Calor humano volta a encher Igreja Matriz de Odiáxere para ouvir cantar as Janeiras e os Reis, em homenagem a tradições è antepassados , numa noite fria, com cinco graus centígrados na rua 

Neste evento, participaram os elementos do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, Os Amigos da Figueira e as Figueirinhas, do concelho de Portimão, o Grupo de Cantares de Janeiras da Sociedade Recreativa de Alcantarilha (Silves) e o Cancioneiro do Grupo Folclórico de Faro.

José Manuel Oliveira

A baixa temperatura, oscilando entre quatro e cinco graus centígrados na rua, que se fez sentir na noite de 18 de Janeiro de 2025 (um sábado), em Odiáxere, não impediu a Igreja Matriz, situada no Largo da Liberdade, nesta vila do concelho de Lagos, encher com mais de centena e meia de pessoas para assistirem, a partir das 21.00 horas, ao 12º. Encontro de Janeiras e Reis. Além do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, responsável pelo evento, com o apoio da Junta de Freguesia local, participaram o grupo dos Amigos da Figueira e as Figueirinhas (do concelho de Portimão), o Grupo de Cantares de Janeiras da Sociedade Recreativa de Alcantarilha (Silves) e o Cancioneiro do Grupo Folclórico de Faro. Não faltaram animação e calor humano no interior da Igreja, em contraste com a noite fria e típica de Inverno, sentida no exterior.

A “homenagem” aos antepassados, que cantavam as Janeiras e os Reis para comer, nas palavras de Dora Silva, do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere

Pelas 21h06m., entraram em cena, pelo centro daquele templo, duas dezenas de elementos do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, cantando: «Os anjos cantam / Tocam os sinos / Lá em Belém / Ele nasceu para nosso bem». Como habitualmente sucede com este grupo nestas ocasiões, as senhoras envergavam xailes, saias e lenços nas cabeças. Dora Silva, um dos seus elementos, foi explicando aos presentes o significado de cada uma das três canções apresentadas, a “homenagem” aos antepassados, que contavam as Janeiras e os Reis junto das pessoas mais abastadas, para conseguir suplemento alimentar noutros tempos. Ao contrário de outros anos, a apresentação dos grupos neste espectáculo esteve a cargo de Tânia Bandarrinha, pertencente ao Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, já que o presidente da Direcção,Luís Morgado, que normalmente assume esse papel, desta vez associou-se à música, tocando tambor durante as canções do seu conjunto.

Enquanto isso, pelas 21h.22m., um homem, que vestia uma samarra, percorreu a Igreja, com um saco branco, de grandes dimensões, e uma criança ao lado, para recolher donativos dos presentes neste espectáculo. A maioria ajudou com moedas.

O pedido do presidente da Junta de Freguesia de Odiáxere, Carlos Fonseca: “Continuem! Continuem”! Isto é para continuar!”

Pouco depois da atuação do grupo anfitrião, o presidente da Junta de Freguesia de Odiáxere, Carlos Fonseca, foi convidado pela organização a intervir, tendo destacado o “exemplo” do rancho folclórico desta localidade para “a nossa cultura” e do Algarve. “São tradições importantes”, notou. “Continuem! Continuem”! Isto é para continuar!”, pediu, entusiasmado, o autarca, aproveitando para desejar “um Bom Ano de 2025 com muita saúde e muita paz.” “Sejam felizes.”

Elemento do Grupo Amigos da Figueira e as Figueirinhas destaca a “resistência e muita vontade” desde “há 25 anos” por parte do seu conjunto. “São canções que cantavam os nossos avós e os nossos bisavôs. Estamos a cumprir a tradição”

Em seguida, pelas 21h.32m., também junto ao altar principal da Igreja Matriz de Odiáxere, teve início a actuação do grupo Amigos da Figueira e as Figueirinhas, composto por 24 elementos, com guitarras e um tambor, entre outros instrumentos. Uma senhora, que fazia a apresentação e também cantava, sublinhou a “resistência e muita vontade” desde “há 25 anos” por parte daquele conjunto. “São canções que cantavam os nossos avós e os nossos bisavôs. Estamos a cumprir a tradição”, observou, durante o intervalo de uma das actuações e antes de se despedir do público, com votos de “muita saúde e muita paz.”

Vereadora da Câmara Municipal de Lagos Sandra Oliveira: “Este rancho folclórico faz parte da família de Odiáxere e do nosso concelho. Representa valores da nossa História e das nossas heranças familiares”

Eram 21h.42m. quando Sandra Oliveira, vereadora da Câmara Municipal de Lagos, num breve discurso, também elogiou a iniciativa cultural. “Este rancho folclórico faz parte da família de Odiáxere e do nosso concelho. Representa valores da nossa História e das nossas heranças familiares”, destacou a certa altura, desejando “que se perpetuem por muitos anos.”

