Crise Social no Algarve: Classe Média e Baixa Cada Vez Mais Pobre e Sem Soluções à Vista

A outra face da região turística: salários baixos, rendas altas e falta de apoios

O Algarve, conhecido pelas praias deslumbrantes e pelo turismo em massa, enfrenta uma crise social cada vez mais evidente. A classe média e baixa está a empobrecer a um ritmo preocupante, impulsionada pelo aumento do custo de vida, pelos salários estagnados e pela falta de políticas eficazes para combater a desigualdade. Apesar dos alertas da sociedade civil e dos especialistas, os projetos para reverter esta realidade são praticamente inexistentes.

O custo de vida dispara, os salários ficam para trás

A principal dor de cabeça para muitas famílias algarvias é o preço da habitação. O aumento exponencial do turismo e do alojamento local fez disparar o valor das rendas e das casas para compra, tornando quase impossível para os residentes manterem-se nas suas cidades. Em locais como Faro, Lagos e Albufeira, encontrar um apartamento a um preço acessível é um verdadeiro desafio.

Enquanto isso, os salários continuam estagnados. O setor do turismo e da restauração, principal motor económico da região, continua a oferecer contratos sazonais e vencimentos baixos. Muitos trabalhadores enfrentam um dilema difícil: no verão conseguem algum rendimento, mas no inverno a falta de emprego empurra-os para situações de instabilidade financeira.

“Aqui, a vida está cada vez mais difícil. Ganhamos o ordenado mínimo e pagamos rendas altíssimas. Como é que uma família pode sobreviver assim?”, questiona João Silva, empregado de mesa em Albufeira.

Sem políticas de habitação acessível, muitos são forçados a sair

A falta de medidas concretas para garantir habitação acessível está a levar muitos algarvios a procurar alternativas noutras regiões ou até mesmo a viver em condições precárias. Algumas famílias optam por mudar-se para o interior da região, onde os preços ainda são um pouco mais baixos, mas isso significa deslocações diárias para o trabalho, o que representa um novo encargo financeiro.

Nos últimos anos, cidades como Lisboa e Porto começaram a implementar medidas para controlar o mercado de arrendamento e garantir habitação acessível. No Algarve, contudo, essas iniciativas são praticamente inexistentes. O investimento em habitação pública é escasso e a regulação do alojamento local continua a beneficiar os grandes investidores em detrimento dos residentes.

Falta de diversificação económica agrava o problema

Outro fator que contribui para a crise social no Algarve é a falta de diversificação económica. A dependência excessiva do turismo torna a região vulnerável a crises como a pandemia de COVID-19, que expôs a fragilidade do modelo económico algarvio.

Especialistas defendem que a solução passa por apostar noutras áreas, como a tecnologia, a agricultura sustentável e a indústria criativa. No entanto, não existem projetos de grande escala para impulsionar esses setores e reduzir a dependência do turismo.

“O Algarve tem um potencial enorme para se tornar um polo tecnológico ou agrícola, mas falta investimento e vontade política para diversificar a economia”, afirma Mariana Lopes, economista especializada em desenvolvimento regional.

Um problema sem respostas à vista

Apesar da crescente desigualdade social na região, as respostas políticas têm sido limitadas. Os apoios sociais existentes são temporários e não resolvem o problema estrutural. Programas de habitação acessível, incentivos à diversificação económica e medidas para garantir salários mais justos continuam a ser temas adiados.

Enquanto isso, milhares de famílias algarvias continuam a lutar diariamente para sobreviver num dos destinos turísticos mais procurados da Europa, mas onde viver se tornou um privilégio para poucos.

Paulo Silva