Há quem vaticine um acordo, na Câmara, entre socialistas e a coligação comandada pelo PSD. Ou, então, do PS com Pedro Xavier se ele voltar a ser eleito vereador do Chega, passando à condição de independente, para assim poder apoiar Álvaro Bila na presidência do executivo municipal. Em tarde de sol, mais de cem pessoas, algumas provenientes de outras localidades do Algarve, esperaram mais de uma hora por André Ventura, junto ao Largo da Mó e do Café Brasil, e percorreram, em euforia, várias ruas da cidade de Portimão, perante estabelecimentos comerciais, na sua maioria sem clientes, até ao Largo 1º. de Maio, onde se situa o edifício dos Paços do Concelho.
José Manuel Oliveira
Quinta-feira, dia 02 de Outubro de 2025 – 17h.15m., em Portimão, junto ao Largo da Mó e do Café Brasil. Mais de uma centena de populares, entre os quais muitas mulheres, algumas ainda jovens, com ‘t-shirts’, a que se juntavam alguns idosos, como constatou o ‘Litoralgarve’ no local, aguardava a chegada do líder do Chega, André Ventura, para iniciar uma arruada por várias ruas da cidade até ao Largo 1º. de Maio, onde se situa o edifício da Câmara Municipal de Portimão. É ali que o deputado na Assembleia da República pelo Círculo Eleitoral de Faro João Paulo Graça, pretende entrar, a partir do dia 12 deste mês, como novo presidente eleito nestas eleições autárquicas. O candidato, que reside em Sagres, no concelho de Vila do Bispo, e acabou por ser destacado pelo partido para este desafio em Portimão, segurava o filho ao colo, preparando-se para receber André Ventura.
Bandeiras do Chega e de Portugal, dois tambores, cornetas, apitos e música, com uma coluna de som pelas ruas, entram na festa. “O Chega está para ficar. Chega! Chega! Chega! Somos a voz do povo!”, grita-se. Mas também houve momentos de silêncio, em jeito de pausa para descansar
Carro da PSP de Portimão, no qual seguiam dois agentes, com direito a aplausos
“O jardim junto à estação [dos comboios] é uma vergonha para a nossa cidade”
Ao estilo da claque de uma equipa de futebol, ou de outra modalidade desportiva que junta mais adeptos, ouvia-se o som de buzinas, cornetas, apitos e de dois tambores, estes sob o comando de dois jovens. Viam-se bandeiras do Chega e de Portugal. Cada carro que passava na zona era confundido com a viatura em que estava a ser esperado André Ventura e por isso recebia fortes aplausos de quem aguardava, em festa, o presidente do partido. E até um carro da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Portimão, no qual seguiam dois agentes, teve direito a palmas. Entre a multidão, através de uma coluna de som, podiam escutar-se gravações, com algumas das promessas do Chega, nomeadamente nas áreas da saúde, segurança e educação, ambiente e espaços verdes para o concelho de Portimão (“o jardim junto à estação [dos comboios] é uma vergonha para a nossa cidade”), além de música e palavras de ordem. “O Chega está para ficar. Chega! Chega, Chega!”, gritava-se. “Somos a voz do povo!”. E muitos, também com cachecóis do partido, até pulavam num ambiente de calor humano que se fazia sentir em tarde de sol. Mas, por vezes, como que a descansar para a arruada, era notória alguma acalmia, uma pausa e até momentos de silêncio entre os apoiantes do Chega.
“O André Ventura não vai a Lagos e isso deixa insatisfeitos apoiantes do Chega, e aliviados autarcas do PS, que dizem estar, ainda, a tentar manter a maioria absoluta na Câmara”, confidencia, ao ‘Litoralgarve, um homem, de 50 anos, conhecedor da situação
Mesmo neste período de festa, próprio da campanha eleitoral, nem tudo era do agrado de quem esperava o presidente do partido. E até surgiam críticas. “O André Ventura não vai a Lagos e isso deixa insatisfeitos apoiantes do Chega, e aliviados autarcas do PS, que dizem estar, ainda, a lutar para manter a maioria absoluta na Câmara”, confidenciou, ao ‘Litoralgarve, um homem, de 50 anos, conhecedor da situação, natural daquele concelho e residente em Portimão.
