Exclusivo – O grande alerta do escritor José António Martins, residente no concelho de Lagos, em entrevista ao ‘Litoralgarve’ “Continuamos a não valorizar a História Local e Regional no ensino até ao Secundário”

“Esse papel, tão essencial à formação das comunidades, continua a ser feito pelas Autarquias Locais, com a publicação de livros sobre a sua História e a sua promoção através de eventos como os Passeios Culturais”, sublinha.

Nesta entrevista exclusiva, concedida ao ‘Litoralgarve’, na sequência da recente apresentação do livro «Odiáxere – História e Património», José António de Jesus Martins, funcionário da Câmara Municipal de Lagos, investigador e escritor, com muitas obras publicadas, recorda o passado da freguesia, palco da guerra civil em Portugal, entre liberais e miguelistas, traça um retrato sobre a atualidade e aponta sugestões para o futuro, nomeadamente acerca da promoção turística do seu património.

Por outro lado, numa altura em que a Freguesia de São Gonçalo de Lagos assinala dez anos de existência, José António de Jesus Martins apresenta mais uma publicação dedicada ao padroeiro do município lacobrigense, desta vez sobre a data da sua morte e os seus milagres. E até já se prepara para publicar mais livros sobre o Algarve, enquanto aguarda convites para outros desafios literários.

José Manuel Oliveira

Litoralgarve – Como e quando surgiu a ideia de escrever o livro intitulado «Odiáxere – História e Património»?

José António de Jesus Martins – O projeto teve início em 2023, com o convite do senhor Presidente da Junta de Freguesia de Odiáxere, Carlos Fonseca, com vista à atualização do estudo relacionado com a História da Freguesia, de minha autoria, publicado em 1995. Entre 2023 e 2024 realizámos as investigações necessárias para a atualização dos dados publicados em 1995, assim como na Torre do Tombo investigámos documentação relacionada com a padroeira de Portugal – Nossa Senhora da Conceição  – instituída por D. João IV aquando da Restauração. Fomos informados, pelo senhor Presidente da Junta de Freguesia, ainda que haveria um dado novo sobre a Freguesia, relacionado com a poetisa Ofélia Queiróz, que na sua juventude fora namorada do poeta Fernando Pessoa. Ofélia teve ligações a Odiáxere através dos seus progenitores. Após uma meticulosa investigação na Biblioteca Nacional de Lisboa, encontrámos informações muito interessantes, as quais incluímos no estudo agora publicado com o título “Odiáxere-História e Património”.

Seis meses foi o período que demorou a escrever o texto do livro «Odiáxere – História e Património

“Não teve um tempo de investigação linear. Teve várias interrupções temporais em virtude das minhas responsabilidades profissionais. Iniciou-se em 2023 e terminou em meados de 2025, com edição do mesmo”

Litoralgarve – Quanto tempo demorou a recolher a informação? E que dificuldades enfrentou?

José António de Jesus Martins – Este trabalho de investigação não teve um tempo de investigação linear. Teve várias interrupções temporais em virtude das minhas responsabilidades profissionais. Iniciou-se em 2023 e terminou em meados de 2025, com edição do mesmo. A redação do texto teve um período de seis meses de realização.

“Pouco mais de 3 mil euros” nesta edição com mil exemplares 

Litoralgarve – Quais os custos?

José António de Jesus Martins  –  Em termos de edição, para 1.000 exemplares, este Estudo teve o custo de pouco mais de 3 mil euros.

“É um trabalho de um investigador, o qual, nas suas pesquisas e investigações teve de indagar junto de várias entidades a existência, ou não, de determinada documentação e de completar outra já conhecida para conceção deste estudo. Não se trata, pois, de um trabalho com a participação de vários investigadores”

Litoralgarve – Contou com colaboradores, ou realizou sozinho este trabalho?

