Editada pela Junta de Freguesia de Odiáxere, a obra tem 68 páginas e a versão em ‘braille’, destinada a cidadãos invisuais, conta com noventa. Mil exemplares foram publicados nesta primeira edição, impressa em Loulé.
José Manuel Oliveira
Odiáxere
História e Património
É este o título do novo livro da autoria do investigador José António Martins, apresentado durante a tarde do dia 21 de Junho de 2025 (um sábado), no salão da sede da Junta de Freguesia de Odiáxere, do concelho de Lagos. Com mil exemplares nesta primeira edição, a obra apresenta, na capa e contracapa, uma vista panorâmica área da Freguesia de Odiáxere, registada em 2003, ano de elevação desta localidade a vila. O arranjo gráfico esteve a cargo do autor da publicação, José António Martins, a impressão foi efectuada na Gráfica Comercial, em Loulé, e o editor é a Junta de Freguesia de Odiáxere, não tendo sido revelados os custos.
Do património arquitectónico religioso, com destaque para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e o pórtico manuelino, o famoso moinho e a ponte sobre a ribeira do Arão, até ao movimento associativo – Clube Desportivo de Odiáxere, Rancho Folclórico e Etnográfico, Clube Columbófilo e Cantinho Solidário
O livro tem 68 páginas e a versão em ‘braille’, destinada a cidadãos invisuais, conta com 90. Começa por descrever a evolução histórica desta Freguesia, a caracterização do Topónimo, a Ordenação Heráldica do Brasão, Bandeira e Selo da Freguesia de Odiáxere, seguindo-se a sua caracterização socioeconómica, com elementos demográficos e “vultos nacionais” associados a esta zona do concelho de Lagos. Posteriormente, destaca o património arquitectónico religioso, nomeadamente a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Odiáxere, o Pórtico Manuelino existente na igreja matriz, o famoso moinho de vento, datado do século XIX, a denominada ponte sobre a ribeira do Arão e o movimento associativo. A este nível refere a história do Clube Desportivo de Odiáxere, fundado no dia 17 de Março de 1981 e que teve Fernando Morgado como primeiro presidente da Direcção; a do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, cuja fundação data de 1984, também a 17 de Março; o Clube Columbófilo de Odiáxere (27 de Maio de 1993, em que o primeiro presidente da Direcção foi José Augusto Calado); e Cantinho Solidário – Associação de Entreajuda de Odiáxere, constituída legalmente a 04 de Junho de 2012, pelas fundadoras Maria José Marreiros Bandarra Marques da Silva, Maria Marreiros dos Santos Catarina e Maria de Fátima Fortunato Vilaça.
Oito fotos e os logotipos das colectividades e associações, além da imagem do brasão da Freguesia de Odiáxere, estão incluídos nalgumas das páginas deste novo livro.
Ofélia Maria Queirós Soares foi a única namorada portuguesa do poeta Fernando Pessoa. Não nasceu no Algarve, destacou-se como poetisa, mas a sua família era de Odiáxere
Um dos aspectos mais curiosos deste trabalho de investigação de José António Martins está destacado nas páginas dedicadas a “vultos nacionais associados à freguesia”, com referências à única namorada portuguesa do poeta Fernando Pessoa e à última condenação à pena morte em Portugal, por crimes civis, ocorrida em Lagos, no dia 22 de Abril de 1846.
“Muitos são os homens e mulheres que, no passado, estiveram ligados à Freguesia de Odiáxere e que, hoje, os lembramos com menor ou maior conhecimento da sua existência. Como por exemplo, ocorre-nos dois nomes que, em áreas de actuação muito diferentes não podem ser esquecidos”, começa por salientar o autor do livro. E acrescenta: “Um, ou melhor uma mulher, não tendo nascido no Algarve (…), a sua família era de Odiáxere, tendo-se destacado, na área da cultura, como poetisa, mas sobretudo foi a única namorada portuguesa do poeta Fernando Pessoa.” Trata-se de Ofélia Maria Queirós Soares, que foi casada com Augusto Soares.
