“O que se assistiu na Assembleia da República, durante o debate sobre a moção de confiança apresentada pelo governo, que acabou por ser chumbada, contribuindo para a demissão do executivo e a dissolução do parlamento, foram discussões de ‘lana-caprina’” , lamentou João Vasconcelos, para quem o PS, PSD e CDS “transformaram o país numa ‘república das bananas.’
José Manuel Oliveira
“É a maior trapalhada de todos os tempos e de todos os governos, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro, é o responsável pela crise política do país. Existem leis para cumprir e não estava em situação de exclusividade neste governo. Aquilo a que se assistiu na Assembleia da República, durante o debate sobre a moção de confiança por ele apresentada e que acabou por ser chumbada, contribuindo para a demissão do executivo e a consequente dissolução do parlamento, foram discussões de ‘lana-caprina’ [coisas sem importância – n.d.r.]. Os portugueses muito cansados de tantas eleições [legislativas] e a responsabilidade pertence ao PS, ao PSD e ao CDS, que transformaram o país numa ‘república das bananas’.”
Foi esta a reacção do antigo deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia da República, pelo Círculo Eleitoral de Faro, João Vasconcelos, em declarações ao ‘Litoralgarve’, após ter sido reprovada, ao início da noite de terça-feira, dia 11 de Março de 2025, no Parlamento, a moção de confiança apresentada pelo governo da Aliança Democrática, constituído por membros do PPD/PSD e CDS/PP e liderado pelo social-democrata Luís Montenegro. O problema, recorde-se, surgiu na sequência da polémica e suspeitas em torno da empresa Spinumviva, da família do primeiro-ministro e jurista, a qual passou, entretanto, para o nome dos filhos. O caso já está sob investigação do Procurador-Geral da República, Amadeu Guerra, e da Ordem dos Advogados.
“Os governos têm muitas responsabilidades pelo estado em que se encontra o Serviço Nacional de Saúde e a privatização geral de centros de saúde e hospitais no país”
“É uma situação dramática e cada vez mais existe maior de pessoas com dificuldade em encontrar habitação a preços acessíveis”
Numa altura em que estão em preparação três pré-campanhas eleitorais no Continente [mais uma na Região Autónoma da Madeira, após a queda do governo liderado também pelo social-democrata Miguel Albuquerque – n.d.r.], com vista a novas eleições legislativas antecipadas, eleições autárquicas, a realizar em Setembro ou Outubro de 2025 e que decorrerão num processo normal de quatro em quatro anos, a que se seguirá, em Janeiro de 2026, a eleição para a Presidência da República, aquele ex-deputado do Bloco de Esquerda lamenta que os principais problemas do país continuem por resolver. “Os governos têm muitas responsabilidades pelo estado em que se encontra o Serviço Nacional de Saúde e a privatização geral de centros de saúde e hospitais no país”, destacou, como um dos exemplos, João Vasconcelos.
Reforçando as suas críticas a sucessivos governos, apontou, também, a habitação como outro problema em Portugal, devido aos elevados custos. “É uma situação dramática e cada vez mais existe maior de pessoas com dificuldade em encontrar habitação a preços acessíveis”, criticou o antigo deputado do Bloco de Esquerda.
“Os eleitores é que sabem. Sondagens são sondagens”
Questionado pelo ‘Litoralgarve’ sobre o resultado de sondagens, realizadas em plena crise política, que, mesmo assim, apontavam para a vitória da Aliança Democrática, à tangente, perante o PS, enquanto outras indicam, desta vez, o triunfo dos socialistas, também sem maioria absoluta, João Vasconcelos respondeu: “Os eleitores é que sabem. É muito difícil dizer, neste momento, qual a tendência. Sondagens são sondagens.”
“O Chega degradou o ambiente político em Portugal, nomeadamente com o ‘caso das malas’, algo impensável, de pedofilia e de violação”
Já sobre o facto de o Chega poder perder terreno, embora mantendo-se como a terceira força política do país, não poupou críticas ao partido presidido por André Ventura: “O Chega degradou o ambiente político em Portugal, nomeadamente com o ‘caso das malas’, algo impensável (furtos cometidos, nomeadamente, no aeroporto de Lisboa, pelo deputado eleito Círculo dos Açores, Miguel Arruda, que entretanto foi afastado do Chega, tendo passado a deputado não inscrito – n.d.r.), de pedofilia [que envolve Nuno Pardal, deputado na Assembleia Municipal de Lisboa – n.d.r.] e de violação.”
