Entrevista a Ângelo Mariano, dirigente da ACRAL – Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve – “Estima-se que o impacto do 12º Festival dos Descobrimentos, em Lagos, tenha ultrapassado meio milhão de euros”

  “Durante os cinco dias do festival, registou-se um aumento considerável no movimento comercial, especialmente no sector da restauração, hotelaria e comércio tradicional”, destaca, em entrevista concedida ao ‘Litoralgarve», Ângelo Mariano, representante da ACRAL, ao apontar para um impacto económico superior a meio milhão de euros, incluindo as vendas directas no recinto do evento. Aquele dirigente associativo aproveita para defender que o Festival dos Descobrimentos, em Lagos, passe a ser anual e distribuído por uma maior área da cidade, além de deixar outras sugestões à Câmara Municipal. Já no seu papel de actor, conta como foi a experiência junto do público por parte do grupo ‘Aqui Há História’, de que faz parte e que esteve envolvido em encenações na embarcação Santa Bernarda, ao largo baía de Lagos, e em teatro volante, na cidade.  
José Manuel Oliveira  

Litoralgarve – Que balanço faz sobre a 12ª. edição do Festival dos Descobrimentos, que decorreu de 30 de Abril a 04 de Maio de 2025, em Lagos?

Ângelo Mariano – O balanço da 12ª. edição do Festival dos Descobrimentos é extremamente positivo, demonstrando a capacidade de Lagos em celebrar e promover a sua rica herança histórica. Eventos como este não só dinamizam a economia local, como também fortalecem a identidade cultural da região. Seria altamente benéfico que esta iniciativa se mantivesse como um evento anual, continuando a inspirar e educar futuras gerações sobre o papel de Portugal nos Descobrimentos.

“De 30 a 40 mil pessoas ao longo dos cinco dias do festival”

“Além de muitos visitantes portugueses, destacaram-se turistas de nacionalidade francesa, alemã, britânica e espanhola, o que mostra que o evento tem já um alcance internacional considerável”

Litoralgarve – Quantas pessoas calcula que estiveram presentes durante os cinco dias deste evento? Quais as nacionalidades? Vieram, de propósito, a Lagos para assistir ao Festival ou estavam de férias? Ou residem no concelho?

Ângelo Mariano – Estima-se que ao longo dos cinco dias do Festival dos Descobrimentos tenham passado por Lagos cerca de 30 a 40 mil pessoas. Naturalmente, estes números variam de dia para dia, sendo o fim-de-semana o período de maior afluência.

Quanto às nacionalidades, tivemos um público bastante diversificado. Além de muitos visitantes portugueses, destacaram-se turistas de nacionalidade francesa, alemã, britânica e espanhola, o que mostra que o evento tem já um alcance internacional considerável.

No que diz respeito à motivação da visita, temos um público muito misto. Há quem venha de propósito a Lagos para assistir ao festival — nomeadamente entusiastas da história e cultura portuguesa — mas também muitos turistas que já estavam a passar férias na região e aproveitaram a oportunidade para participar. Além disso, contámos com uma forte presença da população local e de residentes no concelho, o que é muito importante para nós, porque mostra o envolvimento e o orgulho da comunidade neste evento.

O Grupo «Aqui Há História», de Lagos, composto por 13 elementos, “encantou o público com performances criativas e interativas que enriqueceram a atmosfera histórica do evento. As atuações dividiram-se entre dois cenários distintos: A embarcação Santa Bernarda, na qual realizaram encenações que evocavam as aventuras marítimas dos Descobrimentos; e o teatro volante, que percorreu todo o recinto do festival, oferecendo ao público espectáculos itinerantes com temáticas inspiradas na época dos navegadores portugueses.”