José António de Jesus Martins – Este estudo não é um trabalho de Coordenação, não se tratando de Congresso ou ‘Simposium’ sobre determinada temática. É um trabalho de um investigador, o qual, nas suas pesquisas e investigações teve de indagar junto de várias entidades a existência, ou não, de determinada documentação e de completar outra já conhecida para conceção deste estudo. Não se trata, pois, de um trabalho com a participação de vários investigadores, mas de um trabalho de um investigador atualmente integrado num Centro de Investigação Universitário.

A importância da publicação em ‘braille’ destinada a invisuais

“Para que tenhamos uma noção deste tipo de traduções, uma folha A4 em ‘word’ corresponde a 4 em Braile. Vários exemplares foram disponibilizados a quem os desejasse possuir, existindo um exemplar na Biblioteca Municipal de Lagos e outro na Junta de Freguesia de Odiáxere, ambos para consulta”

Litoralgarve – Como foi levada a efeito a edição em braille? E qual a importância que as pessoas invisuais sentem nesta obra?

José António de Jesus Martins – Por sugestão do senhor Presidente da Junta de Freguesia de Odiáxere, foi contactada a ACAPO [Associação dos Cegos e Ambíopes de Portugal], cuja Direção encaminhou a intenção da autarquia para o Departamento responsável, tendo os colaboradores realizado a tradução (um agradecimento especial ao senhor Manuel, da ACAPO- Lisboa) do português para o Braile. Para que tenhamos uma noção deste tipo de traduções, uma folha A4 em ‘word’ corresponde a 4 em Braile. Vários exemplares foram disponibilizados a quem os desejasse possuir, existindo um exemplar na Biblioteca Municipal de Lagos e outro na Junta de Freguesia de Odiáxere, ambos para consulta.

“Surpreendeu-me o facto de ter encontrado documentação sobre a poetisa Ofélia Queiróz, a namorada portuguesa de Fernando Pessoa”

Litoralgarve – E o que mais o surpreendeu durante a investigação para este livro? O que mais destaca?

José António de Jesus Martins – Surpreendeu-me o facto de ter encontrado documentação sobre a poetisa Ofélia Queiróz, a namorada portuguesa de Fernando Pessoa, assim como ter descoberto que a titularidade do orago da Freguesia – Nossa Senhora da Conceição, ser anterior à proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, uma vez que a documentação mais antiga que hoje conhecemos sobre a Paróquia de Odiáxere é datada dos finais do século XVI, embora estejamos certos de que será mais antiga. Contudo, também sabemos que muita da documentação que havia no Arquivo da Diocese do Algarve, anterior a 1596, desapareceu no saque e incêndio ocorrido nesse ano.

Foi “um livro que me deu imenso prazer escrever”

“Não tivemos limitações de tempo para investigarmos os documentos. Um livro é sempre um livro, quer seja volumoso ou uma síntese daquilo que investigámos”

Litoralgarve – É o livro que desejou ou, apenas, o possível?

José António de Jesus Martins – Direi que se trata de um livro que me deu imenso prazer escrever. Atendendo que estava esgotado há imensos anos e que era constantemente solicitado para estudos de vários graus de ensino, esta edição foi para mim algo muito desejado.

Não tivemos limitações de tempo para investigarmos os documentos. Um livro é sempre um livro, quer seja volumoso ou uma síntese daquilo que investigámos. Defendemos que no estado atual da investigação, e com muita documentação disponibilizada ‘online’ pelas entidades e instituições, os interessados, os leitores, que desejem saber mais sobre determinado tema abordado num livro (neste caso impresso em papel), podem consultar as referências que disponibilizamos nas fontes da citada publicação. Um livro, como anteriormente afirmámos, não tem de ser volumoso para ser um bom livro. Tem é de disponibilizar a informação que o seu autor entende para que o público a que se destina o entenda e o aprecie.

“Durante mais de 30 anos tive o gosto de coordenar esses Passeios em Lagos e só assim foi possível dar a conhecer o que nem os próprios livros tinham escrito sobre as especificidades que todos os anos vamos encontrando sobre esta terra. A publicação destes trabalhos nunca deve terminar, tanto em suporte de papel como em ‘e-books’, por exemplo.”

