Lagos presta homenagem a São Gonçalo, seu padroeiro, e a Igreja Católica destaca dez dos milagres atribuídos ao santo beatificado pelo Papa Pio VI, em Roma, no ano de 1778

«O Milagre do Peixe Inesgotável», «A Cura da Mulher Cega» e a «Aparição no Naufrágio», em que salva um sobrinho, no Algarve, são alguns dos milagres atribuídos a São Gonçalo de Lagos. No feriado do Município, desde 1971 e que se assinala nesta segunda-feira, dia 27 de Outubro, há música, largada de pombos, procissão e uma sessão solene no Centro Cultural da cidade.

José Manuel Oliveira

Uma cerimónia de Hastear das Bandeiras, no exterior do antigo edifício dos Paços do Concelho de Lagos, na Praça Gil Eannes, pelas 09h30m, na presença de representantes de entidades oficiais e com a actuação da banda da Sociedade Filarmónica Lacobrigense 1º. de Maio e do Grupo Coral de Lagos, além da tradicional largada de pombos, a cargo de elementos do Clube Columbófilo de Odiáxere, marca o início das comemorações, nesta segunda-feira, dia 27 de Outubro de 2025, do Dia do Município de Lagos.

Antes, por iniciativa dos responsáveis das Paróquias de Lagos e inserido no seu programa da «Festa de São Gonçalo de Lagos», tem lugar, a partir das 08h00, na Igreja de Santa Maria, situada na Praça do Infante Dom Henrique, nesta cidade, a Oração de Laudes (do latim ‘louvor’). Segue-se, pelas 10h30m, no mesmo templo, uma eucaristia solene em honra de São Gonçalo, e a partir das 11h30m uma procissão com a imagem do santo e padroeiro de Lagos, por várias artérias do Centro Histórico. Segundo apurou o ‘Litoralgarve’, a Travessa do Mar e as ruas Silva Lopes, Lançarote de Freitas (junto ao Centro Cultural), Cândido dos Reis e 25 de Abril são alguns dos locais incluídos no percurso, com regresso à Igreja de Santa Maria.

Comemorações encerram na Praça do Infante Dom Henrique, em Lagos, com concerto da Filarmónica Lacobrigense 1º. de Maio e da Banda de Rock Iris. Esta foi criada em Julho de 1979, na localidade da Fuzeta, no concelho de Olhão, por um grupo de músicos, entre eles Domingos Caetano

À tarde, com início pelas 15h00 tem lugar uma sessão solene no auditório do Centro Cultural de Lagos. E à noite, a partir das 21h30m, as comemorações do Dia do Município encerram, na Praça do Infante Dom Henrique, com um concerto da Sociedade Filarmónica Lacobrigense 1º. de Maio e da Banda de Rock Iris, surgida em Julho de 1979, na localidade da Fuzeta, no concelho de Olhão, por um grupo de músicos, entre eles Domingos Caetano. Trata-se de uma das mais antigas bandas do Movimento Pop Rock, em Portugal.

Feriado municipal em honra do seu padroeiro, São Gonçalo de Lagos, foi instituído em 1971, com autorização do governo de Marcelo Caetano, após escolha do dia 27 de Outubro pelo executivo camarário, na sequência de uma proposta da Comissão de Festas da Cidade, associada à Paróquia de Santa Maria

O feriado municipal de Lagos, em honra do seu padroeiro, São Gonçalo, foi instituído no ano de 1971, após escolha da data de 27 Outubro pelo então executivo camarário e que obteve autorização do governo de Marcelo Caetano. Tal sucedeu na sequência de uma proposta apresentada, na altura, pela Comissão de Festas da Cidade de Lagos, associada à Paróquia de Santa Maria, como refere o investigador José António de Jesus Martins, no seu recente livro intitulado «Frei Beato Gonçalo de Lagos, o Homem, a Vida, os Milagres».

Oriundo de uma família de pescadores de atum, desde criança revelou grande sensibilidade religiosa, repartindo com os mais pobres o peixe das dornas do seu pai. “Conta-se que, mesmo após a partilha, as barricas permaneciam cheias, sinal do carinho de Deus que se fazia sentir”, assinala um texto inserido no Boletim Inter-Paroquial de Lagos ‘Boa Nova’, do mês de Outubro de 2025

Nascido e baptizado em 1360, e oriundo de uma família humilde de pescadores de atum, Frei Beato Gonçalo de Lagos revelou, desde criança, grande sensibilidade religiosa, repartindo com os mais pobres o peixe das doras do seu pai. “Conta-se que, mesmo após a partilha, as barricas permaneciam cheias, sinal do carinho de Deus que se se fazia sentir”, assinala um texto inserido no Boletim Inter-Paroquial de Lagos ‘Boa Nova’, do mês de Outubro de 2025.