“Ventura, amigo, o povo está contigo!” – gritam os apoiantes à Chega do líder
Pelas 17h56m., chegou, finalmente, ao local da concentração, o carro de André Ventura, conduzido pelo seu motorista. É a euforia apodera-se dos apoiantes e militantes do Chega. “Ventura, amigo, o povo está contigo!”, gritou, e repetiu, a multidão. Não faltava, no local, quem quisesse tirar fotos com o seu presidente.
Na caminhada pela Rua do Comércio, a ‘Rua das Lojas’, como é conhecida, viam-se, entre os mais de cem apoiantes do Chega, populares de outros concelhos do Algarve, nomeadamente os candidatos à presidência das câmaras municipais de Lagos, Paulo Rosário Dias, de mãos dadas com a esposa; e de Aljezur, Fernando Cortes. Mas também não faltou quem se deslocasse, por exemplo, de Lagos só por curiosidade.
Apesar do ambiente festivo, poucas pessoas apareceram às portas dos estabelecimentos comerciais para ver o que se passava. De resto, a maioria das lojas, designadamente de vestuário e outros produtos, não tinha qualquer cliente
Apesar do entusiasmo, com gritaria da caravana – “Ventura! Ventura! Ventura!” – poucas eram as pessoas que apareciam às portas dos estabelecimentos comerciais para ver o que se passava. De resto, a maioria das lojas, designadamente de vestuário e de outros produtos, não tinha qualquer cliente. André Ventura caminhava, apertado, entre a multidão, sobretudo para imagens televisivas, som de rádio, vídeos e de outros meios de comunicação social. Na frente da comitiva, uma jovem circulava com uma coluna de som, através da qual se voltavam a ouvir palavras de ordem e promessas do Chega para estas eleições autárquicas. Nas janelas dos apartamentos dos edifícios, não vislumbrámos a presença de pessoas, apesar dos acenos do presidente do Chega, com dois dedos do braço esquerdo já em sinal de triunfo.
A certa altura, André Ventura foi levado aos ombros de dois apoiantes, uma vez mais, percebe-se, para registo de imagens. Não chegou a entrar em estabelecimentos, nem houve distribuição de panfletos, com fotos dos candidatos e programa eleitoral.
Carros das candidaturas do Chega de Portimão, Vila do Bispo e Olhão, estacionados no Largo 1º. de Maio
Em seguida, a comitiva atravessou a Alameda da Praça da República em direção à Rua Vasco da Gama, onde as lojas, pelo menos naquela altura também não tinham movimento. Pouco depois e, finalmente, chegámos ao Largo 1º. de Maio, na qual, recorde-se, se situa o edifício da Câmara Municipal de Portimão. Perto do espaço onde está a fonte, viam-se vários carros estacionados, nomeadamente do Chega de Portimão, em que se podia ler «Vamos limpar Portimão»; de Vila do Bispo, com o candidato Afonso Nascimento a pedir: «Dêem-nos uma oportunidade», e de Olhão, onde o agora deputado Ricardo Moreira se recandidata à Câmara. A essas viaturas, juntaram-se outras, mais discretas, pertencentes ao ‘staff’ de André Ventura. “Até parece um stande de automóveis”, ironizou um popular.
Duas pessoas, com bandeira monárquica, ajudam a endireitar, num candeeiro, o cartaz do Chega, em que se vê a foto de André Ventura junto a João Paulo Graça, candidato a presidente da Câmara Municipal de Portimão
Junto a um candeeiro, a poucos metros da Câmara, duas pessoas, erguendo uma bandeira monárquica, endireitavam um pequeno cartaz do Chega, o qual exibe uma foto de André Ventura com João Paulo Graça, candidato à presidência do executivo municipal. Ali perto, num dos bancos de pedra, um casal vai observando, discretamente e à distância, a festa do Chega. Quem vai ganhar em Portimão? – perguntámos. “Não sabemos. Nem somos de cá. Viemos de Beja, da terra do Paulo Raimundo…”, respondeu, ao ‘Litoralgarve, o homem, numa alusão ao poder do PCP noutros tempos. Nos últimos mandatos autárquicos, aquela cidade alentejana tem sido liderada pelo PS. Já o secretário-geral comunista é natural de Cascais, refira-se. Enquanto isso, a mulher tocava-lhe num braço, em sinal para o marido se calar. Mesmo assim, ele ainda fala do “Chega”, que também “quer ganhar” em Beja.
