Luís Varela, músico e antigo sindicalista, encontrado morto por bombeiros, polícias e Delegado de Saúde, no apartamento onde vivia sozinho, em Portimão, após completar 71 anos de idade

Autoridades tiveram de arrombar a porta na manhã da passada quarta-feira, dia 11 de Junho, com autorização do Ministério Público da Comarca de Portimão, na sequência do alerta de um dos amigos de Luís Varela, que estranhou a sua longa ausência e o facto de o telemóvel estar desligado. O pior cenário foi confirmado pouco depois pelo Delegado de Saúde, ao declarar o óbito do conhecido músico.

José Manuel Oliveira

Depois de cerca de duas semanas, umas vezes sem atender o telemóvel e depois com o aparelho desligado, o que provocou estranheza entre amigos, o músico Luís Varela, solteiro, sem filhos e figura divertida e muito conhecida em Portimão, foi encontrado, na manhã da passada quarta-feira, dia 11 de Junho, sem vida no seu apartamento, situado nesta cidade, onde vivia sozinho.

Corpo já com indícios de putrefacção

Segundo apurou o ‘Litoralgarve’, tal sucedeu após um dos indivíduos com quem ele falava quase diariamente, já alarmado com a falta de contacto de Luís Varela, que também deixou de ser visto pelos vizinhos, ter solicitado a presença de agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Portimão no apartamento. Ali, depois da necessária autorização do Ministério Público, foi pedida a intervenção dos Bombeiros Voluntários desta cidade, que acabaram por forçar a entrada na habitação. Pouco depois, confirmou-se o pior cenário: Luís Varela estava morto, deitado na cama. O corpo, com algum cheiro e sinais de inchaço, já tinha indícios de putrefacção.

O óbito foi declarado no local pelo Delgado de Saúde de Portimão. Após os trâmites legais, o corpo acabou por ser transportado para o Gabinete do Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses, instalado junto ao Hospital do Barlavento, nesta cidade, a fim de ser autopsiado.

Velório está marcado para a manhã da próxima sexta-feira, dia 20 de Junho, numa das capelas mortuárias da Igreja do Colégio dos Jesuítas, em Portimão. O funeral terá lugar no cemitério da cidade

A Agência Funerária ‘Barlavento’, sedeada em Portimão, informa que as cerimónias fúnebres de Luís Filipe Monteiro Varela (seu nome completo) terão lugar na próxima sexta-feira, dia 20 de Junho de 2025, com o velório a partir das 10h30, numa das capelas mortuárias da Igreja do Colégio dos Jesuítas, situada na Praça da República. O funeral sairá, pelas 11h00, para o cemitério de Portimão.

Luís Varela, antigo delegado no Algarve do Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos – CENA-STE, tinha completado, poucos dias antes, 71 anos de idade, a 04 de Junho.

Irmão Aníbal Varela, músico e professor, confessa-nos: “Estou espantado com o que aconteceu. Não sabia que ele estava doente. Já não falávamos há algum tempo”

“Tinha-o alertado para problemas de gordura, apesar de ele fazer caminhadas, e para problemas do cólon e do coração, que existiram na nossa família. Mas, infelizmente, nunca quis saber, nunca me dava ouvidos”

Quando no dia 11 de Junho, em que foi conhecido o falecimento, contactámos, por telemóvel, o irmão de Luís Varela, o músico e professor Aníbal Varela, que se encontrava numa aula em avaliação com alunos, este familiar tinha acabado de saber o sucedido. “Estou espantado com o que aconteceu. Não sabia que ele estava doente. Já não falávamos há algum tempo”, disse. E acrescentou: “Tinha-o alertado para problemas de gordura, apesar de ele fazer caminhadas, e para problemas do cólon e do coração, que existiram na nossa família”. “Mas, infelizmente, nunca quis saber, nunca me dava ouvidos, além de, por vezes, ter o telemóvel desligado, com problemas de bateria”, lamentou Aníbal Varela. Na altura, admitiu outros excessos cometidos pelo irmão e problemas familiares.

Luís Varela considerava-se “um homem da noite, na Praia da Rocha”, e até dizia: “Todos temos de morrer e um dia há-de chegar a minha vez…”

“A tensão arterial [alta] é um problema hereditário, o meu pai morreu assim e eu estou a ser medicado”

Nos últimos meses, Luís Varela, que se considerava um “homem da noite, na Praia da Rocha”, junto de músicos e de amigos, tinha sido levado várias vezes para o Hospital de Portimão, após se ter sentido mal, como o próprio nos confessara. “A tensão arterial [alta] é um problema hereditário, o meu pai morreu assim e eu estou a ser medicado”, contou na altura. Recentemente, a proprietária de um bar ainda conseguiu reanimá-lo, depois de ele se sentir mal.

Apesar dos problemas de saúde e dos alertas de amigos para ter cuidado, Luís Varela mostrava-se tranquilo. “Todos temos de morrer e um dia há-de chegar a minha vez…”, observou, sereno. Poucos dias antes de ficar incontactável, reconheceu, na rua, a um amigo, que estava “mal” de saúde.

“O povo português não tem cultura política. Só quer é futebol e raspadinhas… Escreve isso e põe o meu nome.”

“Muitas delas [pessoas] gastam, no jogo, grande parte das pensões de reforma em, apenas duas semanas, e depois dizem que recebem pouco do Estado e não têm dinheiro para comer”

Numa das últimas conversas que com ele mantivemos, tendo em vista recolher opiniões para uma reportagem, em que a política, resultados eleitorais e questões socais foram temas, Luís Varela fez questão de manifestar a sua indignação: “As pessoas não lêem jornais, não se informam. O povo português não tem cultura política. Só quer é futebol e raspadinhas… Escreve isso e põe o meu nome.” Lembrou, a propósito, as “filas” que via, nomeadamente no supermercado Pingo Doce, no centro da cidade de Portimão, “para comprar raspadinhas e outros jogos sociais.” “Há pessoas que até parecem ‘doidas’ e quase que andam à pancada. Muitas delas gastam, no jogo, grande parte das pensões de reforma em, apenas duas semanas, e depois dizem que recebem pouco do Estado e não têm dinheiro para comer. Isto é ridículo!”

Militante do PCP, não escondia o seu desagrado para com o próprio partido. “Noutros tempos, havia campanha de porta a porta, com distribuição de cartazes e folhetos, além de música e carros com som a apelar ao voto. Agora, é um silêncio inexplicável e nem parece que estamos campanha. Também não pedem a minha colaboração”, queixava-se Luís Varela

Por outro lado, Luís Varela, que estava ligado ao Partido Comunista Português, em Portimão, considerando-o “a minha equipa”, não escondeu o seu desagrado durante a campanha para últimas eleições legislativas antecipadas, em Maio deste ano. “Noutros tempos, havia campanha de porta a porta, com distribuição de cartazes e folhetos, além de música e carros com som a apelar ao voto. Agora, é um silêncio inexplicável e nem parece que estamos campanha. Também não pedem a minha colaboração”, queixava-se Luís Varela, para quem se tratava de “sinais dos tempos, em que as ordens vêm de Lisboa.” Notava-se uma total revolta da sua parte, depois, de há anos, ter tomado parte ativa no contacto com sindicalistas, trabalhadores e público, em geral, durante manifestações e períodos eleitorais.

Nesta altura em que se apaga uma das vozes críticas nos seus contactos pessoais e mais animadas de Portimão e, em particular, da zona da Praia da Rocha, o ‘Litoralgarve’ apresenta as mais sentidas condolências à família de Luís Varela, antigo baterista e sindicalista do sector musical.