“Destacou-se pela sua capacidade de envolver os visitantes, com encenações dinâmicas e bem-humoradas, proporcionando momentos únicos que contribuíram para o sucesso do evento”

Litoralgarve – Em que consistiu o papel desempenhado pelo grupo «Aqui Há História», de Lagos, do qual o senhor faz parte, quantos elementos o integraram, em que espectáculos e onde? E o que procuraram transmitir ao público?

Ângelo Mariano – O grupo «Aqui Há História» desempenhou um papel central na animação cultural da 12ª. edição do Festival dos Descobrimentos em Lagos. Composto por 13 elementos, o grupo encantou o público, com performances criativas e intercativas, que enriqueceram a atmosfera histórica do evento. As atuações dividiram-se entre dois cenários distintos:

– A embarcação Santa Bernarda, na qual realizaram encenações que evocavam as aventuras marítimas dos Descobrimentos;

– e o teatro volante, que percorreu todo o recinto do festival, oferecendo ao público espectáculos itinerantes com temáticas inspiradas na época dos navegadores portugueses.

O grupo destacou-se pela sua capacidade de envolver os visitantes com encenações dinâmicas e bem-humoradas, proporcionando momentos únicos que contribuíram para o sucesso do evento. A participação do «Aqui Há História» reforçou o carácter imersivo do festival, ajudando a transportar o público para o espírito dos Descobrimentos, de forma autêntica e criativa.

“Quanto aos turistas, a reação foi muito positiva e emotiva. Muitos diziam frases como “Sinto que viajei no tempo”, “Nunca imaginei poder viver a História desta maneira”, ou ainda “É como estar dentro de um filme”

“Alguns perguntaram mesmo se este tipo de encenação estaria disponível noutras cidades de Portugal, o que demonstra o interesse crescente pelo turismo cultural e histórico”

“Recordo-me, particularmente, de uma visitante francesa que nos disse: “Merci pour ce voyage magique. J’ai appris plus aujourd’hui que dans mes livres d’école!”

Litoralgarve – Por onde, em que dias e a que horas, navegou a embarcação de Santa Bárbara, com os elementos do Grupo «Aqui Há História»? O que vos disseram, em concreto, os turistas que acompanharam o percurso? De que frases se lembra?

Ângelo Mariano – A embarcação de Santa Bárbara, uma réplica tradicional que utilizámos com orgulho neste Festival, navegou ao longo da baía de Lagos em vários momentos durante os cinco dias do evento. As saídas aconteceram sobretudo durante as tardes — entre as 15h00 e as 18h00 — nos dias de maior afluência, nomeadamente na sexta-feira, sábado e domingo. A rota incluiu uma travessia simbólica, que partia do Cais da Solaria e contornava a Ponta da Piedade, com momentos de encenação histórica a bordo.

O Grupo «Aqui Há História» esteve presente em todas as viagens com trajes de época e performances que simulavam diálogos de marinheiros, navegadores e figuras emblemáticas da época dos Descobrimentos. Foi uma forma viva de trazer a História para o presente.

Quanto aos turistas, a reacção foi muito positiva e emotiva. Muitos diziam frases como “Sinto que viajei no tempo”, “Nunca imaginei poder viver a História desta maneira”, ou ainda “É como estar dentro de um filme”. Alguns perguntaram mesmo se este tipo de encenação estaria disponível noutras cidades de Portugal, o que demonstra o interesse crescente pelo turismo cultural e histórico.

Recordo-me, particularmente, de uma visitante francesa que nos disse: “Merci pour ce voyage magique. J’ai appris plus aujourd’hui que dans mes livres d’école!” — o que nos enche de orgulho, pois mostra que estamos a cumprir o nosso objectivo de educar e encantar ao mesmo tempo.

Litoralgarve – Onde, e em que dias, decorreu o teatro volante?