“André Ventura é o que é. Ficou desolado porque não tem lugar num governo do PSD e CDS”
Por outro lado, “agora temos as redes sociais, as ‘fake-news, de que muitos se servem para difundir informação falsa e sem controlo”, observou João Vasconcelos, receando o “avanço da extrema-direita na Europa e a penalização que tal situação representa para muitas famílias” em muitos países. “André Ventura é o que é. Ficou desolado porque não tem lugar num governo do PSD e CDS”, notou aquele ex-deputado bloquista.
“Devia haver mais tempo para preparar estas eleições e debater os programas a apresentar pelos diferentes partidos”
Depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter recebido os principais responsáveis dos partidos com assento parlamentar e se preparar para anunciar a convocação de novas eleições legislativas, após reunião do Conselho de Estado nesta quinta-feira, a 11 ou 18 de Maio, como, de resto, já tinha avançado, João Vasconcelos considerou tratar-se de um “período bastante restrito” e “isso tem custos.” “Devia haver mais tempo para preparar estas eleições e debater os programas a apresentar pelos diferentes partidos”, defendeu, perspectivando, desde já, “um espetáculo”, nomeadamente através de redes sociais.
Dia 18 de Maio? “Devia haver mais tempo para preparar estas eleições e debater os programas a apresentar pelos diferentes partidos”
“O país não pode ficar em gestão durante muito tempo. Tem o PPR (Plano de Recuperação e Resiliência), com verbas da União Europeia para executar projetos. Tem a economia e tudo pode complicar-se. E é necessário tomar medidas céleres em sectores como a habitação, a saúde, transportes, o custo de vida e o combate à pobreza”
No entanto, reconheceu, “o país não pode ficar em gestão durante muito tempo. Tem o PPR (Plano de Recuperação e Resilência), com verbas da União Europeia para executar projectos. Tem a economia e tudo pode complicar-se. E é necessário tomar medidas céleres em sectores como a habitação, a saúde, transportes, o custo de vida e o combate à pobreza.”
“Ir votar em eleições para, afinal, ficar tudo na mesma, sem resultados concretos à vista para melhorar a vida, a situação de todos nós” poderá contribuir para a “abstenção”, além de “populismos” e aposta no “cavalo errado”
E insistiu: “os portugueses, os eleitores, estão cansados de ir votar em eleições para, afinal, ficar tudo na mesma, sem resultados concretos à vista para melhorar a vida, a situação de todos nós.” Tal poderá contribuir para a “abstenção”, alertou João Vasconcelos, temendo, ainda, “o voto em populismo e no cavalo erro.”
Apesar de todos esses problemas, o ex-deputado do Bloco de Esquerda congratulou-se, por exemplo, com o aumento de salários na Função Pública e com o fim das portagens das auto-estradas, as chamadas vias Sem Custos para os Utilizadores (SCUT), nomeadamente a A22/Via do Infante, no Algarve, “o que só foi possível ao fim de anos com lutas por parte das populações e dos autarcas”.
“Como deputado [na Assembleia da República] já tive o meu tempo e há que dar o lugar aos mais novos”
Com 69 anos e natural de Portimão, onde continua a exercer a sua actividade profissional como professor de História no ensino secundário, João Vasconcelos não perspectiva voltar a candidatar-se a deputado para a Assembleia da República. “Como deputado já tive o meu tempo e há que dar o lugar aos mais novos. A idade não perdoa”, disse. Contudo, também “não é impossível” entrar em nova corrida eleitoral, devido à sua experiência ao longo dos anos.
“Não digo sim ou não” a uma nova candidatura à presidência da Câmara Municipal de Portimão
“Conversas preliminares entre o Bloco de Esquerda, o Livre e o PAN, por todo o Algarve e o país, com vista às eleições autárquicas. Portimão, Faro e Olhão” poderão ser algumas apostas nesta região do sul do país, admite João Vasconcelos
E uma nova candidatura à presidência da Câmara Municipal de Portimão, onde já desempenhou o cargo de vereador? Não digo sim ou não. Depende dos candidatos, da votação interna [no Bloco de Esquerda] e de outros”, limitou-se a responder João Vasconcelos, admitindo, ao ‘Litoralgarve’, que a sua “disponibilidade está em cima da mesa.”
Tal cenário surge numa altura em que, como nos referiu, existem “conversas preliminares entre o Bloco de Esquerda, o Livre e o PAN (Pessoas-Animais-Natureza), por todo o Algarve e o país, com vista às eleições autárquicas. Portimão, Faro e Olhão” poderão ser algumas das apostas nesta região do sul do país, ao nível de listas conjuntas dos três partidos, em coligações para as câmaras municipais, assembleia municipais e assembleias de freguesia.