Luís Bandarra, antigo presidente da Junta de Freguesia de Odiáxere e atual vereador da Câmara Municipal de Lagos: “Cantar as Janeiras e os Reis faz parte da História dos nossos antepassados, que trabalharam muito durante as suas vidas”

Posteriormente, Luís Bandarra, vereador da Câmara Municipal de Lagos, lembrou os “doze anos” em queesteve a desempenhar o cargo de presidente da Junta de Freguesia de Odiáxere, tendo considerado o Rancho Folclórico como “um ícone” desta localidade. “Cantar as Janeiras e Reis faz parte da História dos nossos antepassados, que trabalharam muito durante as suas vidas”, enalteceu o autarca. “Fiquei arrepiado com a vossa actuação, que revela muito respeito pela nossa História”, frisou.

“Um apelo aos mais jovens: desliguem os telemóveis”

Com alguma emoção à mistura, Luís Bandarra aproveitou a sua intervenção para deixar um recado: “Apelo aos mais jovens: desliguem os telemóveis.” Isto, numa alusão à necessidade de “um esforço” por parte da juventude, em particular, para não se relacionar apenas através de telemóveis e redes sociais, ignorando a prática de outras atividades. No final do encontro, questionado pelo ‘Litoralgarve’, Luís Bandarra apenas se limitou a dizer, em jeito de lamento: “Já não se vêem jovens, por exemplo, a jogar ao pião, e outros jogos tradicionais, como acontecia no nosso tempo.”

«Ora aqui estamos! Ora aqui estamos!”, escutou o público numa das canções do Grupo de Cantares de Janeiras da Sociedade Recreativa Alcantarilhense

Já perto das 22.00 horas, foi a vez da actuação do Grupo de Cantares de Janeiras da Sociedade Recreativa Alcantarilhense, constituído por 16 elementos, entre homens, com bonés, e mulheres. Guitarras, um tambor, um acordeão, um saxofone, pandeiretas e castanholas, foram instrumentos utilizados. “O nosso grupo foi fundado em 1968 e já houve muitas mudanças, com experiências nas ruas de Alcantarilha para cantar de porta em porta”, explicou um elemento daquele conjunto. «Ora aqui estamos! Ora aqui estamos!”- ouviu-se na segunda canção. E na terceira, o público foi convidado a acompanhar a letra da canção, animando ainda mais o ambiente.

“Antigamente cantava-se por necessidade. Cantava-se para comer. Hoje, já se canta para manter a tradição e porque gostamos”

Eis algumas das canções que se ouviram:

«Numa choupana 

Nasceu Jesus

Numa cabana

Cheia de luz»

«A noite é fria

E bem comprida

Haja alegria

Na nossa vida»

«Haja alegria

E paz também

Muita saúde

Até para o ano que vem»

Presidente da Assembleia Municipal de Lagos, Joaquina Matos, apela para se“manter a tradição em memória e respeito pela vivência de outros tempos”

Quem também subiu ao pequeno palco para uma breve intervenção foi a presidente da Assembleia Municipal de Lagos, Joaquina Matos, que saudou os grupos participantes neste 12º. Encontro de Janeiras e Reis, na Igreja Matriz de Odiáxere, desejando que “se prolonguem com muitas actividades, com muitos eventos, com muita animação.” “Continuem assim. O espírito de Natal tem de continuar vivo em cada um de nós e um Bom Ano a todos.”

Para a autarca, há que “manter a tradição em memória e respeito pela vivência de outros tempos.” “Saúde é o que peço e mais concordância nas nossas famílias e com paz num mundo melhor”, acrescentou, na despedida.

Posteriormente, foi a vez de o diácono Nuno Franciscoreforçar a mensagem para “viver em paz”. E dirigindo-se, em especial aos grupos participantes do Encontro de Janeiras e Reis, disse: “A Paróquia [de Odiáxere] orgulha-se” desta iniciativa.

A influência das charolas, típicas do sotavento algarvio, por parte do Cancioneiro do Rancho Folclórico de Faro e o agradecimento de ofertas recebidas, com canções, em que se ouviamum apito e gritos: ‘Viva!’

A partir das 22h.36m. entraram na Igreja 25 elementos que integravam o Cancioneiro do Grupo Folclórico de Faro. As senhoras, entre elas, algumas jovens, ostentavamlenços nas cabeças. Um dos membros exibiu a imagem do Menino Jesus.