Ângelo Mariano – O teatro volante decorreu em vários pontos estratégicos do centro histórico de Lagos, com o objetivo de surpreender o público e integrar o quotidiano da cidade na narrativa do festival. Tivemos actuações itinerantes nos dias 1, 3 e 4 de maio, sobretudo no final da tarde e início da noite, entre as 17h00 e as 20h00. As cenas foram encenadas em locais como a Praça Gil Eanes, o Jardim da Constituição e junto às muralhas. A ideia foi levar a performance até ao público, criando momentos inesperados e muito apreciados por quem visitava a cidade.

“Cerca de 100 pessoas, entre técnicos de som, luz e logística, artistas profissionais, elementos do Grupo «Aqui Há História», figurantes e cerca de 20 Atores, muitos deles jovens locais e estudantes ligados às áreas da cultura e turismo”

Litoralgarve – Qual o número total de técnicos, artistas e voluntários?

Ângelo Mariano – Quanto ao número de participantes na organização, contámos com cerca de 100 pessoas, entre técnicos de som, luz e logística, artistas profissionais, elementos do Grupo «Aqui Há História», figurantes e cerca de 20 atores, muitos deles jovens locais e estudantes ligados às áreas da cultura e turismo. A colaboração entre profissionais e voluntários foi essencial para garantir o bom funcionamento do evento e a autenticidade das recriações.

Litoralgarve – E os custos?

Ângelo Mariano – Em relação aos custos, ainda não sabemos por parte da Câmara Municipal de Lagos. Procuramos sempre otimizar recursos, valorizando o impacto cultural e económico do festival para a cidade.

Vestido de bispo, dar as boas-vindas a Lagos e abençoar a cidade, cumprindo o papel de acolhimento com empatia

Litoralgarve – O senhor surgiu vestido de bispo. Qual o motivo? O que disse? Como se preparou para esta missão?

Ângelo Mariano – Ao surgir como bispo, o bispo deu as boas-vindas a Lagos e abençoou a cidade, cumprindo o papel de acolhimento com simpatia. A preparação para esta missão baseou-se no seu talento para o improviso e na capacidade de comunicar de forma cativante, fruto de uma vasta experiência teatral não só com o grupo «Aqui Há História», mas também com outros coletivos artísticos. 

Litoralgarve – Onde foi buscar as vestes?

Ângelo Mariano – As vestes utilizadas pertencem ao próprio grupo «Aqui Há História» e são um dos primeiros figurinos adquiridos, apesar das limitações financeiras que o grupo enfrenta. Este cuidado com os detalhes reflecte o empenho dos atores em criar personagens verosímeis e interessantes. 

Litoralgarve – O que sentiu por parte das pessoas que assistiram aos espectáculos?

Ângelo Mariano – As reações das pessoas foram extremamente positivas, especialmente durante as atuações na embarcação Santa Bernarda. Os elogios surgiram tanto pela autenticidade das personagens — incluindo um capitão, um contramestre, um imediato, um frade e marinheiros  – como pela forma criativa de movimentar o barco, recriando tarefas náuticas com toques de humor.

Diariamente, após a animação a bordo, o grupo vestia-se com figurinos diferentes, conforme as encenações propostas pela Câmara Municipal de Lagos, mantendo sempre a diversidade teatral e o envolvimento activo com o público.

Litoralgarve – O que vos disseram?

Ângelo Mariano – O público mostrou grande apreço pelo profissionalismo, questionando muitas vezes se o grupo era local, além de sugerir que as actuações fossem anuais, mesmo que implicassem algum custo. Houve, ainda, convites para participar noutros festivais, tanto a nível nacional, como internacional, destacando a qualidade das interpretações e o impacto positivo deixado. Esta experiência no festival reforça a importância de manter e apoiar iniciativas culturais como esta, promovendo não só a História de Lagos, mas também o talento artístico local.

Convites para o grupo «Aqui Há História» participar em recriações de Norte a Sul de Portugal, além de Génova, em Itália

Litoralgarve – Em Portugal, onde surgiram esses convites? E noutros países? Podem ser, ainda, para 2025?

