COVID-19 – “É IMPENSÁVEL FECHAR O ALGARVE”, DIZ, EM ENTREVISTA AO LITORALARVE, PAULO MORGADO, PRESIDENTE DA ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE

“Excluo essa possibilidade de virmos a ter uma cerca sanitária em Lagos, ou em qualquer outra localidade do país” , garante, em entrevista, ao Litoralgarve, o médico e presidente do Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, Paulo Morgado, voltando a alertar para a possibilidade de mais surtos de Covid-19 “nos próximos meses”, numa altura em que “o sistema de saúde está a adaptar-se a esta nova realidade.”  E na sequência da festa em Odiáxere, sublinha que “algumas pessoas, se calhar agora, acordaram para a realidade” nesta fase de desconfinamento, com a obrigatoriedade de cumprir regras de segurança

Litoralgarve – Como encara esta nova situação no Algarve, com o aumento de casos de Covid?

Paulo Morgado – Acho que temos de ter tranquilidade. O vírus circula e podemos ter surtos, ou pequenos surtos, médios surtos, uns surtos um pouco maiores. Isso vai ser a realidade nos próximos meses. Podem acontecer tanto no Algarve, como em qualquer outra zona do país. Aliás, como estão a acontecer noutras zonas do país, do norte ao sul. O sistema de saúde está a adaptar-se a esta nova realidade e a capacidade que temos para responder e o conhecimento que temos sobre a doença, hoje, é sem dúvida muito maior do que tínhamos em Março, quanto isto começou verdadeiramente em força.

“Conseguimos controlar a doença sem necessidade de instalar cercas sanitárias”

Litoralgarve – O que acha sobre a hipótese de ser criada uma cerca sanitária no Algarve?

Paulo Morgado – Só tivémos uma cerca sanitária no Continente, em Ovar. E verdadeiramente conseguimos controlar a doença no país e reduzir o número de casos de forma muito significativa sem necessidade de instalar cercas sanitárias nos mais variados concelhos.

Litoralgarve – Exclui mesmo esse cenário?

Paulo Morgado – Excluo essa possibilidade, com a situação atual e aquela que é previsível, de virmos a ter uma cerca sanitária em Lagos, ou em qualquer outra localidade do Algarve.

A imagem que a Ordem dos  Médicos passou  “foi    de   algum  alarmismo”

Litoralgarve – Como interpreta, então, a reação do responsável da Ordem dos Médicos ao admitir ‘fechar’ o Algarve se aumentar de forma significativa, em vários concelhos, o número de casos confirmados de Covid-19? Foi alarmista?

Paulo Morgado – Não sei se ele tinha a intenção de ser alarmista, mas de facto a imagem que passou foi de algum alarmismo. Obviamente que não seria fácil fechar o Algarve. Não seria mesmo fácil, porque o Algarve é uma região dinâmica, com muita gente que passa cá muito tempo da sua vida, muita gente de outras regiões e de outros países. Portanto, é impensável fechar o Algarve. Nenhum país europeu fechou. Nenhuma região europeia fechou.

Festa em Odiáxere? “Um dos poucos aspetos positivos desta situação, é todos ficarmos mais alerta para o perigo que representa este tipo de eventos sem qualquer controlo”

Litoralgarve – A partir de agora, com o Verão, temperaturas elevadas, receia que possam ocorrer mais festas e serem cometidos excessos, com ajuntamentos de pessoas? O caso registado em Odiáxere, no concelho de Lagos, pode repetir-se noutras zonas do Algarve e do país?

Paulo Morgado – Pode repetir-se. Mas acho que um dos poucos aspetos positivos desta situação, é todos ficarmos mais alerta para o perigo que representa este tipo de eventos sem qualquer controlo. Portanto, se algumas pessoas achavam que se podiam fazer festas, que se podia não usar máscara, que podiam estar em proximidade sem terem os cuidados que estão determinados nas normas, pois eu penso que essas pessoas se calhar agora acordaram para a realidade. Se algumas pessoas achavam que isso era possível, que o desconfinamento significava o voltarmos à vida antiga, agora perceberão que são situação consideradas ilegais.

“Atos de irresponsabilidade não deviam  ficar impunes”

Litoralgarve – Como reage à situação ocorrida em Odiáxere, conhecendo o concelho de Lagos como conhece e onde é responsável político (Presidente da Assembleia Municipal de Lagos – n. d. r. )? A direção do Clube Desportivo de Odiáxere não devia ter cedido as instalações para a festa?

Paulo Morgado – Perante aquilo que me transmitiram, acho que não terá sido transmitido às pessoas a verdadeira extensão, digamos, da festa. E obviamente as pessoas na sua boa fé, com certeza que alugaram o espaço. Houve outras pessoas que, se calhar, não se comportaram como deviam. E agora, o que deve ser feito, cabe às autoridades judiciais apurar responsabilidades.

Litoralgarve – Deve haver uma punição para servir de exemplo?

Paulo Morgado – Acho que quem infringe a lei, deve ser punido.

Litoralgarve – Com penas de prisão, ou multas por negligência?

Paulo Morgado – Sobre isso, compete às autoridades apurar e decidir. A esse nível, as autoridades judiciais têm de fazer o seu trabalho, assim como nós, na área da saúde, tentamos fazer o melhor possível o nosso trabalho. Quando se trata de punir, quando se trata de averiguar se, facto, existe crime, esse é um trabalho das autoridades. E é por isso que existem leis no país e justiça.

Litoralgarve – Espera que este caso não fique impune?

Paulo Morgado – Acho que não devia ficar impune. Enquanto cidadão e enquanto responsável, acho que atos de irresponsabilidade não deviam ficar impunes.

Reforço de médicos e enfermeiros durante o Verão no Algarve poderá passar por três dezenas de profissionais

ARS | Algarve

Litoralgarve – Quais reforços previstos durante este Verão no Algarve, ao nível de médicos e enfermeiros?

Paulo Morgado – Como sempre todos os anos, pedimos várias dezenas de profissionais para virem para a região. Obviamente que é esse o nosso desejo. Não significa que todos eles queiram vir.

Litoralgarve – Quantos profissionais são necessários para o Algarve nesta altura do ano?

Paulo Morgado – Ainda não fechámos esse número. Mas, depois, iremos divulgá-lo.

Litoralgarve – Pelo menos, uma centena?

Paulo Morgado – Não, menos disso.

Litoralgarve – Meia centena de profissionais, entre médicos e enfermeiros?

Paulo Morgado – Médicos e enfermeiros, aí uns trinta.

Autor: José Manuel Oliveira

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