A concelhia de Lagos do Partido Popular Monárquico (PPM) comemorou o seu segundo aniversário no passado dia 10 de outubro com jantar e fados no restaurante Adega da Marina, nesta cidade, onde foi admitida a hipótese de uma coligação com o CDS-PP tendo em vista as próximas eleições legislativas, em 2019, no Algarve, e as autárquicas no concelho, a realizar no ano de 2021. Pelo meio, o presidente do PPM de Lagos, o osteopata José Santiago, sob o olhar do conhecido fadista e monárquico Nuno da Câmara Pereira, seu amigo de infância, dirigiu um apelo aos presentes no encontro para aderirem ao partido, de que ele próprio é, por enquanto, o único elemento e dirigente.
“Convido alguém que queira aderir ao PPM de Lagos para ser o meu braço direito. Tenho estado só,neste momento no partido. É necessário um vice-presidente, um secretário, um tesoureiro e dois vogais. Para isso, tem de haver pessoas”, começou por sublinhar José Santiago, de 71 anos, natural de Lisboa, militante nº. 964 e há mais de três anos a residir no Algarve.
“QUEM QUISER ADERIR AO PPM, TEM O MEU TELEMÓVEL”
Numa sala reservada, com a bandeira da monarquia, onde se encontravam figuras públicas da sociedade lacobrigense, entre as quais o médico do Centro de Saúde de Lagos
António Carvalho, os empresários António José Ramos e João Barroso, dirigente do CDS-PP, e o padre da freguesia de Odiáxere, além de fadistas e elementos do Rotary Club local, o presidente do PPM deste concelho, após ter feito questão de salientar que “não quero ofender ninguém, respeito todos desde o Bloco de Esquerda, PCP e CDS-PP ao PS e PSD”, reforçou: “quem quiser aderir ao PPM tem o meu telemóvel, para bem do povo de Lagos. Depois, teremos uma conversa. Temos de olhar para outros horizontes.”
“NÃO ADMITO QUE HAJA FOME EM PORTUGAL !”
Iniciamente, e a um ano das eleições legislativas, José Santiago, que não foi eleito em 2015 deputado na Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Lisboa apenas por dois votos, classificou este jantar do PPM como um “convívio entre amigos, uma tertúlia”. Depois, não poupando críticas ao poder, disparou: “anda toda a gente a enganar o povo, a roubar o povo e nós a pagar.” “Para onde vamos todos neste país? São só promessas e mentiras. Não admito que haja fome em Portugal! Enquanto uns vivem bem, outros vivem mal”, acrescentou, elevando o tom da voz e apontando como responsáveis: “se não é o PS é o PSD, se não é o PSD é o PS.”
Já Nuno da Câmara Pereira apelou à “consciência nacional” numa “Europa cadente e é isso que tem mudar.” “Todos temos direito à nossa opinião. Este jantar não é mais do que uma confraternização, uma troca de ideias.”
Convidado a subir ao palco, João Barroso, dirigente do CDS-PP em Lagos, assumiu o compromisso do seu partido com o futuro num “trabalho em conjunto” (aplausos na sala), admitindo nesse sentido um acordo com o PPM para as próximas eleições autárquicas. “É uma conversa a ter em Lagos. Se for será o PPM”, garantiu.
Depois de uma intervenção do arquitecto Quintanilha, deputado do PPM na Assembleia Municipal de Faro, seguiu-se uma sessão de fados, primeiro com Helena Candeias, que deslumbrou o público, seguida de Rita Luz, uma jovem promessa, e Ana Sofia, acompanhadas pelos guitarristas Vítor do Carmo e Aníbal Vinhas. O fadista Nuno da Câmara Pereira encerrou o programa de animação.
“SE O CDS NÃO QUISER, IREI SOZINHO”
No final, em declarações ao «Litoralgarve», o presidente do PPM de Lagos, José Santiago, voltou a reafirmar o desejo do seu partido concorrer em coligação com o CDS-PP no Algarve, nas eleições legislativas a realizar depois do Verão de 2019. Contudo, deixou um aviso: “se o CDS não quiser, irei sozinho.”
“O PSD APROVEITOU-SE DE NÓS E FOMOS TRATADOS ABAIXO DE CÃO”
Com o PSD é que o monárquico não quer conversas, nem esquece o passado depois da experiência nas eleições autárquicas, em 2017, através da coligação «Unidos por Lagos», liderada pelo social-democrata Nuno Serafim. “O PSD aproveitou-se de nós e fomos tratados abaixo de cão. O presidente da Distrital de Faro, engenheiro David Santos, até me insultou por telefone”, recordou, com mágoa. A seu lado, João Barroso, do CDS-PP de Lagos, afirmou ao «Litoralgarve» que conta assumir um compromisso com o PPM “até final deste ano”, numa altura em que a presidente do seu partido, Assunção Cristas, já o “pressiona”. “Tudo tem de estar preparado até final do ano para uma coligação com o PPM no Algarve”, adiantou.
José Santiago reconheceu que ainda é “pouco conhecido”, estando a sua candidatura em “embrião”. “Vou andar por aqui…”, prometeu sem esconder alguma ironia, numa alusão a Pedro Santana Lopes. E acrescentou: “os políticos valem-se dos erros dos outros. A partir de agora, além de completar a direcção da concelhia do PPM, espero realizar vários eventos e outras iniciativas junto da população.”
“SOU SÓ EU, SEM DIRECÇÃO. PRECISO DE CINCO PESSOAS”
Num balanço a estes dois anos de existência da concelhia de Lagos do PPM, José Santiago lamentou, nesta entrevista ao «Litoralgarve», a falta de uma sede e a dificuldade em “convencer as pessoas a aderir” ao partido. “Sou só eu, sem direcção. Preciso de cinco pessoas”, observou, manifestando o desejo de ter essa situação resolvida “até final deste ano.” Em relação à sede, queixou-se da presidente da Câmara Municipal de Lagos, a socialista Joaquina Matos, por não ter atendido o seu “pedido” no sentido de lhe ceder instalações para o efeito. “Disse-me que é difícil por haver muitas associações à frente”, lembrou.
“O ALOJAMENTO LOCAL ESTÁ A CONTRIBUIR PARA O TURISMO PÉ DESCALÇO EM LAGOS”
“O PPM quer estar junto do povo de Lagos, numa cidade onde é visível a desorganização, com lixo por todo o lado, jardins e outros espaços públicos mal tratados. E de repente, aparecem obras feitas à pressa. Não digo que a culpa seja toda da presidente da câmara, doutora Joaquina Matos. Não é má pessoa. O problema é que não tem pessoas à altura na câmara municipal”, notou José Santiago. Outra das críticas apontadas a Lagos pelo presidente da concelhia do PPM tem a ver com as unidades de alojamento local criadas nos últimos e que, segundo apurou o «Litoralgarve», já ultrapassam as três mil. “O alojamento local está a contribuir para o turismo de pé descalço em Lagos”, considerou.
Alguns dos presentes neste encontro confidenciaram ao «Litoralgarve» que esperavam mais do presidente do PPM de Lagos, numa altura em que ele procura militantes, tendo classificado “sem chama, um discurso antiquado” a intervenção de José Santiago. Os próximos meses, porém, poderão ser decisivos para o futuro do partido nesta cidade e no Algarve, com vista aos embates eleitorais que se avizinham.