Ângelo Mariano – Sim, é verdade que o Grupo «Aqui Há História» tem vindo a receber cada vez mais convites para participar em festivais históricos e eventos culturais, tanto em Portugal como no estrangeiro. Isso é sinal do reconhecimento do trabalho que temos vindo a desenvolver e do impacto positivo das nossas recriações. A nível nacional, recebemos convites  para o Festival de Mercados Medievais, de Norte a Sul do país, no âmbito das Jornadas Históricas. 

A nível internacional, surgiu uma proposta de participação num evento temático em Itália, mais precisamente em Génova, relacionado com figuras históricas do Renascimento e do mundo marítimo.

Estamos a analisar todos estes convites, com muito cuidado, porque queremos garantir que cada participação seja bem preparada, com qualidade e respeito pelo contexto local. E muitos destes convites referem-se já a eventos em 2025, o que nos permite planear com mais tempo e, se possível, envolver ainda mais parceiros e voluntários.

Os benefícios que poderão surgir deste Festival dos Descobrimentos em Lagos, para as relações da cidade com o Japão e o seu impacto internacional

Litoralgarve – Como reagiu o embaixador do Japão em Portugal a este Festival dos Descobrimentos, em Lagos? O que disse o diplomata?

Ângelo Mariano – Durante a 12ª. edição do Festival dos Descobrimentos, em Lagos, o Embaixador do Japão em Portugal, Ota Makoto, reagiu de forma muito positiva à iniciativa. Embora não haja declarações públicas específicas sobre o evento, é sabido que o Embaixador valoriza profundamente os laços históricos e culturais entre Portugal e o Japão, que remontam há quase 500 anos, desde a chegada dos navegadores portugueses à ilha de Tanegashima, em 1543 .

A temática do festival deste ano, “A Grande Aventura: De Lagos ao Japão”, destacou, precisamente, essa ligação histórica, proporcionando uma oportunidade única para celebrar e reforçar os laços entre os dois países. O Embaixador tem enfatizado a importância de eventos culturais que promovem o entendimento mútuo e a cooperação entre as nações, e certamente considerou o festival como um exemplo notável desse esforço.

A presença e o apoio do Embaixador ao festival reflectem o compromisso contínuo em fortalecer as relações bilaterais e em promover o intercâmbio cultural entre Portugal e o Japão.

Litoralgarve – Que benefícios poderão surgir deste Festival dos Descobrimentos para as relações culturais, comerciais e a outros níveis entre Lagos e o Japão?

Ângelo Mariano – O Festival dos Descobrimentos em Lagos, com o tema “A Grande Aventura: De Lagos ao Japão”, abre portas a benefícios significativos tanto a nível cultural, como comercial, fortalecendo a ligação histórica entre as duas regiões.

Benefícios culturais:

– Reforço dos laços históricos: A celebração do encontro entre Portugal e o Japão permite valorizar um património comum, promovendo um maior entendimento mútuo;

– Intercâmbio artístico: A participação de grupos culturais portugueses e a valorização da História dos Descobrimentos inspiram colaborações futuras com instituições culturais japonesas;

Projecção internacional de Lagos: Ao envolver representantes diplomáticos, como o Embaixador do Japão, o Festival ganha visibilidade além-fronteiras, consolidando Lagos como um centro cultural de referência.

Benefícios comerciais:

– Turismo internacional: A promoção da História conjunta atrai visitantes japoneses e turistas interessados na temática, dinamizando o sector hoteleiro e comercial local;

Oportunidades de negócios: O envolvimento de autoridades japonesas pode abrir portas para parcerias económicas, investimentos e intercâmbios comerciais entre Lagos e o Japão;

Gastronomia e artesanato: A valorização das tradições locais, combinada com elementos da cultura japonesa, pode resultar no desenvolvimento de produtos turísticos únicos.

Outros benefícios: Educação e conhecimento. A criação de projectos educativos inspirados no festival poderá fortalecer a compreensão histórica nas escolas de Lagos.

