Reza a imaginação que Gil Eanes, herói das navegações e orgulho de Lagos, decidiu regressar por uns dias à sua cidade natal. Encontrou-a em plena euforia eleitoral: políticos a distribuir abraços em arraiais, selfies no meio das sardinhas assadas e promessas tão abundantes como o vinho servido nos copos de plástico.
Ao atravessar o largo, deparou-se com o velho conhecido de todos: o Zé Povinho, de bigode desconfiado e olhar irónico.
— Bem-vindo, Gil! Antigamente enfrentavas monstros marinhos. Hoje os monstros são outros: aparecem só em tempo de eleições e desaparecem logo a seguir, como barcos fantasmas.
Gil Eanes olhou em redor, surpreendido:
— Nos meus tempos, para conquistar glória era preciso navegar além da Boa Esperança. Agora basta atravessar o pavilhão do clube e acenar à população!
Zé Povinho, com ar matreiro, encolheu os ombros:
— Pois é, herói. Cá por nós, só temos eleições de quatro em quatro anos. Mas, quando chegam, parece que toda a cidade virou porto seguro para marinheiros da política.
Gil Eanes suspirou e rematou:
— Se calhar deviam mesmo fazer eleições todos os anos. Assim ao menos não se esqueciam de aportar a Lagos.
E Zé Povinho, levantando o copo de tinto, concluiu com a sua ironia habitual:
— Deixa estar, Gil… que promessas já temos de sobra. O que falta mesmo é coragem para as cumprir.










