Entrevista a Samim Essufo a benfeitora distribui refeições solidárias com o apoio da Água Monchique

Samim Essufo arregaçou as mangas e numa altura em que as condições económicas de muitas famílias portuguesas se agravaram, decidiu fazer aquilo, que na sua opinião, melhor sabe fazer: cozinhar e oferecer refeições a sem abrigo e famílias carenciadas. A Água Monchique é um dos parceiros deste projeto que sobrevive graças ao apoio de algumas empresas, mas sobretudo da boa vontade e do empenho de voluntários e da sua mentora, Samim Essufo.

Como é que nasceu o projeto Refeições Solidárias?

Refeições saudáveis

Quando a pandemia assolou o meu país e o estado de emergência foi decretado, muitas famílias viram os seus rendimentos serem abruptamente cortados, com a paragem forçada das suas atividades. Voltar à listagemPREVIOUS

Os pedidos de ajuda para coisas básicas, como a alimentação e a higiene, começaram a surgir como cogumelos. Foi então, que decidi arregaçar as mangas e fazer algo em prol da sociedade em que estou inserida. Resolvi fazer o que melhor sei: cozinhar! Comecei por confecionar 9 refeições semanalmente. Hoje, confeciono cerca de 70 refeições por semana. “Amadrinhei” de alma e coração várias famílias em dificuldades. Entre elas, sem abrigos, famílias sinalizadas por mim e famílias sinalizadas pela assistente social a exercer funções no Centro Social e Paroquial de Corroios. Nada disto teria tomado a proporção que tomou sem a generosidade e o apoio dos que me rodeiam.

Quantas famílias apoia atualmente? O que faz mais falta a essas famílias?


Neste momento, apoio 15 famílias e o que mais faz falta a estas famílias é um prato de comida caseira confecionada com os melhores ingredientes, sobretudo, amor. Este tipo de comida (desde a carne ao peixe) não encontram em nenhuma outra instituição, dizem eles. Sempre que possível, distribuo cabazes com bens de higiene e de limpeza e com lanches direcionados para as crianças. Estes últimos são, na minha opinião, uma grande lacuna que existe na distribuição de cabazes a famílias carenciadas por parte das instituições.


No total, quantas refeições já confecionou desde o início do projeto?


Pelos meus cálculos, terão sido confecionadas cerca de 2600 refeições até à data.

Como é que chega a estas famílias?

Normalmente, são as famílias em dificuldades que me procuram. Outras, mais envergonhadas, pedem ajuda através de terceiros que me conhecem e que conhecem o projeto. Mas é sempre feita uma entrevista prévia, a fim de averiguar a veracidade da situação das famílias para que possam beneficiar do projeto.

Tem apoios de empresas/ associações / entidades? Como é que financia o projeto “Refeições Solidárias”?

Visto que o meu projeto não é uma associação, não conto com apoios oficiais. Apenas conto, pontualmente, com o apoio de algumas empresas como a Sociedade da Água de Monchique (com a doação de águas), Pudins Mandarim e Paladim. Depois, também conto semanalmente com o apoio de duas empresas pertencentes a pessoas amigas, que doam alguns bens alimentares para as refeições. De resto, o projeto tem sobrevivido com o apoio de voluntários anónimos.

Como é que a Água Monchique se associa a esta iniciativa?

Refeições saudáveis

Quando acolhi uma família no projeto onde havia duas crianças doentes oncológicas, uma delas, inclusivamente, transplantada. Tendo tido conhecimento, na altura, das suas necessidades especiais, nomeadamente em relação à água, resolvi contactar a Água Monchique para poder facultar não só a essa família, mas a todas as famílias do projeto as melhores águas no mercado. Neste momento, existe mais uma família com uma doente oncológica.

Conta com o apoio de voluntários?


A confeção é única e exclusivamente da minha responsabilidade. Conto com a ajuda da minha filha, Shabina, para o registo fotográfico e em vídeo e também no embalamento das refeições. Conto, ainda, com a ajuda de quatro voluntários na distribuição das refeições às famílias que residem mais longe.


Como é que este projeto tem sido acolhido pela comunidade?


Confesso que, no início, tive receio de o tornar público, pois não sabia como é que essa ideia seria recebida pelas pessoas que me rodeavam. Mas, à medida que o número de famílias foi crescendo, senti a necessidade de partilhar e apelar à solidariedade dos meus amigos, clientes e conhecidos. Hoje em dia, o projeto já conta com mais de um ano, graças à solidariedade e boa vontade dos “anjos sem asas” (os voluntários anónimos que altruistamente contribuem).

Pondera manter o projeto com o “final” da pandemia?


Sim, sem dúvida. Antes da pandemia muitas das famílias que ajudo, nomeadamente sem-abrigos, já se encontravam em situação de fragilidade socioeconómica. Com o surgir da pandemia, a situação destas famílias só piorou. E se, felizmente, a maior parte da população está a retomar as suas vidas e suas rotinas gradualmente, estas famílias em questão ainda não.

Perfil Samim Essufo:


Nome: Samim Essufo
Idade: 42
Profissão: Cake Designer
Residência: Almada


Sobre mim: “Gosto de viajar, mas adoro regressar ao meu cantinho. Gosto de sorrisos fáceis, mas adoro a descrição. Gosto de pessoas simples, mas adoro o requinte. Para mim, o camarão frito come-se com as mãos, no entanto, uma simples laranja merece ser servida num prato de sobremesa, já cortada em forma de flor, salpicada com um pouquinho de sal e cominhos, para ser degustada com talheres de sobremesa”.