José Joaquim, de alcunha O Grande, morreu com 49 anos idade, tendo sido o último condenado à pena de morte em Portugal e executado em Lagos, acusado da morte de uma criada, no período das Lutas entre Liberais e Miguelistas. Eram naturais da freguesia de Odiáxere os avós maternos daquele homem
“O outro exemplo – prossegue José António Martins – um homem inserido na área política, cujos avós maternos eram desta Freguesia, foi preso e condenado à morte por um crime violento em tempos do período das Lutas entre Liberais e Miguelistas. Se a pena que lhe foi atribuída se enquadrava na tipologia de crimes como aquele que lhe foi ajustado como de sua autoria, o que torna interessante esta história de vida deste homem é que seria o último condenado à pena de morte por crimes civis e que aconteceu na cidade de Lagos.” Seu nome: “José Joaquim, de alcunha o Grande” e “tinha quarenta e quatro anos quando faleceu.”
Mais adiante, o autor do livro conta que, através de uma passagem de um texto do Tribunal da Relação de Lisboa, existe conhecimento de que o réu era “natural e morador do Lugar de Albardeira, Freguesia de São Sebastião, da Comarca de Lagos.”
José António Martins descreve que “três anos após o seu casamento, em 1833 e em plena guerra civil, seria na casa e propriedades do Major da Praça de Lagos, que José Joaquim, de alcunha o Grande, iria perpetrar o crime, na companhia dos seus “sócios da guerrilha”, sendo acusado de ter assassinado uma criada, de seu nome Bernarda.”
José Joaquim, “dito como guerrilha (que no Algarve tinha tido como comandante operacional o Remexido, de seu nome José Joaquim de Sousa Reis, em plena guerra civil – 1832-1837), que combateu as tropas liberais”, acabou ser preso no concelho de Aljezur, “local de refúgio de muitos guerrilheiros ao serviço de D. Miguel, durante e após a guerra civil no Algarve”, sublinha o livro agora publicado. E depois de dois julgamentos, José Joaquim acabou por ser condenado à morte, em Lagos.

Políticos em peso na apresentação da obra
A apresentação da obra contou com a presença, entre outros, do presidente da Junta de Freguesia de Odiáxere, socialista Carlos Fonseca, que completa o seu terceiro e último mandato consecutivo de 12 anos, não podendo por isso recandidatar-se ao cargo, nas eleições autárquicas a realizar em Setembro ou Outubro de 2025; de Luís Bandarra (PS), antigo presidente daquele organismo e actual vereador da Câmara Municipal de Lagos; de Sara Coelho (PS), vereadora do executivo municipal lacobrigense; de Sandra Oliveira, também vereadora socialista; de Alexandre Nunes, vereador, sem pelouro atribuído, da CDU – Coligação Democrática Unitária (PCP – Partido Comunista Português e PEV – Partido Ecologista ‘Os Verdes’); do presidente da Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos, Carlos Saúde (PS), do deputado municipal José Manuel Freire (CDU), além de Manuel Catarino, dirigente da coordenadora de Lagos do PCP, Luís Morgado, presidente da Direção do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, que também preside à Assembleia de Freguesia de Odiáxere, e outros populares. No total estavam na sala quarenta pessoas.
Hugo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Lagos: “Só afirmando a nossa identidade colectiva, deixaremos marca na perpétua marcha do tempo”
Na nota de apresentação escrita sobre este livro, o presidente da Câmara Municipal de Lagos, Hugo Pereira, começa por referir: “Investigar sobre a História de Odiáxere é trazer à luz factos de relevo sobre a vida de um território, no qual temos muito orgulho. Enquanto cidadão, munícipe e autarca do Município de Lagos, estou plenamente convicto de que a investigação realizada, e agora editada nesta Monografia, contribuirá, em muito, para enriquecer e fortalecer o conhecimento que os odiaxerenses, em particular, e os lacobrigenses, no seu todo, possuem da Freguesia de Odiáxere e do concelho. Aliás, só conhecendo melhor quem fomos, podemos saber quem somos. Só sabendo quem somos, podemos escolher para onde vamos. Só emergindo a nossa memória comum, podemos afirmar a nossa identidade colectiva. Só afirmando a nossa identidade colectiva, deixaremos marca na perpétua marcha do tempo.”