Quando ainda era jovem, Gonçalo decidiu ir para Lisboa, onde ingressou no Convento da Graça, da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho. Veio a ser distinguido pela inteligência e piedade, estudou nas Escolas Gerais, mas recusou títulos académicos. Isto, porque o seu objectivo era dedicar-se de forma “simples e acessível” à pregação.

Prior em vários conventos, entre os quais de Santarém, Lisboa e Torres Vedras. A pobreza desta última comunidade levou-o a percorrer ruas e campos, pedindo esmola. Mesmo assim, “fazia-o sempre com alegria, servindo também como cozinheiro, porteiro e, sobretudo, enfermeiro”, recorda a história relativa a quem mais tarde se tornou santo.

Foi prior em vários conventos, entre os quais o de Santarém, Lisboa e, a partir do ano de 1412, de Torres Vedras. A pobreza desta última comunidade levou-o a percorrer ruas e campos, pedindo esmola. Mesmo assim, “fazia-o sempre com alegria, servindo também como cozinheiro, porteiro e, sobretudo, enfermeiro”, destaca o já referido Boletim Inter-Paroquial de Lagos «Boa Nova». E prossegue: “Dormia sobre cepas de videira e passava longas horas em oração e penitência. Ganhou fama de mestre do povo. Diariamente, sentado à porta do convento, ensinava a trabalhadores e crianças a doutrina cristã. Para aproximar os mais novos, trazia nas mangas pedaços de pão e frutas, bem como pequenos desenhos, transformando o ensino num gesto de amizade e ternura”.

São Gonçalo de Lagos era enaltecido pela sua “humildade e caridade”, além de ser um “homem de oração”

Um dos milagres mais célebres foi a cura de uma mulher cega que, confiando na sua palavra, lavou os olhos com água de sardinhas e recuperou a vista

Enaltecido pela sua “humildade e caridade”, além de ser um “homem de oração”, foi, também, “reconhecido como taumaturgo”. “Um dos milagres mais célebres foi a cura de uma mulher cega que, confiando na sua palavra, lavou os olhos com água de sardinhas e recuperou a vista”, pode ler-se naquele Boletim Inter-Paroquial de Laos.

Depois de falecer em Torres Vedras, o povo venerou-o como santo. E a 02 de Maio de 1778, foi beatificado pela Igreja Católica, em Roma, pelo Papa Pio VI.

Sobre a data da morte de São Gonçalo de Lagos, “durante séculos se pensava ser o ano de 1422, mas que atendendo a novas investigações históricas se descobriu ser o ano de 1445”, refere José António de Jesus Martins, na parte final da ”Nota do Autor” do seu livro intitulado «Frei Beato Gonçalo de Lagos, o Homem, a Vida, os Milagres»

Por sua vez, José António de Jesus Martins, funcionário da Câmara Municipal de Lagos e investigador associado do Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, aponta “o ano de 1445” como a data da morte de São Gonçalo. “Durante séculos” pensava-se “ser o ano de 1422”, mas “atendendo a novas investigações históricas se descobriu ser o ano de 1445”, salienta José António de Jesus Martins, na parte final da ”Nota do Autor” do seu já referido livro intitulado «Frei Beato Gonçalo de Lagos, o Homem, a Vida, os Milagres». A obra, apresentada em Agosto, no Centro Cultural de Lagos, foi editada pela Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos, por iniciativa do presidente Carlos Saúde Fernandes, que agora cessa funções. Tal sucedeu no âmbito das comemorações do décimo aniversário da denominação de Freguesia de São Gonçalo de Lagos, na sequência de uma consulta, por via postal, à população que, face aos nomes apresentados, decidiu escolher o do santo e padroeiro para a então recém-criada União de Freguesias de Lagos (São Sebastião e Santa Maria).

