Nuno Serafim, deputado do PSD na Assembleia Municipal de Lagos: “Não precisamos daqueles que aparentemente se consideram donos disto tudo”

“E ano após ano apenas fazem aquilo que acham que deve ser feito com os mesmos resultados de sempre e sem ouvir as populações, seus anseios e necessidades. Um repto tem de ser feito a todos os responsáveis políticos. E refiro-me, em particular, ao executivo da Câmara Municipal [de Lagos], pois ninguém muda o país sem começar por mudar a cidade onde vive”, afirmou, em jeito de desafio, o coordenador do grupo social-democrata na Assembleia Municipal de Lagos, no seu discurso durante a sessão solene das comemorações do 51º. aniversário do 25 de Abril de 1974, na Praça Gil Eannes, nesta cidade. A poucos meses das eleições autárquicas, que terão lugar em Setembro ou Outubro de 2025, Nuno Serafim deixou mais recados, numa alusão ao PS, ao Chega e ao eleitorado. Isto, numa altura em que se tem registado elevada taxa de abstenção nos actos eleitorais no concelho de Lagos.

José Manuel Oliveira

Paulo Silva

“Não precisamos daqueles que nos pretendem dividir, apontando o dedo aos mais fracos ou que gritam por uma supremacia cultural e racial que em Portugal e em Lagos

sobretudo não tem, nem pode ter lugar. Não precisamos deste sistema de venda por votos a interesses corporativos ou determinadas classes, que normalizou a arte do negócio como o método de conseguir o poder. Também não precisamos daqueles que, aparentemente, se consideram donos disto tudo e ano após ano apenas fazem aquilo que acham que deve ser feito com os mesmos resultados de sempre e sem ouvir as populações, seus anseios e necessidades.”

Estes foram alguns dos recados do deputado municipal Nuno Serafim, coordenador do Grupo do PSD na Assembleia Municipal de Lagos, durante a sessão solene comemorativa do 51º. aniversário do 25 de Abril de 1974, que decorreu na Praça Gil Eannes, em frente ao Antigo Edifício dos Paços do Concelho, deixando entender apontar como destinatários, por um lado, o Chega e, por outro, o PS, partido que detém, há anos, a maioria absoluta em todos os órgãos autárquicos do município lacobrigense.

“Precisamos de consensos, independentemente do posicionamento ideológico de cada um para a estabilidade social e a resolução dos problemas”

“Abril fez-se para nos tornar livres e a liberdade sem prosperidade é como um pássaro numa gaiola. Tem asas, mas não consegue voar”

“Assim – prosseguiu – a missão de todos nós eleitos e cidadãos, em geral, é criarmos as condições de tornar o Abril, que comemoramos, no Abril que vivemos. Não devemos cometer o erro de moldarmos a nossa sociedade e sistema político como um meio de, apenas, obter direitos, esquecendo a maior regra para uma sociedade saudável, pois para cada direito estabelecido devem-lhe corresponder, pelo menos, três deveres.”

E passou a detalhar: “Primeiro que o direito seja sustentável, segundo que o direito seja justo e terceiro que do direito criado advenha um benefício inegável à sociedade.”

“Precisamos de consensos, independentemente do posicionamento ideológico de cada um para a estabilidade social e a resolução dos problemas. Saber ouvir e aceitar as diferenças e trabalhar com o objectivo de fazer e criar soluções para o bem comum. Abril não se fez para se voltar a ouvir de projectos de homens providenciais ou messiânicos. Abril fez-se para nos tornar livres e a liberdade sem prosperidade é como um pássaro numa gaiola. Tem asas, mas não consegue voar”, observou Nuno Serafim.

“Ninguém muda o país sem começar por mudar a cidade onde vive”

Falando a poucos metros de distância do presidente da Câmara Municipal de Lagos, socialista Hugo Pereira, e dos vereadores Paulo Jorge Reis, Sara Coelho, Sandra Oliveira e Luís Bandarra, do PS, bem como de Pedro Moreira (PSD) e Alexandre Nunes (CDU), que se encontravam na primeira fila junto ao público, Nuno Serafim aproveitou para deixar mais recados em ano de eleições autárquicas, as quais terão lugar no mês de Setembro ou de Outubro. “Um repto tem de ser feito a todos os responsáveis políticos. E refiro-me, em particular, ao executivo da Câmara Municipal [de Lagos], pois ninguém muda o país sem começar por mudar a cidade onde vive. O poder autárquico tem a capacidade inegável de resolver os problemas e projectar o território a um nível de proximidade ímpares”, sublinhou Nuno Serafim.

“O poder executivo não é, nem pode ser, uma ditadura votada. A abertura à colaboração e participação de todos é ponto de ordem, porque a liberdade nos deu capacidade de poder falar na mesma medida de sermos ouvidos.”

Como tal, avisou o deputado municipal social-democrata, “é necessário e urgente adoptar uma atitude diferente, pois devemos isso a nós e às gerações futuras. Não devemos esperar por virem outros fazer aquilo que sabemos que deve ser feito”. “O poder executivo não é, nem pode ser, uma ditadura votada. A abertura à colaboração e participação de todos é ponto de ordem, porque a liberdade nos deu capacidade de poder falar na mesma medida de sermos ouvidos”, referiu.

E adiantou, como apelo: “Temos de unir esforços e colocar metas para a resolução de problemas que podem levar tempo a resolver. Mas tem de se começar. Tem de se ter a coragem como naquela mítica manhã de Abril. Mas com uma diferença. As nossas vidas não correm risco. Apenas nos agarramos a orgulho e preconceito e é altura de tomarmos para nós o dever de assumir o compromisso de trabalhar em prol de todos. Quem ama a liberdade sabe que este é um tempo de cerrar fileiras. Porque, no nosso lado, embora preso aos limites e condições em que vivemos, nós temos a chave para nos libertar e procurar a prometida prosperidade de Abril.”

