PELO MENOS POR ENQUANTO, DEIXOU DE CONSTITUIR UMA AMEAÇA PARA O TURISMO DO ALGARVE»

LITORALGARVE – O que irá a AHETA fazer se for mesmo criada pela AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve uma taxa turística na região?

ELIDÉRICO VIEGAS – Penso que a questão da taxa turística, pelo menos por enquanto, deixou de constituir, felizmente, uma ameaça para o turismo do Algarve. Porém, e caso a mesma venha a ser implementada, nos moldes anunciados pela AMAL, a AHETA, tal como anunciou publicamente, desencadeará todas as acções em lei permitidas, tendo em vista impedir a aplicação de uma medida injusta, ilegal e atentatória do interesse público regional e nacional.