Litoralgarve – Qual a importância deste trabalho junto das escolas, dos professores e dos estudantes?

José António de Jesus Martins – Continuamos  a não valorizar a História Local e Regional no Ensino até ao Secundário. Esse papel, tão essencial à formação das comunidades, continua a ser feito pelas Autarquias Locais, com a publicação de livros sobre a sua História e a sua promoção através de eventos como os Passeios Culturais. Durante mais de 30 anos tive o gosto de coordenar esses Passeios em Lagos e só assim foi possível dar a conhecer o que nem os próprios livros tinham escrito sobre as especificidades que todos os anos vamos encontrando sobre esta terra. A publicação destes trabalhos nunca deve terminar, tanto em suporte de papel como em ‘e-books’, por exemplo.

“O Sítio da Torre era uma zona de gente com rendimentos, a atestar pela documentação conhecida. Rendimentos provindos sobretudo dos mercados do gado. Terá sido essa população, ao longo de várias gerações, que construiu a igreja que hoje conhecemos. No início seria uma pequena igreja, mas no século XVII, por intervenção e com apoio financeiro do próprio bispo, a igreja cresce e notabiliza-se”

Litoralgarve – Na apresentação do livro «Odiáxere – História e Património», apontou o Sítio da Torre como uma zona abastada desta freguesia do concelho de Lagos. Que tipo de pessoas ali vivia e qual a riqueza gerada?

José António de Jesus Martins – O núcleo habitacional de Odiáxere parece ter sido iniciado, sobretudo nos séculos XVI- XVII numa localidade conhecida pela Torre, distante da sede de Freguesia que hoje conhecemos. A Igreja Matriz, a ser datada do século XVI, estava localizada num ermo e fora do âmbito da génese populacional. O Sítio da Torre era uma zona de gente com rendimentos, a atestar pela documentação conhecida. Rendimentos provindos sobretudo dos mercados do gado. Terá sido essa população, ao longo de várias gerações, que construiu a igreja que hoje conhecemos. No início seria uma pequena igreja, mas no século XVII, por intervenção e com apoio financeiro do próprio bispo, a igreja cresce e notabiliza-se. Sugiro a leitura do estudo agora publicado para um melhor entendimento do que aqui menciono.

“Relembro o trigo e as árvores de sequeiro, por exemplo. No entanto, uma que atraiu imensa gente (sobretudo mulheres), na década de X do século passado, foram os arrozais. Hoje já nada existe, mas nesse tempo eram muitos os campos de arroz na Freguesia de Odiáxere. No caso do arroz, a sua apanha seria exportada para outras partes de Portugal”

“A Freguesia de Odiáxere era famosa pelos seus mercados mensais e anuais. Estes caracterizavam-se pela exposição de vária tipologia de gado, com destaque para o gado bovino, mas também ovino, caprino e equino” 

Litoralgarve – Num meio rural como Odiáxere, quais eram as principais produções agrícolas?

José António de Jesus Martins – As que podíamos encontrar em muitas outras com as características da Freguesia de Odiáxere. Relembro o trigo e as árvores de sequeiro, por exemplo. No entanto, uma que atraiu imensa gente (sobretudo mulheres), na década de X do século passado, foram os arrozais. Hoje já nada existe, mas nesse tempo eram muitos os campos de arroz na Freguesia de Odiáxere.

Litoralgarve – Serviam, apenas, para consumo próprio, ou os produtos também se destinavam a venda? Para onde?

José António de Jesus Martins – Para ambas as situações, mas no caso do arroz, a sua apanha seria exportada para outras partes de Portugal.

Litoralgarve – E ao nível de animais?

José António de Jesus Martins – A Freguesia de Odiáxere era famosa pelos seus mercados mensais e anuais. Estes caracterizavam-se pela exposição de vária tipologia de gado, com destaque para o gado bovino, mas também ovino, caprino e equino. 