Na perspectiva deste autarca, “nunca será demais relembrar que, para além de fonte de pertença, a História também é diálogo com o mundo e alimento da cidadania.” “E se injectada de empatia, aumentará, certamente, o interesse de múltiplas faixas da população, especialmente as mais jovens, e cumprirá melhor o seu papel”, acrescenta Hugo Pereira.
“Para terminar – assinala o edil lacobrigense – não quero, nem posso, deixar de reconhecer quem realizou e promoveu esta investigação sobre Odiáxere. Para mim, todas as Histórias compõem a História, e a História Local não é uma filha menor da ciência e do conhecimento histórico e social. É imprescindível e, em circunstância alguma deve ser menorizada, pois sem se Historiar sobre a nossa terra, nunca conseguiremos avigorar o afecto que sentimos por ela.”
Carlos Fonseca, presidente da Freguesia de Odiáxere: “Não há identidade sem memória” e “recordar é viver”
Por sua vez, o presidente da Junta de Freguesia de Odiáxere, Carlos Fonseca, destaca na sua mensagem: “Não há identidade sem memória. Esta é uma frase que me acompanha enquanto autarca e que deve nortear as Freguesias na nobre missão de preservar essas tradições, costumes, mas também a sua História. Esta monografia reflecte não só a nossa identidade enquanto povo, enquanto comunidade, mas é também o relato histórico da nossa origem e das mudanças, inevitáveis diga-se, que ao longo dos tempos, transformaram Odiáxere como é conhecido actualmente.”
E adianta: “Como se poderá constatar nesta monografia, Odiáxere é atualmente uma vila com muito para descobrir, mas também com curiosidades a revelar. Recordar é viver, viver orgulhosamente como Odiaxerense e com este sentimento coletivo de pertença. O recordar é perpetuar a nossa memória coletiva, fortalecendo, de forma indelével, essa identidade.”
“A História faz-se de pessoas que honraram as suas origens, que trabalharam ao longo destes séculos para que Odiáxere tenha hoje um legado digno de ser recordado e valorizado”
Para o autarca de Odiáxere, “é com enorme satisfação que nos prepusemos em apresentar esta nova monografia, actualizada aos dias de hoje, mas acima de tudo focando o que nos torna diferentes e únicos enquanto povoação, enquanto comunidade.”
A concluir, Carlos Fonseca deixou agradecimentos e outras mensagens, sobretudo aos mais jovens: “Quero aqui deixar um agradecimento muito especial e sentido a todos aqueles que das mais variadas formas fizeram e fazem parte da História desta linda Vila. A História faz-se de pessoas que honraram as suas origens, que trabalharam ao longo destes séculos para que Odiáxere tenha hoje um legado digno de ser recordado e valorizado. Resta-nos a todos nós preservar esse legado para que as gerações vindouras possam continuar a dizer com o peito cheio de orgulho, sou Odiáxerense!”
José António Martins: “Com este novo estudo, procuramos dar ao conhecimento público novas interpretações a partir de documentos já conhecidos e de outros, entretanto provindos de investigações recentes sobre a historiografia da Freguesia de Odiáxere”
Já o autor do livro, José António Martins, que escreveu vários estudos monográficos sobre a Freguesia de Odiáxere, frisa: “Com este novo estudo, procuramos dar ao conhecimento público novas interpretações a partir de documentos já conhecidos e de outros, entretanto provindos de investigações recentes sobre a historiografia da Freguesia de Odiáxere, pautados por vários meses de investigação, onde a História e o Património são a centralidade do texto doravante produzido, não esquecendo o papel das suas Associações no incremento sociocultural da localidade.”
