Instituições sociais em dificuldades para enfrentar a crise no Algarve, com Lagos em alerta

Por Paulo Silva

O Algarve, tradicionalmente visto como um dos motores turísticos de Portugal, enfrenta uma crise social crescente que tem vindo a pôr à prova as instituições de solidariedade social. Lagos, um dos concelhos mais emblemáticos da região, não escapa a esta realidade, com um aumento do número de famílias em situação de vulnerabilidade e instituições sobrecarregadas, incapazes de responder a todas as necessidades.

Cenário de agravamento social

A crise social no Algarve tem sido alimentada por múltiplos fatores, desde o aumento do custo de vida, a dificuldade em encontrar habitação acessível e a sazonalidade do emprego. Em Lagos, a situação tornou-se especialmente preocupante, com cada vez mais famílias a recorrerem a apoios alimentares e a procurarem auxílio para pagar rendas e despesas básicas.

“As pessoas chegam-nos desesperadas. O custo da habitação é incomportável para muitas famílias, e quem vive do turismo sofre com a falta de estabilidade no emprego”, afirma um responsável de uma instituição social local, que prefere manter o anonimato.

Instituições no limite

As instituições de apoio social têm tentado colmatar as falhas do sistema, mas estão a atingir os seus limites. A Santa Casa da Misericórdia de Lagos, por exemplo, tem registado um aumento no número de pedidos de ajuda, não só para alimentos, mas também para apoio psicológico e procura de emprego.

Outro grande desafio para as instituições é a falta de habitação a preços acessíveis. A procura turística inflacionou os preços das rendas, tornando quase impossível para muitas famílias manterem uma casa, especialmente para quem vive com salários mínimos ou subsídios sociais.

População idosa e sem-abrigo em risco

Além das famílias, há dois grupos particularmente afetados: os idosos e as pessoas em situação de sem-abrigo. Muitos idosos no Algarve vivem com reformas baixas e enfrentam dificuldades acrescidas para pagar despesas básicas. Já a população sem-abrigo tem aumentado significativamente nos últimos anos, um fenómeno que se tornou mais visível em Lagos e noutras cidades algarvias.

“A pobreza está mais escondida no Algarve do que noutras partes do país, porque muita gente ainda acha que esta é uma região rica. Mas a verdade é que há cada vez mais pessoas a viver em situações precárias”, alerta um voluntário que distribui refeições no concelho.

Soluções à vista?

Apesar do cenário difícil, há esforços para mitigar o impacto da crise. Algumas associações locais têm reforçado parcerias com supermercados e restaurantes para garantir que os alimentos em excesso cheguem a quem precisa. Também têm sido promovidas campanhas para angariação de fundos e para sensibilizar a população sobre a gravidade da situação.

No entanto, as soluções a longo prazo ainda parecem distantes. As instituições pedem ao Governo um maior apoio ao setor social e políticas públicas mais eficazes para combater a exclusão e a pobreza. Entre as sugestões estão a criação de habitação social, incentivos para empresas contratarem trabalhadores em situações vulneráveis e mais investimento em estruturas de apoio social na região.

Enquanto isso, a realidade é dura para muitas famílias e indivíduos em Lagos e no resto do Algarve. As instituições fazem o que podem, mas o sentimento geral é que a crise social está longe de ser resolvida.