Um recado para os eleitores, numa altura em que se tem registado elevada taxa de abstenção: “No outro lado, a chave está no bolso de alguém. A solução para os nossos desafios está em cada um de nós, que devemos, acima de tudo, ser mais exigentes connosco próprios e com aqueles poucos que nos governam.”

Já “no outro lado, a chave está no bolso de alguém”, notou Nuno Serafim, em jeito de recado também dirigido aos eleitores do concelho de Lagos, onde se tem notado uma elevação taxa de abstenção, na ordem dos cinquenta por cento, em sucessivos actos eleitorais.

“A solução para os nossos desafios está em cada um de nós, que devemos, acima de tudo, ser mais exigentes connosco próprios e com aqueles poucos que nos governam”, apelou aquele deputado do PSD na Assembleia Municipal de Lagos.

“O sistema por nós adoptado tem sofrido uma enorme erosão em razão das expectativas criadas e da falta de resultados das políticas seguidas pela governação, tanto a nível local como nacional. As respostas às questões mais importantes da vida em sociedade não estão a ser dadas de forma consistente na saúde, na habitação, na justiça e na educação.”

“Estas falhas têm sido aproveitadas por quem, de forma populista, tenta reduzir as fraquezas ou limitações do Estado português às acções e opções dos diversos governos que, de 1974, até hoje governaram Portugal”

Depois de ter lembrado que, além do 51º. aniversário do 25 de Abril de 1974, “comemoramos os 50 anos das primeiras eleições para a Assembleia Constituinte, que tiveram lugar a 25 de Abril de 1975 e que elegeu 250 deputados com o objetivo de escrever a nova Constituição da Republica, a qual foi aprovada em 02 de Abril de 1976”, Nuno Serafim recordou que, “para a minha geração Abril, é a realidade que nos rodeia as instituições que se formaram e que com a sua acção moldaram o país que somos hoje.”

“Este caminho foi feito de vitórias e derrotas, baseado no princípio da escolha através do processo democrático. Mas volvidos estes 51 anos, desde a revolução dos cravos, devemos olhar à nossa volta e ver a realidade que vivemos. O mundo está em guerra de várias formas e a transformação geopolítica ocorre em tempo real. As autocracias estiveram incessantemente a trabalhar para provar que o seu sistema consegue providenciar às populações mais prosperidade e segurança. Ao invés, o sistema por nós adoptado tem sofrido uma enorme erosão em razão das expectativas criadas e da falta de resultados das políticas seguidas pela governação, tanto a nível local como nacional. As respostas às questões mais importantes da vida em sociedade não estão a ser dadas de forma consistente na saúde, na habitação, na justiça e na educação. Estas falhas têm sido aproveitadas por quem, de forma populista, tenta reduzir as fraquezas ou limitações do Estado português às acções e opções dos diversos governos que, de 1974, até hoje governaram Portugal”, salientou, a certa altura, aquele deputado na Assembleia Municipal de Lagos, reforçando, assim, recados a sucessivos governos, do PS e do PSD.

“A solução para a normalização da nossa República passa, desde logo, por todos os partidos responsáveis perceberem que a democracia não deve, nem pode ser, uma ditadura votada em que, circunstancialmente, temos alguns a impor as suas ideologias e os seus dogmas de 4 em 4 anos, em vez de resolverem os problemas e necessidades de todos nós”

“E com essa antiga bandeira de que a culpa é sempre dos outros e sem qualquer vislumbre de medidas concretas e concretizáveis, em Portugal, assim como no resto do mundo ocidental, assistimos ao aparecimento de movimentos e líderes que ameaçam a organização democrática e livre de países. Nesta hora, mais do que falarmos de Abril, devemos convocar todos para defender Abril e a 3ª. República Democrática Portuguesa. A solução para a normalização da nossa República passa, desde logo, por todos os partidos responsáveis perceberem que a democracia não deve, nem pode ser, uma ditadura votada, em que, circunstancialmente, temos alguns a impor as suas ideologias e os seus dogmas de 4 em 4 anos, em vez de resolverem os problemas e necessidades de todos nós”, reforçou Nuno Serafim.

“O futuro de todos nós não deve pertencer a ninguém, mas antes e acima de tudo deve pertencer a todos nós enquanto cidadãos que vivem e trabalham neste pedaço de terra a que chamamos Lagos”

Já na parte final da sua intervenção, o deputado municipal do PSD ainda deixou alguns reparos, ao afirmar que “o futuro de todos nós não deve pertencer a ninguém, mas antes e acima de tudo deve pertencer a todos nós enquanto cidadãos que vivem e trabalham neste pedaço de terra a que chamamos Lagos.”

“Quando falamos de Abril, da República ou da Democracia, estamos a falar de nós próprios e devemos olhar para nós e perguntar-nos que fiz eu, ou que posso fazer eu para ter mais Abril, mais República e mais Democracia?… A resposta a essa pergunta está dentro de cada um de nós e, certamente, que todos pretendemos o melhor e para isso todos temos, certamente, de fazer mais do que fizemos até hoje”, disse aquele responsável político.

Citar a cantora Dulce Pontes na despedida

O social-democrata Nuno Serafim encerrou o seu discurso, citando a conhecida cantora Dulce Pontes: “Que se quisermos mesmo cumprir Abril então terá de se cumprir o Amor a Portugal”. E antes de voltar para o seu lugar, ainda gritou: “Viva o 25 de Abril, Viva Portugal, Viva Lagos!”