“O Bila [que substituiu, em Agosto de 2024, Isilda Gomes, na presidência da Câmara Municipal de Portimão, quando a autarca foi eleita deputada para o Parlamento Europeu – n.d.r.] é sociável e fala com toda a gente. Mas mesmo assim, muitas pessoas já estão saturadas do PS que se encontra há muito tempo no poder neste concelho”, nota um funcionário público, queixando-se, por exemplo, da queixa da falta de estacionamento a prejudicar o comércio, no centro de Portimão, devido à instalação de pinos junto a passeios
Mais perto da multidão, no meio da qual se encontrava André Ventura, um “funcionário público, motorista”, que diz auferir mensalmente, apenas, o salário mínimo nacional, contou à nossa reportagem: “O Bila [que substituiu Isilda Gomes, na presidência da Câmara Municipal de Portimão, quando a autarca foi eleita deputada, em Junho de 2024, para o Parlamento Europeu – n.d.r.] é sociável, fala com toda a gente, mas mesmo assim muitas pessoas já estão saturadas do partido que está aqui há muito tempo no poder neste concelho.” Entre as queixas, destacou o facto de o comércio na cidade de Portimão ter sido “prejudicado, desde há anos, com falta de estacionamento”, nomeadamente “devido à instalação de pinos, os quais não permitem, por exemplo, um carro parar por breves momentos junto a uma loja, para o condutor, ou algum acompanhante, ver o preço de um artigo, com o objetivo de o comprar depois. E isso é mau para os comerciantes.”
“O PS até poderá fazer um acordo com o Pedro Xavier, se este for, novamente, eleito vereador do Chega, para formar maioria absoluta, com ele a passar à condição de independente, como fez quando estava no PSD e a Isilda Gomes venceu, pela primeira vez, a Câmara de Portimão, sem maioria. Pedro Xavier é ‘especialista’ nisso”
O Chega pode, pelo menos, tirar a maioria absoluta ao PS na Câmara Municipal de Portimão? – questionámos. “Pode”, respondeu, sem hesitação, aquele motorista. E admitiu que, nessa situação, a partir de 12 de Outubro, “o PS até poderá fazer um acordo com o Pedro Xavier, se este for, novamente, eleito vereador do Chega, para formar maioria absoluta, com ele a passar à condição de independente, como fez quando estava no PSD e a Isilda Gomes venceu, pela primeira vez, a Câmara de Portimão, sem maioria.” “O Pedro Xavier é ‘especialista’ nisso”, acrescentou o senhor, com alguma ironia à mistura. Um outro residente nesta cidade já nos tinha admitido o mesmo cenário. A vitória do Chega, em Portimão, é que parece, de momento, fora das expectativas gerais.
“São todos muito bons cá fora, em campanha. Mas quando chegam ao poder, esquecem-se das promessas”
Curiosamente, a poucos metros do local em que nos encontrávamos podia ver-se Pedro Xavier, distante do grupo em que estava André Ventura, este no meio da festa do Chega, tal como João Paulo Graça, candidato à presidência da Câmara Municipal de Portimão. “O PS pode perder a maioria absoluta e depois o Chega e o PSD até podem tomar conta da Câmara, estando em maioria. Ou, então, o PS e o PSD ficam em maioria para governar”, vaticinou, ainda, aquele popular. Já em relação ao candidato social-democrata Carlos Gouveia Martins, admitiu que não arrasta entusiasmo por parte das pessoas. “São todos muito bons cá fora, em campanha. Mas quando chegam ao poder, esquecem-se das promessas”, acrescentou. Já uma senhora desabafava: “pelo menos que mudem as ‘moscas’…”
“Os que confiaram em nós para a Assembleia da República, vão continuar a confiar em nós para governar o país, câmaras, assembleias municipais e juntas de freguesia. Somos os melhores do país para governar!” – garantiu André Ventura em frente a uma das portas de um BMW preto, com uma placa do Parlamento, junto ao volante, onde estava o seu motorista
A pouca distância do grupo que rodeava André Ventura, um homem pedia a outro: “Ó Bernardo, vê se lá consigo tirar uma foto com o homem!” – numa alusão ao presidente do Chega. Enquanto isso, gritava-se: “Ventura! Ventura! Ventura! Chega! Chega! Chega!” e ouvia-se, de novo, o som do toque de dois tambores, incluídos, desde o início, na caravana. Pouco depois, junto a uma das portas de um BMW preto, o qual ostentava uma placa da Assembleia da República em frente ao volante, André Ventura, já nas despedidas, entre problemas de som, deixou uma mensagem: “Os que confiaram em nós para a Assembleia da República, vão continuar a confiar em nós para governar o país, câmaras, assembleias municipais e juntas de freguesia. Somos os melhores do país para governar!”
