10 de Junho em Lagos – Entrevista a Paulo Rosário Dias, do Chega: “Se fosse presidente da Câmara, o Infante D. Henrique teria regressado a papel de alto destaque, com calçadão restaurado ao invés da famosa ‘piscina das gaivotas’ ”

O ‘Litoralgarve’ apresentou diversas questões por escrito a vários autarcas de Lagos, no rescaldo das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portugueses, nesta cidade.

O primeiro a responder foi o deputado municipal do Chega, Paulo Rosário Dias, que, entre outros aspectos, destaca o “desprezo que a nossa estátua do Infante D. Henrique sofreu, servindo de mero encosto de equipamentos, quando deveria ter sido enobrecido.” “Até as áreas de contentores do lixo foram embelezadas. É imperdoável que o nosso principal monumento tenha ficado esquecido”, lamenta.

Nesta entrevista concedida ao nosso Jornal, Paulo Rosário Dias aponta aspectos positivos e outros negativos, que constatou durante as celebrações do 10 de Junho, em Lagos. E a cerca de três meses das eleições autárquicas, nas quais surge como candidato do Chega à presidência do executivo camarário lacobrigense, deixa avisos, após o encontro que manteve com o líder do Chega, André Ventura.

 José Manuel Oliveira

Litoralgarve – Que balanço faz sobre as comemorações do Dia de Portugal, em Lagos, com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa?

Paulo Rosário Dias – Faço um balanço francamente positivo. Lagos tem uma tradição bastante ligada às Forças Armadas e este foi um evento de elevada importância e responsabilidade que honrou a cidade e os lacobrigenses. Estamos de parabéns.

“Creio que a população reparou positivamente na sua avenida cuidada, como não se via há muitos anos, e isso prova que é possível termos os nossos espaços cuidados quando há vontade política”

“Houve falhas no respeitante à informação, em particular aos comerciantes e empresários que nunca souberam de antemão os constrangimentos de que seriam alvo. Aqui a Câmara Municipal deveria ter tido um papel de comando.”

Litoralgarve – Quais os aspectos positivos que destaca? E negativos? Como avalia a organização deste evento?

Paulo Rosário Dias – Creio que a população reparou positivamente na sua avenida cuidada, como não se via

há muitos anos, e isso prova que é possível termos os nossos espaços cuidados quando há vontade política. Algumas pessoas repararam em falhas de protocolo, mas sobre aspectos negativos da organização eu tenho que destacar o desprezo que a nossa estátua do Infante D. Henrique sofreu, servindo de mero encosto de equipamentos, quando deveria ter sido enobrecido. Até as áreas de contentores do lixo foram embelezadas. É imperdoável que o nosso principal monumento tenha ficado esquecido. Também desgostei de ver as bandas militares a tocar em espaços alternativos junto a carros, sem público, quando temos um auditório municipal que poderia ser uma referência.

Por fim, apontaria ainda que houve falhas no respeitante à informação, em particular aos comerciantes e empresários que nunca souberam de antemão os constrangimentos de que seriam alvo. Aqui a Câmara Municipal deveria ter tido um papel de comando.

“Como presidente da Câmara também jamais permitiria termos um importante imóvel municipal que é a nossa fortaleza, despida e em notória ruína. E certamente não escolheria que uma das principais rotundas tivesse permanecido em obra desnecessária durante os primeiros dias das celebrações”

Litoralgarve – Se fosse presidente da Câmara Municipal de Lagos, que iniciativas teria tomado?

Paulo Rosário Dias – Se fosse presidente da Câmara Municipal, o Infante D. Henrique teria regressado a um

papel de alto destaque, com um calçadão restaurado ao invés da famosa “piscina das gaivotas”. Como presidente da Câmara também jamais permitiria termos um importante imóvel municipal, que é a nossa fortaleza, despida e em notória ruína. E certamente não escolheria que uma das principais rotundas tivesse permanecido em obra desnecessária durante os primeiros dias das celebrações.

Litoralgarve – O que lhe dizem, em concreto, as pessoas com quem tem falado?

Paulo Rosário Dias – Nas ruas, o sentimento geral é de satisfação e orgulho pela importância atribuída a Lagos e também de deslumbramento pelas demonstrações militares. Isto prova que os lacobrigenses sentem a sua portugalidade e que o amor pela pátria é algo que merece ser cultivado em Lagos.

Marcelo Rebelo de Sousa? “Para um último ano deste Presidente, penso que é assumido que foi um discurso mais curto e com uma mesma temática ideológica a que já nos habituou”

Litoralgarve – O que pensa do discurso do Presidente da República, no dia 10 de Junho, na Avenida dos Descobrimentos? O que sentiu na mensagem transmitida por Marcelo Rebelo de Sousa nesta que foi a sua última participação nas comemorações do Dia de Portugal, como Chefe de Estado?

Paulo Rosário Dias – Para um último ano deste Presidente, penso que é assumido que foi um discurso mais curto e com uma mesma temática ideológica a que já nos habituou.