Reconhecimento da identidade local: Celebrar a epopeia dos Descobrimentos fortalece o orgulho comunitário e a valorização das raízes históricas da cidade.

Em conclusão: O festival demonstra ser uma iniciativa altamente positiva para Lagos, promovendo a cidade como um ponto de encontro cultural e histórico entre o Ocidente e o Oriente. Este evento contribui para consolidar as relações com o Japão, trazendo benefícios económicos e sociais significativos para a comunidade local.

“Gostaria muito de ver uma artéria de Lagos com o nome de uma cidade do Japão. Seria uma forma simbólica e bonita de reforçar os laços históricos entre os dois países, que remontam ao século XVI, quando os portugueses foram os primeiros europeus a chegar ao Japão, em 1543”

“Quanto à localização ideal em Lagos, penso que uma rotunda ou praceta na zona da Meia Praia — onde o mar está sempre presente e que tem vindo a crescer com novos espaços urbanos — seria perfeita para acolher esse nome”

Litoralgarve – Gostaria de ver uma artéria (avenida, praça, praceta, rua, rotunda, ou até um edifício público) de Lagos, com o nome de uma cidade do Japão? Qual a zona de Lagos e qual a cidade japonesa? E porquê?

Ângelo Mariano – Sim, gostaria muito de ver uma artéria de Lagos com o nome de uma cidade do Japão. Seria uma forma simbólica e bonita de reforçar os laços históricos entre os dois países, que remontam ao século XVI, quando os portugueses foram os primeiros europeus a chegar ao Japão, em 1543.

A cidade japonesa que escolheria seria Tanegashima, que foi precisamente a primeira ilha onde desembarcaram os navegadores portugueses. Este contacto marcou o início de uma relação comercial e cultural intensa, incluindo a introdução da espingarda no Japão — conhecida por lá como “tanegashima”, em homenagem ao local.

Quanto à localização ideal em Lagos, penso que uma rotunda ou praceta na zona da Meia Praia — onde o mar está sempre presente e que tem vindo a crescer com novos espaços urbanos — seria perfeita para acolher esse nome. Seria não só uma homenagem à História, mas também uma forma de valorizar o intercâmbio cultural e abrir portas a futuras colaborações entre Lagos e cidades japonesas.

Este gesto teria, também, um potencial educativo e turístico, despertando a curiosidade de quem passa e incentivando a conhecer melhor essa ligação luso-nipónica.

“Seria perfeitamente possível — e até desejável — que Lagos viesse a geminar-se com uma cidade do Japão. A cidade que sugeriria para essa geminação seria, novamente, Tanegashima, pela importância histórica que tem como o primeiro ponto de contacto entre portugueses e japoneses”

“Outra opção muito simbólica seria Nagasaki, que teve um papel central na relação luso-nipónica e onde os portugueses deixaram um legado cultural profundo”

Litoralgarve – É possível Lagos vir a geminar-se com uma cidade do Japão? Qual? Que benefícios poderiam resultar desse intercâmbio? Haveria mais turistas japoneses e durante todo o ano em Lagos?

Ângelo Mariano – Sim, acredito que seria perfeitamente possível — e até desejável — que Lagos viesse a geminar-se com uma cidade do Japão. Seria um passo natural, tendo em conta a ligação histórica entre os dois países desde o século XVI. A cidade que sugeriria para essa geminação seria, novamente, Tanegashima, pela importância histórica que tem como o primeiro ponto de contacto entre portugueses e japoneses. Outra opção, muito simbólica, seria Nagasaki, que teve um papel central na relação luso-nipónica e onde os portugueses deixaram um legado cultural profundo.

Os benefícios de um intercâmbio desta natureza seriam inúmeros. Em primeiro lugar, permitiria reforçar os laços culturais, promovendo iniciativas conjuntas nas áreas da educação, turismo, artes e património. Poderíamos ter intercâmbios escolares, exposições conjuntas, semanas culturais e até colaborações entre universidades e museus.