Seis meses para preparar o livro «Odiáxere – História e Património» e sem receber honorários
Em declarações ao ‘Litoralgarve’, após uma sessão de autógrafos, José António Martins disse que foram necessários “seis meses” para preparar o seu novo livro «Odiáxere – História e Património», com várias deslocações, nomeadamente a Lisboa para recolha de informação no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, além do recurso ao Arquivo Distrital de Faro, num trabalho “sem honorários” para o autor, como nos garantiu.
Obra sobre São Gonçalo de Lagos, com a data da sua morte será apresentada no dia 26 de Agosto de 2025 à noite no Centro Cultural
O próximo livro de José António Martins é alusivo a São Gonçalo de Lagos, com a data da sua morte, em “1455”, segundo explicou à nossa reportagem. Já o presidente da Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos, Carlos Saúde, indicou-nos 26 de Agosto de 2025, a partir das 21h00, como sendo a data para a apresentação da obra, a cargo desta autarquia no auditório do Centro Cultural da cidade.
Licenciaturas, Pós-Graduações e Doutoramentos deste investigador e autor de vários livros sobre o Algarve
Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa (1985), com Mestrado em História Medieval pela Faculdade de Letras do Porto (1995) e Pós-Graduação em Gestão de Turismo do Património Histórico e Cultural pela Universidade de Nova York (1997), José António de Jesus Martins (nome completo), autor de vários livros sobre o Algarve, conta, no seu vasto percurso académico, também com Pós-Graduação em Direito das Autarquias Locais pela Faculdade de Letras de Lisboa (2004), Doutoramento em Letras (Especialidade / conclusão da área Curricular em Curricular em Temas Aprofundados de Literaturas e Culturas e Ciências da Linguagem e Metodologias Específicas), pela Universidade da Beira Interior, em 2011, com a classificação de 18 valores. O seu currículo inclui, ainda, Doutoramento em História Moderna, pela Faculdade de Letras de Lisboa (2024), tendo obtido 17 valores.
Além de várias obras sobre a Freguesia de Odiáxere, são estes os livros destacados na biografia deste investigador e escritor:
- A freguesia da Vila de Sagres: estudo histórico monográfico (2000)
- As armas, a bandeira e o selo do Município de Vila do Bispo (2001)
- Lagos medieval (2001)
- Ordenação heráldica do brasão, bandeira e selo da freguesia de Lagos (Santa Maria) (2001)
- Os Descobrimentos portugueses e o Algarve no tempo do Infante D. Henrique (1415-1460, em 2001)
- Os 500 anos dos Forais Novos ou Manuelinos do Reino do Algarve de 1504, em 2004)
- Estudo histórico monográfico: a freguesia de Barão de S. João (do concelho de Lagos), no ano de 2005
- Estudo histórico monográfico: a freguesia de Lagos-Santa Maria (2006)
- O reino do Algarve nos finais da Idade Média: os concelhos algarvios do século XV, obra publicada em 2007
- Estudo histórico monográfico: a freguesia de Bensafrim (do concelho de Lagos), também em 2007
- A Fonte das Oito Bicas: elementos para a história do abastecimento de água à cidade de Lagos (2008)
- História da fundação da Associação dos Bombeiros Voluntários de Lagos: 123 anos de “vida por vida” (1886-2009), publicado em 2009
- Viagens à descoberta do Algarve com o Infante D. Henrique (1415-1460), igualmente publicado no ano de 2009
- Brincadeiras e brinquedos da Idade Média (2009)
- Aljezur e os Descobrimentos Portugueses: (breve estudo histórico), em 2016
- As mais antigas receitas de batata doce nos livros de culinária dos séculos XVIII e XIX (2019)
- Dom Rodrigo, o mais famoso doce do Algarve (2022)
- Elementos para a História do Clube Artístico Lacobrigense, 1872-1992, publicado em 2022
- Aljezur, Idade Média: as estruturas concelhias e o quotidiano sócioeconómico (2023)
- Estudo-histórico monográfico: a freguesia de Rogil, do concelho de Aljezur, também em 2023