Pelas 19h00, o carro em que seguia no banco de trás o presidente do Chega, saiu do Largo 1º. de Maio, em Portimão. A viatura circulava no meio de dois veículos, discretos, sem propaganda do partido. Ouviram-se buzinadelas de outros automóveis que passavam na zona.
Falta de um palco para discursos e apresentação dos candidatos, junto a André Ventura, provoca estranheza
Numa altura em que não faltava quem ficasse surpreendido pelo facto de não ter sido instalado um palco junto ao edifício da Câmara Municipal de Portimão, para André Ventura discursar e poderem ser apresentados os indivíduos que encabeçam as listas do Chega à Câmara, Assembleia Municipal e juntas de freguesia de Portimão, Mexilhoeira-Grande e Alvor, um popular disse-nos ter tomado conhecimento, através do ‘staff’ do líder do Chega, que tal se deveu a “questões de segurança.” Uma justificação que até provocou estranheza, dado o ambiente de festa e onde André Ventura se encontrava acompanhado pelos seus elementos de segurança, como é habitual. “O problema é falta de organização”, criticou esse mesmo popular, surpreendido com a situação.
A promessa de construir um ‘Campus Universitário’, com alojamento, na cidade de Portimão, e a aposta no reforço policial para “tolerância zero ao crime”. Criar Polícia Municipal é uma das prioridades do Chega
Ouviu-se o Hino Nacional e um apelo: “Vota Chega, vota João Paulo Graça!”. Depois de André Ventura se ter ido embora e de apoiantes do partido começarem a dispersar, foi mantida a coluna de som no Largo 1º. de Maio, a anunciar, em gravação, as prioridades do Chega para Portimão, entre música e frases cantadas à mistura, defendendo, nomeadamente, o “investimento na habitação e o controlo no Alojamento Local”; a aposta na “educação para a vida e não para as estatísticas”; a construção de “um Campus Universitário, com alojamento – vamos construir uma universidade” nesta cidade; o apoio à Proteção Civil para “tolerância zero ao crime”, com a criação da “Polícia Municipal, o reforço da GNR, da PSP, da Polícia Marítima e dos nossos bombeiros.” “É preciso mais policiamento e menos medo.”
Por outro lado, o Chega aposta em médicos de família nos centros de saúde e promete “pressionar o governo” para garantir mais profissionais de saúde no Hospital de Portimão. A propósito, ouviu-se, através de uma gravação, que uma pessoa esteve durante mais de vinte horas naquela unidade de saúde, à espera de ser atendida. “Há famílias a sofrer”, lamentou o partido de André Ventura.
“Devolver Portimão aos portimonenses” e críticas à Câmara Municipal pela chegada de milhares de imigrantes a este concelho
Também a questão da imigração ilegal mereceu destaque nesta gravação do Chega, que garantiu “devolver Portimão aos portimonenses.” “Não foi de um momento para o outro que chegaram milhares de imigrantes; foi, sim, por falta de planeamento e por incompetência desta Câmara Municipal.” E entre outras promessas, surgiu a da “inventariação do património” do concelho de Portimão, “com redução da carga burocrática”. Por fim, apelou-se, uma vez mais, ao voto, no dia 12 de Outubro, em João Paulo Graça, “para ser o Presidente da Câmara Municipal de Portimão.” Em nome do Chega, que se considera “a voz do povo.”