Do ponto de vista turístico, abriria portas a uma maior divulgação de Lagos no Japão, especialmente entre os viajantes que procuram experiências culturais autênticas e destinos históricos — algo que Lagos tem em abundância. Este tipo de geminação poderia ajudar a atrair mais turistas japoneses durante todo o ano, não apenas na época alta, o que contribuiria para a descentralização e sustentabilidade do turismo local.

Além disso, traria também benefícios económicos, ao incentivar o investimento em produtos culturais e na melhoria da oferta turística para este público específico, que valoriza muito a hospitalidade, o património e a autenticidade.

“Há já algumas zonas identificadas que poderão ser integradas no circuito do festival. Em concreto, a área do Jardim da Constituição, que oferece um espaço verde e amplo junto às muralhas, poderia acolher actividades mais familiares, oficinas ou actuações ao ar livre”

“Outro local estratégico seria a frente ribeirinha, que permite um enquadramento belíssimo para eventos náuticos ou recriações ligadas à navegação e à construção naval” 

Litoralgarve – Defendeu, nesta entrevista, a necessidade de completar o espaço de distribuição, ou seja, expandir o recinto do Festival dos Descobrimentos, em Lagos, para evitar aglomerações de pessoas. Quais os locais em concreto que poderão ser utilizados na próxima edição?

Ângelo Mariano – Um dos pontos que consideramos fundamentais para a próxima edição do Festival dos Descobrimentos é a expansão do recinto, precisamente para garantir maior fluidez, segurança e conforto aos visitantes. O crescimento do número de participantes nos últimos anos é um sinal muito positivo, mas exige também uma adaptação do espaço disponível.

Há já algumas zonas identificadas que poderão ser integradas no circuito do festival. Em concreto, a área do Jardim da Constituição, que oferece um espaço verde e amplo junto às muralhas, poderia acolher actividades mais familiares, oficinas ou actuações ao ar livre.

Outro local estratégico seria a frente ribeirinha, que permite um enquadramento belíssimo para eventos náuticos ou recriações ligadas à navegação e à construção naval. 

Pratos típicos e petiscos algarvios, vinhos do Algarve e licores, além de artesanato, nomeadamente miniaturas de caravelas, foram os produtos mais vendidos

“Vários empresários partilharam, ainda, a ideia de prolongar o festival, ou complementar com outras atividades ao longo do ano, aproveitando o sucesso desta edição. Além disso, alguns propuseram um maior envolvimento do sector empresarial na organização, de forma a diversificar a oferta comercial durante o evento.”

Litoralgarve – Como dirigente local da ACRAL – Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve, que avaliação pode fazer acerca deste evento? O que mais se vendeu? O que disseram os empresários? Quanto poderá ter representado em termos económicos? Qual foi o impacto?

Ângelo Mariano – Como dirigente local da ACRAL – Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve, faço um balanço extremamente positivo da 12ª. edição do Festival dos Descobrimentos, em Lagos. Este evento revelou-se um impulsionador importante para o comércio e os serviços locais, demonstrando uma vez mais o seu potencial económico para a cidade e para a região.

Houve um impacto económico significativo. Durante os cinco dias do festival, registou-se um aumento considerável no movimento comercial, especialmente no sector da restauração, hotelaria e do comércio tradicional. Estima-se que o impacto económico tenha ultrapassado o meio milhão de euros. Isto, considerando não só o aumento das vendas directas, mas também a ocupação hoteleira e o consumo nos estabelecimentos locais.

Litoralgarve – E quais os produtos mais vendidos?

Ângelo Mariano – Os artigos mais procurados foram:

– Gastronomia local: Pratos típicos e petiscos algarvios destacaram-se, especialmente, em espaços próximos ao recinto do festival;

Artesanato e lembranças: Objectos ligados à temática dos Descobrimentos, como miniaturas de caravelas e produtos artesanais, registaram uma procura elevada;

Bebidas regionais: Vinhos do Algarve e licores típicos foram, também, muito apreciados, especialmente pelos visitantes internacionais.