Discurso da Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações Nacionais do Dia de Portugal, Lídia Jorge, “foi para mim a maior desilusão do evento. Uma Conselheira de Estado, algarvia e com reconhecida cultura literária, esteve muito aquém do que o momento exigia.”

“Diria até que ela não discursou, que o que ela fez foi ler um qualquer artigo de opinião desmoralizante e bastante desrespeitador do sentimento patriota”

Litoralgarve – E acerca da intervenção da Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações Nacionais do Dia de Portugal, a escritora Lídia Jorge?

Paulo Rosário Dias – Foi para mim a maior desilusão do evento. Uma Conselheira de Estado, algarvia e com

reconhecida cultura literária, esteve muito aquém do que o momento exigia. Diria até que ela não discursou, que o que ela fez foi ler um qualquer artigo de opinião desmoralizante e bastante desrespeitador do sentimento patriota.

Homenagem a Ramalho Eanes? “Senti como o momento mais alto de todo este processo. O General é uma figura que representa o expoente da sobriedade política e da elegância institucional.”

Litoralgarve – Como reage à homenagem prestada ao general Ramalho Eanes? É justa? Porquê? 

Paulo Rosário Dias – Senti como o momento mais alto de todo este processo. O General é uma figura que representa o expoente da sobriedade política e da elegância institucional. Teve uma merecida homenagem e sinto-me honrado que a História a associe à minha cidade.

“O meu contacto com o Presidente da República foi meramente de cortesia institucional. Não pedi nenhum selfie.”

Litoralgarve – Teve oportunidade de falar com Marcelo Rebelo de Sousa? 

Paulo Rosário Dias – O meu contacto com o Presidente da República foi meramente de cortesia institucional. Não pedi nenhum selfie.

Litoralgarve – E com membros do atual governo?

Paulo Rosário Dias – Idem.

“É uma oportunidade para todos os decisores sentirem que têm que dar mais importância aos nossos símbolos nacionais, ao nosso património histórico e à nossa portugalidade”

Litoralgarve – Como avalia o aproveitamento de Lagos nestas comemorações do Dia de Portugal? O que resulta deste evento?

Paulo Rosário Dias – Os eventos nacionais são sempre um catalisador turístico, especialmente se houver uma boa imagem associada. Lagos acolheu um evento assim em 1996, mas neste ano o efeito é bem diferente com as redes sociais a amplificarem a notoriedade do evento. Entendo que é uma oportunidade para todos os decisores sentirem que têm que dar mais importância aos nossos símbolos nacionais, ao nosso património histórico e à nossa portugalidade.

“Lagos fez bem em aceitar acolher este evento, mas é um facto incontornável que a nossa cidade não está apetrechada para esta dimensão de eventos sem prejudicar outros aspectos. O município tem estado estático e ancorado nas pequenas animações improvisadas”

Litoralgarve – Deve servir de exemplo para outros eventos? Quais?

Paulo Rosário Dias – Lagos fez bem em aceitar acolher este evento, mas é um facto incontornável que a nossa cidade não está apetrechada para esta dimensão de eventos sem prejudicar outros aspectos. O município tem estado estático e ancorado nas pequenas animações improvisadas. Para podermos ter uma política de eventos séria e prática é imperativo investir em infraestruturas viárias, num novo terminal rodoviário, num parque de

feiras e eventos ou num auditório em condições.

A André Ventura, “pessoas comuns transmitiam mensagens de encorajamento para salvar Lagos e salvar Portugal”

“Eu e ele tivemos oportunidade de trocar algumas impressões, que não irei detalhar, mas posso dizer que estamos determinados em conquistar uma grande maioria neste município já nestas eleições autárquicas”

Litoralgarve – O que lhe disse o presidente do Chega, André Ventura? E o que disse ele aos populares com quem tirou fotos? O que lhe responderam?

Paulo Rosário Dias – Sabe, os lacobrigenses ansiavam há muito pelo regresso do Doutor André Ventura a Lagos. Só no próprio dia se confirmou essa vinda e o efeito surpresa juntou-se ao carinho das pessoas comuns que lhe transmitiam mensagens de encorajamento para salvar Lagos e salvar Portugal. Eu e ele tivemos oportunidade de trocar algumas impressões, que não irei detalhar, mas posso dizer que estamos determinados em conquistar uma grande maioria neste município já nestas eleições autárquicas.

“Não há motivos para qualquer melindre. Estou certo de que foi um acaso de quem definiu o protocolo” o facto de o presidente do Chega, André Ventura, ter ficado sentado ao lado da presidente da Assembleia Municipal de Lagos, socialista Joaquina Matos, numa tribuna

Litoralgarve – Tornou-se viral a foto a circular nas redes sociais, na qual se vê o presidente do Chega, sentado ao lado da presidente da Assembleia Municipal de Lagos, a socialista Joaquina Matos, numa das tribunas instaladas na Avenida dos Descobrimentos. Como explica? Estava, assim, previsto em termos protocolares, ou foi por acaso?

Paulo Rosário Dias – Não há motivos para qualquer melindre. Estou certo de que foi um acaso de quem definiu-o protocolo, até porque havia milhares de pessoas para posicionar.