Inauguração do monumento a São Gonçalo de Lagos, da autoria do artista plástico lacobrigense Tolentino Abegoaria, no miradouro da Praia da Batata, a 30 de Junho de 2001, contou com a presença do então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policardo

Por outro lado, como recorda o investigador José António de Jesus Martins, no dia 30 de Junho de 2001 foi inaugurado o monumento em honra de São Gonçalo de Lagos, da autoria do artista plástico Tolentino Abegoaria, natural desta cidade, onde reside. A obra, que se encontra exposta na zona do miradouro da Praia da Batata, junto à Avenida dos Descobrimentos, com o santo a segurar numa das suas mãos uma cruz em direção ao mar, recebeu, na inauguração, a presença de D. José Policardo, então Cardeal-Patriarca de Lisboa.

Alguns dos milagres atribuídos a São Gonçalo, no Boletim Inter-Paroquial de Lagos ‘Boa Nova’, de Outubro de 2025

O Milagre do Peixe Inesgotável

“Desde jovem, Gonçalo repartia com os pobres o atum pescado pelo pai. O prodígio estava em que, mesmo depois de dar, generosamente, as dornas permaneciam cheias, como se nada tivesse sido retirado.”

O Livro que Reaparece

“Quando religioso em Lisboa, escreveu livros litúrgicos para o coro. Um deles foi roubado e levado até Salamanca [em Espanha]. Os monges rezaram, pedindo ajuda a Gonçalo. Pouco depois, o livro apareceu de novo no coro de Lisboa, sem se saber quem o trouxera.” O mesmo “sucedeu em Santarém, com outro livro escrito por ele.”

A Humildade Recompensada

“Sendo prior em Torres Vedras, precisava de sustento para o Capítulo Provincial (1413). Pediu esmola ao Arcebispo de Lisboa, que lhe ofereceu tudo o que quisesse. Gonçalo aceitou, apenas, o que podia carregar às costas: pães, azeite e vinho. Impressionado pela sua humildade, o arcebispo enviou, depois, azémolas carregadas com mantimentos para todo o convento.” 

A Tentação Superada

“Alguns inimigos quiseram comprometer a sua honra. Uma mulher foi enviada de noite à portaria, fingindo ter necessidades. Gonçalo acolheu-a por caridade, deu-lhe comida e um lugar para dormir, mas manteve-se em oração e castidade. De manhã, a jovem, envergonhada, converteu-se e os que a tinham instigado reconheceram a santidade do frei.”

A Cura da Mulher Cega

“Uma mulher pobre, que servia no convento, estava cega havia anos. Pedia, insistentemente, a Gonçalo para que a curasse. Ele, humilde, dizia que não era capaz de milagres, mas que se tivesse fé até a água de sardinhas a poderia curar. A mulher lavou os olhos com essa água e recuperou a vista.”

Terra do Túmulo que Cura

“Logo após a sua morte, muitos peregrinos iam ao seu túmulo em Torres Vedras e recolhiam terra como relíquia. Essa terra era aplicada em doentes, que recuperavam saúde. Por isso, os frades chegaram a abrir um pequeno túmulo de pedra com um buraco, para que os fiéis pudessem tirar terra e até introduzir pés ou braços doentes, alcançando curas.”

Aparição no Naufrágio

“Um sobrinho de São Gonçalo embarcou no Algarve e sofreu um naufrágio. Quase a morrer, invocou o tio. O santo apareceu-lhe em figura de frade agostiniano, tirou-o das ondas e levou-o em segurança até à praia, recomendando que fosse em peregrinação ao seu túmulo em Torres Vedras. Aí, ficou curado das feridas.”

A Tempestade Aplacada

“Mareantes de Lagos, no meio de uma tempestade, invocaram São Gonçalo. Ele apareceu sobre as ondas, encorajando-os a chamarem, também, por Nossa Senhora da Graça. De imediato, o mar acalmou-se, salvando-os do naufrágio.”

O Criado Curado da Peste

“Em 1579, o quando o bispo Gaspar de Santo Tomé visitava o sepulcro antigo de São Gonçalo, um dos seus criados, chamado Paio Chão, estava gravemente enfermo com peste. Ajudou-o, debilitado, a transportar o sepulcro do santo e, nesse gesto, foi milagrosamente curado da febre e do inchaço. O facto foi testemunhado e comunicado oficialmente ao convento.”

Proteção Durante a Peste

“João de França de Brito, nobre de Torres Vedras, fugiu para uma quinta com medo da peste. Em sonho, São Gonçalo apareceu-lhe e assegurou que, juntamente com outros santos, protegeria a sua casa. Confiando nessa palavra, ali permaneceu e não foi atingido pela epidemia.”