Relativamente à opinião dos empresários, os comerciantes locais expressaram um sentimento de satisfação geral, destacando o aumento de clientes e as boas vendas durante o evento. Muitos consideraram o festival como uma excelente oportunidade de divulgação dos seus produtos, reforçando a ideia de que iniciativas culturais como esta devem ser realizadas anualmente.

Vários empresários partilharam, ainda, a ideia de prolongar o festival, ou complementar com outras actividades ao longo do ano, aproveitando o sucesso desta edição. Além disso, alguns propuseram um maior envolvimento do sector empresarial na organização, de forma a diversificar a oferta comercial durante o evento.

Como conclusão, reafirmo que o Festival dos Descobrimentos foi um verdadeiro sucesso, tanto a nível cultural, como económico, provando que a aposta em eventos históricos é uma estratégia acertada para dinamizar o comércio local. Lagos consolida-se, assim, como uma cidade que não só preserva a sua identidade histórica, mas que também sabe capitalizar os seus recursos culturais para beneficiar a economia e a comunidade.

“O Festival dos Descobrimentos, em Lagos, tem demonstrado ser um evento de grande impacto para a cidade, tanto a nível cultural, como económico, pelo que considero que deveria ser realizado anualmente”

Litoralgarve – O que é necessário melhorar e inovar na próxima edição do Festival dos Descobrimentos, no ano de 2027, em Lagos? Qual o tema que poderá estar em destaque?

Ângelo Mariano – O Festival dos Descobrimentos, em Lagos, tem demonstrado ser um evento de grande impacto para a cidade, tanto a nível cultural, como económico, pelo que considero que deveria ser realizado anualmente. A continuidade do festival garantiria um retorno constante para o comércio local e consolidaria Lagos como um destino cultural de referência.

O que se pode melhorar e inovar na próxima edição (2027):

– Periodicidade anual: Tornar o festival um evento anual, como já defendi, dada a sua importância e impacto positivo na economia local e na promoção da identidade histórica;

Deverá haver programação mais diversificada, ao incluir novos espectáculos que unam tradições históricas com elementos contemporâneos, como projecções multimédia e performances interactivas;

Actividades para jovens: Criar oficinas temáticas e actividades lúdicas voltadas para as novas gerações, estimulando o interesse pela História, de forma interativa e educativa;

Expansão do recinto: Alargar o espaço do festival para evitar aglomerações, melhorando a fluidez e o conforto dos visitantes;

Gastronomia temática: Promover um festival gastronómico paralelo, com pratos inspirados nas rotas dos Descobrimentos, destacando sabores dos países visitados pelos navegadores portugueses;

Aplicação móvel: Desenvolver uma app oficial do festival com programação, mapa interativo e informações sobre as atividades, facilitando o acesso e a participação;

Apoio ao comércio local: Criar pacotes promocionais que integrem alojamento, alimentação e bilhetes para os espectáculos, incentivando os turistas a explorar a cidade.

O tema para 2027 poderia ser “Os Novos Mundos: Do Algarve às Terras de Vera Cruz», explorando as ligações históricas entre Lagos e o Brasil, numa perspectiva que valorize tanto o passado, como o presente cultural lusófono”

Como tema em destaque para 2027, sugiro que seja «Os Novos Mundos: Do Algarve às Terras de Vera Cruz», explorando as ligações históricas entre Lagos e o Brasil, numa perspectiva que valorize tanto o passado, como o presente cultural lusófono. Esta abordagem permitiria criar um festival ainda mais vibrante e multicultural, reflectindo a expansão das rotas marítimas e o intercâmbio cultural entre continentes.