«Vinde todos, vinde todos

Às palhinhas de Belém

Adorar o Deus Menino

Que nasceu para nosso bem»

“Há que manter viva a tradição das Janeiras e dos Reis”, apelou, a determinada altura, um elemento daquele rancho folclórico da capital algarvia.

No final da terceira canção, dedicada aos Reis, por “influência das charolas, típicas do sotavento algarvio”, conforme foi referido, o grupo, tal como os outros, recebeu sacos da Junta de Freguesia de Odiáxere, da Câmara Municipal de Lagos e do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, contendo, nomeadamente, um livro, uma garrafa de bebida e produtos para comer, segundo apurou o ‘Litoralgarve’. E para “agradecer ‘a esmola’, como é normal quando nos oferecem alguma coisa”, referiu um dos elementos do Grupo Folclórico de Faro, houve direito a mais uma canção, em que, desta vez,entre alguns versos, ouviram-se um apito e gritos: «Viva!»E não faltaram aplausos do público.

Ceia no final serviu de convívio aos membros dos grupos participantes, na sede do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere

O 12º. Encontro de Janeiras e Reis, na Igreja Matriz de Odiáxere, terminou às 23h.06m., com um “obrigado” por parte do presidente da Direção do rancho folclórico anfitrião, Luís Morgado. No exterior do edifício, com pouca iluminação, os termómetros marcavam quatro graus centígrados. Seguiu-se uma ceia-convívio entre todos os membros participantes neste evento, na sede do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, junto ao campo de futebol, até pouco depois da meia-noite.

Luís Morgado, presidente da Direção do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere, ao ’Litoralgarve’:“Necessitamos de um subsídio anual no valor de 20.000 euros. Com esse dinheiro, poderemos adquirir uma carrinha e efetuar trabalhos de pintura e arranjo do teto na nossa sede”

Numa curta entrevista concedida ao nosso Jornal, o presidente da Direção do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere congratula-se com o surgimento de jovens, diz que são necessárias novas músicas e mais pares, e aguarda convites para festivais.

Litoralgarve – Que balanço faz sobre este evento?

Luís Morgado – O balanço foi positivo e toda a gente gostou. Foi igual a outros anos.

“Não há frio nenhum nestas alturas. De resto, o espetáculo decorreu num ambiente bastante acolhedor dentro da Igreja”

Litoralgarve – Apesar do frio que se fez sentir em Odiáxere…

Luís Morgado – Não há frio nenhum nestas alturas. De resto, o espectáculo decorreu num ambiente bastante acolhedor dentro da Igreja Matriz de Odiáxere.

Litoralgarve – Noutros anos, o senhor apresentou o espectáculo. Desta vez, esteve integrado no próprio rancho. Como foi?

Luís Morgado – Toquei tambor.

“Festival das Papas, no Salão de Festas de Odiáxere. Trata-se de papas como se confecionavam antigamente, com banha”

Litoralgarve – Quais são as próximas iniciativas do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere?

Luís Morgado – Temos o Festival das Papas no dia 08 de Fevereiro, no Salão de Festas de Odiáxere, junto à Igreja. Trata-se de papas como se confeccionavam antigamente,com banha.

“Aguardamos convites para participar em eventos. No dia 02 de Agosto, contamos realizar, em Odiáxere, o nosso festival de folclore, com quatro grupos – um de Estremoz, um de Leiria, um de Ponte de Lima e o nosso”

Litoralgarve – E ao nível do folclore?

Luís Morgado – Estamos a preparar a época do Verão. Aguardamos convites para participar em eventos. No dia 02 de Agosto, contamos realizar, em Odiáxere, o nosso festival de folclore, com quatro grupos – um de Estremoz, um de Leiria, um de Ponte de Lima e o nosso. De resto, como referi, aguardamos convites.

“Os jovens já estão a aderir mais ao folclore. Isso é notório. São, sobretudo, familiares de outros elementos do rancho. Temos ensaios todas as sextas-feiras à noite nas instalações da nossa sede”

Litoralgarve – Há tempos, lamentava o facto de faltarem jovens no rancho. E agora, como está a situação?

Luís Morgado – Os jovens já estão a aderir mais ao folclore. Isso é notório. São, sobretudo, familiares de outros elementos do rancho. Temos ensaios todas as sextas-feiras à noite nas instalações da nossa sede.Quantos mais jovens aparecerem, melhor será para todos.

“Temos poucas músicas. São necessárias novas. E também necessitamos de mais pares no rancho. O ideal será termos mais três, quatro pares”

Litoralgarve – Que problemas sentem?

Luís Morgado – Temos poucas músicas. São necessárias novas. E também necessitamos de mais pares no rancho. O ideal será termos mais três, quatro pares, sobretudo jovens.Vamos tentar novos pares nos nossos ensaios.