Em Odiáxere, “o moinho deve ser preservado e conservado. É um dos poucos exemplares existentes que encontramos no Algarve e no País. Sendo propriedade da Junta de Freguesia, é um bem público e, portanto, municipal. Não se pode, de modo algum, deixar ao abandono (o que não é o caso) um Moinho com estas características.”

“O grande problema de querermos dar uma funcionalidade ao Património desta tipologia é a necessidade de termos recursos humanos que o ponham funcionar e que exista mão-de-obra especializada para a sua manutenção.

“Cada vez mais é difícil encontrarmos quem faça essa manutenção. Contudo, devemos ir ao encontro (mesmo em outros municípios que detêm esta tipologia de Património) de quem nos possa ajudar a manter vivo este legado, símbolo de muitas das povoações rurais.”

Litoralgarve – O moinho continuará a ser um símbolo de Odiáxere? O que deve ali funcionar? 

José António de Jesus Martins – O moinho deve ser preservado e conservado. É um dos poucos exemplares existentes que encontramos no Algarve e no País. Sendo propriedade da Junta de Freguesia, é um bem público e, portanto, municipal. Não se pode, de modo algum, deixar ao abandono (o que não é o caso) um Moinho com estas características. Para além de ser um símbolo do Património Etnográfico, faz parte integrante da Heráldica da Vila. O grande problema de querermos dar uma funcionalidade ao Património desta tipologia é a necessidade de termos recursos humanos que o ponham funcionar e que exista mão-de-obra especializada para a sua manutenção. Cada vez mais é difícil encontrarmos quem faça essa manutenção. Contudo, devemos ir ao encontro (mesmo em outros municípios que detêm esta tipologia de Património) de quem nos possa ajudar a manter vivo este legado, símbolo de muitas das povoações rurais.

Em Odiáxere, “ao longo da minha experiência profissional e como investigador, fui muitas vezes abordado por moradores e cidadãos, em geral, que me afirmavam ser naturais e residentes na povoação há décadas e que desconheciam a sua própria terra, tanto ao nível da sua historiografia, como ao nível do seu Património”

“Hoje conhecemos o Património da Freguesia de Odiáxere. O passo seguinte é continuar a divulgá-lo e organizar os meios para que se possa conhecer a sua origem e a sua contextualidade na História da própria localidade. Pequenas brochuras multilíngues, coleção de postais, criação de QR Codes, hoje tão acessíveis pelos telemóveis, etc., contribuirão para a promoção do Património da Freguesia”

Litoralgarve – Como preservar e promover outros elementos do património?

José António de Jesus Martins – É hábito referirmo-nos à salvaguarda do Património com esta frase: «Não se protege o que não se conhece». Este não é o caso do Património da Freguesia. Desde 1989, com a publicação do primeiro Estudo Histórico sobre a Freguesia de Odiáxere e em 1995, com a reedição desse Estudo, para além de outros estudos parcelares que editamos sobre esta povoação, todos ficámos a saber um pouco melhor sobre a existência tipológica do património desta Freguesia. E mesmo antes da edição destes estudos, outros investigadores e estudiosos já se tinham debruçado sobre a História da Freguesia de Odiáxere. Contudo, o acesso à população do conhecimento da sua História e Património apenas com esta tipologia de estudos e com características de maior compreensão, com uma escrita mais acessível é que puderam ser disponibilizados nos finais da década de 80 do século passado pelo executivo da Junta de Freguesia à época, com o apoio da Câmara Municipal de Lagos. Trata-se de estudos não académicos, de síntese e acessíveis (muitas vezes gratuitos) a toda a população. Apenas assim podemos ter uma garantia de que todos os podem ler e a ficar a conhecer melhor a sua terra.

Ao longo da minha experiência profissional e como investigador, fui muitas vezes abordado por moradores e cidadãos, em geral, que me afirmavam ser naturais e residentes na povoação há décadas e que desconheciam a sua própria terra, tanto ao nível da sua historiografia, como ao nível do seu Património.