Com estas melhorias e a aposta num tema cativante, o Festival dos Descobrimentos poderá crescer ainda mais, consolidando-se como um evento de referência no panorama cultural português.

Em meu nome  e de todos os que puderam vivenciar esta extraordinária viagem ao passado, queremos expressar um profundo e sincero agradecimento à Câmara Municipal de Lagos e a toda a equipa de técnicos da área cultural pelo enorme empenho e dedicação na organização da 12ª edição do Festival dos Descobrimentos.

O evento, como já sublinhei, revelou-se um autêntico sucesso, trazendo à cidade um espírito vibrante, cheio de história, cultura e vida. O trabalho árduo e a paixão de cada um dos envolvidos ficaram patentes na qualidade das actividades, na diversidade da programação e no envolvimento ativo da comunidade. Foi inspirador ver como o compromisso e o esforço coletivo resultaram numa celebração tão grandiosa e memorável.

Graças à visão e à entrega de todos os técnicos, artistas, voluntários e participantes, Lagos reafirmou-se como uma verdadeira guardiã das suas tradições, promovendo com orgulho o seu legado histórico e cultural. O impacto positivo que este festival trouxe à cidade é inegável e só foi possível pela dedicação incansável de todos os que acreditaram na sua concretização.

O sucesso deste evento é um reflexo do talento e da determinação de quem trabalha para fazer de Lagos uma cidade culturalmente rica e dinâmica. Agradecemos a todos os que contribuíram para este projeto magnífico e incentivamos a continuidade desta iniciativa, que tanto engrandece o nosso património e fortalece a identidade local. Parabéns pelo excelente trabalho! Lagos merece e agradece.

Para o Festival dos Descobrimentos, em Lagos, “o mês de maio continua a ser o mais adequado. Está fora da época alta, o que ajuda a distribuir o turismo ao longo do ano, e coincide com condições climatéricas ideais para eventos ao ar livre.”

Litoralgarve – Ao defender o Festival dos Descobrimentos, em Lagos, como um evento anual, já falou com o Presidente da Câmara Municipal, Hugo Pereira, nesse sentido? O que será necessário para concretizar essa ideia? E em que mês? Que outras inovações poderiam ser introduzidas?

Ângelo Mariano – Defendi — e continuo a defender — que o Festival dos Descobrimentos deve assumir-se como um evento anual, com calendário fixo e programação evolutiva. Trata-se de uma celebração com forte identidade histórica e cultural, com um impacto muito positivo na cidade, tanto a nível turístico como comunitário.

Já tive oportunidade de abordar informalmente este tema com o senhor Presidente da Câmara Municipal de Lagos, e senti abertura para essa possibilidade. Naturalmente, será necessário um trabalho conjunto entre a autarquia, associações locais, comerciantes e parceiros culturais, de forma a garantir a sustentabilidade financeira e logística do evento em moldes anuais.

Para que o festival mantenha qualidade e coerência, será importante garantir apoios regulares, planear com maior antecedência e estabelecer protocolos estáveis com entidades públicas e privadas. Isso permitirá não só reforçar a programação, como também atrair talentos, investigadores e artistas de outras regiões e países.

Quanto à melhor altura para o realizar, defendemos que o mês de maio continua a ser o mais adequado. Está fora da época alta, o que ajuda a distribuir o turismo ao longo do ano, e coincide com condições climatéricas ideais para eventos ao ar livre.

No que toca a inovações futuras, algumas ideias em cima da mesa incluem:

– Realidade aumentada nas encenações e nos espaços museológicos;

– Criação de um “passaporte dos Descobrimentos”, com itinerários históricos pela cidade;

– Intercâmbio com outras cidades portuguesas e estrangeiras com tradição marítima;


E até a inclusão de experiências gastronómicas imersivas inspiradas nas rotas dos Descobrimentos.
O objetivo será sempre manter a identidade do festival, mas com propostas inovadoras que encantem públicos de todas as idades e nacionalidades.