“É necessária mais uma viatura, no mínimo, com nove lugares”

Litoralgarve – E quanto a instrumentos e viaturas?

Luís Morgado – É necessária mais uma viatura, no mínimo, com nove lugares. Em relação aos instrumentos, cada músico tem um acordeão que traz para os ensaios e actuações.

“Em cada festival de folclore em que participamos, gastamos 2.500/3.000 euros só em refeições”

Litoralgarve – Quais os projetos para 2025?

Luís Morgado – Vamos apresentar o nosso plano de actividades à Câmara Municipal de Lagos. Necessitamos de um subsídio anual no valor de 20.000 euros. Com esse dinheiro, poderemos adquirir uma carrinha e efectuar trabalhos de pintura e arranjo do tecto do edifício da nossa sede.

Em cada festival de folclore em que participamos,gastamos 2.500/3.000 euros só em refeições.

“Antes da pandemia da Covid-19, recebíamos convites para participar em programas de animação nos hotéis, o que nos permitia receitas. Isso acabou.”

Litoralgarve – Quais as receitas do rancho?

Luís Morgado – Antes da pandemia da Covid-19, recebíamos convites para participar em programas de animação nos hotéis, o que nos permitia receitas. Isso acabou. Como tal, temos de pedir apoio à Câmara Municipal de Lagos. Os convites para festivais vão aparecendo.

Litoralgarve – Há apoio dos empresários?

Luís Morgado – Tem sido complicado desde a pandemia.

“Temos muitos elementos do nosso rancho, que trabalham na hotelaria do Algarve, o que torna difícil deslocações a outros países. Mas também não é impossível”

Litoralgarve – E actuações em festivais a nível internacional?

Luís Morgado – Neste momento, é muito difícil. Temos muitos elementos do nosso rancho, que trabalham na hotelaria do Algarve, o que torna difícil deslocações a outros países. Mas também não é impossível. Seria uma questão de datas.

Odiáxere, capital nacional do folclore? “Gostaria, mas é complicado. Existem outros grupos noutras zonas com mais possibilidades”

Litoralgarve  Odiáxere, Lagos, poderá vir a ser a capital nacional do folclore, como é desejo?

Luís Morgado – Gostaria, mas é complicado. Existem outros grupos noutras zonas com mais possibilidades nesse sentido.

Ana Gonçalves: Sociedade Recreativa Alcantarilhense prepara Carnaval, mas, para já, “é ‘top secret’

Na Igreja Matriz de Odiáxere, “apesar do frio que se fez sentir na rua, a presença de muitas pessoas aqueceu-nos a alma” para cantar as Janeiros e os Reis.

Já Ana Gonçalves, que integra há dois anos o Grupo de Cantares de Janeiras da Sociedade Recreativa Alcantarilhense, destacou, em declarações ao ‘Litoralgarve’, o facto de ter estado “muita gente a assistir” ao espectáculo na Igreja Matriz de Odiáxere, “apesar do frio que se fez sentir na rua”. “A presença de muitas pessoas aqueceu-nos a alma”, reconheceu,agradecida, acrescentando que aquele grupo preparou com “ensaios durante cerca de um mês” a actuação em Odiáxere.

“É hábito no início de todos os anos cantarmos as Janeiras e os Reis de porta a porta, recebendo oferendas, nomeadamente comida, além de esta iniciativa contribuir para momentos de convívio e conversa entre as pessoas que nos recebem”

“Somos um grupo de amigos que se envolve em vários eventos”

“Em Alcantarilha, é hábito no início de todos os anos cantarmos as Janeiras e os Reis de porta a porta, recebendo oferendas, nomeadamente comida, além de esta iniciativa contribuir para momentos de convívio e conversa entre as pessoas que nos recebem”, contou Ana Gonçalves. E aproveitou para enaltecer, também, o apoio do presidente da Junta de Freguesia de Alcantarilha, que “é espetacular”. “Somos um grupo de amigos que se envolve em vários eventos”, sublinhou.

Carnaval em Alcantarilha “vai ser animado e divertido” e depois, em Junho, seguem-se as marchas populares

Depois dos espectáculos do Cantar das Janeiras e dos Reis,nos quais participou em várias zonas do Algarve, aquele grupo da Sociedade Recreativa Alcantarilhense prepara-se para o Carnaval de 2025. Mas, por enquanto, o tema dos festejos do corso “é top secret’”, notou Ana Gonçalves, entre risos. “Vai ser animado e muito divertido”, prometeu, sem entrar em detalhes. E em Junho, haverá marchas populares na localidade de Alcantarilha, que irãoanimar a população e atrair mais visitantes.