Hoje conhecemos o Património da Freguesia de Odiáxere. O passo seguinte é continuar a divulgá-lo e organizar os meios para que se possa conhecer a sua origem e a sua contextualidade na História da própria localidade. Pequenas brochuras multilingues, coleção de postais, criação de QR Codes, hoje tão acessíveis pelos telemóveis, etc., contribuirão para a promoção do Património da Freguesia.

Apeadeiro de Odiáxere? “Se se encontra degradado e sem utilização, temos de pensar muito bem quais as valorizações que desejamos para o mesmo e se esse investimento tem ou não interesse patrimonial”

Litoralgarve – O que deveria ser feito no apeadeiro de Odiáxere?

José António de Jesus Martins – Em minha opinião, se se encontra degradado e sem utilização, temos de pensar muito bem quais as valorizações que desejamos para o mesmo e se esse investimento tem ou não interesse patrimonial. Estarmos a investir milhares de euros para que não tenha utilização, não seja visitado, não seja vitalizado, sem recursos humanos para que possa estar aberto com horário e condições de acessibilidade, temos muito bem de pensar nos desafios que esta tipologia de património encerra.

Compreendo a importância que o mesmo teve num passado recente, mas qual sua função atual? A quem pertence este apeadeiro? Temos de equacionar muito bem qual a sua função de o queremos reabilitar e até se existe ou não, interesse nisso.

O efeito da Estrada Nacional 125, em Odiáxere

“No papel desde há mais de 20 anos, a Circular de Lagos para Portimão (e vice-versa) teima em não se concretizar, ou por ausência de vontade política nacional ou por custos enormes de concretização”

“Para minimizar a situação atual ao nível da segurança e do ruído, com uma vigilância apertada aos infratores das velocidades mínimas no interior das povoações, com os semáforos a funcionar devidamente (ou mesmo com colocação de lombas para evitar excessos de velocidade) e com a sucessiva pintura das passadeiras, parece-nos que se podem colmatar várias situações”

Litoralgarve – Qual é influência da Estrada Nacional 125 nesta localidade do concelho de Lagos?

José António de Jesus Martins – Tanto quanto me tenho apercebido ao longo de três décadas (período em que me estabeleci no município de Lagos e morador na Freguesia de Odiáxere), a passagem de um dos troços da EN 125 existente nesta localidade, dividiu a povoação, havendo um conjunto de casas de um lado e de um outro da povoação, conjunto urbanístico este que se inicia junto à sede do Clube da terra e termina no início de um conjunto de prédios, quando se caminha em direção ao Chinicato (uma parte pertencente ainda a Odiáxere e outra à Freguesia de São Gonçalo de Lagos). Naturalmente que, também, fazendo o caminho inverso, encontramos dezenas de habitações que, por si só, parecem fazer muros que ladeiam este troço de Estrada. Este troço, actualmente, está mais estreito do que nos finais dos Anos 80 do século passado, pois nessa época quase não havia locais para as pessoas passarem, nem semáforos (hoje constantemente avariados, estando o existente na direcção Portimão-Lagos sem utilização há meses), nem passadeiras. Este troço foi, até há poucos anos, um dos mais mortais da zona.

Contudo, actualmente existe mais segurança para a sua população e para os que visitam a Freguesia.

Outra nota negativa que encontramos na caracterização deste troço, relaciona-se com as centenas de veículos que cruzam a Freguesia diariamente (um pouco menos desde que as portagens na A22/Via do Infante foram abolidas), tanto de dia como de noite, embora em período nocturno se faça sentir menos o ruido, assim como os gazes da combustação, nocivos para a saúde humana, da maior parte desses veículos.

Também não podemos esquecer as inúmeras ambulâncias que percorrem esse troço na direção de Lagos para Portimão, sendo as buzinas das mesmas autênticos alertas de sobressalto e que têm, sem dúvida, um aspeto nocivo do bem-estar (mental e auditivo) das pessoas que residem nas redondezas, embora reconhecendo que não existe uma alternativa (a Autoestrada A22 entre Lagos e Portimão não responde à emergência destas ambulâncias, pois para o efeito, o percurso é ainda maior) e a que está no papel desde há mais de 20 anos, a Circular de Lagos para Portimão (e vice-versa), teima em não se concretizar, ou por ausência de vontade politica nacional ou por custos enormes de concretização.

De qualquer modo, e para minimizar a situação atual ao nível da segurança e do ruído, com uma vigilância apertada aos infratores das velocidades mínimas no interior das povoações, com os semáforos a funcionar devidamente (ou mesmo com colocação de lombas para evitar excessos de velocidade) e com a sucessiva pintura das passadeiras, parece-nos que se podem colmatar várias situações e esperar, tão breve quanto desejável, que se iniciem as obras da Circular tão necessária para o município de Lagos.

“Promotores e agentes de viagens podem direcionar os seus clientes para visitas à Barragem da Bravura (Observação do seu espelho de água); para a observação do Pórtico da Igreja Matriz, que é Património Nacional; para observação e conhecimento do Moinho de Vento do século XIX; e um Passeio à Ponte Medieval de Arão, única na Freguesia. Claro que, para isso, teremos de ter recursos humanos especializados, com formação específica para essas visitas”

“Considerando que a Freguesia de Odiáxere se encontra a cerca de 10 minutos da cidade de Lagos e desfruta dos meios necessários para uma vivência familiar contemporânea (estabelecimentos comerciais, banco, transportes públicos, etc.), a construção de moradias e de mais apartamentos poderá constituir uma oportunidade para a aquisição de casa para a classe média a preços (assim pensamos), mais convidativos para quem deseja adquirir habitação e residir no concelho de Lagos. Odiáxere poderá ser uma opção futura de habitação e com mais gente outros serviços, necessariamente, aparecerão”

“A sua localização próxima de Lagos e também de Portimão poderá constituir um factor de desenvolvimento futuro, aliado à construção da tão desejada Circular rodoviária”

Litoralgarve – Como encara o futuro de Odiáxere?

José António de Jesus Martins – Esta Freguesia, como as restantes deste município, tem vindo a conhecer melhoramentos a vários níveis da sociabilidade das suas populações, sobretudo a partir do início deste século. Contudo, já nos finais dos anos 90 do século passado, esta localidade foi objeto de estudo em meio académico e as conclusões foram enviadas à Região de Turismo do Algarve, uma vez que o estudo realizado incidia na promoção turística da povoação.

Com efeito, no ano de 1997 realizámos uma Pós-Graduação em ‘Cultural ‘and Heritage Tourism Development pela New York University’, tendo sido desenvolvido um projeto académico com o título: «Odiáxere: a case study», tendo o mesmo obtido a classificação de A. Numa seleção internacional de candidatos europeus (e também de outros continentes), com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, obtive uma bolsa de estudo para realizar esta Pós-Graduação, não existindo à época esta especialidade em Portugal. O projeto foi apresentado em meio universitário na ‘School of Continuing and professional Studies, Preston Robert Tisch Center for Hospitality, Tourism’, and Sports Management’ da citada Universidade e o mesmo estruturava todo um conjunto de meios para a concretização de projetos sobre Gestão em Turismo Histórico e a sua gestão integrada com outras mais-valias internas aos locais onde se destinava. Neste caso centrado em Odiáxere.

Muito desse conhecimento, sobretudo parcelar e em interligação com novas sinergias que na altura surgiram a nível internacional, foram bastante uteis no meu desempenho profissional, dando o exemplo da realização da coordenação técnico-científica do primeiro Festival dos Descobrimentos, em Lagos.

Aliás, depois deste grande evento, outras localidades algarvias tomaram a iniciativa de concretizarem os seus próprios eventos associados às temáticas que escolheram e que ainda hoje têm continuidade.

Entendemos que se houver investimento por parte do município (as Freguesias poucos proventos desfrutam da Lei das Transferências) e se tivermos dirigentes aptos para realizarem os projetos que os norteiam e que neste caso se podem centrar, por exemplo, nos valores patrimoniais da Freguesia, de certeza constituirão um vetor de promoção e riqueza para a localidade.

Promotores e agentes de viagens podem direcionar os seus clientes para visitas à Barragem da Bravura (Observação do seu espelho de água); para a observação do Pórtico da Igreja Matriz, que é Património Nacional; para observação e conhecimento do Moinho de Vento do século XIX; e um Passeio à Ponte Medieval de Arão, única na Freguesia. Claro que, para isso, teremos de ter recursos humanos especializados, com formação específica para essas visitas.

Por outro lado, considerando que a Freguesia de Odiáxere se encontra a cerca de 10 minutos da cidade de Lagos e desfruta dos meios necessários para uma vivência familiar contemporânea (estabelecimentos comerciais, banco, transportes públicos, etc.), a construção de moradias e de mais apartamentos poderá constituir uma oportunidade para a aquisição de casa para a classe média a preços (assim pensamos), mais convidativos para quem deseja adquirir habitação e residir no concelho de Lagos. Odiáxere poderá ser uma opção futura de habitação e com mais gente outros serviços, necessariamente, aparecerão. A sua localização próxima de Lagos e também de Portimão poderá constituir um factor de desenvolvimento futuro, aliado à construção da tão desejada Circular rodoviária.

Escrever outro livro sobre Odiáxere? “Se me convidarem (Junta de Freguesia e/ou Câmara Municipal de Lagos, ou mesmo outras entidades regionais) para novos desafios, poderei ponderar na eventual investigação sobre outras temáticas, nomeadamente sobre o período das Lutas Liberais e a importância desta Freguesia no contexto da guerra civil entre Liberais e Miguelistas”

Litoralgarve – Admite escrever mais livros sobre Odiáxere? Que temas gostaria de abordar?

José António de Jesus Martins – Se me convidarem (Junta de Freguesia e/ou Câmara Municipal de Lagos, ou mesmo outras entidades regionais) para novos desafios, poderei ponderar na eventual investigação sobre outras temáticas, nomeadamente sobre o período das Lutas Liberais e a importância desta Freguesia no contexto da guerra civil entre Liberais e Miguelistas, onde, por exemplo, o Lugar do Descampadinho (topónimo pertencente a este Freguesia) foi palco de lutas sangrentas entre as partes em conflito.

No dia 26 de Agosto será apresentada, no Centro Cultural, “uma publicação com cerca de 40 páginas, centrada especificamente sobre o Padroeiro do Município de Lagos”, São Gonçalo (que dá nome à Freguesia, a qual completa 10 anos de existência), “a sua vivência, os seus Milagres (reconhecidos e outros integrados em Lendas e em datas até há pouco tempo reconhecidas como verdadeiras), assim como um conjunto de reflexões sobre a apropriação da sua hagiografia (27 de Outubro) para a escolha oficial do Feriado Municipal”

xr:d:DAFhZpInEWs:423,j:5615263483816808955,t:23082319

“Estou a ultimar alguns estudos sobre temáticas, que não são as habituais, e centradas sobre a História Local e Regional do Algarve”

Litoralgarve – Além do livro sobre São Gonçalo de Lagos e a data da sua morte, que será apresentado no dia 26 de Agosto, que outras obras gostaria também de publicar?

José António de Jesus Martins – Não se trata propriamente de um livro, mas mais de uma publicação, com cerca de 40 páginas, centrada especificamente sobre o Padroeiro do Município de Lagos (que dá nome à

Freguesia, a qual completa 10 anos de existência), a sua vivência, os seus Milagres (reconhecidos e outros integrados em Lendas e em datas até há pouco tempo reconhecidas como verdadeiras), assim como um conjunto de reflexões sobre a apropriação da sua hagiografia (27 de Outubro) para a escolha oficial do Feriado Municipal de Lagos.

Em relação a outras publicações, estou a ultimar alguns estudos sobre temáticas, que não são as habituais, e centradas sobre a História Local e Regional do Algarve, mas acerca de outras localidades que não Lagos, especificamente.